Educação: o grande problema

Se precisássemos escolher um único problema para caracterizar a nossa educação qual seria?

Esta semana assisti uma palestra na ENAP do Ricardo Paes de Barros sobre políticas públicas baseadas em evidências. Um dos inúmeros gráficos apresentados me chamou particularmente atenção: a relação entre escolaridade e produtividade.

Em todos os países observados, o aumento de escolaridade corresponde ao aumento de produtividade. Pode ser uma subida suave, como no Chile. Uma mais agressiva, como em Singapura; ou um extremo, como a Coréia. Porém todas relações são ascendentes. Exceto uma.

O Brasil conseguiu subir bastante em grau de escolaridade sem aumentar sua produtividade. Caso único no mundo.

Brasil, o tipo zero

Contou o palestrante, que ao mostrar este resultado em um congresso internacional, um burocrata estrangeiro se aproximou e disse que gostaria de estudar o modelo brasileiro. Paes de Barros pensou que se tratava de alguém querendo aprender com nossos erros. Mais a afirmação seguinte foi surpreendente.

__ Quero copiar para o meu país.

__ Mas, por que?

__ O Brasil foi o único país no mundo que conseguiu fazer educação sem servir ao capitalismo.

Taí, nessa frase nossa miséria. Não conseguimos converter educação em produtividade, valor, riqueza. Somos o país que educar é um verbo intransitivo, sem objeto direto.

Paulo Freire teria orgulho de nós.

Onde as políticas raciais nos levam

Site G1:

BRASÍLIA e SALVADOR – A ficha de inscrição para o próximo vestibular da Universidade Federal da Bahia (UFBA) pede aos candidatos que indiquem a sua etnia e oferece uma série de opções para os estudantes, mas não cita a raça branca. Quem se considera branco, portanto, deve marcar a categoria “outras”. As demais opções listadas no formulário são: “preto”, “pardo”, “índio descendente”, “aldeado” (no caso de índios que vivem em aldeias) e “quilombolas”.

(…)

A falta de uma opção específica para candidatos brancos surpreendeu frei David Santos, fundador da Educafro, rede de cursos pré-vestibulares para negros e pobres.

Para ele, no entanto, a omissão serve para que os candidatos brancos sintam na pele a exclusão a que pretos e pardos são submetidos no país:

– Inconsciente ou conscientemente, a universidade está levando quem é euro-descendente a fazer a experiência de não se ver refletido, a exemplo do que sofre e sofreu a comunidade indígena e negra em vários setores da sociedade brasileira.

Comento:

Dizer o que? Isso é só o começo, vai piorar muito. O “frei” deixa bem claro o pensamento desta gente. Os negros e pardos são excluídos, é preciso que os brancos também sintam a exclusão. Tudo isso só faz criar no Brasil algo que não existia até aqui, a divisão racial. Seremos um país melhor por causa disso? Eu duvido. Ao invés de celebrar o que temos em comum vamos ressaltar as diferenças e nos dividir em categorias. Vamos nos transformar em tudo que estes movimentos nos acusam de ser. Sobre as políticas raciais, que na verdade são racistas por natureza, lembro um trecho de Stephen King em um livro que li há algum tempo:

Foi ruim até que ponto? Foi ruim desde o começo e se tornou rapidamente pior.

Educação e a Constituição Cidadã

Considero que uma das raízes dos males atuais que afrigem o Brasil está na Constituição de 1988. Seu texto tentou instituir o bem estar social no Brasil por decreto tornando-a impraticável. Para piorar, as leis ordinárias foram ainda mais incisivas no controle do cidadão pelo estado. Vejam o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA):

“Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”.

Só para ter uma idéias, a Constituição de 1937, em plena ditadura, era bem mais liberal.

“art. 125. A educação integral da prole é o primeiro dever e o direito natural dos pais. O Estado não será estranho a esse dever, colaborando, de maneira principal ou subsidiária, para facilitar a sua execução ou suprir as deficiências e lacunas da educação particular”.[1]

As leis atuais brasileiras querem tirar dos pais o dever pela educação dos filhos pois no fundo acreditam que sejam incapazes por acreditarem em valores estranhos aos humanistas. Como é difícil ensinar aos pais o que consideram correto, os valores progressistas, partem para os filhos na esperança de usar a teoria de Marco Aurélio de Mello de esperar aposentar os conservadores.

