Um professor do Instituto Militar de Engenharia (IME) contava o seguinte causo:
Quando entrei no IME, há duas décadas atrás, me achava o dono do mundo. Meu orgulho estava nas alturas e andava pelos corredores com o nariz empinado, certo de que era um verdadeiro mestre. Ensinava equações diferenciais como se estivesse brincando em um parque; passava problemas tenebrosos para os alunos resolverem em casa. Era temido, e por isso, respeitado. Só uma coisa me incomodava, o maldito crachá. Tínhamos que usar um crachá o tempo todo e eu simplesmente não gostava daquela porcaria. O Instituto é pequeno, não demorava muito para todos nós nos conhecermos. Achava aquilo um exagero dos militares, talvez um recalque por ter de utilizar uma plaqueta, não sei. O fato é que depois de um tempo, reclamei com o decano, um velho professor de materiais, muito respeitado por todos. Ele me escutou pacientemente, sorriu e disse uma frase que nunca esqueci: “é uma prova de maturidade obedecer as regras da instituição que você escolheu pertencer voluntariamente“. Em seguida, ele virou as costas e foi para sua aula. Eu fiquei alguns minutos imóvel, sem saber o que dizer. Aquelas palavras martelavam a minha cabeça; fui dormir com elas. O fato é que nunca mais reclamei do maldito crachá e também nunca esqueci da lição que aquele bom homem me deu.
Lembrei desse causo quando li sobre a polêmica na formatura no ITA. Não tenho mais nada a dizer sobre o caso.
PS: Tenho mais uma coisa a dizer, me ocorreu agora. Lembrei de uma lição de João Paulo II. Dizia ele que uma decisão moral se reflete de duas formas, uma ação prática com suas consequências e, no longo prazo, pela formação de nosso carácter. Ou seja, ela não se esgota naquele instante. É uma ilusão tomarmos atitudes e acharmos que elas não têm influência em quem nós nos tornamos. Somos também o produto de nossas atitudes.