Lacrar com o nome de uma empresa, idéia de gênio

Lacrar com o nome de uma empresa, idéia de gênio

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A campanha de marketing lançada ontem pela Amazon br já foi para o vinagre. Imagino que esteja rolando um gerenciamento de crise nesse momento. Não sei se a idéia foi do pessoal do marketing ou de alguma executivo da empresa, mas capricharam na bobagem. Resolveram usar o nome da empresa para atacar o prefeito de São Paulo em uma iniciativa que ele tem amplo apoio popular, o combate à pixação.

Receberam uma resposta bem humorada do prefeito, que jogou a empresa contra a parede. De quebra, pelo menos três concorrentes estão usando a publicidade da própria amazon para fazerem propaganda. Olha, estão de parabéns!

Não é a primeira vez que uma marca resolve fazer lacração esquerdista para parte de seu público. No início do ano o presidente da Starbucks resolver seguir este caminho e terminou sofrendo campanhas de boicote. Agora foi a vez da Amazon br.

Esse pessoal não entendeu ainda que o vento está mudando. Que o público em geral cansou dessa baboseira progressista e que há muita revolta acumulada, querendo um motivo para extravasar. Quem apostar no lacre, vai dar com os burros n’água.

E ainda nem começaram os memes!

A Segunda Realidade em Hollywood: Florence Foster Jenkins

A Segunda Realidade em Hollywood: Florence Foster Jenkins

Não é segredo  que a vitória de Trump nas eleições de 2016 foi um duro golpe para Hollywood. Da mesma forma que no jornalismo e na academia, a desproporção em favor dos liberais (como os americanos chamam a esquerda) é muito mais acentuada lá do que na média da população. O ator Mark Wahlberg, uma exceção, disse ano passado que Hollywood vivia numa bolha e não tinha noção da realidade do país. Mas, é verdade? Vive realmente Hollywood em uma bolha? Vive uma realidade à parte?

Eric Voegelin e a segunda realidade

O cientista político Eric Voegelin (1901-1985) estudou a fundo o problema da segunda realidade, tomando emprestado um termo criado pelo romancista Robert Musil. Ele identificou o fenômeno em que determinadas pessoas, incapazes de aceitar o mundo em que viviam, seja por revolta ou por tédio, criavam um mundo paralelo baseado em algumas premissas simples, que não poderiam ser contestadas. Peço ao prezado leitor que repare no termo tédio. Voltaremos a ele, em breve.

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Eric Voegelin

O mundo, tal como se apresenta, é a segunda realidade. As pessoas que não conseguem aceitá-lo sobrem de uma doença no nível espiritual, uma doença da alma (pneumopatologia). São doenças que não podem ser tratadas como psicológicas. O método de fazer a pessoa aceitar sua situação real pode ter consequências trágicas, como se verá.

 

O doente escolhe ou cria uma segunda realidade para viver, normalmente mais excitante e que confere um sentido a sua existência. Este fenômeno foi muito melhor descrito na literatura do que por cientistas sociais, que em geral não conseguem enxergar as coisas do espírito. Assim temos obras como O Homem Revoltado, de Camus, o Julien Sorel de O Vermelho e o Negro, e Raskolnikov em Crime e Castigo. Todos exemplos de segunda realidade. Mas é em Dom Quixote que Voegelin mostra o mecanismo em ação.

A Segunda Realidade em Dom Quixote

Don Quixote, entediado com o mundo em que vivia, criou uma segunda realidade em que é um cavaleiro andante. Sancho Pança, seu fiel escudeiro, vive na primeira realidade e enxerga os moinhos de vento enquanto Don Quixote vê gigantes. Sancho tenta fazer uma mediação entre as duas realidade, sem muito sucesso.

donquijoteysanchoEm uma de suas expedições, Don Quixote vai parar em uma corte, onde já sabem quem ele é. Esta corte, entediada, resolve participar do jogo e finge acreditar que ele realmente é um cavaleiro famoso. Ou seja, ela mergulha nas segunda realidade. Um estranho fenômeno então ocorre; a corte se diverte tanto com a segunda realidade que tem cada vez menos desejo de retornar à primeira. Ela mesma começa a acreditar na estória que criou.