Uma coisa que sempre me chamou atenção é a grande quantidade de idéias progressistas que são frontalmente contra a família. Eles não são bobos, sabem que trata-se da grande perpetuadora dos valores tradicionais, junto com a Igreja. A grande quantidade de padres progressistas já indica a importância que tem para eles a destruição destes pilares.

No fundo de tudo isso a crença que os indivíduos são incapazes de pensar por si próprios, que são dominados por valores antigos e ultrapassados, que devem ser “educados”. Não é a toa que nas duas grandes utopias totalitárias __ as de Huxley e Orwell[2] __ a família é destroçada. Ambos sabiam que a conquista da sociedade pelo estado só seria completa com a desagregação familiar.

Ano passado o presidente da república em pessoa disse publicamente que a educação sexual seria feita nas escolas segundo os critérios do MEC independente da vontade dos pais. Estes nem sequer seriam ouvidos.

Foi assim que evoluímos de um texto da ditadura (a real) em que o estado era auxiliar dos pais na educação para um que os pais são fornecedores de educandos. Para nossa miséria futura.


[1] http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=6858&language=pt

[2] Admirável Mundo Novo (Huxley) e 1984 (Orwell)

Inovação brasileira

Ainda sobre a educação. O Globo online noticiou hoje:

Depois das cotas para negros, índios e alunos de escolas públicas, o acesso a universidades federais ganhou um novo critério: o lugar onde o candidato freqüentou ensino médio. É o que mostra reportagem de Demétrio Weber publicada no Globo nesta segunda-feira. Os novos campus da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) incluíram em sua fórmula de ingresso o “bônus regional”, pontuação extra no vestibular para quem estudou no interior ou na periferia.

Rápidas considerações:

  1. Mais uma inovação brasileira, a cota geográfica. Não me admira que o ensino esteja tão ruim, estamos caminhando para distribuição política das cotas. Se eu fosse estudante do ensino médio eu correria para me cadastrar como flamenguista ou corinthiano pois quando resolverem distribuir as vacas por times de futebol é bom ficar com os mais populares.
  2. Como sempre a UNB está a frente. Isto que é uma instituição que pensa no futuro.
  3. Mérito? Que isso?

Em post anterior reproduzi um extenso artigo sobre o caso dos dois meninos educados dentro de casa em Minas Gerais. Lendo com mais calma o artigo verifica-se que foram dois os principais motivos para a decisão dos pais, motivos que na verdade possuem a origem comum.

O primeiro é amplamente conhecido, nosso ensino é de péssima qualidade. Não há um único exame internacional que nossos resultados não sejam ridículos. Com orçamento de bilhões de reais o MEC só conseguiu produzir um ensino que só pode ser classificado como lixo. As escolas particulares não ficam atrás, também são geridas pela tal Diretrizes Básicas da Educação.

O segundo motivo só está ficando melhor conhecido agora. Nossos professore não estão interessados em ensinar e sim em doutrinar ideologicamente as crianças. Os pais dos meninos estavam mais preocupados com os valores que eram ensinados na escola do que com o péssimo ensino, o que é bem mais grave. Na prática, usando um raciocínio bem simples, os professores simplesmente ensinam valores radicalmente diferente dos pais e mais, acham que deve ser assim mesmo. Diz o artigo:

Os números da pesquisa são extremamente contundentes: 78% dos professores consideram que a principal missão da escola é “formar cidadãos”, enquanto apenas 8% assinalam “ensinar as matérias”. 80% dos professores consideram que seu discurso é politicamente engajado e apenas 20% o consideraram politicamente neutro. Engajamento político significa, nesse caso, admirar, em primeiro lugar, Paulo Freire (29% dos professores), seguido por Karl Marx (10%). Significa também que 86% dos professores têm conceito positivo sobre Che Guevara e nenhum declara ter conceito negativo. Lênin foi positivamente avaliado por 65%, enquanto sua avaliação negativa foi de apenas 9%.

Não se iludam, formar cidadãos é um eufemismo para doutrinação ideológica.

Saber que os professores não desejam ensinar e avaliam positivamente um extrume como Che Guevara é mais do que um sinal de alerta, é um sinal de pânico! Como Reinaldo Azevedo gosta de dizer, é molestamento infantil. O estado é um estuprador intelectual. Cuidado com nossas crianças!

