Conto da Semana: Os Três Staretzi (Tostói)

Também conhecido como os três eremitas, o conto tem uma atmosfera de mistério que apenas os grandes escritores conseguem criar, que vai crescendo em tensão no final até seus surpreendente final.

Trata-se da estória de uma arcebispo que encontra-se em uma viagem de navio. Ele fica sabendo que numa ilhota próxima existem três eremitas que vivem isolados, buscando apenas a salvação de suas almas. Curioso, ele pede que o levem até lá, para conhecê-los.

Tostói constrói o conto cuidadosamente para ilustrar sua teoria religiosa de ligação direta do homem com Deus, sem uma instituição no meio do caminho. É seu cristianismo pessoal, que não tem espaço para nenhuma autoridade religiosa.

Conto da semana: As 12 princesas bailarinas

No fim do século XIX, o poeta escocês Andrew Lang organizou coletâneas de contos de fadas, geralmente traduzidas por sua esposa Nora. Estas coletâneas foram dividas em cores, sendo The Red Fairy Book, ou o Livro Vermelho, a segunda delas.

Os contos de fadas geralmente não tem autor definido. São estórias que atravessam gerações, geralmente passadas por contadores ou poetas, que terminaram tendo alguma versão final escrita por estudiosos do folclore, como os irmãos grimm. São fontes preciosas de sabedoria e ricas em simbolismos da condição humana.

As 12 Princesas Bailarinas é o conto que inicia o livro vermelho. Uma estória de astúcia, persistência e disciplina para obedecer os conselhos que o personagem principal recebe para conquistar o coração de uma princesa.

Chesterton estava certo. Os contos de fadas são a melhor fonte de moral que temos produzida pelo homem, justamente por condensarem ensinamentos imemoriais.

Conto da Semana: Alexis _ o “pote” (Tostoi)

Tostói nos conta a história do jovem Alexis, apelidado o “pote”, que sofre nas mãos de todos, mas nunca reage. Ao contrário, tem uma postura alegre e sempre disposto a servir. Quanto mais ele trabalha, mais é maltratado pelos pais, patrões e amigos. Seu único momento de individualidade é o desejo de se casar com a cozinheira da casa que trabalha, mas até isso lhe é negado. Dias depois, cai do telhado e morre, conformado com sua situação.

Alexis é o santo da visão de Tostói, um homem que aceita sua condição e sempre oferece a outra face, evitando conflitos. O problema é que lhe é negado uma das virtudes essenciais de um verdadeiro santo, a esperança. O que resta é o retrato da brutalidade das pessoas para com os humildes e a falta de sentido para o sofrimento. Alexis resume-se em ser bom, o que é admirável, mas algo está fora do lugar, algo falta na visão de Tostói.

Falta justamente a abertura para o transcendente. Alexis não se pergunta porque sofre e nem tenta se comunicar com Deus, suas orações são apenas em gestos, sem palavras. O que seria uma oração em gesto? O homem se comunica com Deus pela palavra, nem que seja em pensamentos, mas nada disso tem o pobre Alexis, apenas a submissão total às situações da vida, ao destino que se manifesta.

Tostói nos mostra o mal, mas nos nega a esperança.

Conto da Semana: O Gerente (Turgueniev)

O narrador, um caçador, conta a estória de uns dias que passou em companhia de um jovem fazendeiro, oficial reformado, chamado Arkadi Pavlitch. O fazendeiro se considerava um homem severo, mas justo, que zelava pelo seu povo e os punia para o próprio bem deles.

Na verdade, Pavlitch era muito mais preocupado com sua imagem, esbanjando o francês para mostrar sua cultura, do que com o bem estar de quem quer que seja. Na prática, quando diante de um de seus empregados, era impaciente, bruto e só se segurava pela presença do narrador.

O gerente do título era um de seus administradores, Sofron, que Pavlitch dizia ser um grande estadista, porque não deixava que os servos atrasassem os pagamentos. Na verdade, Sofron era um grande bajulador, que tratava Pavlitch como um deus e ao mesmo tempo estorquia os servos.

Quer saber? Este conto maravilhoso é um retrato do Brasil que herdamos e ajudamos a perpetuar. Políticos que vivem de aparência, que tratam o povo como crianças que precisam ser disciplinadas e burocratas (Sofron) que vive entre a bajulação aos políticos e extorsão dos sem condições de defesa. Nós somos a Rússia rural do século XIX.

A voz dos servos

Sempre que se fala em dar voz aos mais humildes, aos pobres ou mesmo os servos, imagina-se discursos contra a exploração. Afinal, o que mais eles poderiam nos dizer, não é? Essa literatura de protesto encontramos por todos os lados, ainda mais quando o marxismo tomou o imaginário de muitos artistas.

Mas será só isso que um servo tem a nos dizer? Um escritor russo do século XIX achava que não. Que se prestássemos atenção no que eles tinham a nos dizer aprenderíamos muito sobre a vida e as coisas que realmente importam.

Em Memórias de um Caçador, Ivan Turgueniev utiliza das caçadas de um narrador aristocrata para dar voz a diversos personagens humildes que ele encontra pelo caminho. Um exemplo é o conto Lgov, nome de um lago onde 4 personagens vão caçar patos. O narrador, seu caçador oficial (Yermolai), um caçador jovem que encontram pelo caminho (cujo queixo era preso por um lenço pois tinha sido atingido por um tiro acidental) e um velho pescador.

Boa parte do conto é o narrador escutando pacientemente a história de vida do velho, sob protestos de Yermolai, que não vê nenhum proveito em escutar uma pessoa tão simplória. Eles terminam virando o barco e retornam, guiados por Yermolai, que segura os patos mortos por uma corda pela boca. A ilustração abaixo mostra o momento do retorno.

São personagens vivos, que nos despertam a curiosidade sobre os mistérios da vida humana. Verdadeiras pinturas escritas.

O Capote (Gogol) – Notas

  • Retrato de um homem medíocre (no sentido de mediano). Feliz em fazer um trabalho de nenhum valor intelectual ou para o espírito. Não somos assim, a maioria pelo menos?
  • Desprezo dos colegas. Ganha status quando aparece com um capote novo. Mundo de aparências da burocracia do estado (e das grandes corporações também).
  • O alfaiate mostra o que é colocar o espírito na profissão. É um artista. Tem orgulho da sua obra.
  • O problema da vida de aparências é que ela depende dos bens materiais. Se os perdermos, somos nada.
  • A pessoa importante existe em tudo que é lugar. Não sabemos direito o que ele faz para ser importante, mas ele se faz e é o que importa.
  • O personagem principal só passa a ter alguma vida social quando adquire aparência. Troque o capote por um carro e chegamos nos dias de hoje.
  • A visão de Gogol é pessimista. A maioria de nós é insignificante e a morte do personagem principal só é percebida na repartição dias depois. Ele é facilmente substituído.
  • A virada fantástica do final mostra que nem mesmo na morte o homem consegue seu descanso. Mas afinal, o que o personagem fez em vida para der um destino melhor?
  • Trata-se de um dos contos mais importantes da literatura russa. Dostoyevsky costumava dizer que eram todos filhos do Capote.