Emily em Paris: algumas notas

Terminei de ver a primeira temporada de Emily em Paris. Gostei muito do que vi. Minhas notas:

  1. A série é construída em termos dialéticos: duas visões de mundo em confronto.
  2. Para começar, há duas visões sobre o tempo. Para os americanos, o objetivo é vencer o tempo, não deixar que ele atrapalhe os planos. Para os franceses, o que vale é aproveitar o tempo e fazê-lo durar.
  3. Viver para trabalhar ou trabalhar para viver? Talvez um pouco de ambos.
  4. Chicago e Paris são vistas por estereótipos. Chicago só pelo centro financeiro (basta ver os filmes de John Hughes para perceber que tem muito mais lá do que negócios) e Paris por suas belezas (como se toda a cidade fosse de pontos turísticos).
  5. Uma série que nos faz prestar mais atenção às mídias sociais. Se repararem, as fotos que Emily coloca no instagram, em sua maioria, não reflete o que ela realmente está passando ou sentido. Como casar esta perspectiva no marketing tradicional?
  6. Até quanto estamos dispostos a pagar por nossa liberdade?
  7. Os insights de Emily surge de sua sensibilidade em observar o mundo à sua volta. Eis o segredo dos grandes artistas. Muita observação.
  8. Impressionante como rapidamente se passa de uma imagem de ser uma pessoa culta para uma esnobe.
  9. Princípios rígidos consolidados em regras tem um grande problema: entender as situações particulares.
  10. Qual o verdadeiro valor da arte? Um enfeite para se mostrar superior? Um caminho para ser sofisticado? O que isso tem a ver com a felicidade?
  11. A principal pergunta do seriado Emily faz para Sylvia: você é feliz?
  12. Sim, comunicação é importante. Mas não é só na linguagem que ela acontece.
  13. Na vida há muitas coisas que escolhemos não saber. Não é bom mexer em equilíbrios instáveis.
  14. No conflito do novo com o velho, não podemos esquecer que o velho pode ser muito mais talentoso. Inclusive para inovar.
  15. Chegar atrasado pode ser uma virtude.
  16. Para quem diz ter princípios morais bem rígidos, Emily parece ser bem flexível…

Seinfield: um show sobre o nada?

Estou vendo, e revendo, os episódios de Seinfield. É uma daquelas séries que assistíamos quando dava. Parece incrível, mas houve uma época que você não escolhia o horário para assisti-las. Dependia de estar em casa, sem outra ocupação, naquele exato momento (ou tentar pegar as reprises). De modo que devo ter assistido mais ou menos metade dos episódios.

A série foi vendida como um show sobre o nada. Não é bem assim. Estou na terceira temporada e ficou evidente para mim que existia um tema central envolvendo os personagens de Jerry, George, Elaine e Kramer: a falta de alteridade. Ou seja, a falta de capacidade de qualquer um dos quatro em se colocar no lugar do outro, ou mesmo ter por ele qualquer simpatia. Tudo gira em torno do ego de cada um, mesmo que fosse um ego pessimista, como o de George. No fim do dia, eles se importavam apenas com eles mesmos.

São personagens memoráveis porque nos lembram de como a vida é insuficiente para quem tem este tipo de atitude. Não desenvolvem afetos, são irônicos e julgadores, um produto de uma modernidade que tem sua raiz no niilismo. Nesse aspecto sim, o nome da série faz sentido. É uma série sobre o niilismo, que enfoca pessoas que não são propriamente vilões, mas que estão longe de serem referências positivas. É como se juntos eles formassem o estrangeiro, de Camus, em versão de Nova Iorque, mas sem a disposição para o sangue.

Genialidade pura.

Dica de série: chef’s table

Recomendo o seriado chef´s table do Netflix.

Mais do que uma série sobre chefes de cozinha, trata-se de uma série de estórias de vida. De como as pessoas encontram sua vocação.
Mas antes recomendo o documentário Jiro Dream os Sushi, também do netflix. Do mesmo diretor da série.

Quer mais uma dica?

Leia, PARA ONTEM, o livro Em Busca do Sentido, do Viktor Frankl. Tem tudo a ver com a série.

Na primeira metade do livro, Frankl descreve sua experiência em nos campos de concentração em que foi prisioneiro.

Na segunda, mostra que o ser humano tem necessidade de buscar um sentido para sua própria vida. Aqueles que desistiam de buscar este sentido, se entregavam e morriam de inanição. E vai falar de algo fundamental: a vocação.

Um livro absolutamente MARAVILHOSO.

Então, resumindo, a sequência:
1. Livro do Frankl
2. Documentário do Jiro
3. Série Chef´s table.

Bom proveito!