Mais sobre os Nunes

Os meninos Nunes são aqueles mineiros que estudaram a vida inteira em casa. O ministério público resolveu processar os pais por abandono escolar e na tentativa de decidir a questão o Tribunal de Justiça ordenou que aplicassem uma prova envolvendo questões de português, matemática, história, geografia, inglês, artes (?!), esportes (??!!?) e outras matérias.

Para a surpesa de muitos eles passaram nos testes __ aliás, já haviam passado em um vestibular de direito. Os que viram os testes comentam que apenas uma extrema minoria de estudantes da rede pública conseguiria passar.

Algo está muito errado quando amadores (os pais dos meninos) conseguem fazer um trabalho muito melhor do que especialistas. A educação pública é um fracasso no Brasil e ainda acreditamos que tudo vai bem, que basta injetar mais dinheiro.

Injetar dinheiro em um projeto fracassado só potencializa o prejuízo. Pode até ser que se precise de mais recursos, mas primeiro precisa-se endireitar o projeto. No entanto nossos educadores continuam batendo o pé, o modelo está correto. Pior, acreditam que devemos insistir e aumentar as variadas teses furadas que nossos especialistas copiaram sem entender direito. Novamente, contra todas as evidências do mundo real, insistirmos no erro na esperança que o mundo se adapte a ele.

Ensino em casa

Não estava sabendo deste caso do casal em Minas Gerais que resolveu ensinar os filhos na própria casa, uma prática que parece já existir em outros países. A lei brasileira proíbe que os pais não matriculem os filhos na escola. Levando em conta não só o péssimo ensino da imensa maioria das escolas brasileiras mas o péssimo ambiente de valores imposto pelo Ministério da Educação ainda há muito o que se debater. No melhor estilo progressista nossos educadores acham que devem ensinar os valores que acham corretos, não os que os pais desejam.

Segue um artigo sobre o assunto. Li muito superficialmente, assim que tiver um tempo vou estudá-lo com mais cuidado. É um tema que muito me preocupa. Outro dia me disseram para não subestimar o poder do ensino público em educar as pessoas. Não subestimo, muito pelo contrário, tenho é muito medo. A escola é o maior instrumento de doutrinação ideológica do estado, seja ela qual for.

Leia mais aqui.

Na mesma tecla

uol:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu na tarde desta quarta-feira (3) com reitores de universidades federais do País para anunciar o aumento de vagas de graduação em 2009. Serão mais 44 mil vagas criadas por meio do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais).

Comento:

Fui convencido e hoje sou favorável à universalização do ensino superior, desde que a sociedade compreenda que haverá padeiros, taxistas, trocadores de ônibus e outros com diploma de terceiro grau. Impossível é universalizar o ensino superior e querer que todo mundo seja advogado, dentista, engenheiro. Não há demanda para tanto.

Novamente estamos batendo na mesma tecla errada. O nosso problema não é falta de vagas nas Universidades pois boa parte da gente que está lá não possui condições para receber um diploma de terceiro grau. Não faz uma semana saiu uma reportagem sobre as aulas de regra de três em faculdade de engenharia, de acentuação em curso de direito e jornalismo. O problema do Brasil é de natureza bem diversa: nossos formandos de segundo grau são de baixíssimo nível. Todos os testes internacionais comprovam isso e o próprio governo reconhece.

A verdadeira questão está na causa e não na conseqüência; o caminho é e sempre foi o ensino fundamental e médio. Fica difícil mudar este quadro sabendo que nossos professores estão mais interessados em molestar intelectualmente os alunos com a propaganda socialista do que ensinar matemática e português.

Somos a 10\ordf economia do planeta e 22\ordm no registro de patentes. A educação é um dos nosso maiores problemas e continuar atacando pelo prisma errado só vai aumentar cada vez mais o hiato tecnológico que nos separa dos países mais desenvolvidos.

Cotas: resultado da UERJ

Ali Kamel apresenta dados importantes no estudo da UERJ sobre o aproveitamento das cotas fornecidas pela universidade.

Ano passado foram oferecidas 1043 vagas para 753 inscritos com 432 aprovações. O que isso significa? Que não é o racismo que impede o negro de fazer universidade, mas a destruição do ensino público que não consegue levar seus estudantes ao final do ciclo do ensino secundário.

Quer dizer também que não está tendo a menor concorrência dentro das cotas, conseguindo a nota mínima o candidato está aprovado. No fundo demonstra-se a ineficiência do sistema de cotas.

