Ainda sobre o assunto mixtapes, ou fitas coletânea:
5 Dicas de Sexta
1
Outro dia um amigo comentou comigo que musicalmente não se faz mais coisa boa. Gentilmente, discordei. O que acontece é que a boa música não atinge mais o mainstream, pelo menos no Brasil. Em parte porque o mercado de divulgação sempre foi tomado por interesses de uma casta de músicos e produtores que comandam a indústria e parte pelo próprio mecanismos das redes sociais que só dá destaque aos artistas mais populares. Enfim, para mostrar que tem coisa boa, coloquei para tocar o disco Something in The Water, do Pokey Lafarge. O cara faz uma releitura das raízes da música americana, especialmente do chamado bluegrass, que originou não só o rock, mas o country e o blues. Coisa fina.
2
Um dos livros mais leves e divertidos que li ano passado foi Música para Viagem, do grande Neil Peart, falecido baterista do Rush (não consegui escrever ex-baterista). Para quem não sabe ele era o letrista da banda. Apaixonado por literatura e com uma mente voltada para a liberdade, neste livro que mistura memória e a influência da música em sua vida, assim como sua paixão pela motocicleta, o livro é uma delícia e me chamou atenção para muitas bandas e músicos que não conhecia.
3
Fazer atividades ao ar livre. Em tempos de pandemia, saúde mental e do corpo ainda importa. Quem está com medo de tudo, melhor ficar em casa, mas quem acha que a vida tem que continuar, não deixe de sair um pouco, nem que seja para uma caminhada. Nossa vida é curta e tudo indica que ainda conviveremos com esta praga por algum tempo. Às vezes, ao invés de ler em casa, que tal descer e ler em um banco ou mesmo levar uma cadeira de praia para o saguão do prédio? É triste que a violência brasileira impeça muito destas coisas, mas sendo possível, saia um pouco de casa.
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Esta é para poucos, mas no dia de hoje não poderia deixar de dar esta dica. Leiam a Suma Teológica. Por algumas razões. A primeira é ser praticamente um manual da fé católica. A segunda é por ser o maior exemplo que vi até hoje de uma mente realmente científica, que consegue dar lugar para as diversas visões sobre a mesma questão. Em um mundo marcado pela intolerância, São Tomás de Aquino é o remédio. Hoje, inclusive, comemoramos seu dia.
5
Sempre termino com uma frase ou pensamento. Vai este trecho do livro do Peart
Você pode até achar que tal diferença seja evidente ao ouvinte, mas creio que essa é a mais gritante distinção entre arte e entretenimento. Se as pessoas querem apenas se divertir e se distrair em vez de se sentirem emocionadas ou inspiradas, a falsidade será de serventia tanto quanto a verdade. Ao ouvinte sem percepção, ou sem cuidado, simplesmente não faz diferença. Às vezes, tenho de encarar o fato de que a música pode ser apenas parte da vida das pessoas, como um papel de parede, sem ser o centro de suas vidas, como sempre foi para mim.
Bonus: O clip da música Something in the Water, do Pokey Lafarge
Precisamos de um novo Êxodo
Quando José e seus irmãos foram morar no Egito, em função da grande fome narrada na Bíblia, que duraria 7 anos, este movimento fazia todo o sentido no campo político. Só que temos que lembrar que o Egito era a pátria da idolatria e viver sob sua proteção tinha um preço.
Tanto que mesmo após a normalidade, o povo de Israel não voltou para a terra prometida e permaneceu por várias gerações. A missão de Moisés não era simplesmente tirar Israel fisicamente do Egito, mas sobretudo espiritualmente e por isso a viagem no deserto durou tanto.
Aliás, pode-se dizer que a fuga do Egito foi a parte mais fácil, a maior dificuldade foi que o povo confiasse em Deus e deixasse a idolatria.
Estamos vivendo no Egito.

Projeto Mixtape: Rio 89
Depois de um período de 2 anos no Nordeste, incluindo um ano de internato em Fortaleza, aos 15 anos retornava para o Rio de Janeiro, para morar na Urca. Foi neste ano que efetivamente comecei a gostar de rock e comprar meus primeiros discos.
