O retrato de um país sem futuro

Terminei de ler Contos Imediatos do Terceiro grau, do Yuri Vieira. Mistura de comédia com tragédia, os contos de Yuri vão pacientemente dissecando os vários tipos que habitam a fauna da universidade pública brasileira. Tendo como cenário a UNB, não sobra ninguém, do reitor ao aluno mais relapso, passando por professores e funcionários. O resultado é devastador.

Em muitos contos Yuri utiliza a fantasia para ressaltar o absurdo, levando a últimas consequências as idéias que as diversas personagens possuem. Apesar de divertidíssimo, a cada conto fica um gosto amargo, de saber que muito do que está ali é verdade, e que a universidade brasileira passa longe de ser um lugar de conhecimento e bom senso.

Se é verdade que a educação é o futuro do país, e que a universidade forma os líderes do futuro, estamos indo de mal a pior. E olha que quando ele escreveu o livro o politicamente correto nem tinha sido importado ainda!

O que Yuri Vieira nos mostra é o retrato de um país sem futuro.

120 Dias de um novo estilo de vida

No dia 25 de Janeiro comecei uma re-educação alimentar. Não se tratava de dieta, que já fiz inúmeras vezes, mas uma mudança de hábitos. Não tenho meta para atingir, mas uma vontade estabelecida de comer melhor para ter uma vida mais saudável.

Peso dia 1 (25 de janeiro): 109,1 kg

Peso dia 120 (hoje): 97,9 kg

Mas não foi só isso. Com o tempo fui agregando outros fatores, tratando minha saúde de forma mais integral. Tenho procurado dormir mais, não me alimentar perto da hora de dormir, feito longas caminhadas (além das caminhadas de passo acelerado), praticado yoga diariamente, rezado bastante e ainda feito alguma meditação.

Está fazendo bem para o corpo e para a mente. A esposa não mais reclama de roncos, o que é um bonus.

Enfim, recuperando o tempo perdido. Começou com uma re-educação alimentar, virou novo estilo de vida. Amem.

Jornada de gestão

Continuando minha jornada de estudos sobre gestão, reli este fim de semana O Novo Gerente-minuto, o clássico de Ken Blanchard e Spencer Johnson.

Meu primeiro contato com este livro foi em 1996, um período que estava assoberbado de tarefas e não conseguia dar conta de todas. Estava meio desesperado, lá com meus 22 anos. Alguém me recomendou o livro O gerente-minuto e a administração do tempo, onde fui conhecer o incrível conceito de administração de macaquinhos, que uso até hoje. Logo em seguida li o Gerente-minuto.

Passados quase 30 anos, instigado por um mentor, revisitei este clássico da gestão. Continua tão bom quanto era e ainda me deu insights novos, que já estou vendo como experimentar. Muitas vezes a nossa vida melhora com coisas bem simples, como são os conhecimentos deste pequeno grande livro.

Saúde e medicina são sinônimos?

Quando pensamos em saúde, já nos vem medicina à cabeça. Médicos, consultórios, farmácias, hospitais, o tal complexo industrial de saúde.

O que é ter saúde? Boa parte de nós acredita que é ausência de doenças. Se tudo está bem, para que procurar doenças?

Pois Pedro Schestatsky tem uma visão diferente. Não devemos terceirizar nossa saúde para médicos e nos transformar em passageiros de nossa própria vida. Há tecnologias e informações disponíveis que nos permite ter uma vida muito mais saudável e atuar na prevenção das doenças, algo que nem sempre a indústria quer muito estimular.

Partindo da idéia de Movimento, Alimentação e Pensamento (MAP), Pedro propõe uma mudança de estilo de vida.

Li esta semana o seu livro A Medicina do Amanhã. Muito fácil de ler e rápido. Daqueles que nos impactam e nos fazem pensar.

Para quem quiser um ajuda: aqui minhas anotações.

A saúde não está nos consultórios, nem nos remédios ou cirurgias. Encontra-se na sua casa _ especialmente na cozinha _, e suas atitudes e decisões.

São Paulo, 7 graus

Cheguei ontem em São Paulo para participar da Feira Hospitalar 2022. O Brasil é um país grande, mas pequeno. Descobri que ia dividir painel com um colega de infância da minha irmã, lá de 40 anos atrás. Realmente minha memória me surpreende às vezes!

Cheguei ao hotel por volta das 19:30 e já estava um vento para lá de gelado, mesmo assim, tomei coragem e fui caminhar. Confesso que os primeiros 10 minutos foram insuportáveis. Depois que o corpo aqueceu, virou suportável, mas nunca confortável. Enfim, mais uma pequena vitória. É importante solidificar os hábitos pois sempre tem um motivo para fugir em direção ao conforto.

