Playlist do fim de semana: anos 70

Para acompanhar o fim de semana, montei uma playlist revisitando os anos 70.

Tenho procurado limitar as playlists a 10 músicas no máximo, mais ou menos um disco de vinyl.

No Lord Songs 4 – The 70´s temos:

  1. Baba O´´Riley (The Who). Primeiro uso inteligente dos sintetizadores e um hino sobre a juventude em uma terra desperdiçada.
  2. (Don´t Fear) the Reaper (Blue Oyster Cult). Uma das bandas mais legais dos anos 70. Essa música me pegou desde a primeira vez que a escutei.
  3. Lady in Black (Uriah Heep). Na minha adolescência conheci uma menina que só usava preto. Essa música sempre me lembra dela.
  4. We Are The Champions (Queen). Sempre fico otimista quando a escuto. Se preciso de autoconfiança, esta é uma que gosto de escutar. Outra é I Wan´t it All, também do Queen.
  5. All Right Now (Free). Uma banda perfeita. Dos acordes espaçados, de silêncios que ressaltam. Pena que durou pouco.
  6. Your Song (Elton John). Sir Elton foi outro que dominou nos anos 70. Baita músico.
  7. Tumbling Dice (The Rolling Stones). A mistura de blues e rock que os Stones fizeram na transição da década de 60 para 70 estão na história do rock. Esta música é um exemplo perfeito.
  8. Jailbreak (AC/DC). Estes australianos de raízes escocesas vieram para quebrar a banca. Que pancada!
  9. Born to Run (Bruce Springsteen). Bruce é um poeta do rock. Música maravilhosa de um disco perfeito.

Taylor Swift e porque você deveria escutar Evermore com atenção

No apagar das luzes de 2020 (se é que acabou), a Taylor Swift lançou o disco chamado Evermore, o segundo durante a pandemia, já que em março havia lançado Folklore.

É impossível imaginá-la saltando no palco com as músicas que estão nestes dois albuns, mas particularmente no segundo.

O que temos é uma Taylor intimista, com letras reflexivas, melodias suaves e um tanto tristes. Ainda é cedo para saber se é uma guinada na carreira, mas num ano que ninguém fez praticamente nada que preste, o album surpreende bastante.

Basta reparar na capa, que mostra a artista de costas, contemplando uma paisagem de árvores. Para uma artista pop, não ter o rosto na capa de um disco é significativo.

Sempre achei que Taylor tinha mais a dizer do que fizera até então. Muitas vezes o pop é uma prisão para um verdadeiro artista, o que sempre achei que ela era.

Discos Favoritos 3: Powerslave (Iron Maiden, 1984)

Difícil escolher um disco favorito do Iron Maiden. Como diz o apresentador Benjamin Back, eu agradeço a Deus por viver no mesmo universo que o Iron Maiden.

Powerslave é um disco perfeito. Tem minha abertura de shows favorita, Aces High, além de outras pérolas como 2 Minutes to Midnight, Powerslave e Rime of the Anciente Mariner.

As demais canções também são excelentes, como Back in the Village e Flash of the Blade.

Um espetáculo da primeira à última faixa.

Série Discos Favoritos: 2 – Rocket to Russia (Ramones, 1977)

Lembro que conheci o Ramones pelo filme Cemitério Maldito, lá nos inícios dos anos 90. Primeiro disco que escutei foi o Road to Ruin, que adorei, mas foi o que comprei a seguir, Rocket to Russia que me conquistou.

Considero o disco perfeito da banda. Uma mescla de rocks vigorosos, baladas, sempre com muita energia, a principal característica deles. Neste album, mais do que os dois primeiros, fica explícita a influência do rock dos anos 50 e 60 no punk rock que estavam criando.

Shenna is a Punk Rocker, Teenage Lobotomy, Rockway Beach, I Don´t Care, tudo funciona e com este album a banda estava consolidada. Saem as músicas pretenciosas de 10 minutos e entram as curtíssimas, com menos de 2 minutos, 3 acordes e muita atitude!

Bayou Country (1969)

Escutei muito este disco na semana que passou. Segundo album do Creedence Clearwater Revival, as sete faixas são excelente.

Impressionante como o californiano John Fogerty conseguiu captar o espírito do sul com Born on the Bayou e Proud Mary. A Louisiana sempre será um lugar meio místico para o norte-americano. Além de sua culinária característica, é o berço da música do país. Afinal, lá nasceu o jazz, o blues, o country e a combinação de tudo isso, o rock´n´roll.

Fogerty nos presenteia com um excelente blues em Graveyard, Train. A cozinha está afiadíssima, dando segurança para que as guitarras dor irmãos deslizem pelas faixas, sempre com as notas nos lugares certos. O disco tem ritmo, balanço e a virtuosidade de um líder que começava a se afirmar como a nova voz da música americana.

A minha favorita do disco é Bootleg. O ritmo hipnótico e o riff que vai serpenteando pela canção me conquistou. O rock renascia na América depois de uma década inglesa.

To Tame a Land:o progressivo encontra o heavy metal

Em 1983, o Iron lançava seu quarto disco de estúdio, o bem sucedido Piece of Mind. O disco marcava também a estréia do baterista Nicko McBrain, que está na banda até hoje.