Nas cotas destinadas à escola pública o processo é semelhante. As vagas também não estão sendo preenchidas, faltam candidatos. E a tendência é aumentar ainda mais estas vagas não preenchidas porque os beneficiados por cotas que já existiam no “mercado” já entraram na universidade, restariam agora praticamente os que estão sendo formados.

Fica patente que se o Brasil deseja começar a sair do buraco educacional que se meteu precisa investir na rede pública de ensino. Sem aumentar a carga tributária pois os recursos existentes para a educação são compatíveis com os países de primeiro mundo, até mesmo superiores. Um dos problemas é o estado sustentar alunos que não precisam, como acontece nas universidades federais. Quem pode pagar deve fazê-lo. O país enterra dinheiro demais, e sem necessidade, nas universidades.

É preciso voltar nossos olhos para o ensino de base, urgente. Nunca chegaremos a um patamar aceitável de civilização sem resolver o problema da educação. Recursos existem, falta vontade política.

Sobre educação

A Veja da semana passada trouxe um entrevista com Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, sociólogo e estudioso de temas relativos à educação. Em síntese, ele faz o seguinte diagnóstico da universidade brasileira:

  1. As universidades contribuem muito pouco para o desenvolvimento do país. Isto acontece porque seu financiamento é inteiramente público, o que causa uma dissociação em relação às demandas da sociedade. A tendência é de acomodação.
  2. O sistema CAPES precisa ser reformado pois dá ênfase ao trabalho acadêmico e desestimula a iniciativa prática. A aplicação da pesquisa não é valorizada. Os pesquisadores só querem publicar artigos em revistas internacionais, assim que é publicada não se preocupam em procurar aplicar o resultado; é mais vantajoso começar outra pesquisa para publicar novo artigo. (Acabei de terminar um curso de mestrado, é a mais pura verdade).
  3. É preciso que as universidades tenham mais flexibilidade para gerir seus recursos e que não dependa integralmente do governo. É preciso premiar e pagar os professores pela contribuição efetiva para a instituição, não podem ser simples funcionários públicos.
  4. Os investimentos para pesquisas são muito pulverizados. É preciso concentrar dinheiro em centros de excelência para dar um salto de qualidade. Pesquisa científica é algo caro e concentrado, é assim no mundo inteiro.
  5. É preciso de pesquisadores com mentalidade empresarial, que esteja atenado com o que acontece fora da universidade para saber quais temas de pesquisas estão surgindo, as linhas mais promissoras e onde estão as oportunidades.
  6. O governo está muito preocupado com a inclusão na universidade, o que é um erro. Não há tanta gente para colocar na universidade porque o ensino médio está muito ruim. A política atual dá acesso para gente que não vai conseguir muita coisa, o problema da desigualdade social está mais ligada à educação básica do que com a universitária. A função da universidade é “produzir competência, gente bem formada e pesquisa de qualidade.”

O que devemos discutir é se essa universidade tem bons engenheiros, bons cientistas e se tem capacidade para oferecer serviços. O resto é secundário.

Na mesma edição, Claudio de Moura Castro trata de outro assunto relativo à educação, os “diamantes descartados”. Seus principais pontos:

  1. Surgem na escola alunos mais talentosos que os demais. Estima-se que cerca de 3% da população esteja nesta categoria. Na Inglaterra e na França eles ganham acesso às melhores escolas, nos Estados Unidos há programas especiais. Na Rússia e em Cuba há colégios para talentosos.
  2. No Brasil, quando estes alunos vêm de famílias mais ricas, os talentosos são identificados e recebem a educação apropriada. O problema é o aluno da escola pública, são ignorados. Na teoria educacional brasileira eles devem ser “integrados” aos demais. São impedidos de desabrochar, desajustam-se ou fingem ser medíocres, a fim de evitar conflitos e embaraços.
  3. Algumas empresas tem tomado o problema em suas mãos. Elas buscam alunos talentosos em escolas públicas e oferecem bolsas para estudarem em colégios privados. O governo começa a se manifestar, não gosta de ver seus melhores alunos pescados de suas péssimas escolas públicas. Acham errado premiar alguns poucos com uma educação compatível com seu talento. Isto produz uma igualdade forçada aplicando-se o princípios de tolher os mais talentosos. “É uma justiça social muito caolha, pois os ricos mais talentosos não são desperdiçados.

Segundo o geneticista russo Wladimir Efroimson o

talento não é uma propriedade privada, é uma propriedade pública e ninguém tem o direito de desperdiça-lo.