Hoje amanheceu até com um solzinho, mas ainda com o vente super gelado e 7 graus no termômetro. Só vou para a feira as 11, de modo que dá tempo para uma corridinha. Ui.

Devemos terceirizar nossa saúde?

Instigado por minha esposa, comecei a ler A Medicina do Amanhã, do médico neurologista brasileiro Pedro Schestatsky. Trata-se de um livro que nos dá muito o que pensar pois questiona o mindset que nós temos sobre saúde. De modo geral, este mindset tem alguns princípios:

  • o médico é soberano em relação ao paciente
  • médicos e remédios são a solução para as doenças
  • sem não tem sintoma, não há o que se preocupar
  • renumeração do médico baseado em consultas
  • paper vale mais que experiência em tratamentos reais
  • ignora-se o conflito de interesses na relação das farmacêuticas com os médicos (covid que o diga!)
  • conceito de saúde como ausência de doença

O ponto principal do autor é que saúde vai muito além de ausência de doença. Temos hoje condições privilegiadas pelas tecnologias e genética para prever doenças antes que elas aconteçam e ter assim um papel mais ativo, de prevenção, que depende muito mais do paciente do que um tratamento. Ele chamou este mindset de MAP: movimento, alimentos e pensamento.

Gostei muito do enfoque. Muda a perspectiva e coloca questões centrais sobre a medicina que vale uma séria reflexão e nos convida a assumir responsabilidade por nossa própria saúde.

Porque andei sumido

De uns tempos para cá tenho escrito bem menos neste blog por uma série de motivos. Chegou a hora de ar algumas explicações, até para saberem que estou vivo (e muito bem!).

Não foi um único fator, mas uma conjunção de várias coisas que estão acontecendo ao mesmo tempo.

Em primeiro lugar, o job tem me exigido mais e o pouco tempo que tem me restado tenho dedicado a outras prioridades. As viagens também se intensificaram e realmente não acho muito tempo para escrever quando estou fora de casa.

Ou segundo motivo é que tenho feito uma espécie de detox digital. Tenho lido alguns livros como “Minimalismo Digital” que ma despertaram para algo que sempre soube: não é saudável ficar tanto tempo na internet. Por isso, tenho dado mais espaço para anotações analógicas, seja nos meus cadernos moleskine ou no bullet journal que mantenho.

Por fim, este ano estou realmente investindo em mudança de hábitos e um deles é ter uma vida mais saudável. Significa priorizar mais a parte física, o que me exige mais tempo. O resultado é que perdi mais de 10 kg desde 25 de janeiro, quando comecei meu projeto de novos hábitos. Há um longo caminho para percorrer, mas já tenho me sentido bem melhor.

Significa que vou parar com o blog? Não. Mas tenho pensado em uma mudança de propósito. Acho que acabo misturando coisa demais por aqui e acaba perdendo o interesse para a maioria, ainda mais em uma época em que os vlogers dominam a atenção das pessoas. Tenho refletido em tornar este blob mais pessoal, mas intimista, voltado para as pequenas coisas do dia a dia, com as ligações com a cultura a nossa volta. Não sei. Apenas especulando ainda.

Enfim, 2022 tem sido um ano de mudança de hábitos, para melhor.

Jane Eyre: algumas notas

  1. Trata-se de um romance moral. Jane tem a consciência do que é certo e enfrenta as tentações que tentam afastá-la do caminho.
  2. A Sra Reed, e algumas professoras do orfanato, a levam ao ódio. No entanto, é no orfanato que convive brevemente com uma menina que lhe deixará uma marca profunda em sua vida.
  3. Helen Burns lhe ensina o valor das provações, a força da providência divina e a confiança que temos que ter em Deus. Essas noções ficarão gravadas em sua alma.
  4. Ela vence o ódio à tia no leito de morte dela. Infelizmente a tia não aceita seu amor e morre amargurada, devorada pelo ódio.
  5. Em Rochester ela enfrenta a tentação de viver com o homem que ama integralmente, mas em uma situação imoral, escondida de todos. Termina por fugir, abandonando tudo e disposta aos maiores sacrifícios para manter sua virtude.
  6. Em St John ela sofre a tentação de abrir mão de sua consciência para satisfazer uma vontade implacável, que usa o nome de Deus para justificar suas atitudes.
  7. Na herança que recebe de forma inesperada, tem a oportunidade de praticar a caridade, abrindo mão da maior parte para ajudar os primos recém descobertos.
  8. A providência divina mostra sua força na conversão de Rochester, que em um ato heróico perde a visão e uma das mãos, mas livra-se de seu orgulho no processo. É como se Helen Burns tivesse feito uma profecia.
  9. O orgulho também é implacável em St John, que recusa aceitar Jane em outros termos que não sejam os seus.
  10. No fim, Jane tem a oportunidade de mostrar seu amor, escolhendo viver com o homem que ama, a quem se dedicará de corpo e alma para superar todas as dificuldades das suas deficiências.

