É um lugar comum na economia que quanto mais se adiar medidas para controlar o orçamento, maior será o sacrifício a ser feito. Sabemos disso por experiência comum. Quando se perde parte da renda familiar, é preciso fazer ajustes ao novo orçamento. Quem continua a gastar como antes, termina endividado no cheque especial e cartão de crédito. Ao invés de deixar de comprar uma nova televisão, a tanto tempo planejada, terá de abandonar um curso universitário ou tirar o filho de uma escola. Possivelmente o sujeito ainda vai reclamar da injustiça da vida.
Quando foi feita a nova partilha do petróleo, o Rio de Janeiro já tinha que ter colocado o pé no freio. Não fez, continuou gastando como se o futuro fosse o verão de suas praias famosas. O segundo alerta veio com a lava-jato. Não era muito difícil adivinhar que a Petrobrás teria sérios problemas. Novamente ignorado. Tudo era o Rio 2016. Agora veio o tsunami.
Não sei dizer se as medidas anunciadas são acertadas ou não, mas um fato que deve ser aceito o quanto antes é que o estado está realmente falido. Se fosse uma empresa, estariam todos na rua. Como não é, ainda se preservam os empregos, mas a conta tem que ser paga. Aumentar impostos é inútil porque já está no limite da curva de Laffer que diz que não se pode aumentar a arrecadação indefinidamente com o aumento dos impostos. Há um ponto onde a atividade econômica começa a diminuir, ou ir para a clandestinidade, e a arrecadação cai junto com o aumento dos impostos. Nós, brasileiros, já passamos desse ponto.
O que fazer? Se a solução não está nas receitas, só pode estar nas despesas. Antes, uma consideração.
O Rio poderia ter sim mais receitas. Seu potencial turístico é enorme, muito mais do que é explorado hoje. Mas a falta de estrutura, preparação das pessoas e, também, a violência urbana, impede que esse potencial se realize. Como qualquer coisa na vida, para ganhar é preciso sacrificar, para ter mais receitas é preciso investir. A educação é sofrível, a formação de recursos humanos para o turismo insuficiente e deficiente, a violência, bem, essa nem precisa dizer, apesar de muitos cariocas conviverem muito bem com a violência, desde que não atrapalhe a praia.
Enfim, para melhorar as receitas é preciso investimento no lugar certo. Para isso, é preciso estancar a sangria. É preciso diminuir o gasto público. O lado bom é que tem muitas áreas onde o dinheiro é colocado sem eficiência, com retorno altamente questionável. O lado ruim é que essas áreas são vacas sagradas, onde tirar qualquer real significa enfrentar sindicatos, jornalistas, artistas e todo o happy people que votou 50 nas últimas eleições. Infelizmente não há liderança capaz de explicar à população que certos gastos são na verdade desperdícios. A opção é sangrar todo mundo, a começar pelos funcionários do estado.
Em tempos difíceis é que se necessita mais de uma liderança autêntica, justamente o que o Rio não tem. Por isso vamos todos sangrar, literalmente e metaforicamente.