Estou curioso pelas manchetes de amanhã. Chega ao fim, após 49 anos, a mais longa ditadura existente, a Cuba de Fidel Castro. Sai do poder o herói de muito intelectual de miolo mole do lado de cá do equador. Será que os periódicos terão coragem de chamar a coisa pelo nome? A Folha Online começou bem, em sua chamada se refere a Fidel como ditador. O portal da UOL levanta o legado ambíguo de Castro. Fico pensando, ambíguo em que sentido? O homem é o maior assassino vivo, a prova de que o estado totalitário, nas mãos de uma facínora, é capaz de números assustadores. Perto deles, monstros como Jack estripador e Mason não dão nem para saída. Não, o lugar de Fidel é ao lado de Hitler, Stalin, Mao, Ho Chi Min e tantos outros.
O argumento usado é que Fidel teria melhorado a vida em Cuba. Melhorou tanto que é preciso manter a população presa na ilha para não ficar sozinho com seus burocratas. Aliás, este para mim sempre foi o argumento definitivo contra o comunismo, a necessidade de evitar a fuga em massa de sua população. O homem é capaz de aguentar o diabo em sua terra, mas o socialismo foi bem além do que imaginava ser seu limite.
Amanhã é dia de dar nome aos bois. É simples. Chamou Fidel de monstro, está do lado da humanidade. Tentou pintá-lo com as cores da ambiguidade, é comprometido idologicamente. Chamou-o de democrata, é caso de hospício ou um perigo.
É simples assim.
Como eu queria que a historia fosse tão simples 😉 minha vida seria tão mais fácil se fosse tudo preto e branco 😉
Pois é, a história não é tão simples, até porque a vida humana não o é. Mas existe um perigo nesta afirmação, a de achar que não existem coisas simples. Existem. Alguns atos são tão representativos, tão fortes, que mostram a sua simplicidade.
Um exemplo é o nazismo. Por mais complexo que tenham sidos os acontecimentos e fatores que levaram à sua consolidação, o retrato final não deixa margem à duvidas. Não há como colocar uma imagem dúbia em Hitler, ele pode ter re-erguido a Alemanha do caos, mas o regime que efetivou deixou um legado assustador para a humanidade na sua representação máxima, o holocausto.
O que quis dizer com simples, no caso de Fidel, é que não consigo ver como uma pessoa racional pode conseguir defendê-lo, em termos humanitários, sem estar comprometido com os “ideais” que diz defender.
Este ideais estão entre aspas baseado numa observação de um livro que acabei de ler do Paulo Francis. Diz o autor que apesar de haver indícios de que Fidel era comunista na juventude, na verdade não o era. Tornou a Cuba socialista apenas porque era a única forma de se manter no poder; precisava da aliança com a URSS, única forma de evitar uma invasão american.
Não consigo ver com nenhuma justificativa os homens que apelam ao totalitarismo de estado. A força do estado moderno contra o indivíduo é assustadora, uma covardia que pode se dizer infinita.
Por isso que não vejo a menor sombra no retrado de Fidel. É um monstro, um monstro da modernidade. Assim como foi Hitler, Stalin e outros.
O problema é que tratando as pessoas como “monstros” você as eleva a um nível acima do humano. É verdade que Stalim, Hitler e Fidel fizeram coisas horríveis mas ao taxa-los de monstros nós simplesmente viramos as costas e nos recusamos a entender ou estudar como foi possível que essas pessoas se tornassem o que se tornaram ou fizessem o que fizeram. É muito simplista dizer que o holocausto aconteceu porque o Hitler era um monstro racista (veja bem, não estou dizendo que foi isso que vc disse, mas é a conclusão mais fácil quando as pessoas chamam o Hitler de monstro). A historia não é tão simples. Pois o racismo não era exclusividade sua. O Holocausto só foi possível por inúmeros motivos, incluindo a guerra e a própria falta de interesse dos países aliados em ajudar os judeus de forma expressiva. Pois o plano inicial era expulsá-los da Alemanha e não exterminá-los. O única problema é que nenhum país quiz recebê-los ou aumentar as cuotas que tinham para imigrantes judeus. Aliás, só um país se mostrou disposto a aumentar suas cuotas e este foi a republica dominicana. Canada, EUA, Inglaterra, todos mostraram simpatia mas disseram não poder fazer nada. Sugiro que leia sobre a conferencia de Evian, em 1938, para mais informações sobre isso.