A rendição à segunda realidade é simbolizada também pelo próprio Sancho, que acaba por acreditar nas recompensas prometidas por Dom Quixote, como ser governador de uma ilha. Ele descobre que acreditar na segunda realidade é muito mais interessante que viver na primeira.

Então temos o cura. O despropósito de Dom Quixote o atinge pessoalmente. Ao mesmo tempo que consegue ver corretamente a loucura do cavaleiro, falta-lhe a compaixão necessária para lidar com a situação. Como o irmão do filho pródigo, quer ter razão e provar seu ponto. Ele não aceita a felicidade de Dom Quixote e não descansa até mostrar a ele sua loucura. O cura age como o psicólogo moderno, tentando fazer o doente tomar consciência de sua situação. O problema é que a doença é espiritual, algo muito além da ocupação do nosso bom médico.

Dom Quixote finalmente aceita a realidade, mas cai em profunda melancolia e morre. O retorno à primeira realidade não resolveu o problema que o fez negar o mundo na primeira vez. Temos então, na pena de Cervantes, os tipo: Dom Quixote, Sancho, a corte, o cura. Voltemos a Hollywood.

Florence Foster Jenkins

O filme de Stephen Frears conta a estória, baseada em fatos reais, de Florence, uma rica herdeira, patrona da música em New York da primeira metade do século XX. É interpretada por Marylin Streep, um dos símbolos da alienação de Hollywood apontada por Wahlberg.

Apaixonada por música, pianista na infância, ela sofre de sífilis desde os 19 anos, contraída do primeiro marido. Em consequência, perdeu o movimento de uma das mãos e não pode se dedicar ao instrumento, canalizando sua atenção para o patronato. Mas não foi suficiente. Ela toma aulas particulares de canto, sob aplausos de toda uma rede que a protege e a impede de ver sua incrível falta de talento. Há um motivo bem prático para manter a farsa. Ninguém quer que ela se desiluda com a música e feche seu generosos talão de cheques.

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Florence e St Clair

Está criada, então, a segunda realidade, em que Florence é uma talentosa cantora amadora de ópera. Não se trata apenas de interesse financeiro. Como St. Clair, o segundo marido e principal mediador da segunda realidade, afirma ao pianista Cosmo, a vida de Florence é muito mais divertida e excitante. Novamente aparece o tédio como uma das razões para a segunda realidade. Como a corte em Dom Quixote, uma sociedade se forma em torno de Florence, pronta para bajular e aplaudir.

Cosmo é o Sancho Pança da estória. Ele tem perfeita consciência da inadequação da patroa, mas recebe muito bem para manter a farsa. É curioso que ele mesmo é um músico comum, sem talento especial, como exclamam atônitos  os pianistas que aguardavam para um teste em que foram preteridos, sem serem ouvidos, por Cosmo. Florence não só era incapaz de cantar, mas não tinha ouvido para distinguir a boa música da trivial. O mesmo acontecia com a corte que a bajulava.

O padrão se repete. Quanto mais a segunda realidade dura, mas as pessoas acreditam nela. É o que acontece com a loira fútil, que não se aguenta na primeira apresentação de Florence, caindo na gargalhada, mas que aos poucos aceita seu papel e termina condenando o mesmo comportamento  nos soldados que assistem ao espetáculo do Carnegie Hall. A rendição de Sancho se repete em Cosmo, que balbucia após o terrível espetáculo: “eu toquei no Carnegie Hall!”

O cura reaparece como o jornalista do Post, que pretendendo defender a verdade objetiva e faz uma crítica devastadora à Florence e sua corte. Também falta-lhe compaixão e quer apenas ter razão. Ele se julga melhor do que os outros, o que é sempre um grave pecado. Que o cura seja agora um jornalista, mostra a transição da classe intelectual no tempo.

