O artigo de Marcos Nobre, na Folha hoje, vai no mesmo caminho de Marcelo Coelho. Considera a cobertura do uso dos cartões corporativos desproporcional, tendo em vista os valores envolvidos. É a defesa do governo, que insistiu em rotular a tapioca na estória. Segundo eles, ao que parece, existe uma valor mínimo para ética no gasto público; o mais importante seria discutir a reforma tributária que envolve bilhões.
Não posso concordar com uma posição dessas. E a questão não se resume a uma tapioca, vai além disso. O que se apurou, baseou-se no portal de transparência, onde apenas 10% do total dos cartões foram lançados; mesmo assim o governo considerou que a “transparência” ameaçou a segurança do presidente.
Vivemos em um regime presidencialista, não uma monarquia. Nem nesta existe algo remotamente parecido com o que a corte lulista vem fazendo com o recurso público. O presidente da república deveria ser o primeiro a esclarecer os gastos de seus assessores diretos a fim que não haja dúvida. Ao esconder os gastos sobre a rubrica de “segurança de estado” coloca a instituição da presidência da república sob suspeita.
Marcos Nobre e Marcelo Coelho advogam uma causa estúpida. O dinheiro gasto de forma irresponsável e, em muitos casos, criminosa não é do estado, é da população brasileira. É preciso combater a idéia de que dinheiro público não tem dono, tem sim, e de todos nós. Isso inclui cada real. Eles gostam de se referir à tapioca, por que não usam o mesmo argumento com a picanha argentina da presidência? Ou o meio milhão de reais do reitor da UNB? Ou os gastos com a primeira-filha? Ou a hospedagem de ano novo no Copacabana Palace por Márcio Thomaz Bastos?
Os dois artigos são um atentado ao bom senso e uma amostra do alinhamento ideológico dos articulistas. O fim justificam os meios. Não estão roubando o erário, estão garantindo o “novo mundo possível”.
Pois é… essa é uma das maiores diferenças culturais que percebi quando mudei pra cá. Aqui não existe essa noção que o dinheiro público não é de ninguem. Todo mundo tem uma consciencia bem clara de que paga bastante impostos e que esse dinheiro está lá pra ser re-investido em prol da sociedade e não para gastos desnecessários dos governantes.
Quanto aos fins que justificam os meios, bom esse é o raciocínio do brasileiro “esperto”. Nota-se isso numa discussão que estamos tendo no orkut sobre uma matéria no Jornal Nacional de ontem sobre o Canadá como “novo Eldorado”. A reportagem parece pregar o trabalho ilegal como uma boa saída…
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=18900632&tid=2584192514670132573&start=1
É o “isentismo”: num mundo bizarro onde não se reportam fatos, para cada “ataque”, precisa-se fazer uma “defesa”. Dane-se a realidade, o que importa é “ser isento”.