Uma novidade no disco foi a primeira incursão da banda no progressivo, com o mini-epico To Tame a Land, baseado em uma das narrativas do livro Duna. O caminho aberto levaria a músicas como Rime of the Ancient Mariner, Alexander the Great, Empire of the Clouds e outras.

Muitas bandas tentaram imitar essa fórmula, mas não chegaram perto de executá-la com a criatividade e competência do Maiden.

Trapeze

Ontem estava escutando o vinyl do disco Meduza, do Trapeze.

A banda é conhecida por revelar músicos que depois integraram grandes bandas de rock. Glenn Hughes entrou em 74 no Deep Purple e depois construiu sólida carreira solo. Mel Galley tocou no Whitesnake na transição de uma banda de blues-rock para o hair metal. Dave Holland foi o homem das baquetas no Judas Priest dos anos 80.

Falar dos dois primeiros é chover no molhado, mas gostaria de destacar o que o Dave Holland fazia no Trapeze. Uma bateria cheia de swing e viradas, bem diferente do estilo marcial da época do Priest. Tocava uma barbaridade.

E o disco? Um dos grandes do rock setentão. Para ouvir e ouvir muitas vezes.

A Kind of Magic: como o Queen fez uma descrição visceral do mundo de hoje

Acabo de perceber que o disco A Kind of Magic (1986) do Queen tem uma unidade: o sonho da utopia realizada, uma utopia estabelecida pela ideologia, seja ela qual for.

O disco começa com One Vision. Uma visão. Um homem. Um espírito. Um mundo. Ou seja, uma visão unitária da existência, justamente o que prometem as ideologias. Hoje a dominante parece ser o globalismo, a crença em uma humanidade com pensamento único, sem fronteiras. A música alterna espasmos do sonho utópico com a necessidade de ação, um chamado às armas. Mas como fazer isso?

Aí vem a segunda faixa, A Kind of Magic. Só um ato de magia pode gerar este mundo utópico. Por magia entende-se um ato definitivo, imediato, capaz de destruir o mundo antigo e inaugurar uma nova era. “The bells that rings inside your mind, is challenging the doors of time, it´s a kind of magic”. A música canta que o ódio que dura mil anos vai acabar e que só pode haver a unidade.

One Year of Love toca outro aspecto das ideologias. O fim justifica os meios. Um único ano de amor vale por toda existência de sacrifícios. O que você precisa fazer? Render-se ao momento. A relação da pessoa com a ideologia é uma relação essencialmente amorosa, daí a impossibilidade de quebrá-la racionalmente. A dor de todo o processo é justificada porque “pain is so close to pleasure”, tema que é aprofundado na quarta faixa: Pain is So Close to Pleasure.

O aspecto dialético da revolução, seja armada ou cultural, se mostra nesta música do Freddie Mercury e John Deacon. “One day we love each other then we´re fighting each another all the time”. Só falta dizer que meu único pecado foi amar demais. O ato de destruição, para o revolucionário, é visto como um ato de amor para a humanidade.

O lado A termina com a famosa Friends Will be Friends, uma ode à camaradagem, que está no núcleo de todo grupo ideológico. A ideologia é uma justificativa para entrar em um grupo, mas é a lealdade uns com os outros que faz com que lá permaneçam. Basta lembrar a narrativa do coletivo do Pablo Capilé, onde os laços de amizade eram forçados ao ponto de destruir a individualidade da pessoa. “It´s easy now, cos you got friends you can trust”.

No lado B, temos outro hit do Queen, escrito por Brian May, Who Wants to Live Forever. Aqui, uma sutileza. Vida eterna é o que prometem as religiões transcendentes, especialmente o cristianismo. As ideologias tem como base a negação do transcendente, tudo que temos é o aqui e agora. “Forever is our today, who waits to forever anyway?”. Quem quer essa tal de vida eterna? Quem quer viver para sempre?

Gimme the Prize é o revolucionário clamando por seu prêmio. “Give me your kings, just give me the prize”. Explica um pouco porque o revolucionário, ao mesmo tempo que acredita nas forças históricas e que o paraíso prometido virá de qualquer forma, toma parte ativa para apressá-lo. No fundo, ele é um egoísta. Ele quer o prêmio. Ele quer a satisfação de ver o destino prometido se concretizar em sua existência.

Don´t lose your head tem pouquíssimas linhas, mas enfatiza a necessidade de não perder a cabeça. Os obstáculos existem, nem sempre as coisas vão dar certo, mas lembre-se sempre da fé na causa. “Remember love´s stronger”. Amor é a cifra para a utopia.

Por fim, Princes of the Universe, a vitória final. Here we are. Born to be Kings. We´re the princes of the universe. A utopia ao alcance das mãos. Fly the moon and reach the stars. Got the world in my hands. I´m here for your love. Os revolucionários utópicos se acham os verdadeiros príncipes do universo. São totalitários por natureza.

Não tenho a menor idéia se a banda fez este trabalho de forma consciente. A inspiração artística tem suas formas de se impor, mas se tivermos como chave interpretativa o sonho da utopia, todas as músicas são coerentes e expressam uma narrativa desde a visão única, passando pela disputa até chegar na vitória final. É a descrição de um pesadelo, hoje fruto muito mais de uma revolução cultural do que um processo de conflito explícito. Por isso mesmo, mais perigoso.

Quer saber mais? Tem meu vídeo no youtube.