Liberdade social
No capítulo 6 do livro Fundamentos de Antropologia, Stork e Echevarría tratam da liberdade. Um dos conceitos que apresentam é o da liberdade social. Segundo os autores, a liberdade social consiste em que os ideais possam ser vividos, e que toda pessoa tenha em suas mãos, a possibilidade de realizar suas metas. Citam como exemplo a moradia. Para que possamos ter uma moradia é necessário que exista a liberdade de ter uma residência, que ela exista a um preço acessível, e um ambiente social que encoraje o uso da liberdade individual para atingir nossos ideais.
Quando existem limitações que não podem ser vencidas autonomamente, surge a falta de liberdade social, a miséria. Esta miséria não pode ser confundida apenas com a questão material, apesar desta ser a mais devastadora. A liberdade social tem a ver com a liberação da falta de recursos econômicos, jurídicos, políticos, afetivos, etc. Liberação da ignorância, da insegurança, da falta de propriedade e trabalho, opressão política, enfermidades, solidão.
Assim, a conquista da liberdade passa pela educação. Se proporciona liberdade ao colocar os meios para que as pessoas que formam uma sociedade tenham a possibilidade de poder guiar suas próprias vidas. O homem precisa de liberdade para dar o melhor de si mesmo. Não se trata de dar a ele a solução de seus problemas, mas dar os meios para que os solucione por si mesmos, por mais difícil que seja a tarefa. Uma sociedade fechada entrega tudo resolvido, é menos livre: não há possibilidade de “colocar-se” onde a pessoa quer ou onde ela merece.
O pluralismo e tolerância
É muito comum se falar em liberdade e se esquecer de outro conceito que deve ser pensado em conjunto com ela, a responsabilidade. Existe uma relação entre a liberdade social, a responsabilidade e a autoridade. O excesso de liberdade social, e o conseqüente defeito de responsabilidade e autoridade, pode ser chamado de permissivismo.
O permissivismo cresceu muito nos países mais desenvolvidos, principalmente a partir de 1968. Ele assume uma tese louvável: a do pluralismo, a diversidade cultural e a tolerância são valores irrenunciáveis.
Segundo Stork e Echevarría, o pluralismo é uma valor que transcende em muito a tolerância do permissivismo. A ideologia da tolerância é uma extensão da visão liberal do homem, principalmente nas culturas anglo-saxônica e germânica, segunda as quais a liberdade significa emancipação do homem em relação a qualquer autoridade. Acrescenta-se a idéia de que a liberdade de um termina quando começa a de outro, eu poderia fazer o que quiser desde que não atingisse o outro.
O problema é que o homem não vive isolado. Toda ação tem um efeito no próximo e na sociedade. A realização do homem não é independente do seu próximo.
O permissivismo pressupõe a exclusão de qualquer reprovação de conduta diferente da que nós temos, é o que se denomina politicamente correto.
Consiste em não reprovar ninguém por sua conduta e evitar qualquer sinal que possa ser interpretado como discriminação. É um mundo em que a linguagem adquire um poder tremendo: se “ interrompe a gravidez” , se produz uma “morte doce”, se adota uma “ estratégia de molde”, se usa o @ como pretenso símbolo de neutralidade sexual, se fala de “novos modelos de família”, de “avanços em direção da democratização da instituição familiar” ou de “famílias homossexuais” e etc.
Se prega um mundo onde tudo __ palavras, conteúdos, realidade __ exista para evitar um compromisso elevado. A verdade se transforma em opinião e o paradigma de sabedoria é o talk show, onde se discute polêmicas sempre com o pressuposto que não se chegará a nenhum acordo. Uma discussão etérea entre posturas. Afirmar a verdade é ser denominado “fundamentalista”; o respeito a uma moral se reduz a uma convicção subjetiva e incomunicável.
A tolerância é imposta ao preço da perda de todo o conteúdo, ao preço da anulação da atitude benevolente. Nega-se a possibilidade que se possa conhecer a verdade, encerra o sujeito a suas próprias convicções. O limite da ideologia tolerante surge quando se exclui do jogo quem não é tolerante, este não pode existir. Stork e Enchevarría argumentam que o homem deve ser tolerante porque existe uma verdade a ser defendida: o caráter situado de sua liberdade. Existe um legalidade a que todo ser humano pertence e que implica na combinação da liberdade com o respeito ao que se é.
