5 Razões para Entender a Antifragilidade

5 Razões para Entender a Antifragilidade

Antifragil

Alguma coisa mudou no humor do mundo na última década. A euforia do período 1989-2008, mesmo com os ataques do 11 de setembro, foi substituída por um profundo mal estar, como demonstram as inúmeras manifestações políticas ao redor do globo. Parecíamos imunes ao imprevisto, mas descobrimos que nossas defesas eram ilusórias. O mundo parece mais frágil do que antes.

Como qualquer outro, me ocupei de me proteger da adversidade. Como típico ser de classe média, trato dos meus seguros, meu planejamento financeiro, procuro pensar bastante em minhas decisões e luto para manter uma poupança. Segurança é o valor da atualidade. Seja nas políticas econômicas, na cultura gerencial, há uma tendência de evitar a incerteza e criar mecanismos de proteção caso algo dê errado. Planejamento estratégico, gerenciamento de projetos, organização. Acreditei que com boas práticas poderia proteger meus projetos, profissionais e pessoais. No entanto, não estou mais tão seguro. Cada vez mais meus planejamentos se mostram inúteis, pois a mudança é constante. Na verdade, sem saber, estou cada vez mais abraçando a fragilidade.

Não entender que existe uma propriedade, que não é de hoje, mas que só agora conseguiu ser articulada coerentemente no conceito de antifragilidade, é não entender o mundo de hoje, o que está acontecendo e os perigos que estamos correndo. É tomar decisões erradas, deixando oportunidades incríveis passarem.

Mas o que é, afinal, antifragilidade?

O conceito foi expresso por Nassim Nicholas Taleb em seu livro de 2015, Antifrágil. Ele se tornou famoso com o livro anterior, A Lógica do Cisne Negro, que mostrava que os acontecimentos improváveis eram cada vez mais frequentes à medida que nossos sistemas se tornavam mais complexos. Se entendermos frágil por aquilo que se prejudica com o inesperado, o seu contrário não será o robusto, que resiste à desordem, mas o antifrágil, o que melhora com o caos. Nada disso é coisa nova, na verdade já veio com o cosmos e a vida na Terra. A natureza é antifrágil, assim como o homem. O problema é que estamos nos esforçando para mudar isso e tornar o homem frágil. Precisamos aprender como melhorar na adversidade (e considerando o caminho que o mundo anda trilhando, pode ser um excelente conselho!).

Existem cinco razões para você ler o livro de Taleb sobre a antifragilidade:

1. Entender o que é antifragilidade. Taleb pode ter descoberto uma pedra filosofal para entender a nossa natureza.

2. Entender a importância da antifragilidade e como ela afeta nossas vidas.

3. Entender que estamos nos tornando frágeis. Ou seja, mais propensos a sofrer com o inesperado.

4. Entender que os cisnes negros, ou eventos inesperados, são cada vez mais constantes e imprevisíveis.

5. Entender o que devemos fazer para nos tornarmos mais antifrágeis. Acredite, as vezes é melhor não fazer nada.

Se eu fosse você, não perdia tempo.

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Conservadores: alegria!

Conservadores: alegria!

Alguns conservadores tem o péssimo hábito de cultivar o mau humor. O atual papa, que confesso não ter muita simpatia, disse algo logo no início de seu papado que guardei: o cristão tem que ser, sobretudo, alegre. O Nobel de Dylan mostrou essa face ranzinza de muitos, inclusive de alguns por quem tenho a mais absoluta admiração, diga-se. Parece que a arte já foi consolidada, e nenhuma forma  moderna é válida. Só vale o que se chama de clássico.

Esse artigo de Fernando Escorsim coloca o ponto com mais propriedade.

Apenas retomo o que aprendi com Peter Kreeft e Mortimer Adler: para julgar temos primeiro que entender. Não estou convencido que:

1. composições musicais não possam ser literatura;

2. as composições de Bob Dylan não sejam dignas de ser chamadas de boa literatura.

Como já disse aqui, pouco conheço de sua obra. Passei a última semana estudando, e apreciando, o disco Blood on Tracks. Uma maravilha. Vejam esses versos:

 

People see me all the time and they just can’t remember how to act

Their minds are filled with big ideas, images and distorted facts

Even you, yesterday you had to ask me where it was at

I couldn’t believe after all these years, you didn’t know me better than that

(Idiot Wind)

 

Sundown, yellow moon, I replay the past

I know every scene by heart, they all went by so fast

If she’s passin’ back this way, I’m not that hard to find

Tell her she can look me up if she’s got the time

(If You See Her, Say Hello)

 

I was in another lifetime one of toil and blood

When blackness was a virtue and the road was full of mud

I came in from the wilderness a creature void of form

Come in she said, I’ll give you shelter from the storm

(Shelter From The Storm)

 

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Uma nota sobre o Nobel de Dylan

Uma nota sobre o Nobel de Dylan

Qualquer prémio está sujeito a injustiças, o que volta e meia rende boas discussões. Não sei bem por qual motivo, o Nobel possui um nível de credibilidade maior, e alguns o crêem incontestável. Discordo, pois qualquer obra submetida ao julgamento humano pode gerar erros e injustiças. Só isso seria suficiente para nos fazer desconfiar de qualquer prêmio. No que se refere ao Nobel, duas categorias são particularmente polêmicas, pela alta subjetividade, os Nobel da paz e de literatura.

Sobre o Nobel da paz deste ano, acredito que o povo colombiano se manifestou politicamente em plebiscito. Mais uma vez, privilegiou-se intenções sobre ações, um dos males da atualidade. O assunto da semana foi o outro, o Nobel de literatura conferido ao músico Bob Dylan.

