Coisas do Veríssimo

Por muito tempo fui admirador da obra de Luís Fernando Veríssimo, a ponto de considerá-lo o melhor escritor brasileiro. Claro que foi antes de conhecer o Érico e redescobrir Machado de Assis.

Mas ler os textos diários do escritor hoje me deixa com uma tristeza melancólica. As voltas e torturas lingüísticas que ele faz para justificar os maiores absurdos do atual governo é para escrever um tratado.

A coluna de hoje no Globo é um grande exemplo. Fala das vaias do Maracanã.

Primeiro vai até a Europa nos meses anteriores a II Guerra Mundial. Repete uma das mentiras históricas mais propagadas pelas esquerdas, a de que a Inglaterra teria permitido o avanço alemão no leste europeu para conter o comunismo. O erro britânico e francês na verdade foi tentar evitar o conflito armado a qualquer custo, o que evidente se mostrou equivocado, pois deu tempo para o fortalecimento do nazismo.

Depois coloca o comunismo como uma antítese do nazismo. É o que Revel trata em seu livro “A Grande Parada”. Existe mais semelhanças, algumas assustadoras, do nazismo com o comunismo do que o contrário. O Stalinismo aparece, mais uma vez, como um “desvio” do comunismo. Claro que nestas horas nunca citam o número de mortos nestes “desvios”. Alguns milhões.

Para que esta volta toda? Por que o raciocínio de Veríssimo é o seguinte: pessoas de bem, que não concordavam com o comunismo, se uniram aos nazistas no “precesso”, quando perceberam tinha se aliado com o mal.

Ainda não ficou claro? Pois Veríssimo disse que antes de vaiar o presidente, deve-se “olhar para o lado” e perceber se do nosso lado não está o que há de mais “atrasado e reacionário” na sociedade. Seria, na cabeça dele, uma espécie de aliança com o nazismo contra uma causa que até pode ser justificada.

Pois é assim que Veríssimo vê o carioca que estava no Maracanã. Como o que existe de mais “atrasado e reacionário” da sociedade. E quem estava no Maracanã? Simplesmente a classe média do Rio de Janeiro. A que aguenta o país nas costas com os impostos que paga e que, compra seus livros!

Pois ficamos assim, não se pode vaiar o presidente pois estará junto deste pessoal. E afirma ainda que não há vaia que justifique esta companhia.

É claro que aplaudindo o presidente existe, por este raciocínio ou raciocímio, o que existe de mais progressista e adiantado na sociedade.

Quer saber?

Prefiro o primeiro grupo. Reacionário e atrasado.

Por que esta palavra, progressita, me dá calafrios!

2 pensamentos sobre “Coisas do Veríssimo

  1. virgem santa. Não há dúvida, você está no primeiro grupo. Um analfabeto funcional eu diria! Releia, meu caro, a crônica continua sendo muito boa. A vaia ao Lula, vale. Mas a crítica a essa classe média inerte, que não propõe, não reivindica, não faz nada e cria suas campanhas de “BASTA” numa manifestação de xilique, sempre apontando, essa é absolutamente verdadeira. Ficou mordido? Eu faço parte dessa classe média tanto quanto vc, só não tenho problemas em tomar puxões de orelhas. Grande Veríssimo, grande Erico, pobre Jota!

  2. Devo ser bem cabeça dura mesmo. Qual seria então a atitude desta classe média inerte? Fazer passeatas? Fizeram uma no domingo e mesmo assim foi chamada de “xilique”.
    A verdade é que não se admite que esta classe média possa protestar contra qualquer coisa, a não ser que seja segundo a bula sagrada da esquerda, aí pode.
    Vejam o caso da USP. Alguns professores fizeram uma manifestação em favor do direito de continuar as aulas, foram taxados de reacionários.
    O “grande” Veríssimo foi o que enxergou no mensalão uma conspiração da mídia. Como se não houvessem confissões e assinaturas para comprovar que o governo comprou o voto de deputados.
    Em uma democracia a primeira manifestação é o voto. Muitos negaram ao presidente um segundo mandato. Fomos derrotados.
    Resta-nos um papel democrático de uma oposição: protestar e cobrar resultados, fiscalizar.
    O que não posso aceitar é a tese do Sr L.F. Veríssimo de que a causa só é justa ou não dependendo das pessoas que a apóie. O que aliás, só vale para as idéias que ele não concorde. Se a tese lhe é favorável, não importa quem está junto, mas caso contrário sim.
    A crônica é uma das maiores bobagens que já vi escrita.
    Mas quem sou eu para emitir uma opinião?
    Puxão de orelha de LF Veríssimo? Não reconheço esta autoridade moral para tanto.

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