A crítica do jornalista faz Florence retornar à primeira realidade, em que é apenas um velha senhora deformada e sem talento. Como Dom Quixote, ela não suporta a melancolia e morre. O despertar destas pessoas tem consequências trágicas. Como dizia T. S. Eliot, “o homem não é capaz de aceitar tanta realidade“.

Hollywood e o Oscar

O mergulho da segunda realidade de Florence e Dom Quixote se repete em Hollywood e sua corte. Artistas e profissionais do cinema abraçaram a visão liberal do mundo como poucos indivíduos o fazem, e chegam ao extremos de ignorar completamente a realidade econômica, a condição humana e a religiosidade do homem comum. Na segunda realidade de Hollywood, criticar um presidente significa um ato de coragem, milionários defendem o comunismo, abandonar Deus é um progresso e a paz é um problema simples de resolver. Por isso, Wahlberg está certo quando diz que Hollywood perdeu a sintonia com o povo americano. Em sua maioria, atores e diretores, não possuem idéia da realidade do americano comum e só o enxerga por esteriótipos.

89th Academy Awards - Oscars Awards Show

A corte

Tudo isso culmina no Oscar, que é também um mecanismo farsesco de auto-referenciação. Não se premia os melhores, mas uma visão de mundo. Não quer dizer que não vença também filmes conservadores, mas esse conservadorismo tem que estar de alguma forma escondido para que a corte não o perceba. O que, convenhamos, não é muito difícil de fazer levando em conta o nível de compreensão desse pessoal.

 

Hollywood é Florence Foster Jenkins. Ela acha que está representando a américa. Não está e cada vez mais o divórcio é escancarado. Vejam o exemplo de Marylin Streep. Uma atriz talentosa? Sem dúvida!, mas não o suficiente para ter 21 indicações, colocando-a em uma espécie de patamar superior de qualidade, acima de todas as demais. Foi aplaudida de pé no Oscar deste ano. Como Florence e sua corte.

A questão que fica é o que acontecerá ao fim de tudo. Hollywood sobreviverá ao choque de realidade? Terá o mesmo destino de Florence e Dom Quixote? Talvez já esteja acontecendo. Cada vez mais quem realmente tem algo a dizer está migrando para a televisão e a internet. A segunda realidade está se desfazendo e o público das redes sociais seja o novo cura.
Finalizando, fico a pensar se não estamos cometendo o mesmo erro do cura e do repórter. Será que não estamos muito preocupados em ter razão? Será que mais importante do que fazer a pessoas cair na realidade não seria fazê-la ver que a realidade merece ser amada para só então desfazer o feitiço? De que adianta salvar um paciente matando-o?

Uma entrevista com Yuval Harari, o caso do globalismo

Uma entrevista com Yuval Harari, o caso do globalismo


Mortimer Adler ensinava que para concordar ou discordar de um autor é preciso primeiro entender o que ele defende. Não é novo, já era o método proposto por São Tomás de Aquino. Nessa entrevista do Ted Talks, o historiador Yuval Harari, autor do livro Sapiens, apresenta sua visão de mundo e a divisão política da atualidade entre globalismo e nacionalismo. Se entendi bem, esses são os pontos principais de Yuval na entrevista:

  1. Nos acostumamos com a idéia que a felicidade seria garantida com a globalização econômica e a liberalização política. Esse modelo é uma mentira pois não pode coexistir as duas coisas.
  2. A política tem que se tornar global para se tornar compatível com a globalização econômica. Não há como retornar a economia para o nível nacional-local.
  3. Os problemas atuais são globais.
  4. Os dois grandes problemas da humanidade hoje são:
    1. mudanças climáticas
    2. ruptura tecnológica
  5. A tecnologia é a grande ameaça ao emprego e não a competição entre países.
  6. Não existe uma narrativa cósmica para a existência do homem. O grande objetivo da humanidade deve ser vencer o sofrimento.
  7. Toda identidade é falsa pois é baseada numa ficção (mito, religião ou ideologia)
    É necessário um governo global para lidar com essas ameaças.
  8. Esse governo não se parecerá com uma democracia dinamarquesa. O provável é que se pareça mais com o antigo império chinês, onde uma governança forte terá que impor a solução dos problemas globais. É um preço que se deve pagar pois a alternativa é pior e causará mais sofrimento.
  9. A grande divisão da política atual, portanto, é entre globalismo e nacionalismo. Conceitos de direita e esquerda estão ultrapassados.
  10. Vivemos a melhor época da história.
  11. Abandonar as narrativas míticas é sinal de progresso.
  12. Não há uma visão clara de como deve ser a governança global, mas ela é necessária.
Afinal, o que disse o papa?