O Heavy Metal foi minha paixão na época, que nunca abandonei totalmente, apenas me tornei mais eclético posteriormente, mas em 89 eu passei 90% do meu tempo entre Iron Maiden, Judas Priest e Whitesnake. Aos poucos comecei também a escutar outras bandas, como Black Sabbath, Scorpions, AC/DC e Dio.
Há uma trinca de músicas na mixtape que não são propriamente músicas que eu escutava, mas nesta época tinha uns “bailinhos de apartamento”, onde rolava muito The Smiths, A-ha e outras. Estas músicas, quando escuto, me remetem a este período.
Foi o ano que descobri os Ramones, também, a partir do filme Pet Cemetary. Meu irmão ficou fanático pela banda e comprou o Road to Ruin, que escutei à exaustão.
Enfim, meu registro da época.
Partiu Olavo
Um verdadeiro filósofo incomoda, e muito. Uma das primeiras lições que recebi de Olavo de Carvalho foi que a filosofia nasce com o espanto, com um questionamento a alguma opinião estabelecida socialmente. A fórmula filosófica, dizia ele, não é afirmar A, mas dizer que não é B e sim C. Se alguma coisa a história nos ensinou, desde Sócrates, que descobriu a liberdade interior, passando por Cristo, que nos revelou a verdade, é que desafiar opiniões dos poderosos ou da maioria é algo muito perigoso.
Olavo de Carvalho deixou um legado escrito, que é conhecido de parte de seu público, mas que merece ser estudado seriamente. Talvez agora se comece um distanciamento que permita este movimento, mas não há garantias. Felizmente, temos as redes sociais, o que pode evitar o destino de pensadores como Gustavo Corção, que foi jogado no esquecimento por uma esquerda raivosa que não tinha argumentos para enfrentá-los, com ajuda de parte de uma direita invejosa, como costuma acontecer.
Que descanse em paz e Deus conforte sua família. Quem já assistiu aulas suas sabe que ele repetia sempre que é na morte que se constrói a biografia de uma pessoa, que ela se eterniza como um legado. E o dele é gigantesco, para desespero de seus detratores que só enxergavam nele o retrato que desejavam fazer, projetando suas próprias mesquinharias em um verdadeiro mestre.
A arma
Ainda falando sobre o disco Signals, o Lado B abre com The Weapon, parte da trilogia que o Neil Peart escreveu sobre o medo.
O tema da música está capturado neste verso:
And the things that we fear are a weapon to be held against us
Peart denuncia a manipulação do medo para nos dominar. Bem adequada ao mundo que vivemos, não é?
PS: as outras duas músicas sobre medo são:
- The Enemy Within (Grace Under Pressure, 1984)
- Witch Hunt (Moving Pictures, 1981)
With an iron fist in a velvet glove
We are sheltered under the gun
In the glory game on the power train
Thy kingdom’s will be done.
Rush: Digital Man
No disco Signals, de 1982, Neil Peart nos trás uma excelente reflexão sobre o mundo que se consolidava no início dos anos 80. O lado A tem uma temática em comum ligando Subdivisions, Analog Kid, Chemistry e Digital Man, mas é assunto para outro post. Meu assunto aqui é Digital Man.
Trata-se do outro lado do garoto analógico que é descrito na segunda música do disco. Um jovem deita no gramado, sonhando com a cidade, sem perceber a riqueza que ele tem ao seu lado. Quer ter sucesso, quer o movimento, quer sair daquele ambiente um tanto quanto bucólico. Sua realização é o homem digital da música que fecha o Lado A.
Em Digital Man, encontramos um típico funcionário de escritório, passando o dia no computador, de certa forma vigiando a vida dos outros. Não é isso que fazemos? Sejam contas bancárias, padrões de consumo, comportamento nas cidades, utilização do sistema de saúde, meio que tudo se resume numa espécie de vigilância, em que o próprio digital man também é monitorado (e olha que nem existiam ainda as redes sociais).