Os puristas reclamaram. Como puderam? Um músico? Aí está o grande erro. O Nobel não foi dado a Dylan pela qualidade de suas músicas, mas a suas letras. A questão, portanto, precisa começar por uma questão: pode uma letra de música ser considerada literatura?

Dylan

A meu ver, qualquer forma de expressão escrita pode ser considerada literatura, desde que entendamos que ela pode ser boa ou ruim. A letra de uma música, por exemplo, pode ser uma poesia __ não significa que toda letra o seja, que fique claro. Elas podem variar imensamente de qualidade; sem prejudicar a música, diga-se de passagem. Basta colocar uma letra do Lou Reed ao lado de uma de Lady Gaga para perceber a diferença. É possível até que um mau músico seja um bom letrista.

Assim sendo, dizer que um compositor não pode concorrer ao Nobel de literatura pela qualidade de suas letras parece-me um preconceito. Por que não? A questão não é o gênero literário, mas sua qualidade. Portanto, para julgar o Nobel do Dylan, deve-se discutir não sua condição de músico, mas a qualidade de suas letras. E não adianta pegar um refrão conhecido para mostrar que é ruim, é preciso analisar pelo menos uma boa amostra das composições de um autor.

O que achei do Nobel? O problema é justamente esse. Conheço algumas músicas esparsas do Dylan e nunca tive vontade de me aprofundar. Seus fãs dizem que sua força está justamente nas letras e talvez seja por isso que sua música nunca tenha me encantado, por não ter prestado atenção no que ele dizia. Ou seja, não tenho condições de analisar a decisão dos sábios do Nobel por não conhecer a obra suficientemente. Não sei se fizeram bem aos premiê-lo, apenas acho que não se pode condenar a premiação, como tenho visto, pelo fato de ser um músico popular. Mostrem que suas letras são ruins, ou que não possui nada de extraordinário, e terão um argumento. Mostrem que há melhores, terão outro. Mas, por favor, pelo menos leiam seu trabalho!

De minha parte, é o que farei. Nos próximos dias vou estudar algumas de suas composições para formar meu juízo. Mortimer Adler ensinava que temos primeiro que entender, para só então julgar. Acredito nisso.

Presente, de Antonio Cicero

Por que não me deitar sobre este

gramado, se o consente o tempo,

e há um cheiro de flores e verde

e um céu azul por firmamento

e a brisa displicentemente

acaricia-me os cabelos?

E por que não, por um momento,

nem me lembrar que há sofrimento

de um lado e do outro e atrás e à frente

e, ouvindo os pássaros ao vento

sem mais nem menos, de repente,

antes que a idade breve leve

cabelos sonhos devaneios,

dar a mim mesmo este presente?

Mais um clássico do bardo: Sonho de uma noite de verão

Passei o fim de semana com mais um clássico de Shakespeare: Sonho de uma Noite de Verão. Não entendi ainda tudo que está na peça, até porque é impossível em apenas duas leituras. Trata-se de uma dessas obras para você estudar a vida inteira. Minha mente está viajando em interpretações possíveis, que anotei no meu caderno de leituras para refletir sobre elas, com calma, nos dias que virão.

Chamou-me atenção a existência de três grupos distintos: os atenienses, os seres

Oberon, Titania and Puck with Fairies Dancing circa 1786 by William Blake 1757-1827

Oberon, Titânia, Puck e fadas. William Blake, 1786

fantásticos e os mecânicos (trabalhadores manuais). O que representam? Há uma certa incompreensão com a presença dos atenienses na peça e há versões que eles são substituídos, o que é uma bobagem. Há alguma razão para Shakespeare tê-los colocados, assim como o extrato da peça de Ovídio. Há um choque de culturas na peça, os gregos, os místicos e os científicos. A tri-partição da alma de Platão? As três eras de Comte? Se assim for, é curioso que a terceira era, da ciência, seja a retratada de forma mais ignorante, enquanto que a sabedoria está nas fadas. Mas tudo isso são direções para investigar, apenas idéias que me ocorreram.

Afinal, o que representa o menino roubado do rei indiano?

Outro aspecto é a força das imagens. Poucas peças geraram tantas obras de arte como pinturas, músicas, filmes, poemas e etc. É quase uma matriz para a imaginação de artistas de todas as eras.

Se é possível ver uma unidade na peça através da narrativa, muito mais complicado é encontrar o tema central; se é que existe. O amor e seus obstáculos parece ser um forte candidato, mas a simbologia e as imagens são tão impressionantes que sugerem muito mais significados e interpretações. Há um universo inteiro nessa peça e é plenamente concebível passar anos estudando cada passagem. É próprio dos sonhos o aspectos caótico, misturado a iluminações profundas. Como Puck sugere no final, como realmente diferenciar sonho de realidade?

Talvez o componente do mistério seja o grande elo entre os grupos e histórias e apenas um artista, do tamanho de Shakespeare, poderia criar obra com tamanha força e poder de imagens. Uma obra prima.

Midnight

Edwin Landseer, Titania e Bottom (1848)

No forno: o poema mais belo da língua inglesa (pelo menos é o que achava Ezra Pound)

Acabei de gravar uma explicação para esse soneto de Mark Alexander Boyd (Sec XVI). Em edição. Em breve, na minha página do Facebook.

From bank to bank, from wood to wood I run,
Overwhelmed with my feeble fantasy;
Like a leaf that falls from a tree,
Or a reed overblown with the wind.
Two gods guide me: the one of them is blind,
Yes and a child brought up in vanity:
The next a wife born of the sea,
And lighter than a dolphin with her fin.

Unhappy is the man for evermore
That tills the sand and sows in the air;
But twice unhappier is he, I learn,
That feeds in his heart a mad desire,
And follows a woman through the fire,
Led by a blind and taught by a child.