Os nazistas não eram imune à opinião pública. Quando eles começaram a sacrificar pessoas (cristãos) com problemas físicos ou mentais – aliás, as câmeras de gas foram inventadas para lidar com esse segmento da população – a Igreja Católica protestou veementemente. Imediatamente o governo alemão cancelou esse programa de extermínio. Interessante que o mesmo não foi feito em favor dos judeus.
Durante muito tempo, muitas perguntas sobre a segunda guerra e o holocausto não foram respondidas pq as pessoas simplesmente saíam com essa máxima de que Hitler foi um monstro e que os nazistas eram culpados de tudo. Só agora começamos a admitir que para entender melhor o que aconteceu na Europa daquela época, temos que começar por aditir que Hitler era um ser humano e produto do seu tempo. E que não fez nada sozinho. Isso não é o mesmo que desculpá-lo; nada disso. É tentar entender como ele foi possível.
Eu acredito que se recusar a chamar Fidel, Hitler, Stalim, Pol Pot e outros de monstro não é o mesmo que defendê-los. Eu acho que ainda precisamos estudar muito sobre a historia de Cuba antes de tentar entender os porques e os comos.
Como disse Robert Browning, um dos grandes historiadores do holocausto, em seu livro sobre os batalhões da polícia que serviram como paredão de execução de judeus e comunistas durante a invasão alemã a Europa oriental:
“The policemen in the battalion who carried out the
massacres and deportations, like the much smaller
number who refused or evaded, were human beings. I
must recognize that in the same situation, I could have
been either a killer or an evader — both were human — if I want to understand and explain the behavior
of both as best I can. This recognition does indeed
mean an attempt to empathize. What I do not accept,
however, are the old cliches that to explain is to excuse,
to understand is to forgive. Explaining is not excusing;
understanding is not forgiving. ( Browning, 1992 , pp.
ix-x)”
Veja bem, não estou propondo nenhuma simplificação no estudo do totalitarismo, muito pelo contrário. É preciso estudá-lo sempre pois ele resulta da equação de um estado forte com um líder popular com suficiente decisão para usá-lo. São ingredientes que podem se repetir sempre; é o que acontece, pelo menos em países menores e isolados.
Mas um homem que conscientemente assume as rédeas do estado e usa todo seu poder contra indivíduos, com o único propósito de eliminá-lo, não pode ser de maneira nenhuma relativizado. Como você disse, os países ocidentais podem, ainda não estou convencido disso, ter suas responsabilidades no holocausto, mas não a ponto de diminuir a daqueles que conduziram o processo.
Acho que temos que ter muito cuidado nestas responsabilidades. A Inglaterra recusou os judeus. A Inglaterra quem? Duvido que a população soubesse o que estava acontecendo. Nem mesmo a maior parte do governo. É fácil julgar depois, mas será que os governos tinham elementos para supor que haveria algo sequer parecido com o holocausto? Quer dizer que Hitler resolve expulsar uma parte da população e os outros países são obrigados a aceitá-los? Não seria este um precedente perigoso?
Hitler era um ser humano e produto de seu tempo… mas todo somos! E nem por isso montamos uma nação de extermínio e no ato de suprema covardia, jogamos o poder ilimitado do estado contra o indivíduo. O relativismo que passou a dominar no mundo a partir do século XX deixou-nos a mercê de homens como Hitler e Lenin, mas isto é um fator, não uma causa. Não consigo imaginá-los a cultivar tulipas caso suas tomadas de poder não tivessem dado certo.
Paul Johnson afirma em Tempos Modernos:
“Entre as raças mais adiantadas, o declínio e, em última análise, o colapso do impulso religioso deixaria um vácuo de grandes proporções. A história dos tempos modernos é, em grande parte, a história de como aquele vácuo foi preenchido (…) No lugar da crença religiosa, haveria ideologia secular (…) A Vontade de Poder produziria um novo tipo de Messias, livre de qualquer sanção religiosa e com insaciável apetite pelo controle da humanidade. O fim da antiga ordem, com o mundo à deriva num universo relativista, era um apelo a que estadistas gângsteres emergissem. E eles não demorariam a fazê-lo”.