His world is under observation
We monitor his station
Under faces and the places
Where he traces points of view
Pois este homem é infeliz e sonha com seu retorno a Sião (ou Jerusalém, um dos símbolos mais poderosos do paraíso). Ele está na Babilônia a tempo demais. Nos versos finais, anseia pela morte.
He’d love to spend the night in Zion
He’s been a long while in Babylon
He’d like a lover’s wings to fly on
To a tropic isle of Avalon
Trata-se de uma vida que não tem tempo para contemplação ou reflexão. Curioso que Peart coloca como sinal desta desumanização ser escravo da “ciência do dia”. Não é o que vemos hoje?
His reliance on the giants
In the science of the day
É uma visão pessimista sobre a sociedade que estávamos construindo no início dos anos 80. Será que ele acertou em sua visão?

Omicron: vai passar!
Pelo que temos visto em outros países, a omicron assusta, cresce rápido, mas acaba em semanas. Os primeiros países afetados já se livraram dela ou estão nos finalmente (África do Sul, Inglaterra, Portugal, Irlanda). Ela infecta muito rápido, inclusive atingindo os que desenvolveram imunidade natural, mas pouquíssimos casos graves.
Pode ser a verdadeira vacina.
Oremos.
Minhas notas: Tratado da Graça (São Tomás de Aquino)
Continuando minha leitura da Suma Teológica (projeto de 5 anos), segue minhas anotações sobre o Tratado da Graça. O mais importante: o homem não pode se salvar sozinho, precisa da ação da graça.
https://www.evernote.com/shard/s33/sh/7443b439-899e-37f2-2b84-ca18f72595fd/f72e6039a37e047308110b79c4607695
Uma curiosidade: Por isso Frodo não foi capaz de jogar o anel no vulcão. A graça acabou surgindo, da forma mais inusitada (como muitas vezes acontece)…

Dicas de sexta!
Começando um pequeno projeto para 2022. Todas as sextas pretendo dar 5 dicas aqui no blog. Tem um pouco de tudo! É mais fácil mostrar do que explicar. Vamos nessa?
1
Disco Oh Mercy do Bob Dylan. Gravado no final dos anos 80 em Nova Orleans, foi uma espécie de renascimento de sua carreira. Estou completamente apaixonado por este album (consegui até um vinyl usado). Um disco onde menos é mais (pausas bem colocadas, acordes espaçados, poucos instrumentos ao mesmo tempo). Meus destaques vão para Most of the Time, What God am I? e Man in the Long Black Coat. (Curiosidade: o produtor foi uma dica do Bono).
2
A Fita Cassete(Mixtape), filme da Netflix. À primeira vista parece um filme bobo, mas não se engane. Meu teste para saber se um filme me impacta de alguma forma é se continuo pensando nele dias depois. Aconteceu com este. Para quem viveu a época das fitas cassetes, é uma experiência um tanto nostálgica; tanto que passei a semana gravando playlists no spotify como se fossem mixtapes, como pode ser conferido aqui e aqui.
PS: Destaque para Julie Bowen(Modern Family) como a avó da Bervely.
3.
Canal Olá Bocós, do YT. Tenho me divertido bastante com os vídeos da Débora, que trata de assuntos bem sérios de maneira como devem ser tratados, sem se levar a sério! Estou me impressionando com o nível de leitura da menina (lá pela faixa dos 25) e a profundidade de seus comentários. Temos sempre que ter cuidado com a juventude, mas ela está num excelente caminho.
PS: Tem twitter também, só procurar. Me diverti muito com os comentários dela na leitura da Ilíada.
4.
Livro Humanidade, do Rutger Bregman. O autor defende uma visão mais positiva do homem, tentando mostrar que a idéia que temos que ser mantidos sob controle não corresponde à realidade. Não concordo com tudo, especialmente com a exaltação a Rousseau e ao iluminismo, mas tem capítulos que me impressionaram bastante.
PS: Não acho que Hobbes e Rousseau sejam dois polos que representem direita e esquerda como ele deixa subtendido.
5.
Um pensamento para meditar.
Se buscarmos o sol é inútil tomar a luz como vela.
Robert Southwell, poeta e santo.
