Pete Townshend: subestimado

Quando se fala em guitarristas do rock, os solos costumam ser soberanos, o principal critério para definir os grandes. Velocidade, habilidade, melodia. Como se a técnica fosse soberana; não é. Eu mesmo acabo, sem pensar, criando um pouco neste padrão. Costumo dizer que meu guitarrista favorito é o Rory Gallagher, que tem solos maravilhosos, mas também tem um imenso repertório que passa pelos riffs, bases, composição, variações e até mesmo a atitude, que também faz parte da cultura do rock. No entanto, creio que cometo uma injustiça com outro grande guitarrista que não se destacou tanto pelos solos, mas que nos outros fundamentos é igual ou melhor que o genial irlandês, trata-se de Pete Townshend, do Who.

Ele é constantemente subestimado nas listas. Não fazia muitos solos, é verdade, mas isso tem mais a ver com seu estilo próprio do que dificuldades com o instrumento. Se nos demais atributos é no mesmo nível dos melhores, é na composição que ele tem um patamar próprio. Uma sensibilidade impressionante e uma visão profunda da natureza humana e da sociedade. Basta escutar com atenção as duas óperas rock da banda, Tommy e Quadrophenia. É um guitarrista agressivo, com acordes hora nervosos, hora delicados, caindo bem com o sentimento que deseja passar.

Estive presente no show do Who no Rock in Rio de 2016 (ou foi 17?) e confesse que me emocionei em vários momentos. Quando ele girava aquele braço, sua marca registrada, a platéia ia a loucura com aquele setentão.

Acho que meu top 5 de todos os tempos seriam Rory, Pete, Robbie Robertson, Peter Green e um spot ainda vazio para eu pensar um pouco. Alex Liefson? Johnny Ramone? Ritchie Blackmore? Sinceramente, não sei.

Termino dizendo que estou falando de meu favoritos e não os melhores. É diferente. Escolher melhor guitarrista é para especialistas, não me julgo em condições. Mas escolher meus preferidos é algo bem particular, que não implica exatamente em virtuosidade e sim em quem eu efetivamente gosto mais de escutar.

Em tempo: ainda tem um vocal maravilhoso.

Afeganistão: o horror

Cabe a discussão de quem é o responsável pelo gigantesco fiasco que foi a retirada das tropas americanas do país. O que não deveria caber discussão são os efeitos do talibã no poder. As imagens de afegãos agarrados a trem de pouso de aeronave caindo dos céus é por demais eloqüente, embora existam os que, prisioneiros da falácia que sempre há um opressor e um oprimido, tentam negar o óbvio.

A democracia não se impõe. Por própria natureza do regime, tem que ser uma escolha livre dos povos. O projeto americano de implantar democracia em países falidos sob sua tutela era fadado ao insucesso desde o início. Ou seja, não deveria nem ter entrado, mas se entrou tem que saber sair. Abrir mão do poder costuma ter conseqüências trágicas. Temos um Saigon 2.0 transmitido em tempo real.

O problema é querer fazer um meio-imperialismo. Ou você invade e coloca logo um vice-rei no lugar, ou nem tenta uma aventura destas. Os Estados Unidos querem fazer uma espécie de imperialismo democrático, um omelete sem quebrar os ovos. Pois os talibãs pegaram a cartela inteira e jogaram os ovos para o alto.

Como dizia Joseph Conrad em Coração das Trevas: o horror, o horror!

Felicidade e sentido da vida

Todos nós aspiramos à felicidade, mesmo que não saibamos exatamente o que ela é. Na visão clássica, felicidade é a posse de um bem final, que não é etapa para nenhum outro. É uma realização da perfeição do ser. Por isto mesmo é ao mesmo tempo um ideal a ser buscado e uma impossibilidade prática, o que não impede que o homem tenha momentos felizes.

Para Stork e Echevarría no capítulo 8 de Fundamentos de Antropologia, sentido da vida e felicidade estão relacionados. A vida é uma tarefa a ser realizada e buscar seu sentido é uma condição necessária para que se busque a felicidade. Se não temos sentido para nossa vida, não seremos felizes. Quando o homem recusa este entendimento passa a ter modelos diferentes de felicidades, que podem gerar momentos prazerosos, mas terminam invariavelmente na infelicidade, como bem demonstra a depressão crescente em nossos dias, que atinge agora até criança.

