Notas: A Abolição do Homem

Notas: A Abolição do Homem

8 Notas sobre o livro A Abolição do Homem, do C S Lewis (1944).

  1. A educação moderna leva à supervalorização dos sentimentos, relativizando o juízo de valor que se torna uma expressão puramente subjetiva.
  2. O peito do homem tem função de subordinar o corpo ao intelecto, a emoção à razão. A modernidade está produzindo homens sem peito, ou seja, homem incapazes de ordenar os sentimentos pela razão.
  3. Os inovadores morais escolhem parte da tradição como base para os valores que criam, rejeitando parte que não lhes interessa. O único critério é o próprio sentimento.
  4. Apenas dentro do Tao (tradições comuns) é possível evoluir e não na criação de novos valores, especialmente quando criados sem conexão com a verdade que só o direito natural pode trazer.
  5. O projeto da nossa era é o domínio do homem sobre a natureza, mas num primeiro estágio nada mais é que o domínio do homem por um pequeno grupo de outros homens.
  6. Num segundo estágio, este homem que domina não se subordinando aos valores tradicionais (Tao), cria novos valores que para serem independentes precisam ser frutos do natureza irracional que supostamente dominou. Significa que a natureza triunfa sobre o homem no momento que este se julga vitorioso.
  7. A má ciência leva o homem a criar geraçãoes que serão subordinados ao pensamento de uma elite corrompida que os precedeu, sem que nem imaginem esta situação. Como esta elite é dominada pela natureza, o resultado será a abolição do homem.
  8. Uma ciência regenerada, que afirma o homem só poderá existir dentro do Tao e nunca fora dele.

A Sabedoria do Padre Brown

Terminei de reler os 12 contos de A Sabedoria do Padre Brown, segundo livro que Chesterton escreveu sobre seu simpático padre-detetive. No fundo, o que ele faz é ligar o céu e a terra através da ligação entre os mistérios divinos e humanos.

Divido com o leitor alguns trechos:

O homem que escreveu este bilhete conhecia todos os fatos. Não poderia tê-los confundido sem conhecê-los. É preciso conhecer muitas coisas para se errar em tudo… como o demônio.


O senhor sempre se esquece de que a máquina de confiança tem sempre de ser operada por uma máquina que não é digna de confiança. (…) Refiro-e ao homem, a máquina menos digna de confiança que conheço.


__ Então __ rosnou o detetive __ esse grande numismata e colecionador de moedas não passava de um avarento vulgar.__ E há tão grande diferença entre as duas coisas? __ perguntou o padre Brown, no mesmo tom estranho e indulgente.

__ Quais são os defeitos de um avarento que não se encontram frequentemente num colecionador? Pouca coisa a não ser… ” não farás para ti qualquer imagem; não te curvarás diante delas nem as servirás poi Eu…” bem, precisamos ir ver como estão passando os jovens.


Conheço seu nome, chama-se Satanás. O verdadeiro Deus se fez carne e habitou entre nós. E lhe assegura, onde quer que encontre homens dominados inteiramente pelo mistério é da iniquidade. Se o demônio lhe diz que uma coisa é horrorosa demais de se ver, olhe para ela. Se diz que alguma coisa é horrível de se ouvir, ouça-a. Se diz que alguma coisa é insuportável, suporte-a.


Pois nós, seres humanos, nos acostumamos com coisas irregulares; acostumamo-nos com o estardalhaço do inconveniente; é uma melodia com que adormecemos. Se acontece uma coisa apropriada, ela nos desperta como o retino agudo de um acorde perfeito.

Um guia para os perplexos

Anotem o nome deste livro. Trata-se de um dos melhores livros de filosofia que já li na vida.

Não, o autor não é o piloto. É um economista que defendeu a superioridade das pequenas empresas e dos pequenos negócios. Mas o livro não tem nada a ver com economia.

Vai mais a fundo. Tratarei dele em breve.

Infelizmente não tem tradução em português.

O Desconcerto do Mundo – Notas de Leitura

Terminei ontem o livro O Desconcerto do Mundo, do Gustavo Corção. Minhas notas:

  1. Trata-se de 3 ensaios que tratam do mesmo tema, o desconcerto do mundo, uma expressão do Camões.
  2. O desconcerto teria sua raiz não no homem ou um mundo errado, mas na relação entre o homem e o mundo.
  3. O homem tem uma dupla realidade de grandeza e miséria. Éramos destinados a algo maior, mas escolhemos este mundo.
  4. Não somos deste mundo, estamos neste mundo.
  5. A poesia lírica de Camões, que trata deste tema, é maior que seu épico.
  6. Filosofias que tentam reduzir o homem ao mundo são profundamente equivocadas. Elas negam a diferença específica do homem, que também é sua essência, a alma. Esta alma é dotada de uma inteligência que o distingue de toda criação.
  7. Machado de Assis não foi um cético pessimista, mas alguém que percebeu este desconcerto e que entendeu que a realidade descrita no livro Eclesiastes, seu favorito, leva ao absurdo por negar a possibilidade transcendente do homem. No Eclesiastes não há o grande remédio para o mundo injusto, as bem-aventuranças e a ressurreição.
  8. Eça de Queiroz foi um escritor que ficou na superfície de seus personagens, deixando de dar a eles a profundidade que os faz humanos.
  9. A arte tem uma importância fundamental para todos, é fonte de criatividade.
  10. A grande arte é aquela que revela a natureza humana e da criação.
  11. Boa parte da arte moderna perdeu essa compreensão e por isso se torna artificial e sem sentido.
  12. Arte e técnica precisam caminhar juntas para que realizem seus potenciais.