O força do ódio

O ódio destrói a pessoa. Por mais que alguém possa fazer mal a outra pessoa, o sentimento corrói principalmente quem odeia, a ponto de destruir seu espírito.

Pelo menos foi o que apreendi de duas obras esta semana.

A primeira foi o filme There Will Be Blood, conhecido no Brasil pelo título equivocado de Sangue Negro¹. O personagem principal Daniel Plainview é um homem amargurado desde o início e tem sobretudo uma luta de ódio contra Deus, pelos revezes que sofre durante a vida começando pela sua perna, passando pela surdez do filho adotivo, a forma como foi enganado pelo falso irmão e terminando na humilhação que sofre na igreja do falso profeta. Se vinga de todos, mas termina sozinho como um alcóolatra. Fez mais mal a si mesmo que aos outros, daí o sobrenome (visão estreita).

A segunda obra é o romance Jane Eyre, que estou pela metade. A personificação do ódio está na tia de Jane, a Senhora Reed, que até o fim se recusa a aceitar a sobrinha e morre amargurada recusando o consolo da única pessoa que no fim realmente se importou com ela. No início do romance, Jane se revolta contra os maus tratos, explode com tia e jura que vai odiá-la para o resto da vida. Só que com o tempo deixa de alimentar o ódio e no fim termina com pena da tia.

As duas obras, uma do cinema e outra um clássico da literatura, mostra que alimentar o ódio apenas consome o espírito, nos afastando da paz que precisamos para levar nossas vidas. No fim, somos consumidos por eles e nos tornamos uma espécie de monstros, pois o ódio nunca fica restrito, vai se espalhando por todas as nossas relações a ponto de nos afastar de todas as conexões reais, restando-nos a solidão que nos acompanhará em nosso fim.

O ódio é uma forma de atingir o próximo fazendo mal a si mesmo.

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¹ Os títulos em português, na maioria das vezes, são um equívoco porque passam para a pessoa uma perspectiva errada da obra. Sangue Negro induz quem assiste a pensar que o filme é sobre o petróleo, a cobiça do homem, capitalismo, etc. Não se trata disso. O petróleo é o contexto da história, que na verdade trata das relações de um homem ambicioso e amargurado com as pessoas a sua volta. Já o título original, There Will Be Blood sugere uma tensão, de algo sangrento está para acontecer, o que acaba acontecendo de forma até inesperada, com uma arma improvável. Infelizmente nossa indústria cultural, que entre outras coisas define o título em português, só consegue enxergar o mundo em termos marxistas, o que termina por colocar algo que é apenas material (a questão econômica) no centro de um filme que na verdade trata do espírito.

Não Olhe para Cima e a pergunta de Pilatos

Finalmente assisti o tal Não Olhe Para Cima (Don´t Look Up). Sim, sou desses que quase nunca acompanha a multidão. Quando esquecem de um assunto é que começo a me interessar por ele. Retornemos.

Trata-se de uma sátira à sociedade atual, que acerta em muitos pontos, mas que gerou um estranho fenômeno. Muita gente enxergou o filme como uma crítica ao “outro lado”, o que evidencia que somos justamente o que é satirizado no filme. Estamos em bolhas, incapazes de qualquer empatia e imersos em nossas prisões mentais.

A fala mais importante do filme é quando o cientista grita na entrevista final que é impossível comunicar desta maneira. É isso mesmo. O maior perdedor da modernidade é a própria idéia de verdade e sem colocá-la no centro da existência em sociedade, o que resta são discursos e narrativas, que estão livres para defender qualquer absurdos, assim como estamos livres para escolher a “verdade” que mais nos convém. Não queremos saber, queremos ser felizes.

O filme inteiro fiquei pensando em Poncio Pilatos e a pergunta fundamental que fez ao Cristo: o que é verdade?

Pilatos não pergunta qual é a verdade, o que implicaria em aceitar a idéia da verdade. Ele faz uma pergunta retórica para o Cristo, o que é. Não que queira saber, não se trata disso, mas de uma pergunta que esconde uma convicção: que a verdade é aquilo que precisa ser estabelecido para sustentar os próprios planos. A verdade passa a ser um instrumento e não um fim.

Vivemos a era da manipulação e só vai piorar.

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