Alguns modelos que os autores analisam no capítulo são o niilismo, o carpe diem, o pragmatismo de interesse, o poder do dinheiro e o desejo de poder. Nenhum deles é capaz de satisfazer plenamente o homem pois ligam-se mais a aspectos exteriores da vida do que nosso interior, fonte autêntica da realização humana. O homem moderno tenta a todo tempo encontrar substitutos para o entendimento de que a felicidade está na perfeição do ser. Muitos colocam o bem-estar como felicidade; outros o prazer; outros a negação de um sentido para a vida. Por isso anda tão deprimido e recorrendo cada vez mais a drogas, legais ou ilícitas. Precisamos recuperar o ideal de felicidade.

Soberba intelectual

O Capítulo 2 de A Noite Escura da Alma, de São João da Cruz descreve maravilhosamente parte da “nova direita”.

É praticamente um tratado sobre soberba intelectual.

1. O soberbo acha que com poucas leituras chegou no Olimpo e se propõe a iluminar e ensinar os outros.

2. Ressentem-se quando são chamados a atenção pelos verdadeiros mestres. Julgam que estes mestres não conseguem ver o suficiente e trocam por quem os elogiam.

3. Escondem suas faltas, enganam a si mesmos. Rejeitam quem os ensinem, tomando a palavra para mostrar que já sabem.

4. Se propõem a fazer muito e terminam fazendo pouco.

5. “muitos trazem certa soberba oculta, da qual lhes nasce o sentimento de satisfação com suas obras e consigo mesmos”

6. “querem mais ensiná-los do que aprendê-los. E condenam em seu coração aqueles que não seguem o caminho de devoção que supõem-se ser o melhor”.

7. “chegam a tanto mal que não desejariam que ninguém mais fosse bom senão eles”

8. “quando seus diretores espirituais (…) reprovam o seu temperamento e modo de proceder, julgam-se incompreendidos”.

9. “preferem ser orientados por quem se disponha a estimá-los e elogiá-los. E fogem como da morte, daqueles que os contrariam e tentam guiá-los no caminho seguro”

Retomando contato com a natureza

Ontem caminhei no Parque Olhos D´água, na Asa Norte de Brasília. Faziam alguns anos que não pisava ali e mesmo assim não conhecia as trilhas interiores do parque, apenas sua volta externa.

O parque é pequeno, mas uma excelente opção para abstrair um pouco da selva de pedra de Brasília e retomar o contato com nossa irmã mais velha, como dizia Chesterton, a natureza. (Alguns acham que ela é nossa mãe, mas isso é assunto para outra hora).

Enfim, não conhecia as trilhas internas. Nada de outro mundo. São algumas trilhas com distância em torno de 800 metros, o suficiente para andar um pouco dentro do mato e apreciar a paisagem do cerrado. Ideal também para idosos, pessoas com dificuldades de locomoção, que não aproveitariam tanto um turismo de aventura. Funciona como uma “amostra grátis”.

Curti bastante e pretendo voltar, explorar mais o parque.

Atualmente a paisagem de Brasília é seca, fruto do período sem chuvas, mas bastam as primeiras águas para tudo ficar verde novamente. Precisamos muito disso. Este é o mundo real e não o que passamos a maior parte do tempo.

A natureza do cerrado

Modernidade: incapacidade de lidar com a dor

De tudo que eu leio, uma coisa me parece cada vez mais clara: o homem moderno, em sua revolta contra o divino, e seu apego à matéria, é capaz de ser feliz, desde que as coisas lhe sejam favoráveis. É no momento de dor, quando algo dá profundamente errado, que reside sua grande fragilidade. Nas coisas pequenas, a frustração; nas grandes, o desespero.

