Por que não acredito em democratas

Promessas de campanha de Obama na convenção do Partido Democrata:

– cortar os impostos de 95% das famílias;
– acabar com a dependência do petróleo em 10 anos;
– investir US$ 150 bilhões em energia alternativa;
– retirar imediatamente as tropas do Iraque;
– baratear plano de saúde de quem tem plano;
– dar plano a quem não tem;
– garantir o acesso a universidade do jovem que ajuda a comunidade;
– acabar com a discriminação de gays e lésbicas;
– punir a sonegação das grandes empresas;
– estimular as empresas que ajudam a América;
– investir na diplomacia, não na guerra…

E acham exagero compará-lo com o apedeuta… Faltou só prometer os ovos de páscoa…

16 pensamentos sobre “Por que não acredito em democratas

  1. Não entrei no mérito das propostas, apenas da sua total irrealidade e irresponsabilidade também. Sei de sua posição sobre planos de saúde mas você acredita que seja possível sair da dependência do petróleo em 10 anos? Acabar com a discriminação de gays e lésbicas por um ato de vontade política? Retirar imediatamente as tropas do Iraque? Se fizer esta última será um gigantesco ato de irresponsabilidade e uma traição, será repetir o fiasco do Vietnã e quem pagará caro serão os iraquianos.

    Investir na diplomacia, não na guerra. Os Estados Unidos não investiram na guerra, foram atacados! Em seu território! Acreditar na diplomacia quando o caso é de guerra pode produzir um caos como foi a II Guerra Mundial quando Chamberlain e seu colega francês tentaram fazer diplomacia com Hitler.

    Garantir acesso a universidade para quem ajuda a comunidade? Que diabos é isso? Sem mérito? Já não basta o sistema de cotas? O que é ajudar a comunidade? Quem cortar grama ganha um acesso à faculdade de medicina?

    Sinto muito, mas não dá para acreditar neste cara. Pior, acho Obama um perigo não só para a América mas para todo mundo ocidental. Sua retórica lembra muito o presidente que elegemos por aqui; no fundo quer um voto em branco. Quer ser eleito com uma única promessa… mudança. Para onde e para que ninguém parece saber muito bem…

  2. É claro que os projetos são grandes e ninguém acha que serão concretizandos imediatamente mas a função de um líder é essa mesmo, de sonhar grande e começar a trabalhar hoje para que a longo prazo as coisas cheguem nesse ideal. Uma diferença entre a política americana (e canadense) e a brasileira, é que aqui se pensa a grande prazo, não são projetos para um governo só.

    O governo pode fazer grandes coisas quando se trata de trabalhar para erradicação da discriminação contra quem quer que seja. Quando ele diz “acabar com a discriminação contra gays e lésbicas” não quer dizer que de um dia pro outro passarão uma lei e tudo ficará beleza. Quer dizer que ao menos o governo e órgãos públicos mudarão sua atitude interna e darão o exemplo pra sociedade civil, educando as pessoas sobre o quanto a discriminação é errada e reprimível. Não podemos subestimar o poder público quando se trata em educar a população. Há 20-30 anos atrás os homossexuais também eram discriminados aqui no Canada e o governo também resolveu adotar como política o fim da discriminação. Hoje em dia homossexuais têm as mesmas oportunidades que qualquer outra pessoa e a liberdade de ser quem ele/ela é sem problemas. Eu mesma conheço homossexuais assumidos como professores universitarios (inclusive chefes de departamento), presidente e vice-presidente de grandes empresas, nos altos escalãos da polícia federal daqui, ou seja, em toda e qualquer profissão. Mas tudo isso começou não com a sociedade privada dizendo que queria o fim da discriminação – isso sempre tem – o que o fez possível foi um partido político que chegou ao governo e adotou isso como política e passou as leis necessárias contra a discriminação ao mesmo tempo que deu o exemplo através de suas próprias internas.

