Ensimesmado e alteridade

Que leitura densa e interessante fiz agora da primeira metade do capítulo 1 de O Homem e A Gente, do Ortega y Gasset!

O pensamento não é garantido no homem, temos que conquistá-lo. O homem não é um animal racional ou sapiens, é um homem que ignora. Que sabe poucas coisas, mas que tem a capacidade de conquistar o pensamento e agir racionalmente sobre o homem.

Para isso precisa ensimesmar-se, ou seja, afastar-se do mundo exterior buscando refúgio em seu interior para pensar e meditar. Só assim poderá agir.

Sem isso, o homem vive de sua alteridade, de uma reação não refletida com o mundo exterior. Ele não age, reage. Essa capacidade é própria dos animais, é tudo que eles possuem. O animal não pode ensimesmar-se, não pode se apartar do que lhe é diferente.

Para Ortega, o homem vive três fases:

1) Um náufrago no mundo, que não compreende e que lhe é muitas vezes hostil. Fase da alteridade.

2) Voltar-se para si mesmo e buscar o pensamento, as idéias.

3) Agir de acordo com o pensamento, ou seja, ele retorna para o mundo externo levando o si mesmo. É a verdadeira práxis.

Ortega também faz um alerta: o pensamento, por ser uma conquista, pode ser perdido. Sem o pensamento, o homem é alteridade, é como os animais, ou seja, perde sua própria humanidade. O tigre não pode deixar de ser tigre, mas o homem pode deixar de ser homem. Pode desumanizar-se.