Para lidar com as grandes tragédias da vida é preciso algo que lhe falta, a fé. O único remédio que conhece são os fármacos e por isso somos hoje tão dependentes das pílulas, mas estas não conseguem curar as maiores dores, aquelas que estão em nosso coração, que se traduzem em tristeza. Podem até mascará-las por algum tempo (em grande parte o que é a psicologia senão uma forma de nos convencer que aquela tristeza não existe?). O homem, para efetivamente superar suas dores, precisa abraçá-las e transcendê-las.

E para isso precisa da cruz.

O perigo dos preços baratos

Uma aldeia vivia vem, cuidando de seus problemas, como é comum nas sociedade mais saudáveis.

Um dia apareceu um comerciante, com uma grande carroça, vendendo roupas.

A aldeia tinha 4 artesãos que faziam e vendiam roupas. A do comerciante era de melhor qualidade e, o mais estranho, mais barato.

Chegava a custar menos que o valor dos tecidos usados para fabricar as roupas.

Logo pararam de comprar dos 4 aldeões e eles passaram a ganhar a vida de outra maneira.

Os aldeões sábios, chamados de economistas, aplaudiram. Melhor alocação de recursos, disseram. Mais dinheiro nas mãos dos consumidores que não precisavam pagar tanto pelas roupas. Nova ocupações para os antigos aldeões, que não tiveram eficiência de competir.

A mão invisível agiu e todos ficaram bem.

Só que os antigos artesãos não tinham a mesma eficiência nas novas ocupações e passaram a ganhar menos.

Pelo menos os consumidores passaram a ter mais dinheiro para competir, alegaram os economistas.

Foi o que aconteceu. Por um tempo.

Assim que se viu sozinho, o comerciante aumentou seus preços. Dobrou, inclusive. Todos passaram a pagar mais do que pagavam antes. Procuraram os economistas, que sorriram complacentes: esperem que o mercado vai se ajustar!

E nesta crença a aldeia vive há décadas. Só que agora as roupas são piores e mais caras.

Há algo de podre no reino das vaxinas

A morte do Tarcisio Meira é bem emblemática.

Ele tinha tomado as duas doses da vacina do butatan. Garantiram, mais de uma vez, que a proteção era de 100% de agravamento dos casos. Chance zero de morrer, disse o governador lá.

Caro raro? Pai de uma conhecido morreu depois das duas doses, de covid. Mãe de outro colega, idem.

No Chile e no Uruguai, vacinados com a sinovac, haverá uma terceira dose. Detalhe: não será da chinesa.

A imensa maioria dos brasileiros foram enganados.

Não vai acontecer nada?

Corção e a modernidade

Li hoje pela manhã um artigo publico por Gustavo Corção em 1976, em que argumentava que a Idade Média tinha sido um milagre, uma época que o reino do Cristo tinha prevalecido sobre o reino dos homens e das nações. Tratava-se de um esboço de paraíso, próprio das construções humanas, mas pelo menos o coração estava no lugar certo.

O interessante de seu texto é que ele compara a queda da Idade Média não a uma decadência, mas a uma revolta de uma cristandade contaminada por um humanismo. Algo como uma segunda queda, mas agora o Adão era civilizacional. O que aconteceu foi uma grande traição, que se conhece simplesmente como modernidade
A base desta modernidade, segundo Corção, é a deformação da caridade, glorificação do homem-exterior e aversão a Deus. Sua evolução é própria da matéria, em direção a uma desordem crescente. Seu projeto civilizacional, se é que se pode chamar assim, é impossível. O homem não tem como triunfar numa recusa constante a Deus.

Neste contexto, grande parte da humanidade concluiu que o cristianismo é impraticável e que deve ser diluído e se adaptado aos tempos modernos, justamente o que Corção recusa veementemente. Mais do que praticável, ele é o caminho da salvação.

É muito curioso que este artigo tenha sido publicado no Globo. Nos dias de hoje não teria chance de ser publicado em quase lugar nenhum, o que muito diz sobre a auto-proclamada liberdade de imprensa e direito de informar. O mundo caminha cada vez mais para umas poucas opiniões aceitáveis e o jornalismo se tornou um grande instrumento de implementação das idéias únicas de elites desta modernidade cada vez mais enlouquecidas e desordenadas espiritualmente.