Pandemia e A Montanha dos Sete Abutres

Neste clássico do Billy Wilder, de 1951, o jornalista Chuck Tatum (Kirk Douglas) está preso na pequena cidade de Albuquerque, no Novo México, sonhando com uma oportunidade de voltar aos grandes jornais, depois de ser despedido várias vezes por seu mal comportamento.

Um dia, um desabamento em uma mina abandonada, deixa um homem preso nos escombros. Chuck percebe que é sua oportunidade. Com exclusividade, ele vai narrar o drama desta pessoa. Só que para isso ele precisa que o resgate demore alguns dias. Ele consegue persuadir a autoridade local, o xerife, preocupado com sua re-eleição, a utilizar uma escavadeira no alto da mina, que levaria 7 dias, ao invés do escoramento das paredes, que resgataria o homem em menos de 24 horas.

Para Chuck, apenas a má notícia é notícia. Para manter o interesse do público, ele interfere nos acontecimentos e convence o xerife elogiando-o nas matérias. A esposa do homem também passa a ganhar um bom dinheiro explorando o acesso do público ao local. É um esquema perfeito, em que todos ganham.

O que é a pandemia se não uma versão desta corrupção? O jornalismo boicota qualquer tipo de tratamento que possa levar ao fim do circo que ela se formou. Conta para isso com as autoridades, que são elogiadas constantemente nos jornais como abnegados interessados em salvar vidas. A esposa infiel, como parte dos grandes empresários, especialmente na área farmacêutica, explora toda a situação economicamente. Só quem se importa realmente com aquele homem preso são seus pais, vistos quase como malucos, e o editor do jornal, que defende a estranha tese de que o jornalista deve “dizer a verdade”. Não por acaso é tratado como alguém ultrapassado, sem lugar no mundo moderno.

Uma cena curiosa é quando aparece um homem sensato, que já trabalhou em minas, dizendo em uma entrevista da rádio que o melhor a fazer seria chegar no homem escorando as paredes, de forma bem mais rápida, que já tinha feito isso antes. Sentindo o perigo Chuck pergunta se ele conseguiu salvar a vítima. O homem responde que infelizmente não conseguiram chegar a tempo. É o suficiente para destruir sua reputação. Como acontece com os médicos que acreditam no tratamento do covid desde o início dos sintomas.

Um filme perfeito para os dias atuais.

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