    Quando ao acesso a universidade, o Obama estava falando de uma política que existia antes nos EUA pela qual se vc servisse às forças armadas, por exemplo, depois que vc se desligasse da força, o governo arcava com seus estudos universitarios. Tem uma expressão que diz “I went to college on the GI Bill” e quer dizer exatamente isso – o cara era pobre, se alistou, serviu, foi pra guerra, voltou e quando deu baixa pode mudar de carreira pois o governo o permitiu o acesso universitario. Parece que isso foi cortado no governo republicano. Ele falou disso no discurso. Não sei se há a idéia de ampliar isso para incluir serviço comunitário civil também. Quando eles falam em ajuda a comunidade aqui, é num nível que não temos no Brasil então fica difícil avaliar. As pessoas aqui – e nos EUA também – doam MUITO do seu tempo para a comunidade onde vivem. Trabalham como voluntários em hospitais, organizações comunitárias, asilos, em programas de apoio a comunidade carente. Aqui no Canada, as estatisticas mostram que 45% das pessoas com mais de 15 anos de idade fazem trabalho voluntário, contribuindo um total de mais de 2 bilhoes de horas anualmente, os economistas estimam que isso contribue 15 bilhoes de dolares anualmente em serviços para as comunidades. Como o custo do ensino universitário americano anda muito fora do alcance das pessoas de baixa renda, talvez haja alguma proposta para reconhecer o trabalho dessas pessoas com algum incentivo, tipo bolsas universitarias.

    Eu confesso que preferia a Hillary mas não acho errado o Obama apostar em mudança pois o continente está precisando realmente de uma mudança. O nosso estilo de vida e política desenvolvidos no século 20 não são compatíveis com a realidade do século 21 e precisamos realmente encontrar um outro caminho. O que não pode é ficar como está.

  3. “Apenas uma, entre tantas mentiras que propalaram, eu acato: a de que deveis ficar alertas para não serdes enganados pela minha habilidade de orador.
    No entanto, não se envergonhem com a possibilidade de que logo seriam desmentidos por mim, concretamente, quando eu me apresentasse diante de vós, de nenhum modo hábil orador? Essa é, na verdade, a sua maior imprudência, se, todavia, não denominam “hábil no falar” aquele que diz a verdade. Porque, se dizem exatamente isso, então devo me considerar um bom orador, mas não no sentido que quiseram me atribuir.”

    Sócrates

    Quando Sócrates surgiu, a Grécia era dominada pelos retóricos. Em infindáveis debates públicos, os pensadores da sua época tentavam convencer seus adversários não pela força de seus argumentos, mas pela habilidade como orador.

    Esta passagem está no início de Apologia de Sócrates, onde o grande filósofo fazia um alerta para seus próprios juízes, os cidadãos atenienses. Deve-se ter mais cuidado com aqueles com o poder da retórica do que aqueles que não a tem, pelo menos no sentido mais usual do termo.

    O fato de Obama ser um bom orador deve ser um cuidado a mais com seu poder de convencimento. Este convencimento é por suas idéias ou por seu poder de persuasão?

    Até agora só tinha escutado discursos vazios do candidato democrata, pela primeira vez ele esboçou algum discurso concreto pressionado justamente pela acusação de não ter idéias.

    Eu sei que política deve ser feita a longo prazo, mas não vejo este sentido no discurso de Obama. Ele fala como uma espécie de messias hipnotizador que deseja transformar os Estados Unidos. Acredito que se desejasse realmente um projeto neste sentido teria dado a oportunidade para Hilary e sido candidato a vice para assumir depois dela, um projeto plenamente viável.

    Um dos pontos em que mais divirjo de seu pensamento é na fé que coloca no poder público como solucionador de problemas da sociedade. A maioria de nossos problemas não são de cunho político, considerá-los assim só piora a situação. Quando você diz para não subestimar o poder público na educação da população pode ficar tranqüila, eu não o faço. Tenho sim medo, o que é de natureza bem diferente.

