Cristovão e a Guerra do Paraguai, a da esquerda

Cristovão Buarque:

Não podemos simplesmente negar ao Paraguai o direito de pedir o reajuste. Nós não podemos esnobar o Paraguai. Até porque temos uma dívida com esse nosso país vizinho, já que há 138 anos matamos 300 mil de seus cidadãos [na Guerra do Paraguai]. Em proporção, seria como se matassem nove milhões de brasileiros.

Toda vez que alguém fala que o Cristovão Buarque era o melhor candidato em 2006, que infelizmente não tinha como vencer em um país que não se importa muito com educação eu penso aqui comigo, ainda bem. Porque este é um daqueles que simplesmente não me convence.

Primeiro porque é do PDT. Quem morou no Rio muito tempo, e é capaz de pensar um pouco, sabe o câncer que o partido foi para a cidade e o estado. É um partido que defende muitas das idéias mais retrógradas que existem por aí, estas que fracassaram no mundo inteiro.

Como ministro da educação foi um fiasco, sua principal realização foi acabar com o provão que estava vencendo as resistências e tornando-se um indicador de qualidade para as Universidades. Também se destacou na defesa dos privilégios absurdos das universidades públicas.

Recentemente saiu em defesa do gasto de meio milhão de reais para reforma do apartamento do reitor da UNB.

Agora resolve trair os milhares de brasileiros que tombaram na Guerra do Paraguai.

O mito

Nos anos 70, com o domínio cultural da esquerda na educação, os militares não davam muita bola para o que aconteciam nas escolas, e estão pagando por isso até hoje, surgiu uma versão da Guerra do Paraguai que perdura até hoje. Faz parte de todo um quadro que tenta pintar a América Latina como um pobre continente explorado até hoje pelos malvados imperialistas. A maior expressão deste pensamento é a obra de Eduardo Galeano chamada “As veias abertas da América Latina”.

Dentro deste quadro, a Guerra do Paraguai passou a ser pintada como uma guerra de extermínio. O Paraguai era uma espécie de oásis na América Latina, um país industrializado, sem analfabetismo, no padrão dos países europeus. O Brasil, instigado pela Inglaterra, promoveu juntamente com Argentina e Uruguai, uma campanha para acabar com aquele mal exemplo de independência no continente.

Foi um massacre contra os pobres paraguaios, com a morte de crianças e mulheres inclusive.

A verdade

Um trabalho muito sério e recente de Francisco Doratioto, que passou anos no Paraguai pesquisando as fontes primárias, mostra que não foi bem assim.

O Paraguai era sim o país mais independente das américas, mas devido a conjuntura e não a um desenvolvimento superior. Por não ter saída por mar e ser dependente de Buenos Aires para praticar comércio pelo Prata, o país voltou-se para dentro procurando ser auto-suficiente.

Este isolamento trouxe com ele a ditadura e o estatismo, o povo não vivia muito melhor que no resto das américas e ainda tinha que abrir mão de sua liberdade.

Mas não dá para viver isolado para o resto da vida e surgiu o sonho do Paraguai Maior. Os López, pai e filho, sonhavam com a saída para o mar e controle do estuário do Prata e começaram a organizar o exército e preparar-se para uma campanha militar.

Foi assim que as tropas paraguaias invadiram o Mato Grosso, a Argentina e o Rio Grande do Sul e o governo paraguaio declararou guerra ao Brasil e Argentina. Desta situação originou-se o Tratado da Tríplice Aliança, conseguindo romper com décadas de confrontos entre brasileiros e argentinos.

A campanha foi a mais sangrenta da América Latina. Milhares de brasileiros morreram nos campos de batalha e o custo foi altíssimo para a monarquia brasileira que viu o início de sua queda. Mas não havia outra alternativa, o país fora invadido.

Se a guerra foi até o final, cabe-se a dois motivos. O primeiro é inerente às ditaduras. Solano López levou seu país até as últimas conseqüências, resistindo quando sabia não ter mais condições de vencer. O segundo foi a recusa do ministério conservador de D Pedro II de aceitar a proposta de Caxias para encerrar a guerra com a conquista de Assunção. Queriam a cabeça de López.

O Brasil ocupou tudo o Paraguai. Fosse um país conquistador, poderia ter anexado o território. Retornou às fronteiras de antes da querra e reconheceu a independência do Uruguai e a soberania de seu povo. O Paraguai herdou uma dívida de guerra que nunca pagou e foi finalmente perdoada por Getúlio Vargas.