O defeito oposto ao permissivismo é o autoritarismo. Em nome da defesa da liberdade, procura-se tolher a própria liberdade. O autoritarismo é a extensão do paternalismo e no fundo esconde o absoluto desprezo pela pessoa pois a considera incapaz de decidir por si mesma. Hoje em dia o autoritarismo mais temido responde pelo fundamentalismo, uma amor radicalizado na tradição e na religiosidade. O fundamentalismo baseia-se em uma moral muito severa e pode ter ramificações políticas pois pretender reorganizar a sociedade no sentido moral e político.
O justo meio da liberdade social não pode prescindir nem da liberdade nem da autoridade; ambas são necessárias. Torna-se importante a responsabilidade social pelo uso da liberdade. Para isso o sistema educacional deve transmitir valores e não apenas conteúdos neutros. O homem é um ser aberto e por isso deve ser ensinado a ser livre para que pontencialize sua própria vida.
Muito interessante esse texto. Eu e um amigo estávamos dia desses conversando exatamente sobre a ideologia da suposta “neutralidade axiológica” , onde os titulados “(pre)conceitos são derrubados. Achamos preocupante trilhar no “abaixo” o modelo de família tradicional e às convenções, exemplo maior do permissivismo atual. É certo que todo extremismo produz seus monstros. Se por um lado pregar contra o homossexualismo, por exemplo, de forma veemente e intransigente é terrível, minar a convenção pai, mãe e filho é pior ainda. Imaginar que o modelo proposto pela natureza (homem-mulher, posto que o objetivo da natureza é a perpetuação da espécie através da procriação), é careta, propugnando pelo pansexualismo, pela total liberdade do “tudo é válido”, ameaça a própria base de subsistência da sociedade, do mesmo modo que o incentivo à traição e à desagragação familiar. Tomando por base que a História por diversas vezes é cíclica, passamos pelo extremismo do sexo como pecado (não se sustentou por alijar o desejo humano) e estamos vivendo o outro extremo onde o barato é sexo com o oposto, com o mesmo sexo, com vários sexos e por aí vai, até que surja um movimento de retomada de valores, de crenças, para evitar a própria desagregação social, pois um valor mínimo de manutenção da família deve existir para evitar a erradicação deste instituto, que é inerente ao homem, pois, quem não busca o amor? Não obstante as teses poligâmicas, quando se ama alguém, quem quer compartilhá-la com os outros? Há regras que são mesmo transcendentais. Espero, sinceramente, que alcancemos o bom-senso e que a sociedade caminhe para o mínimo conteúdo axiológico e não crie a ditadura do tudo pode.
Karla,
Concordo inteiramente com você. A frase de Agostinho é perfeito: tudo nos é permitido, mas nem tudo nos convém. Os limites são necessários para nossa própria existência e os mais importantes deles são estabelecidos por nós mesmos, por nossa própria consciência.
A nossa vida é um constante equilíbrio entre o que queremos fazer e o que efetivamente devemos fazer. A moral que estabelece que o homem não pode ter limites para seus próprios desejos o conduz a um beco sem saída.
Você foi muito feliz quando falou de regras transcendentais; também acredito muito nisso. O relativismo que a sociedade se entregou, acreditando que a verdade é relativa nos conduziu a este mundo de hoje.
Se me permite, vou recomendar-lhe um livro: O Saber dos Antigos de Geovane Reale, trata exatamente do que entendi do seu pensamento. Segue um link falando um pouco sobre a obra: http://cantodojota.blogspot.com/2008/04/o-niilismo-raiz-dos-males-do-homem-de.html
Um grande abraço
só corrigindo, a frase: “tudo nos é permitido, mas nem tudo nos convém” não é de agostinho…. é bíblica…
abraços,
sandrine
verdade
Mais especificamente de Paulo de Tarso
investigar