Nasce uma Estrela

Enfim, depois de quase um mês lutando para ter a net instalada em novo endereço, vi Nasce uma Estrela.

O filme é muito bom. Dos cinco que vi para esta temporada do Oscar, achei o melhor _ faltam o da KKK, o que ganhou e os das mulheres. Muito bem feito, honesto e com uma boa meditação sobre o sucesso e a música como expressão dos sentimentos.

Na essência, Jack tem um problema muito sério de comunicação, e talvez por isso mesmo o principal critério que usa para julgar a música é a letra. O arranjo é uma forma de trazer o que o artista quer expressar para o grande público.

Observem a cena que ele confronta Ally na banheira. Ele tenta dizer isso para ela, mas não consegue. Termina chamando-a de feia, o que evidentemente ele não acha. Curiosamente é o único insulto que a ofendeu. No meio da verborragia, ele tentava mostrar que o talento dela como letrista e compositora estava sendo esmagado por uma fórmula pasteurizada de sucesso. Ela estava abrindo mão de si mesma para ser popular.

Essa é a grande lição do filme. Ser verdadeiro, não importa o que digam. Ela está disposta a abrir mão de turnê, sua imagem, relação com empresário por algo que para ela tem mais valor: cuidar da pessoa que ama.

Trata-se da essência de uma história de amor e é disso que se trata o filme. O quanto estamos dispostos a abrir mão pelo que realmente amamos. E também do quanto podemos nos destruir por não saber comunicar este amor.

Vice: uma fábula

Notas sobre o filme Vice:

  1. O melhor são as atuações. O George W Bush de Sam Rockwell está impagável. Sem aquelas maquiagens para “virar” o personagem.
  2. Um filme didático para ver como a esquerda enxerga a era Bush e outros episódios da história americana.
  3. Horrível e completamente dispensáveis aquelas imagens de transplante de coração.
  4. A maior piada do filme está nos pré-créditos, dizendo que se fez o melhor para tratar fielmente a história de Dick Chenney.
  5. Mais um filme que peca por transformar personagens em estereótipos.
  6. Um pouco mais de empatia e menos adivinhação poderia ter transformado este filme em uma pequena obra-prima.
  7. O principal o filme não toca: como Chenney se transformou de um capacho leal em um gênio político.
  8. O chilique da filha no final é pura fantasia delirante.
  9. Há cenas bem legais no filme, apesar de tudo.
  10. Muito legal a cena shakespeariana.

5 Notas sobre Pretty in Pink

Enquanto preparo o texto sobre o quinto filme de John Hughes sobre amadurecimento, 5 notas como aperitivo:

  1. O preconceito de classe vai nos dois sentidos. Não são só os ricos que não querem se misturar.
  2. Li uma crítica que condena o filme porque o personagem Blane é sem carisma. Besteira. Ele TEM que ser sem carisma. Está no tédio existencial de quem tem tudo. A vida é assim.
  3. A dor do Duckie é bem real. Eu sei bem.
  4. A escola continua a ser um local sem sentido. A esforçada professora não consegue vencer o desinteresse visto em Curtindo a Vida Adoidado.
  5. Dois diálogos que valem o filme: os confrontos entre Angie e Blane e entre Blane e Steff.

Pantera Negra: minhas impressões

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Finalmente assisti Black Panther.

Lembro da discussão quando foi lançado. Melhor filme da Marvel? Lacração?

Nem uma coisa, nem outra, mas um bom filme (não entrou pro meu top 5 da Marvel).

O que achei mais curioso foi que tipo de lacração viram tanto no filme? Eu achei, inclusive, anti-lacre total!

Explico.

O filme não afirma uma superioridade moral da África como disseram alguns. Ao contrário, se existe alguma superioridade é da tecnologia. Tudo em Wakanda se explica pelo vibranium e a espiritualidade é bem estereotipada, como a disputa de chefes na beira da cachoeira.

Wakanda é uma ilha de excelência no meio da África. O dilema é como interagir com as demais nações sem trazer o seus problemas para dentro de suas fronteiras.

E o vilão, o que deseja?

Distribuir armas para que negros no mundo inteiro possam se revoltar contra a opressão dos brancos e criar uma espécie de governo mundial para estabelecer a ordem no planeta. Ou seja, uma mistura de marxismo raso com globalismo. Justamente os maiores promotores do politicamente correto no mundo.

O que temos então? Um rei sensato, que deseja fazer acordos tecnológicos com os demais países para superar os problemas da pobreza, um tanto ingênuo, creio eu, contra um pensamento que deseja um governo centralizado porque não confia nas pessoas.