Afinal, o que disse o papa?

Papa

Leiam as matérias da grande mídia sobre o papa ter afirmado que era melhor ser ateu do que um católico hipócrita. Elas possuem um padrão, em nenhuma delas você vai encontrar um parágrafo inteiro da homília do papa Francisco. Basicamente eles pegam um parágrafo, dividem em várias frases e colocam comentários entre eles induzindo o raciocínio do leitor. Isso é o jornalismo brasileiro.

Afinal, o papa disse que era melhor ser ateu?

Não. Ele criticou sim a hipocrisia de muitos católicos, como Cristo fez com os judeus do seu tempo. Mas não fez comparação nenhuma com o ateísmo. Pelo contrário, ele disse que:

“Quantas vezes ouvimos dizer: ‘Ser católico como aquele, melhor ser ateu’. O escândalo é isso. Destrói. Joga você no chão”

Ele não disse que era melhor ser ateu, ele disse que o mau comportamento de muitos cristãos induziam a que dissessem que era melhor ser ateu, o que é muito ruim para a Igreja. Ou seja, ele disse o exato oposto ao que estão atribuindo a ele. O raciocínio do papa é simples: achar que ser ateu é melhor que ser um mau católico é um erro. O próprio comportamento dos maus católicos induzem a esse tipo de raciocínio. Logo, deve-se criticar esse tipo de comportamento. O escândalo é dizer que “ser católico como aquele, melhor ser ateu“.

Foi isso que o papa fez.

Ademais, em princípio todo católico é um mau católico porque somos imperfeitos. Cristo veio justamente para nos salvar porque somos todos pecadores. Até os santos pecaram, e muito!

Mas o jornalismo militante viu a oportunidade de tirar a frase do papa do contexto, picotá-la e inverter o sentido do que ele disse.

Raça de víboras! Até quando teremos que suportá-los?

Violência no Espírito Santo: Apenas um sintoma

Violência no Espírito Santo: Apenas um sintoma

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Quando o humorista Marcelo Madureira declarou em uma entrevista que levaria gerações para o Brasil se recuperar do estrago que o PT estava fazendo, acho que não tinha idéia do quanto estava certo. Não que os governos anteriores não fossem ruins, eram, mas a coisa tomou outra proporção com a chegada da religião política petista ao poder. A vocação para a corrupção já existia, mas o petismo trouxe algo muito pior para o país, a degradação cultural e política.

A agenda cultural do tucanato, alinhada com o globalismo e o progressismo, começou a corromper a educação, segurança pública, coesão social, o próprio espírito do brasileiro. A seita que os sucederam fizeram pior,  aceleraram essa agenda e ainda promoveram um assalto aos cofres públicos sem precedentes. A própria política chegou a um nível ainda mais baixo e basta comparar o Congresso de 2002, com todas as suas mazelas, com um Congresso comandado pela dupla Renan Calheiros e Eduardo Cunha ou Rodrigo Maia. A cada eleição o nível da representação popular foi caindo e é preciso ser muito alienado para não enxergar uma queda ontológica de um Clodovil para um Jean Willys.

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O Estado não cabe no Brasil

Mas problemas econômicos e políticos são possíveis de serem enfrentados no curto prazo; os culturais, não. Consolidou-se na opinião pública (que não é a opinião de maioria) a idéia de que a sociedade é responsável por todos os atos criminosos de seus integrantes, com a curiosa excessão dos atos contra o politicamente correto, esses passíveis até da guilhotina se fosse possível. As instituição foram aparelhadas, a educação destruída, a Igreja corrompida por valores contrários até à fé cristã. Isso não se corrige de uma hora para outra e daí a acurácia do comentário do Madureira; é trabalho de gerações.

