Sobre o bispo de Recife

Quem lê este espaço com alguma regularidade, sabe a posição deste blogueiro a respeito do aborto. Considero o aborto uma prática que nos torna menos humanos e uma mal que deve ser extirpado da sociedade. Reconheço que existem situações em que pode ser justificado, principalmente quando existe risco para a mãe. Sobre a questão do estupro, tenho muito mais dúvidas que certezas. Ora acho que deve ser permitido, ora que deve ser proibido. Reconheço o grande mal que é submetido uma mulher diante deste horror e o trauma que pode resultar, mas por outro lado uma vida foi gerada. A idéia que esta vida possa ser ceifada me incomoda profundamente, assim como a tortura que deve ser levar por meses o resultado de uma experiência terrível no próprio ventre. É uma questão grave e que foge muito a minha capacidade de compreender.

Por isso evitei qualquer comentário sobre o caso da menina de 9 anos que era violentada pelo padastro e engravidou de gêmios. É um destas casos da humanidade em seu pior momento. Uma pessoa abusar sexualmente de uma criança de 9 anos, que vive em sua própria casa, é algo muito além da minha compreensão. A justiça humana é incapaz de ser rigorosa o suficiente com um doente como esse. Mas este não é o ponto.

O ponto foi o anúncio da excomunhão dos médicos e pais por um bispo de Recife e, principalmente, a reação que se seguiu. Um dos casos que a excomunhão é automática é o aborto, não depende de processo ou ato de um religioso. Mas o que significa a excomunhão? Significa que a pessoa não comunga total ou parcial do corpo doutrinário da Igreja Católica. A Igreja defende que a vida se forma na concepção, que a partir deste momento existe  uma alma ligada a um corpo físico, o ser humano. Esta vida deve ser protegida. Realizar o aborto, portanto, contraria uma questão doutrinária da Igreja Católica, por isso a excomunhão.

A pena é mais simbólica. Para quem não é católico, é absolutamente inócua. Afinal, neste caso, a pessoa não comunga com a fé católica, a pena está apenas ressaltando o óbvio. Para quem é, a Igreja está dando uma aviso: está indo contra a própria fé que diz abraçar, está  cometendo um pecado. O que parecem esquecer é que a fé católica tem no perdão dos pecados um dos seus mais importantes pilares. Ninguém está perdido por ter cometido um pecado, sempre há tempo para o arrependimento e o perdão.

Não sou católico. Fui criado como um até que compreendi que não acreditava em determinadas partes de seu corpo doutrinário. De certa forma, sou um excomungado. Eu não comungo totalmente dos dogmas da Igreja.

O bispo estava certo no anúncio que fez? Aqui cabe ressaltar um ponto: o bispo não excomungou como se afirma nos jornais, ele simplesmente anunciou a excomunhão automática. Ele apontou e disse: essas pessoas não comungam da totalidade dos dogmas da Igreja. Retomando a pergunta: o bispo está certo? Quem sou eu para dizer? Este acontecimento trágico, e seus desdobramentos, é um destes casos que convém ter muito mais dúvidas que certezas. Tenho respeito suficiente por esta menina e sua família para evitar usá-la como arma de combate.

O que nos leva ao que se seguiu. Três gigantes morais, Temporão, Carlos Minc e Lula resolveram colocar as patas na tragédia e fazer política. Temporão é o ministro da saúde que entre várias obsessões, tem uma em especial, tornar o aborto livre em todo o Brasil, queiram os brasileiros ou não. Minc parece ter mais humanidade com uma minhoca do que com um bebê no útero de sua mãe. E Lula? Bem, Lula é Lula.

De todos, pelo menos nesta questão, é Temporão que me desperta mais indignação. Aliás, a atuação deste senhor em favor do aborto só reforça a minha convicção que a prática dever ser combatida pelos homens de bem. A todo tempo ele repete que a Igreja Católica não deve se meter fora de seus limites, mas não perde uma oportunidade de querer dirigir a Igreja em matéria de fé. O bispo defendeu qualquer restrição civil ou penal da família ou dos médicos? Não. Fez uma consideração de fé a respeito de sua religião, portanto, gostem ou não, dentro de seus limites. Ninguém é obrigado a ser católico, mas se quiser ser deve seguir certas regras, os dogmas da Igreja. Por que tanta intolerância aos católicos? Por que se quer a todo tempo ensinar os católicos a serem católicos?

Lula, Minc e Temporão tem muito o que se ocupar em suas respectivas áreas de atuação, e são incrivelmente incopetentes nelas. Talvez por isso gostem tanto de dar pitaco onde não deveriam; no fundo querem afastar os olhos da realidade que estão produzindo.

À menina do Recife e sua família, todas as minhas orações e desejo que o mal que sofreram seja superado. Ao bispo do Recife, o respeito que tenho por todos que fazem da fé sua razão de vida. Aos médicos que realizaram o aborto, que estejam em paz com suas consciências.

Uma tragédia desta natureza escapa à minha compreensão e fico com muito mais dúvidas que certezas. Que Deus ilumine a todos nós.

3 pensamentos sobre “Sobre o bispo de Recife

  1. Meu caro, realmente é um assunto complicado…
    mas tenho minha opinião formada a respeito,
    acho q foi feito o q deveria, nesse caso o aborto
    é evidentemente certo…!

    No caso do Lula e companhia LTDA, bom,nao sei
    se vc esta lembrado, quando uma ex-namorada
    do Lula contou q na epoca q engravidou , ele
    sugeriu q ela fizesse um aborto…Q hoje é a sua
    filha Luriam…lembra ,foi oq declarou a tal mulher…!
    Então pense, (…) sem comentarios neh…!

    Forte abraço…!

  2. Acho que esqueceu um detalhe que foi o que me deu muita raiva, para o padastro não há excomunhão. Seguramente o bispo, a arquidiocese o Vaticano inteiro terão seus motivos para explicá-lo mas nenhum razoavel.

  3. Pois é Pablo. Não se pode falar daquilo que não se conhece! Pra se falar de Excomunhão é preciso saber o que é excomunhão. A quem e quando se aplica. 95% dos textos a respeito deste caso, estão completamente errados no que diz respeito a excomunhão. Fala-se em punição, condenação e injustiça da “cruel” Igreja Católica. Mas como eu disse: 95% não sabem o que escrevem.

    “Meu povo se perde por falta de conhecimento!” (Livro de Oseas)

    Primeiro deve-se saber que o crime de MATAR uma criança inocente (no caso duas) é burlescamente mais cruel e covarde que estuprar uma criança. Ou não?

    Porque matando você esgota todas as possibilidades. Mas o estupro de uma criança apesarde ser um crime que clama os Céus, ainda deixa a criança viva. Se há vida há esperança. Mas quando você MATA. Você esgota todas as possibilidades de vida.

    Por isso matar é mais cruel que estuprar. Tem dúvida ainda? Veja as penas de estupro e homicídio no CP.

    Pois é. Antes de criticar, tem que se conhecer.

    Um abraço e uma prece.

Deixe um comentário para Pablo Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *