Eterna Revolução

Capítulo VII de Ortodoxia

de G. K. Chesterton

Por Marcos Heleno Junior

No capítulo VII de Ortodoxia, Chesterton discute a revolução. Parte do princípio que a mudança é necessária rejeitando portanto a idéia que o mundo não deve ser mudado. É no entendimento do conceito que o pensador se afasta do que se entende nos dias de hoje por revolução.

Para ele o progresso está relacionado com uma idéia que tenhamos, real ou imaginária, de como deveria ser o mundo. “Devemos ter claro diante de nós o que queremos pintar“. Por isso gosta de usar o termo reforma ao invés de revolução justamente por implicar em uma idéia de forma.

O fracasso do nosso tempo é misturar duas idéias opostas. Progresso deveria significar mudar constantemente o mundo para adaptá-lo à visão. “Deveria significar que agimos com lentidão, mas com certeza, na implantação da justiça e da misericórdia entre os homens“. Em 1908, e mais ainda nos dias de hoje, progresso passou a significar a mudança da visão, a justiça e a misericórdia foram colocadas em dúvida. “Não estamos alterando o real para que se adapte ao ideal. Estamos alterando o ideal: é mais fácil“.

Apresenta um exemplo simples. Imaginando que um mundo ideal fosse todo azul um homem poderia começar a pintar tudo de azul. Com certeza ele não transformaria tudo em azul, mas teria caminhado nesta direção, teria avançado.

Se, no entanto, mudasse sua cor preferida a todo instante estaria impedido de avançar. “Se, depois de ler um novo filósofo, ele começasse a pintar tudo de amarelo ou vermelho, seu trabalho seria jogado fora…“.

Chesterton era cético em relação ao livre pensamento, deveríamos ter alguns limites. O pensamento livre era uma salvaguarda contra a liberdade. Ensinando um escravo a preocupar-se com a questão de querer ou não ser livre, e ele não se libertará.

Enquanto a visão do céu estiver sempre mudando, a visão da terra será sempre a mesma (…) O homem moderno nunca mudará o ambiente; ele sempre mudará a mente.

Segundo ele, o homem moderno era incapaz de mudar o ambiente por escolher mudar a mente.

Não importa a quantidade de fracassos na tentativa de chegar ao ideal, esses fracassos serão aprendizagem. O problema de mudar constantemente este ideal é que os fracassos tornam-se infrutíferos.

O verdadeiro sentido de revolução seria restauração. Refuta a teoria de que o progresso seria automático, natural e inevitável. “A doutrina pura do progresso é a melhor de todas as razões para ser progressista“. Para ele o darwinismo poderia ser utilizado para apoiar duas moralidades insanas, mas não para apoiar uma que fosse sadia. O parentesco e a competição entre as criaturas vivas poderiam ser utilizados para ser insanamente cruel ou insanamente sentimental, mas não para alimentar um amor sadio pelos animais.

Chesterton já antecipava os perigos do progressismo, do ambientalismo, do moralismo. Isso tudo levaria o homem à imobilidade. “Essa apoteose final aparentemente mostrará um homem sentado totalmente imóvel, sem ousar mexer-se para não perturbar uma mosca, nem comer para não incomodar um micróbio“.

O ideal de progresso deveria basear-se em dois princípios: deveria ser fixo e artisticamente harmonioso. A Igreja trouxe a resposta para estas duas necessidades. O ideal era fixo porque existia antes de qualquer outra coisa e era artisticamente harmonioso pois fora pintado por Deus.

Entretanto Chesterton colocava uma terceira necessidade nesta utopia, a vigilância. Deveríamos ser vigilantes para não cairmos novamente como caímos do Éden. Essa seria a essência do conservadorismo.

Se você abandona as coisas à própria sorte, você as deixa como são. Mas isso não acontece. Se você abandona uma coisa à própria sorte, você a deixa à mercê de uma torrente de mudanças.

Usou para ilustrar o exemplo do poste branco. Abandonado à própria sorte, logo se tornaria preoa. Se você deseja que ele continue branco é preciso pintá-lo continuamente; isto é, você precisa estar sempre promovendo uma revolução. Para ter um velho poste branco, precisa ter um novo poste branco.

Não temos de modo algum de nos rebelar contra a antiguidade, temos de nos rebelar contra a novidade“. Ressaltava, sem ter visto ainda a Revolução Russa ou Chinesa, que os sistemas populares tornavam-se sempre opressivos. Lembrou que o cristianismo sempre afirmou que o ser humano era naturalmente reincidente no erro, que era sujeito à corromper-se. Esta seria a essência do pecado original.

As teorias materialistas afirmam que as condições com que são criados tornam os pobres mental e moralmente aviltados; se dermos aos pobres melhores condições, o vício e a injustiça desaparecerão. “Se os pobres são assim totalmente desmoralizados, pode ser ou não prático alçá-los a melhores condições. Mas é certamente muito prático privá-los dos direitos civis“.

Somente a Igreja cristã pode apresentar uma objeção à completa confiança nos ricos. Pois desde o início ela manteve que o perigo não está no meio em que vive o homem, mas sim no homem. Mais ainda, ela manteve que se quisermos discutir um meio perigoso, o mais perigoso de todos os meios é o meio mais confortável.

Mais adiante acrescenta:

Todo esse argumento em favor do cristianismo é que um homem que depende dos confortos desta vida é um homem corrupto, espiritualmente corrupto, politicamente corrupto, financeiramente corrupto. Há uma coisa que Cristo e todos os santos cristãos disseram com uma espécie de monotonia cruel. Eles disseram simplesmente que ser rico é correr o risco peculiar do desastre moral.

Por fim, defende a necessidade humana de se vigiar. Escreveu que jamais poderia tolerar nenhuma utopia que não lhe deixasse a liberdade que mais prezava, a liberdade de se obrigar. A disciplina e a fidelidade eram fundamentais para a vida sadia, daí citar a grande importância do casamento cristão. Devemos exigir ser obrigados a cumprir nossos contratos, a levar a sério os juramentos e compromissos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *