Aos amigos, tudo (que não é seu)

JB:

Depois de mais de três horas de reunião, em Brasília, entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo, foi decidida a formação, nos próximos 10 dias, de uma mesa de conversação para discutir alternativas que atendam aos interesses de ambos os países em relação à tarifa paga pelo Brasil ao Paraguai pela energia da usina binacional de Itaipu. Os dois presidentes também trataram de questões comerciais, investimentos e cooperação na área social.

A imparcialidade de nosso estadista

Folha:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista à TV Brasil que apóia a decisão do presidente Evo Morales de expulsar da Bolívia o embaixador dos Estados Unidos Philip Goldberg. “Se for verdade que o embaixador dos EUA fazia reunião com a oposição do Evo Morales, o Evo está correto de mandá-lo embora.”
“Não é de hoje e é famosa a interferência das embaixadas americanas em vários momentos da história do continente americano. Então, eu acho que houve um incidente diplomático, se o embaixador estava tendo ingerência na política lá, o Evo está correto”, completou.

Comento:

Isso é para aqueles que julgam o presidente do Brasil como o ponto de equilíbrio nas relações latino-americanas. Nunca foi, sempre esteve do lado de seus companheiros de esquerda. A tática é velha mas funciona; primeiro soltam o bufão de Caracas para fazer alarde e depois surge Lula como a voz moderada do continente.

Foi assim que os autores do “Manual do Perfeito Idiota Latino Americano” chegaram à conclusão que haveria por aqui dois tipos de esquerda, uma vegetariana e outra carnívora. Pior que este é o pensamento do departamento de estado norte-americano.

A importância da Bolívia para os Estados Unidos hoje é próximo de zero. É um país irrelevante para a maior economia do planeta, tanto pela sua ineficiência produtiva como pelo seu diminuto mercado consumidor. Querer colocar na conta de Bush os problemas que o próprio Morales causou é forçar demais a barra.

Fosse Lula um estadista, assumiria um papel moderador e de não interferência nos assuntos interno da Bolívia. Mas não é, Morales é um colega e sócio menor de um mesmo projeto.

Editorial do Estadão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria ter seguido seu instinto político. Quando soube da convocação, pela presidente do Chile, Michelle Bachelet, da reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para examinar a crise boliviana, seu primeiro impulso foi recusar o convite e mandar um representante em seu lugar. Ele não via sentido numa reunião de chefes de Estado, uma vez que o grupo não poderia tomar decisões que só cabem ao presidente Evo Morales. Isso, aliás, havia ficado claro quando o presidente boliviano recusou a mediação do Grupo de Amigos da Bolívia (Brasil, Argentina e Colômbia) oferecida dias antes pelo próprio Lula – enquanto procura negociar com seus opositores. De certo, o presidente brasileiro também receava que o encontro de presidentes fosse usado como palco para mais uma das agressivas demonstrações de radicalismo do caudilho Hugo Chávez, que já havia ameaçado intervir militarmente na Bolívia se a crise interna pusesse em risco o governo de seu discípulo bolivariano, Evo Morales.

Mas Lula deixou-se convencer, finalmente, de que a reunião da Unasul não apenas não configuraria uma intromissão nos assuntos internos da Bolívia, como sua realização interessava a Morales. Também teria pesado na sua decisão de ir a Santiago o fato de ser aquela a primeira reunião do novo organismo regional criado para substituir a OEA – ou seja, para evitar qualquer ingerência política dos Estados Unidos nos assuntos sul-americanos.

Os debates entre os presidentes e o texto do comunicado final da Unasul mostram que o presidente Lula teria saído no lucro não indo a Santiago. Para começar, Michelle Bachelet, presidente de turno da organização, teve grande trabalho para evitar que referências grosseiras aos Estados Unidos – acusados de fomentarem uma guerra civil na Bolívia – constassem do documento final, como exigiam Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa. Mesmo assim, o texto aprovado por unanimidade é um primor de parcialidade, não por dar respaldo a um presidente eleito, mas por considerá-lo, contra todas as evidências, como o paladino da “institucionalidade democrática”, do “Estado de Direito” e da “ordem jurídica vigente”.