Não podemos deixar de lado as responsabilidades individuais. O homem não é produto do meio, é influenciado por ele; possui liberdade para agir, possui individualidade. Essa é uma das teses que repudio no progressismo, a que a sociedade está na origem da delinqüência. Sempre haverá espaço para a consciência individual, e a responsabilidade pelo seu uso. Hitler viveu em um mundo em que a ausência de valores, o niilismo, levaram a uma atitude de que o homem não possui limites ou uma autoridade superior a quem prestar contas. Isso explica seu pensamento, mas de maneira nenhuma o justifica.
O mesmo se dá com Fidel. Em números absolutos seus números podem não impressionar, mas em termos relativos, levando em conta o tamanho de Cuba, o que ele fez foi uma monstruosidade sem tamanho.
Nessa questão a vítima sempre corre o risco de receber a culpa de seu algoz e o algoz se tornar uma pobre vítima trágica das circunstâncias. A simplicidade presente na defesa do Aquecimento Global desaparece para mergulharmos num mar turvo, obscuro. A conclusão pronta e as máximas são substituídas por apelo à prudência paciente e exigente. Digo mar porque é disto que se trata: diluir as culpas, as espalhar aos outros oceanos. É que o ser humano, quando confrontado com mal tão grande, em primeiro lugar busca desesperadamente negar a verdade mais óbvia: o tamanho da monstruosidade. E de que valeria uma negação sem a camuflagem reconfortante que por sua vez encoberta sua própria natureza com um véu de seda? Sim, se trata de dar às costas ao auto-reflexo que se vê no espelho do assassino em potencial que apenas aguarda pacientemente pela configuração de circunstancias tal que o permita realizar o assassino que sempre foi. É o que nosso tempo chama de síndrome de Estocolmo: termina-se cúmplice do crime. Mas até aqui permanecemos num impasse: se é possível acusar de negação um, o é também o outro. Ambos alegam estar do lado da explicação, da não-justificação.
Indícios que talvez nos ajudem a entender e explicar quem é quem poderiam ser as desculpas desnecessárias (já que se está com a verdade) de parte de um (o outro), a postura e atitude defensivas, e a rejeição daquele que originariamente rejeitou em nome de grandes bens para além da vista: seriam adornos bonitos ao véu de seda, tornando-o reconfortante e prazeroso de ostentar, apesar de obscurecer a visão.
Sim, Hitler não fez nada sozinho: jamais o teria feito sem o apoio de tais cúmplices morais. Os países ocidentais têm responsabilidade no holocausto? Pois foram eles que colocaram um fim ao holocausto, fim este que Hitler jamais teria colocado até que o último Judeu fosse exterminado.
bem em primeiro lugar … concordo com muito que vocÊ diz. Taxar Hitler de mostro é comodo.Mas é um erro analisar assim tão friamente. Temos que primeiro analisar toda sua história para poder chegar a uma conclusão.Pelo amor de Deus não estou defenendo ninguem acho que esse idiotas que levam o nazismo por simplesmente espancar e matar homosexuais, nordestinos e usar caeli raspado e suastica são na verdade moleques que não sabem nem o que foi o Nazi.. Só acho que ele pode sim ser um produto do meio.Temos que analisar com cuidado toda a sua vida, infância e principalmente seu psicologico.Todos nós temos nossa opinião e temos tambem a capacidade de decidir como agir. porem, ao ler sua biografia, contata-se que hitler era até uma pessoa normal, amante das artes e da leitura(wikipedia).Não um mostro insano torturador de animais(muito pelo contrairrio, ele odiava essa habito ingles imbecil da caça).
Ao analisar sua vida tambem vemos que variaos fatores podem ter desencadeado o seu anti-semitismo. Nós não sabemos o que ele presenciou na austria da infancia. As vezes algum fato que ele viu plantou uma semente de culpa, que foi sendo regada pelo que ele ouviu de outras pessoas. O psiscologico conta muito. Um exemplo: Um negro americano presencia um outro negro sendo despedido e escurraçado por um branco dono de por exemplo um banco. Esse negro demitido tem familia, filhoe e nescessitaria muito desse emprego. O negro que viu se sentimentalisa pelo outro ai esta plantada uma smente para o ódio aos brancos capitalista por exemplo. Que pode germinar e dar em algo mais perigoso, dependendo de quem regará essa semente. ou poderá morrer e ficar por isso mesmo.
A história do nazi e de hitler pode ter nascido de uma história parecida, por exemplo, só que a diferença é que o “negro americano” da histótia era um cara muito inteligente, orador excelente e que ao se encontrar com pessoas que regaram aquela semente com idéias anti-semitas. teve como fim a II GRABDE GUERRA.