Notas sobre a felicidade

Estou relendo as Confissões, de Santo Agostinho.

No Livro X, ele faz algumas considerações sobre o problema da felicidade. Fiz as seguintes notas no meu diário, para refletir:

  1. O homem só é realmente feliz na verdade.
  2. No entanto, frequentemente odeia aquele que tem a verdade (a verdade gera o ódio).
  3. Isso acontece porque não deseja estar enganado e por isso quer que o que ama seja a verdade.
  4. Como não quer ser enganado, não se quer convencer que está no erro.
  5. Assim, odeiam a verdade por causa do que amam em vez da Verdade.
  6. Amam quando a verdade os iluminam e a odeiam quando os repreendem.
  7. Porém a própria verdade os castigará, denunciando todos os que não quiserem ser manifestados por ela.

Comentário meu: na base de tudo está a identificação da Verdade com Deus. Como Deus e a Verdade são o mesmo, a revolta contra a Verdade é a revolta contra Deus e vice-versa.

Será feliz quando, libera de todas as moléstias, alegrar-se somente na Verdade, origem de tudo que é verdadeiro.

Santo Agostinho

Rubem Braga: que cronista!

Acabei de ler um livro de crônicas do Rubem Braga.

Um mestre.

A crônica foi um dos estilos que os brasileiros mais se destacaram, talvez por influência do jornalismo. Impressionante como eles eram capazes de extrair do cotidiano reflexões tão sutis e líricas sobre a vida.

Rubem Braga foi um desses cronistas.

Notas sobre Henrique IV – Parte 2

Terminei ontem de ler Henrique IV, parte 2. Algumas notas:

  1. Juntamente com a parte I, a peça trata da transição do Príncipe Hal, que vive cercado de má influências, a começar por seu tutor Falstaff, em um dos grandes reis da Inglaterra, o famoso Henrique V.
  2. A parte 2 vai concluir esta jornada. Hal vai substituir como figura paternal o anárquico Falstaff pelo ponderado lorde juiz, um dos principais conselheiros de seu pai.
  3. Trata-se de uma aceitação de seu destino, que Hal vê claramente como um fardo que terá que carregar (a cena com a coroa é marcante).
  4. Muitos acham que ser de uma família real é ser um privilegiado. Hal comete todas as loucuras da juventude justamente porque sabe que um dia chegará ao fim e terá que viver um papel para o resto de sua vida. O próprio Henrique IV, em seu leito de morte, confessa ao filho que não foi feliz com a coroa.
  5. Henrique IV tornou-se rei de forma ilegítima. Por isso teve que lutar a vida inteira para manter a coroa e se desgastou até a morte.
  6. Quem trai um, trai outro.
  7. Falstaff é uma figura dionísica. Anárquico, com uma lei moral própria, mestre das trapaças, mas ao mesmo tempo generoso e capaz de realmente ter afeto. Em contraste, o Lorde Juiz é uma figura apolínia. Correto e ponderado, chegou a prender o príncipe Hal por desordem. Fiel a princípios, não muda de atitude com o novo rei. O predomínio do impulso dionísico faz parte da juventude, mas o homem maduro necessita de Apolo, ainda mais se tiver grandes responsabilidades.
  8. O afastamento, no fim, de Falstaffé necessário, mas nem por isso menos tocante.
  9. O Príncipe João é uma deformação do apolínio. Se o Lorde Juiz tem a reta razão como guia, João tem sua própria fonte de moral, como demonstra a forma como lidou com a rebelião. Eficiente e pragmático, evitou uma guerra, mas não se pode dizer que foi honesto.
  10. Henrique IV passou os últimos anos querendo conquistar Jerusalém sem saber que já a tinha em seu próprio palácio.

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Falstaff e o Lorde Juiz: Dionísio e Apolo

Dica de Leitura 2

 

Sempre que terminar um capítulo, feche o livro e pense sobre ele. Tente resumir mentalmente o que leu, não recorra a anotações neste instante, pode voltar a elas depois.

Busque a essência. Como você explicaria o capítulo para alguém em poucas parágrafos?

Se quiser, escreva um parágrafo. Não mais do que um. Poucas frases. Guarde-o para guando terminar o livro e for refletir sobre ele como um todo.

Dica de leitura 1

Quando terminar um livro, tente escrever um parágrafo descrevendo-o. Não mais que isso. Umas 3 ou 4 frases.

Se não conseguir, sinal que não entendeu. Se o livro for importante para você, leia novamente, reflita mais.

Se capaz de entender a essência de uma leitura é o grande teste de compreensão. Como já disse um grande escritor (não lembro quem): queria escrever um livro menor, mas não tive tempo.

Você só é capaz de sintetizar o que entende. Buscar a síntese te força a entender o texto.