    Quando estudei filosofia de ensino, entre outras matérias de um curso de supervisão escolar que fiz, li algo que ficou na minha cabeça. Por acaso hoje um colega, técnico de ensino, referiu-se a este mesmo pensamento. A escola é o maior instrumento de doutrinação ideológica do estado. Tenho horror só de pensar nisso.

    Não acho que as escolas deveriam ensinar o que o estado deseja. Deveriam ensinar as matérias curriculares e colaborar na educação moral que os pais escolheram para seus filhos. Por mais imperfeitos que sejam, prefiro confiar neles do que em burocratas do governo.

    Chegamos então à discriminação. O estado não pode permitir que se pratique qualquer forma de violência contra um homossexual. Não pode permitir que seja discriminado no emprego, ou nos seus direitos individuais. Só discordo plenamente do estado querendo educar o pensamento das pessoas. Qualquer pessoa tem todo o direito ao seu julgamento pessoal sobre qualquer prática humana, inclusive o homossexualismo. Tem inclusive o direito de considerar esta atitude como moralmente condenável ou no vocabulário católico, um pecado. E defendo o direito destas pessoas de educar os filhos dentro dos valores morais que acreditam dentro de certos limites. Ninguém é obrigado a ser católico, por exemplo. Se escolher sê-lo, deve saber que o homossexualismo é um pecado aos olhos de sua igreja. Todos temos direito ao livre pensamento e a liberdade de expressão.

    Quanto ao acesso a universidades defendo sempre a meritocracia. O estado pode ajudar quem não pode pagar dentro de suas políticas sociais, mas não pode escolher quem vai entrar baseado em qualquer critério social ou moral. O foco do governo deveria ser ajudar aquelas pessoas que tiveram méritos para ser selecionadas para um curso superior mas não podem financiar seus cursos.

    Obama está fazendo o discurso que os liberais gostam de ouvir, mas vejo nele apenas um oportunista político na busca pelo poder a qualquer preço. Diferente de Hilary. Embora não goste de suas propostas reconheço que ela pareceria realmente acreditar nelas. Obama não acredita em nada, apenas em sua sede pelo poder.

  4. Eu entendo a sua posição e acredito que se eu tivesse vivido a minha vida inteira no Brasil, eu provavelmente pensaria o mesmo e seria tão suspeitosa de qualquer boa intenção do governo ou seus políticos como você. Entendo perfeitamente o porquê vc pensa da maneira como pensa.

    Agora deixa eu explicar o porquê eu penso da maneira como eu penso. A minha consciência política se desenvolveu durante os quase 10 anos em que vivo aqui no Canadá e durante o ano em que passei na Espanha. Durante esse tempo eu não só passei a me antenar ao que se passava à minha volta – assim como vc – mas também me formei em história, uma disciplina que me proporcionou a humildade para entender a limitação do nosso conhecimento assim como capacidade de me colocar na posição dos outros e entender sua posição e como balancear várias perspectivas diferentes.

    Mas a minha visão política não vem do meu estudo e sim da minha experiência. Eu vivo em um país onde 2/3 da população acredita em ideais liberais. O canadense tem fé no seu governo – ele acredita que o governo existe para velar pelo bem-estar da nação, proporcionando educação, saúde, e segurança. Mas essa fé não é cega. Para que isso seja realidade ele exige de seus políticos compromisso, seriedade e profissionalismo. Ao contrário do americano, o canadense não quer saber o que seu líder político come no almoço, se é casado ou separado, se ele é um cara legal ou não. Ele quer saber se ele é capaz de desempenhar seu cargo. Quando há algum problema em uma das áreas que o canadense confia ao governo, as cobranças são feitas e mudanças na forma de proceder seguem-se. As investigações aqui não terminam em pizza. Tudo é levado com muita seriedade. O que não quer dizer que o governo não pise na bola ou que tome atitudes que muitas vezes vão contra os valores de muitos canadenses.