Qual foi a solução para os possíveis refugiados? Comprar terrenos  para criar programas sociais de Wakanda nos próprios países. Aceitar refugiado em Wakanda? Estão loucos?

Sinceramente, boa parte das pessoas não entenderam nada do filme.

Wakanda forever!

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Em tempo: minha maior crítica ao filme é a crença no poder redentor da tecnologia. Como se ela fosse capaz de garantir a moralidade de todo um povo.

A visita ao Instituto de Artes de Chicago em Curtindo a Vida Adoidado

ferris art 2Uma das minhas cenas favoritas de Curtindo a Vida Adoidado (1986), filme do inesquecível John Hughes, é a visita ao Instituto de Artes de Chicago.

A imagem que mais gosto dessa cena é a do Cameron contemplando o quadro de Georges Seurat, A Sunday on La Grande Jatte (1884). Sobre o quadro em si, comento depois.

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O que me chama atenção é que Cameron realmente contempla o quadro. Hughes consegue mostrar a crescente atenção nos detalhes, chegando ao nível do ponto.

Detalhe a mais: a música que toca nesta cena é Please, Please, Please Let me Get What I Want, do The Smiths.

Bohemian Rhapsody: primeiras impressões

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Gosto de registrar as primeiras impressões dos filmes que assisto, como apoio aos reviews que farei oportunamente, quando passo alguns dias refletindo sobre a experiência.

Ontem assisti a cine biografia do Freddie Mercury. O que achei? Eis as minhas primeiras impressões.

  1. O filme é muito legal.
  2. Freddie Mercury vive uma tensão permanente entre uma extrema auto-confiança musical com uma fragilidade incrível em sua personalidade.
  3. Um tanto dessa fragilidade vem de sua homossexualidade, mas não é só isso. A forma como ele se entrega às drogas e sexo sem limites mostra uma fuga constante no confronto com seus próprios demônios, que pode ser resumido a grosso modo em um enorme complexo de inferioridade.
  4. Freedie tem na música seu principal escape, o que não tem como funcionar por muito tempo. No palco ele é outra pessoa, senhor absoluto da audiência. Mas na vida pessoal, sua caminhada é cada vez mais para o abismo. Afasta-se de todos que ama e termina nos braços de um aproveitador e amante, Tom.
  5. Essas duas personalidades não tem como durar para sempre e uma hora ele tem que reconhecer que seu caminho é para auto-destruição. O que ele precisa fazer? Assumir sua própria personalidade e afirmar seu ego, para usar a linguagem da psicanálise.
  6. É a decisão que ele toma na cena que Mary o confronta.
  7. Freddy termina assumindo o centro de sua existência e unificando suas personalidades, tornando-se finalmente responsável por suas decisões.
  8. Há furos gigantescos na cronologia da banda, mas isso é secundário. Dá para entender as decisões de roteiro para enfatizar os momentos chaves do filme, como a exibição de love of my life no rock in rio ser colocado em 1979 para pontuar o fim do casamento de Freddie.
  9. A cena final, o mini show do Live Aid é sensacional. Coreografia detalhada, reproduzindo a apresentação do Queen no festival.
  10. Por fim, a narração cristão por excelência: paraíso perdido, pecado, queda, inferno, arrependimento, conversão, morte. Gosto de pensar que Freddy Mercury está no céu. Seria a prova que qualquer um de nós pode conseguir.

Marvel Movies: meu top 5

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Ainda não vi o Pantera Negra, mas aqui meus favoritos (sem ordem):

Iron Man: O primeiro, inaugurador do padrão marvel. Gosto do tratamento do personagem do Stark e da questão moral envolvida: a responsabilidade sobre as armas produzidas. E a cena final é sensacional.

Guardiões da Galaxia: sinceramente, não esperava muito deste filme. Acho-o superior ao volume 2 por seu caráter mais misterioso e melhor equilibrado.

Capitão América, Soldado Invernal: Apesar do primeiro ser bom, acho que este foi mais tenso e com cenas incríveis de luta. Final apoteótico.

Os Vingadores: Só a Batalha de Nova Iorque já vale o filme. E tem um grande vilão (tinha que ser um deus para enfrentar os vingadores) e… o Hulk!

Dr Estranho: mistério na dose certa e um dos temas dominantes dos últimos filmes: as mentiras que os bons contam para proteger os seguidores, e como isso dá tremendamente errado.