Na campanha eleitoral deste ano, mesmo nos momentos de maior ataque ao “imperialismo brasileiro”, nenhum candidato chegou a referir-se, mesmo de passagem, ao conflito. Eles sabem muito bem quem foi responsável pelo banho de sangue.

Que um jovem brasileiro tenha a versão propagada nas escolas é compreensível. Que um senador da república, ex-reitor de uma das maiores universidades do país, um intelectual, defenda esta versão é pura delinqüência. E o fato de ser um defensor público da educação torna o quadro ainda pior.

E uma traição à memória dos brasileiros que tombaram defendendo seu país.

Que vergonha senador!

7 pensamentos sobre “Cristovão e a Guerra do Paraguai, a da esquerda

  1. Esta mensagem é atribuída a Otacílio M. Guimarães presidente do CREA de um estado do nordeste (não me recordo qual). Eu pesquisei e não encontrei a fonte de dados na qual o senador fez o pronunciamento. Fica difícil comentar uma coisa tão grave sem referência ao original. Isto até descredibiliza este site de discussões mesmo que seja com a melhor das intenções. Gostaria de ter a fonte.

  2. Assim como o Paulo Kubota, eu gostaria de ter a fonte, pois recebi um email com essas declarações, mas não achei nenhuma confirmação.

  3. Derrubando toda a argumentação em um só golpe: A premissa inicial de sua argumentação pressupõe que o Senador aceitara o pedido de reajuste, atitude que nem é da competência deste.

    Mais: Ao dizer “Não podemos negar ao Paraguai o [b]Direito[b] de pedir o reajuste” ele defende princípios básicos de negociação contratual, e, a menos que você queira voltar à era ditatorial ou sem leis, ele está completamente certo. Aliás, não poderia haver ironia maior que esta: uma crítica ao apoio por parte de Cristovam Buarque à liberdade de pensamento (e conseqüente reivindicação de reajuste) do Paraguai no blog “Liberdade de Pensamento”.

  4. Em todo contrato é direito de uma das partes solicitar revisão contratual. O que estou discutindo aqui é a obrigação de aceitar o que está sendo pedido. Nos idos dos anos 70, os dois governos constituídos de Paraguai e Brasil acertaram um contrato ANTES de se construir Itaipu. Sem este acordo, a usina não teria sido construída naquele lugar pois tratava-se de um rio limite entre dois países e portanto bi-nacional.

    Um contrato é rediscutido quando o panorama em que foi constituído um acordo é modificado, normalmente por fatores externos ao próprio acordo. Não há fato externo que justifique a mudança contratual. Em nenhum momento questionei o direito de Lugo em soliticar o reajuste, o meu questionamento é a suposta obrigagação do Brasil em atender, conforme foi defendida pelo senador.

    Sustento que o Brasil não tem nenhuma dívida com o Paraguai em relação à Guerra pois foi um país invadido. O Brasil não atacou o Paraguai gratuitamente, as forças de Solano Lópes invadiram o Mato Grosso do Sul e o Rio Grande do Sul. São fatos históricos. Os paraguaios provocaram a guerra.

    Não aceito qualquer acusação de querer voltar à era ditatorial no Brasil até porque a única que o Brasil atravessou foi no período de 1930 a 1945 com Getúlio Vargas. E o Brasil de hoje é mais próximo desta época do que os 21 anos do governo militar.

    Entre erros e acertos, os militares conseguiram evitar que o Brasil entrasse na órbita comunista, o que é um grande feito. Em caso de vitória dos terroristas brasileiros, os que levaram o governo militar ao AI-5, ao invés de 400 e poucos mortos teríamos algumas centenas de milhares, isto por baixo. Provavelmente teríamos alguns milhões.

  5. Entendo sua questão, mas o que discuto não é a veracidade da citação, e sim sua própria interpretação. Ao meu ver, houve uma distorção do que o senador expressou. O que constatei foi apenas um pedido de cuidado maior ao examinar a questão do contrato com o Paraguai (Por motivos falsos, talvez).
    A partir do momento em que as demais pessoas dão mais valor ao que alguém falou do que a própria pessoa, acredito que se torna meio irrelevante discutir… Estão dando importância demais.

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