    É fácil acreditar em ideais conservadores e suspeitar das intenções do governo quando se vive num país onde realmente não se pode confiar no governo ou quando esse ideais são indoutrinados. Temos um amigo americano que se mudou há alguns anos para Montreal. Logo que ele chegou, ele reclamava muito do sistema de saúde. Não pq o sistema o tivesse falhado, ele reclamava do campo ideológio – vivia dizendo “pq eu devo pagar para que meu vizinho faça uma cirurgia?”. Dizia que deveria ser como nos EUA onde cada um é reponsável por si mesmo e tem seus seguros particulares e o governo lida com os pobres. Hoje ele é defensor ferrenho do sistema canadense. Pq? Por dois motivos – a irmã dele teve câncer terminal e falaceu recentemente. Ela tinha o melhor seguro privado possível. Quando ela faleceu, a dívida hospitalar dela, depois de descontados todas as despesas cobertas pelo seguro, era de quase um milhão de dolares. Tudo o que ela tinha teve quer ser vendido pra pagar as despesas depois que ela faleceu, o seguro de vida cobriu outros tantos e ainda sobrou muito para que a família pagasse no final. Ao mesmo tempo em que tudo isso aconteceu, ele teve problemas com a vista. Desenvolveu catarata e se tornou praticamente cego. O médico marcou a cirurgia, ele fez a cirurgia, hoje vê perfeitamente e não pagou nada. Sem burocracias, sem luta com seguros de saúde. Ele tem diabetes e tem todo o seu tratamento sem ter que se preocupar. Hoje ele entende pq ele deve pagar pela cirurgia do vizinho. Pq se um dia ele precisar, o vizinho terá pago pela dele. Independentemente se é uma doença pré-existente, idade, ou condição social. A faxineira dele teria o mesmo tratamento.

    Não ter que se preocupar com isso é um peso indescritível retirado do ombro do cidadão. Um conservador americano diria que não gostaria de ter só uma opção de seguro de saúde. Que isso iria contra sua liberdade de opção. Mas que liberdade de opção vc tem quando seu seguro diz que não vai cobrir o procedimento pq a seguradora não acha que aquele tratamento seria o melhor. Que opção seu médico tem quando a decisão dele de qual tratamento adotar é baseado não no que é melhor pra vc mas qual vc pode pagar? As únicas pessoas que têm realmente liberdade num sistema assim são os muito ricos. E é aí que está a injustiça.

    Ideologicamente podemos discutir o quanto for contra ou a favor de um sistema com conotações socialistas como esse. Mas o fato é que todos os americanos que eu conheço que vêm pra cá se convertem e os canadenses que eu conheço que vão para os EUA, só reclamam.

    Então pra mim, é difícil não confiar no governo quando eu vejo programas que funcionam e vivo numa sociedade onde a justiça e a inclusão social não são uma utopia e sim uma realidade. E quando vejo como nos sentimos livres por completo quando não temos que lutar pelos nossos direitos básicos a educação, saúde e segurança.

  5. A minha posição sobre a social democracia não tem nada a ver com o que vejo no Brasil. Sei muito bem que o que acontece por aqui é uma aberração sem tamanho e que o nível de corrupção é tão elevado que não se pode adotar a estrutura brasileira como um parâmetro para nada além de buscar entender por quais razões chegamos a este ponto. Não desconfio de governos por causa do que vejo no Brasil, desconfio pelo que vi na história ao longo de toda existência do estado moderno.

    A social democracia é dita como a junção do que há de melhor nos dois sistemas, o capitalismo e o socialismo. Não poderia me opor mais. O capitalismo nunca foi a antítese do socialismo pelo simples fato de que o capitalismo não é uma ideologia, o socialismo sim.