O resultado de isso tudo é um país sem uma ordem moral de referência, sem responsabilidade individual, com um sistema político em câncer terminal e um estado impossível de ser sustentado. Ainda não temos a verdadeira percepção do problema. É impossível atender todas as demandas colocadas ao estado e ao mesmo tempo sustentá-lo. Para piorar, a solução tem sido aumentá-lo, gerando mais ineficiência, corrupção e incompetência. O estado é um gigantesco sistema, e sistemas não podem crescer indefinidamente, pois há um ponto que quando ultrapassado o corrompe.

Quando olhamos as reivindicações dos policiais, parecem justas. Assim como a dos professores, dos médicos, dos lixeiros, dos militares, dos aposentados e por aí vai. O problema não é de justiça ou de moral, é mais pragmático, é de prioridades. O problema econômico central do país é ter um estado que seja suportável pela população, que tenha um limite. Isso significa,  que temos que optar entre fazer algumas coisas bem feitas ou fazer todas pessimamente. Infelizmente temos escolhido sempre a pior opção.

No campo cultural eu diria que temos três principais problemas a serem resolvidos: somos um povo impaciente por resultados (sem paciência para construí-los), não assumimos a responsabilidade por nossas escolhas e temos ressentimento do sucesso. Ainda vou escrever mais sobre essa minha tese, mas acho que estou no caminho. Essas são as raízes do nosso comportamento desordenado e, nos casos extremos, na opção pelo crime.

O problema é muito mais amplo do que segurança, saúde, educação, justiça, etc, etc. Tudo isso são sintomas de uma doença civilizacional, que muito se deve ao trabalho de 5 décadas da esquerda brasileira, que ainda está abraçada ao desejo de mudar a natureza da nossa sociedade pela força da imposição política. Seja na oposição ou no governo, ela nunca parou de empurrar tudo que não presta e mudar o senso comum do brasileiro médio, seguindo religiosamente os ensinamentos de Antônio Gramsci. O brasileiro vive um momento de desordem espiritual, e como ensinava Eric Voegelin, a sociedade reflete a ordem da alma de seus integrantes.

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Hobbes viu o futuro e achou que era o passado

O que está acontecendo no Espírito Santo é apenas um sintoma de nossa doença. Não é que tenhamos voltado para o estado da natureza de Thomas Hobbes, nós o criamos! Hobbes estava errado na crença que no princípio o homem era o lobo do homem. Essa visão é do final, a conclusão que as ilusões da modernidade irão nos levar. Petistas e tucanos, para ficar só nessa fauna, não são resultados do atraso, são produtos da modernidade. São a realização do ideal socialista, seja na linha fabiana ou marxista, todos apontando para um ideal de um paraíso utópico, mas que só consegue gerar o inferno na terra.

Como o Espírito Santo hoje.

Eike Batista, ídolo de barro

Eike Batista, ídolo de barro

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Todos felizes e unidos

Venho chamando atenção para o poder dos símbolos. Eike é mais um desses símbolos que estão sendo destruídos pela realidade. Foi há pouco tempo que esteve  na capa das principais revistas e jornais do país, como exemplo do grande empresário brasileiro. Pior, foi associado a um novo tipo de empresário, o que trabalha com ética.

Querem saber? Eike é mais um episódio que deveria cobrir o jornalismo brasileiro de vergonha. Não houve investigação, não houve crítica, não houve questionamento. Dentro da metafísica petista, era preciso celebrar o símbolo da associação do estado com o empresário do bem. Quando o Ignorante e a Incapaz levantaram publicamente a mão do escolhido, foi a senha. Jornalistas correram para as redações para enaltecê-lo, ganhar pontos na suas carteirinhas de bem pensantes. Poucas vozes ousaram levantar e fazer a pergunta essencial: afinal, o que Eike de fato produzia?