Não há quem não saiba que o caos político e social se instalou na Bolívia porque Evo Morales violentou todos os princípios da democracia na sua tentativa de implantar no país um extravagante regime socialista, baseado no autoritarismo do confuso bolivarianismo de Chávez e temperado com um modelo de organização social pré-colombiano.

Antes que a situação chegasse ao ponto atual, o homem que a Unasul considera o guardião das liberdades democráticas fechou o Congresso, praticamente dissolveu a Corte Suprema e fraudou escandalosamente o processo de elaboração da Constituição que quer impor ao país. Foi contra tudo isso que se insurgiram cinco dos nove Departamentos da Bolívia. Seus governadores também deixaram a lei de lado e seria risível, não fosse trágico, falar na “ordem legal vigente” na Bolívia.

É também estranho que a Unasul exija respeito à integridade territorial da Bolívia. Há pelo menos dois anos, desde que os ânimos começaram a se acirrar, os governadores de oposição e as organizações cívicas que os apóiam não se cansam de afirmar que seu objetivo é evitar a imposição do socialismo e da ordem social pré-colombiana – que deixa em posição de submissão quem não é índio – e consagrar a autonomia dos Departamentos – e não a deposição de Evo Morales e, muito menos, a secessão do país. Se, nesse período, existiu alguma ameaça à integridade da Bolívia, ela partiu do caudilho Hugo Chávez, que mais de uma vez se disse disposto a intervir militarmente no país.

Do espetáculo encenado em Santiago teria restado de útil a decisão de organizar uma comissão para acompanhar os trabalhos de uma mesa de diálogo entre o governo e a oposição bolivianos. Mas os presidentes reunidos fizeram um “apelo ao diálogo” quando, havia já 48 horas, se reuniam no Palácio Quemado, em La Paz, o vice-presidente Álvaro Garcia Linera e o governador de Tarija, Mario Cossio, para acertar as bases das negociações entre o governo e os governadores da “meia-lua”. É desse diálogo que pode surgir a tão desejada “harmonização” entre a Constituição de Morales e as reivindicações políticas dos governadores – única forma pacífica de solucionar a crise boliviana.

Comento:

O editorial está correto na essência. Lembra que os conflitos na Bolívia foram provocados pela intransigência de Evo Morales que tenta implantar uma ditadura em seu país e que o correto seria se abster de ressaltar o presidente boliviano como paladino da democracia e da ordem. Foi Morales que insistiu na destruição das instituições bolivianas e levou a oposição ao confronto.

É bom Uribe ficar de olho com o que faz. O malvadão do Bush e García do Peru são seus únicos aliados de fato no continente. Periga ficar isolado no meio dos esquerdistas do Foro e perder parte do que ajudou a conquistar em seu país, justo no momento que as FARC estão nas cordas.

Evo parte para o ataque

O diálogo entre o governo Evo Morales e a oposição foi suspenso nesta terça-feira na Bolívia. O motivo da interrupção, segundo os oposicionistas, é a prisão do governador de Pando, Leopoldo Fernández.

Ao saber da prisão, o principal representante oposicionista no diálogo, Mario Cossío, governador de Tarija, abandonou uma reunião com membros do governo no palácio presidencial em La Paz sem falar com a imprensa. Mais tarde, em Santa Cruz, ele declarou que o diálogo com Morales “não morreu, mas está em agonia”.

Tudo isso aconteceu com as bençãos dos 9 presidentes que assinaram a carta da UNASUL ontem. E havia um artigo prevendo o diálogo entre governo e oposição para solucionar a crise.

Na prática deram um apoio aos planos de Chávez e Morales de expandir o socialismo para a Bolívia.

o Foro mexeu mais uma peça.

Até tu Uribe?

Era até esperado que a UNASUL, aquela bobagem criada na América Latina, hipotecasse seu apoio irrestrito a Evo Morales. A organização é irrelevante, apenas mais um palco político para atuação do Foro de São Paulo. Dois fatos chamaram-me a atençao.

Primeiro foi a atuação da Bacherelet mostrando mais uma vez que não existe esta estória de esquerda vegetariana. A chilena conseguiu levar Allende para a discussão comparando duas situações distintas.

