Foi dado publicidade ontem a mais um estudo do IPEA, desta vez em conjunto com a ONU e a Secretaria dos Direitos da Mulher. Os dados divulgados mostram que as mulheres e os negros possuem média salarial abaixo dos homens e brancos respectivamente. Conclusão: somos uma país sexista e racista. Trata-se de uma análise de pura falsidade intelectual.
Um país sexista?
O salário médio de uma mulher no Brasil é 2/3 dos homens, isto é fato. Faço aqui uma ressalva: estou confiando na veracidade dos dados do IPEA, mesmo considerando o aparelhamento do órgão e o expurgo realizado ano passado. Retomando. O fato do salário médio das mulheres ser menor não significa necessariamente que há discriminação. Para que esta discriminação se confirmasse era necessário que fossem comparados homens e mulheres com o mesmo grau de escolaridade, de competência profissional e em empregos semelhantes. Esta evidência simplesmente não existe.
Começamos pelo fato de um grande contingente de pessoas estar empregada no serviço público que absolutamente não faz discriminação de sexo ou cor, nem mesmo de competência profissional. Resta o contingente de mercado de trabalho.
Devemos lembrar sempre que as mulheres geralmente submetem-se a uma dupla jornada de trabalho. Além do emprego formal são as maiores responsáveis pelo cuidado com os filhos e até mesmo com a casa. A sociedade reconhece este ônus a mais, tanto que o legislador, entendendo esta dinâmica, permitiu que elas aposentem 5 anos antes dos homens.
Uma conseqüência prática portanto é o fato de ser comum que as mulheres optem por uma jornada menor de trabalho, o que naturalmente reflete-se no salário. Além disso muitas, justamente as com maior escolaridade e padrão econômico, escolhem simplesmente não trabalhar.
Outro fator importante é uma discriminação contra os homens. Quantos empregados domésticos existem? Que família colocaria um homem para cuidar de seus filhos? Ou mesmo para cuidar da casa? Eu mesmo não o faria. Normalmente uma empregada doméstica recebe um salário mínimo, o que puxa a média salarial para baixo.
Existem vários fatores para que o salário médio de uma mulher seja menor que o do homem, mas nenhum deles é de cunho sexista. E não estou nem entrando em outra questão que pode influenciar neste salário que é a maternidade. Não vejo nenhuma evidência empírica que uma mulher receba um salário menor nas mesmas condições de um homem, a sociedade brasileira não é sexista como tentam nos convencer.
Somos racistas?
Aqui temos que voltar um pouco na história para entender que um negro pode ser discriminado mas não por ser preto e sim por ser pobre. Não está sozinho, o branco pobre é discriminado também.
Os negros vieram para o Brasil pela via vergonhosa da escravidão. Por mais repúdio que esta prática nos desperte é preciso entender que eles não viviam em um mar de rosas na África, muito pelo contrário. As guerras eram a situação normal e não havia escapatória para a derrota, a chacina era certa, quando não eram vítimas do canibalismo.
De certa forma os negros que vieram para o Brasil passaram a ter uma vida melhor que na África, tanto que os negros africanos raramente se rebelavam. Estou aqui justificando ou defendendo a escravidão? Nunca; o homem deve ser livre para viver sua existência. Estou apenas retratando um fato histórico.
Foram as negros brasileiros que começaram a lutar por sua liberdade até a conseguirem definitivamente em 1889. Com a abolição é preciso entender que os negros passaram a constituir a camada mais baixa da população.
Considerando que durante todo o século XX vigorou e ainda vigora no Brasil um modelo sócio-econômico concentrador de renda a surpresa não é que existam proporcionalmente mais negros pobres que brancos pobres, mas que tantos tenham saído da pobreza!
Ao contrário do que se imagina não foram as políticas sociais e as afirmativas que tiraram muitos negros da pobreza, mas o desenvolvimento econômico, principalmente no primeiro ciclo do governo militar e no plano real. Sempre que se atacou a pobreza no Brasil os negros foram beneficiados justamente por terem uma boa proporção nas classes mais pobres.
O mesmo raciocínio das mulheres vale aqui. Para que o racismo se configure é preciso que um negro na mesma condição de escolaridade, mesma jornada de trabalho, mesma capacitação profissional e em emprego de mesma natureza, receba um salário menor, o que o estudo absolutamente não mostra.
Quer dizer que não existe preconceito no Brasil? Ora, não existe país que não haja! Preconceituosos e racistas existem em todos os lugares do mundo mas este não é uma traço marcante da sociedade brasileira, o que pode ser verificado pela intensa miscigenação.
O que os negros brasileiros realmente precisam é de uma melhora no sistema educacional que o capacitem, junto com os brancos pobres, a disputar o mercado de trabalho. Educação de qualidade, desenvolvimento econômico e investimento em infra-estrutura, esse é o caminho para reduzir a pobreza, independe da cor.
Conclusão
É preciso sempre ter cuidado com estatísticas, dados brutos são muito perigosos. Sem o contexto adequado leva a conclusões absurdas como demonstrar que quando se bebe mais cerveja na praia o sol aparece com mais força ou que as crianças que recebem ajuda dos pais no estudo tiram piores notas.
Uma abordagem um tanto fantasiada…