    O capitalismo nunca teve a ambição de construir uma sociedade perfeita, de fato nunca chegou a ser formulado antes de sua aplicação. O capitalismo foi uma evolução natural das atividades produtivas da sociedade baseado na liberdade que uma pessoa possui em trocar algo que é seu. Seu primeiro teórico, Adam Smith, simplesmente constatou que alguns países eram mais ricos do que outros e procurou levantar as razões para que esta desigualdade existisse.

    A social democracia surgiu quando as primeiras pessoas perceberam que o modelo econômico proposto pelo marxismo era um fracasso e consumiria a própria utopia. Para manter o socialismo era necessário preservar o capitalismo e assim foi feito. Alguns entenderam antes, outros depois e alguns nunca entenderam.

    O socialismo coloca a igualdade como o valor mais importante de uma sociedade. Este é primeiro grande ponto que discordo, considero que este valor seria a liberdade.

    A minha oposição ao socialismo está calcado em meu entendimento de mundo, nas razões para a própria existência humana. Não acredito que estejamos aqui para sermos iguais e sim para buscarmos desenvolver um projeto de vida para nós mesmos que nos leve a uma profunda reforma íntima no sentido de atingir uma excelência humana.

    Para tando precisamos de liberdade para realizar este projeto e ter um conjunto de valores que nos guie nesta caminhada. De tudo que li até hoje nada me pareceu mais razoável do que o cristianismo e a crença em um Deus único infinitamente bom e justo. Esse é um ponto fundamental para entender o meu pensamento em relação à política.

    A social democracia confia muito no estado para o controle dos cidadãos. Eu confio muito mais na sociedade e na liberdade pois acredito que só se produz com o máximo de eficiência dentro de um regime liberal. É por isso que as técnicas e equipamentos utilizados na saúde pública do Canadá foram em sua imensa maioria desenvolvidos nos Estados Unidos. O tão atacado sistema de saúde americano baseado no lucro é o grande responsável pela maior parte do avanço da medicina.

    Não é o fato do Brasil ser esta bagunça que me deixa preocupado, pois saberia que alguma hora cairia na realidade. É o fato de grande parte do mundo mais civilizado ter caído no canto da sereia que me causa angústia. Acho a social democracia insustentável a longo prazo e muitos países europeus já começaram a sentir estes efeitos __ a França o maior exemplo.

    Vejo com preocupação que os Estados Unidos sejam o último bastião da liberdade individual e décadas de ação do pensamento progressista já está fazendo ruir este papel. O ensino público americano é um dos exemplos do desastre que as teorias sociais podem fazer.

    O fato é que a adoção da social democracia traz uma diminuição produtiva significativa, o que tem um grande custo para a população. Enquanto houver um bolo para ser repartido ela funciona, mas um dia terá que aumentar este bolo e descobrirá que estará preso pelas amarras que foram criadas para sustentar o estado do bem estar social.

    Novamente repito, não se limite a ser uma historiadora. É preciso ter um conhecimento sério de filosofia, economia e sociologia para compreender o mundo que vivemos. Neste ponto estou na fase de entender a minha própria ignorância e esforçando-me para conseguir sair das trevas.

    Como dizia Chesterton, quanto mais convicção você tem de algo mais difícil fica para explicá-lo. Cada texto que leio, cada acontecimento que vejo, mais me deixa convicto que a liberdade está na própria razão de ser da nossa existência e daí minha inaptidão para explicar minhas idéias.

    O tempo dirá quem tem a razão, só temo que o caminho que foi escolhido não permita o retorno justamente pelo socialismo ter na sua base o controle da sociedade pelo estado. E aí vejo a raiz de seu próprio mal.

  6. Bom, eu vivo em uma país que acredita em valores progressistas e ideais social democratas combinado com uma economia livre. Isso não torna o Canada nem um pouco mais pobre ou o canadense nem um pouco menos livre que o americano. Muito pelo contrário.