A oposição boliviana não quer a deposição de Morales ou mesmo a separação como tentam alardear. Quer apenas que o presidente respeito o próprio referendo que convocou que não só ratificou a presidência de Morales mas também a legitimidade dos governadores. A briga é para que respeite a autonomia das províncias, o que não está sendo feito. A luta é para que Morales não transforme a Bolívia em um país socialista, o que iria contra a vontade do próprio povo boliviano.

Ademais, tivesse Allende permanecido no poder teria levado o Chile ao caos e Bacherelet não estaria hoje presidindo uma nação democrática e liberal. É preciso acabar com a mistificação do ex-presidente chileno.

O segundo fato que chamou-me atenção foi a assinatura de Uribe na declaração. Deveria ter seguido o exemplo de García e nem comparecido ao evento. Parece que esqueceu que no momento que mais precisou os países da América Latina lhe viraram as costas e recusaram-se a apoiar incondicionalmente o governo democraticamente eleito da Colômbia diante das FARC. Uribe conferiu ao grupelho uma legitimidade que eles absolutamente não possuem.

Anjos e Demônios

Boa parte da imprensa já está defendendo a estória que Lula é a opção para o diálogo com a oposição boliviana como se não existisse um fórum mundial onde Morales, Chávez e Lula fossem sócios na empreitada declarada de socializar a América Latina.

A oposição boliviana está reagindo justamente à tentativa de Evo Morales de instituir a força o socialismo em seu país. Não dá para entender como podem aceitar que o governo brasileiro seja um negociador nesta crise. Hoje mesmo o presidente do Parlamento Sul-Americano, uma inutilidade, o tal Dr Rosinha, outra inutilidade, deu apoio irrestrito ao presidente boliviano.

Só há dois presidentes na América Latina que poderiam fazer este papel, os presidentes da Colômbia e do Peru. Talvez Bacherelet, apesar de ser de esquerda não parece até agora estar associado ao Foro.

O pano de fundo é a tese furada que os autores do excelente Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano defenderam na continuação equivocada da própria obra. Haveriam dois tipos de populistas na América Latina, os vegetarianos (Lula seria um deles) e os carnívoros (Chávez é a maior expressão.). Erraram profundamente, não existe socialista vegetariano, apenas socialista em pele de cordeiro que se coloca justamente como contraponto aos carnívoros para angariar simpatias. É um engodo, genial, mas um engodo.

Foro em polvorosa

O Foro de São Paulo está tentando o que pode para socorrer o parceiro boliviano.

Hugo Chávez avisou que apoiará qualquer movimento armado em favor de Evo Morales.

Marco Aurélio Garcia, que ainda fala pelo governo brasileiro depois de tripudiar de 200 mortos, avisou que não reconhecerá nenhum governo em substituição ao cocaleiro.

Pergunto se as FARCs derrubassem o governo Uribe.

Chávez correria em seu socorro? O Brasil não reconheceria um governo das FARCs? Ou festejariam a vitória dos terroristas?

Estou me animando com a reação dos países do Foro. Parece que não contavam realmente com a reação da oposição boliviana e não possuem forma eficiente de reação, não sem apoio das Forças Armadas. Ainda não era o momento de enfrentar esta reação.

Dilema boliviano

Desde que assumiu o governo, Evo Morales tem constantemente agido contra as instituições bolivianas para implantar os ideais socialistas. Não se trata de uma ação gratuita, faz parte dos planos há muito estabelecidos pelo Foro de São Paulo criado por Lula e Fidel Castro com o objetivo expresso de instalar o socialismo na América Latina pela via democrática conforme previsto por Antônio Gramsci.

Nada de revoluções ou uso da força, o pensador italiano previu que o melhor caminho para o socialismo era a conquista da hegemonia cultural e a destruição da democracia usando as próprias ferramentas democráticas. Com raras exceções praticamente todo o continente está nas mãos do Foro onde a conquista do aparelho do estado depende da solidez das instituições.

Na Venezuela o Foro já está bem adiantado com as instituições destruídas e uma ditadura sob o véu democrático instalada. Logo atrás vem o Equador e a Bolívia. Como impedir este processo?

