
Nos últimos dias tenho escutado o último disco do Lobão, sempre em volume máximo, porque este disco em especial não pode ser apreciado de outra forma. O peso do disco está na sua essência, na filosofia que lhe gestou.
Quem leu o livro Antologia dos Anos 80 através do rock sabe a tese do Lobão: o rock anos 80 foi o maior movimento revolucionário da música brasileira. Foi o único movimento que colocou em cheque o coronelato do mainstream que gira em torno da MPB, que tem Chico e Caetano como grandes barões. Por um breve período, parecia que o rock estava virando tudo de cabeça para baixo.
Mas havia um problema sério: a produção dos albuns. Os estúdios boicotavam os artistas, como estilo Peninha, que produzia quase tudo. Nada de guitarras pesadas, afinal, brasileiro gosta de guitarra suave. Bateria? Na base da vassourinha. O resultado é que você teve gemas de criatividade, com compositores realmente talentosos, mas com execução propositalmente desencorpadas, baseadas no conceito de alguns produtores que queriam encaixar o rock como subproduto da MBP.
O que Lobão faz em sua releitura dos clássicos do rock anos 80 é re-imaginar estas músicas com o peso e densidade que mereciam. Guitarras encorpadas, bateria perfeitamente audível, baixo ocupando os espaços. Quando você escuta o resultado não pode deixar de pensar: mas que puta sacanagem que fizeram!