    – a produtividade canadense não é significativamente diferente da produtividade americana em termos proporcionais. Em algumas áreas, chega a ser maior
    – basta saber um pouco sobre a historia da medicina pra saber que muitas técnicas e desenvolvimentos da área foram feitos aqui no Canada. A universidade McGill não é famosa nos EUA a toa.

    É certo que o capitalismo nunca teve como objetivo construir a sociedade perfeita. E é por isso que levado ao extremo, é capaz de grandes males.

    Não sou contra o capitalismo ou grandes corporações, mas acredito que todos temos um compromisso não só conosco mesmos mas também com a sociedade na qual vivemos. Assim como o destino do ser humano é conectado intimamente com o destino de todas as outras espécies do planeta, cada ser humano é conectado com os outros que vivem em sua casa, sua comunidade, seu país e no mundo.

    Eu também acredito na liberdade acima de tudo. Mas diferentemente de vc, eu não acredito que há verdadeira liberdade sem justiça social.

  7. Você falou e fui procurar. Entrei no site da Organização Mundial do Trabalho e verifiquei que a produtividade do trabalhador americano é tão superior ao resto do mundo que ele é o padrão comparativo para todas as estatísticas de produtividade.

    Pelo relatório da OIT, o Canadá tem uma produtividade de cerca de 78% da americana. Pode parecer pouca diferença mas não é, ainda mais que em 1980 esta produtividade era de mais de 90%. Ou seja, em 28 anos de bem estar social os canadenses tornaram-se menos produtivos.

    Quanto ao desenvolvimento tecnológico da medicina não tenho dados, mas diversos médicos que conversei são taxativos: quase todo equipamento que utilizam foram inventados e patenteados por americanos. Tanto é que muitas empresas européias tem feito suas pesquisas nos Estados Unidos pois lá existe uma proteção muito maior ao direito à patente.

    Aliás, neste momento estou utilizando um computador desenvolvido e fabricado nos Estados Unidos, assim como a internet e o site em que estou postando esta mensagem. Não acredito que tudo isso existiria se o bem estar social tivesse tomado a América. Mas não desanime, aos poucos ele está chegando lá.

    Quanto ao pressuposto para liberdade não poderia ter uma opinião mais contrária. Existe liberdade mesmo sem justiça social. Alguém foi mais livre que Jesus Cristo? Ou Sócrates? Ou Paulo? Ou Madre Tereza de Calcutá? Mesmo no meio do extremo da injustiça eram pessoas extremamente livres pois eram livres para fazerem suas escolhas. Sócrates pode escolher entre o exílio (abrindo mão de poder filosofar) e a morte. Escolheu a última por entender que ninguém poderia proibí-lo de sua missão divina.

    Em comum todos eles acreditavam que o mundo ideal não estava sobre a Terra, mas além das próprias vidas. Isso não quer dizer que devemos aceitar o mundo como ele é. Todos eles eram reformadores, acreditavam que a humanidade deveria evoluir lentamente para este ideal, em passos seguros e certos. O ideal era fixo, o que mudava era o mundo.

    O socialismo, como outras ideologias, mudaram o ideal e com isso mantiveram o mundo igual ou pior. Pior que isso, está constantemente mudando este ideal. Você pode obrigar uma pessoa a usar um serviço de saúde público, uma educação pública e educá-la para isso. Mas não pode obrigá-la a reformar-se intimamente se ela não quiser. É a liberdade de recusar a reforma íntima que reivindico para todos nós, justamente para que usemos esta liberdade para nos reformar.

  8. “Em comum todos eles acreditavam que o mundo ideal não estava sobre a Terra, mas além das próprias vidas. Isso não quer dizer que devemos aceitar o mundo como ele é. Todos eles eram reformadores, acreditavam que a humanidade deveria evoluir lentamente para este ideal, em passos seguros e certos. O ideal era fixo, o que mudava era o mundo.”

    Qual ideal estamos falando?