A hitóstoria é uma faca de 2 gumes. Escolhas certas levam a gloria, escolhas erradas a desgraça.Por ex. e se Kennedy nãO tivesse evitado a terceira grande guerra quando os EUA descobriram os misseis em Cuba. Talvez essa discussão não existiria por que não estariamos aqui.Fadar uma pessoa de mostro é facil. Provar o que está dizendo é outra coisa.Outro exemplo usando kenneddy é as sementes que ele plantou para a guerra do vietnã que foi outra barbarie. Vocês acham que a guerra do vietnã foi bonitinha e que só os malvados morreram? BOWSHIT, hehe, Houve um massacre enorme da população civil vietnamita inclusive com o uso de armas quimicas. Mas você não ve ninguem colocando o Keneddy em filme como um mostro e nem fadado como doente pela história.Mas é claro, ainda mais kenneddy que é idolatrado pelos americanos. Mas na verdade era um fanfarrão e mulherengo. Não tire conclusões baseados em depoimentos de um lado só. Todos as guerras dizimam populaçoes civis. Mas a algumas que são mostradas e outras não.Hitler pode ser um mostro, pode!Mas tambem não, ou não tanto como o taxam.Keneddy pode ser um mostro, Bush pode ser um mostro, qualquer um. Só depende do ponto de vista.
***Nota: Percebam o que há em comum com grandes personalidades. Oratória. Kennedy tinha, Hitler tinha e Fidel Tambem tem. A capac idade de mover as massas com ideis é capacidade muito admirada somente em grandes homens, e a arma mais mortal que existe
“Sim, Hitler não fez nada sozinho: jamais o teria feito sem o apoio de tais cúmplices morais. Os países ocidentais têm responsabilidade no holocausto? Pois foram eles que colocaram um fim ao holocausto, fim este que Hitler jamais teria colocado até que o último Judeu fosse exterminado.”
Sim, colocaram fim ao holocausto, mas isso foi uma consequência do fim da guerra. Não era o objetivo principal. Tanto que em certo momento, em 1943-44, alguém sugeriu bombardear os trilhos dos trens que levavam prisioneiros para Auschwitz para ao menos diminuir a velocidade da matança, mas os aliados se recusaram. Consideraram o risco aos pilotos demasiado.
Não estou dizendo que Hitler não é culpado. Mas governo nenhum saiu dessa história como herói. Houveram muitos heróis individuais, tanto de nações aliadas como entre alemães – seus nomes estão inscritos em Yad Vashem em Israel – mas os governos mesmo têm muito a responder…
E não creio que a história seja simplesmente causada por indivíduos, há que se examinar o contexto histórico como um todo. O genocídio e o antisemitismo não morreram com Hitler.
Eu tenho muito cuidado com as generalizações, normalmente leva ao relativismo.
Quando se diz que governo nenhum saiu da guerra como herói está se colocando tudo dentro do mesmo saco, como se tivessem se comportado da mesma maneira. Posso concordar que ninguém foi perfeito, mas não são de maneira nenhuma semelhantes.
O governo alemão montou uma máquina de guerra implacável para sobrepujar seus inimigos enquanto no plano interno promoveram um tentativa de darwinismo social macabro. Por mais que tenham errado, os governos aliados (aí excluo o monstro soviético) não promoveram nada parecido. Podem acusá-los de omissões criminosas, mas até que ponto tinham a perfeita noção da monstruosidade que estava ocorrendo nos campos de concentração? Até que ponto tinham a certeza de conseguir impedir?
O maior crime que foi cometido pelos aliados ocidentais ao fim da guerra foi devolver aos soviéticos os russos que estavam aprisionados. Nenhum deles queria voltar, foram deportados a força para contentar Stálin e conquistar seu apoio para o fim da guerra do pacífico, apoio este desnecessário. Foi um cálculo pragmático dos americanos, influenciados pela admiração que Roosevelt tinha pelo ditador comunista, que resultou no fortalecimento do poder soviético. Não deixa de ser curioso, como observou um dia Gustavo Corção, que a Inglaterra tenha ido à guerra para evitar a perda da Polônia para os alemães e no final tenham cedido não só a Polônio como todo o leste europeu para um inimigo ainda mais mortífero, a União Soviética.