Na Venezuela a oposição escolheu não participar do processo democrático, não funcionou. Chávez aproveitou a ausência de qualquer oposição para assumir poderes totalitários. O Legislativo tornou-se um fantoche e o controle sobre o judiciário é total. Com a destruição da harmonia entre os poderes a democracia deixou de funcionar apesar das aparências.

Os defensores do chavismo aqui no Brasil gostam de lembrar que ele convocou um plebiscito como prova de que se trata de um democrata. O que eles não dizem é que após ser derrotado ele aprovou por lei praticamente tudo que foi rejeitado pela população.

A oposição boliviana partiu para outro caminho, o confronto. Quais as suas opções? Sua representação legislativa é ignorada, não existe mais um judiciário independente. Denunciar? Foi o que fez desde o primeiro dia do governo Morales. Foi o que a oposição venezuelana tentou fazer quando boicotou o processo democrático.

O problema é que a América Latina está tomada por aliados de Chávez e Morales, a começar pelo principal país da região, o Brasil. Foi a liderança brasileira que garantiu o venezuelano na presidência quando teve para ser deposto.

Estados Unidos? Europa? Estão se lixando para a bagunça que se formou na América do Sul. Somos irrelevantes demais para despertar qualquer interesse, contanto que a Venezuela continue fornecendo petróleo e o Brasil mantenha seu mercado consumidor aberto. Chávez não é burro, apesar de toda retórica continua vendendo seu óleo para o Império do Mal.

Funcionará a estratégia de confronto da oposição boliviana? Duvido muito. Qual seria a alternativa? Como escapar das garras do Gramscismo?

Como conseguir a liberdade diante de uma hegemonia cultural que dá suporte e proteção a um governo socialista?

Este não é um problema dos bolivianos, nem dos venezuelanos. É um problema de todos que desejam reconquistar a liberdade na América Latina. Uso o termo “reconquistar” em seu sentido pleno pois não acredito que sejamos realmente livres, nem mesmo aqui no Brasil.

A Bolívia é apenas o palco  mais visível da disputa entre a liberdade e a utopia socialista.

Bolívia em ebulição

Parece que a oposição boliviana pagou para ver o blefe de Evo Morales que vem tentando usar a democracia para subverter a própria democracia. Desde que assumiu o índio cocaleiro apostou na divisão de seu país e no populismo barato. Os governadores de oposição viram na Venezuela seu futuro e não gostaram, resolveram agir antes que fosse tarde.

O resultado está aí, a divisão se concretizou e a baderna tomou conta do país. Na tentativa de unir o país contra o inimigo de sempre, no melhor estilo Chávez, o cocaleiro resolveu expulsar o embaixador americano da Bolívia.

Não tem como acabar bem esta confusão, como não acabará bem os governos Chávez e Corrêa. Governos populistas podem durar mais ou menos, mas acabam em ditadura ou deposição. Veremos qual será o destino da Bolívia.

O fato é que pela primeira fez um presidente do Foro de São Paulo enfrenta uma reação de força. Os demais presidentes irão ao socorro de Morales e mais uma vez deixarão explícito, para quem quiser ver, a verdadeira natureza de seus objetivos.

Mais um avanço do Foro

O Foro de São Paulo, aquele que não existe, conseguiu mais uma avanço no continente ao eleger Lugo para a presidência do Paraguai. Aos poucos a América Latina vai se tornando vermelha; na verdade restava pouca opção para os Paraguaios que tiveram que escolher entre o ex-bispo e o General Oviedo.

A prova da degeneração e o sucesso do Gramscismo é justamente o fato do pensamento conservador ter que ser associado a uma pessoa como Oviedo. Os longos anos de conquista da intelectualidade pelo socialismo está levando a uma situação em que a população é obrigada a escolher entre opções de esquerda, como aconteceu no Brasil em 2002 com o confronto entre Serra e Lula.

É claro que o novo presidente vai renegociar o contrato da energia e o presidente brasileiro ficará ao lado do Foro e contra os interesses brasileiros, igual ao que aconteceu na Bolívia. Os brasileiros pagarão a conta com aumento nas já caras tarifas de energia. O pior é que grande parte da população e da mídia acredita ainda que temos um presidente nacionalista.