  9. Um mundo onde não existiria o pecado, onde o homem seria conduzido pela virtude, um mundo onde estaríamos ligados ao divino. Este é o ideal que devemos buscar e caminhar em sua direção.

    A base para este mundo foi dita claramente por Cristo. Amar ao próximo e a Deus sobre todas as coisas. Um mundo de justiça, o que no meu entender é bem diferente de justiça social. Justiça é dar a cada um segundo seus méritos, tratar de forma desigual os desiguais.

    O mais importante é entender que existe um mistério, existe algo além dessa vida, que somos passageiros nesta existência.

    Entendendo isso, tudo mais se torna claro. Até a injustiça deste mundo.

  10. Esse comentário foi para o comentario numero 8:
    Bom, acho que vamos ter que concordar que discordamos e deixar por aí. Mas quanto ao seu exemplo da Madre Teresa, Jesus, e afins, eu gostei porque ilustra bem o que penso. Eu acredito que nossa obrigação/missão nesse mundo vai além do desenvolvimento pessoal. É claro que é possível ter o espírito livre num mundo injusto – não foi isso que quiz dizer quando disse que não há liberdade sem justiça – mesmo nos sistemas mais autoritários existem indivíduos livres. Mas Madre Teresa, Jesus, Ghandi e outros tantos nos ensinam que a verdadeira liberdade está quando paramos de pensar em nós mesmos, e deixamos de interepretar o mundo de acordo com barreiras nacionais, raciais, sociais, de gênero e pensamos mais na humanidade como um todo.

    e esse para o ultimo:

    Para mim a justiça é dar condições para que as pessoas possam atingir seu potencial pleno (os que têm mérito, como vc diz). Isso significa dar as ferramentas para que barreiras que não têm nada a ver com talento pessoal – como a barreira da pobreza, da cor, do gênero, da condição sexual – não impeçam ninguém de realizar seus sonhos. No fundo, todos nós queremos paz, um teto sobre nossas cabeças, comida na mesa e a possibilidade de sonhar com um futuro melhor para nossos filhos. A injustiça existe quando as pessoas não podem alcançar, por motivos alheios a si mesmo, esse básico.

  11. Bravo! Justamente quando disse que temos que concordar que discordamos você produziu um texto que concordo inteiramente, vírgula por vírgula!

    Encerremos por aqui então nosso debate, pelo menos neste tópico…

  12. É uma boa pergunta, não?

    Talvez eu veja nas políticas que defende justamente o contrário disso. Talvez eu veja nesta políticas uma forma não só de impedir que algumas pessoas progridam como de artificialmente empurrar outras que não fizeram por merecer.

    Um bom exemplo é o sistema de cotas nas Universidades. Pela definição que deu de justiça, uma pessoa não pode ser impedida de entrar na universidade por ser negra. Acrescento que não poderia ser impedida também de entrar por ser branca! É o que começa a acontecer no Brasil, uma país que tem na miscigenação uma de suas principais riquezas!

    Os negros não são impedidos de entrar nas universidades brasileiras por serem negros, isso é um mito. Acontece que uma boa porcentagem de negros são pobres e por este motivo deixam de ter uma educação menos desastrosa. Não seria uma melhor política combater a pobreza? Investir no ensino para que os pobres cheguem ao vestibular nas mesmas condições dos mais ricos?

    Acho que a combinação para conseguir um mundo mais justo está no desenvolvimento econômico e na educação. Considero que um modelo liberal, de estado subordinado á sociedade e não o contrário, fundamental para conseguir isso.

    Portanto, podemos concordar na definição de justiça. Nossa discordância parece ser na forma de alcançá-la.

  13. Bom, tendo visto o modelo canadense e americano em prática, eu tenho que dizer que o modelo canadense é melhor e chega nessa descrição de justiça mais do que o americano.

    O Brasil, como sempre, não serve como referência. Eu sou contra o vestibular e concursos em geral.

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