De um lado, o Eike careca, indo para a cadeia; mas ninguém acredita realmente que vai ficar muito tempo por lá. De outro, o Rio de Janeiro, arrasado, destruído pela combinação macabra de rapinas que saquearam os cofres públicos. Pior que isso, deixaram que a criminalidade tomasse ainda mais conta da cidade. A mídia? Estava ocupada exaltando o Beltrame com sua genial política de segurança que avisava os bandidos para mudarem de morro para que a polícia pudesse se instalar, com toda tranquilidade, e passar uma sensação de segurança para uma sociedade de crédulos. Perguntem para o povo de Niterói como ficou a cidade depois da instalação das UPP.

Eike foi mais um ídolo de barro produzido pela religião política do petismo. Um grande ritual macabro que participaram empresários, burocratas, militantes, jornalistas, acadêmicos e artistas. Todos celebrando a farsa, todos se achando muito inteligentes. Todos unidos pelo completo desprezo às pessoas comuns e pela sensação de estar acima do bem e do mal.

A Igreja chama isso de satanismo.

 

As prisões brasileiras e porque não comemoro a barbárie

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Não sei se vocês sabem, mas não existe prisão perpétua no Brasil. A pena máxima é de 30 anos, mas para consegui-la é preciso se esforçar bastante. Tenho um amigo que matou o outro a facadas, e avançou para cima das esposa do morto. Foi contido, feriu quem o prendeu. Disse que seu objetivo era arrancar os olhos de sua vítima. Homicídio duplamente qualificado. Pegou 18 anos.

Com as regras atuais, mesmo pegando 30 anos, é possível sair com 1/6 da pena. Cinco anos, portanto. Mesmo antes, ainda pode ser beneficiado com os indultos. Significa que os presos serão soltos um dia. Que voltarão para as ruas. 

Vejo que muitos defendem que as prisões sejam uma versão do inferno. Temos que ter cuidado com o que desejamos pois uma das características do inferno é produzir demônios. Demônios que serão soltos, lembro. A barbárie que está acontecendo nas prisões vai ganhar as ruas e dessa vez estaremos na linha de frente.

Quando você confina muita gente no mesmo espaço, com sofrimento, gera fortes vínculos. Socializa. Essas quadrilhas formadas dentro das prisões serão exportadas para as cidades brasileiras. Assim surgiu o comando vermelho e o PCC, assim surgirão outras. Por isso a superlotação de celas é tão nocivo. 

Vocês estão comemorando 25 presos mortos, mas esquecem que nesse processo se formaram 200, 300 demônios sem nenhum limite. Se acham que já eram perigosos antes, podem ter certeza que sairão muito pior do que entraram. 

Por fim, uma segunda constatação. Se o estado brasileiro não consegue manter a ordem e segurança dentro de um local confinado, com todo seu poder de polícia, enfrentando 500 presos, como vocês imaginam que vão manter a ordem fora das prisões? Não é que a polícia não tenha competência para lidar com rebeliões, o problema é de outra natureza. Ela não tem como fazer isso sem enfrentar os presos, o que inevitavelmente irá gerar mortos. Tudo que a malta dos direitos humanos e entidades de esquerda querem é ver cadáveres de um lado e a polícia do outro lado, retomando sua narrativa Focaultiana. Nenhum comandante quer pagar esse preço.

Estamos jogados a nossa própria sorte. Não comemoro nenhuma das mortes pois sei que os que estão matando estarão um dia entre nós. E piores do que jamais foram. 

O Caso do ITA: O ensinamento de um velho professor e uma palavra de João Paulo II.

O Caso do ITA: O ensinamento de um velho professor e uma palavra de João Paulo II.

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Um professor do Instituto Militar de Engenharia (IME) contava o seguinte causo:

Quando entrei no IME, há duas décadas atrás, me achava o dono do mundo. Meu orgulho estava nas alturas e andava pelos corredores com o nariz empinado, certo de que era um verdadeiro mestre. Ensinava equações diferenciais como se estivesse brincando em um parque; passava problemas tenebrosos para os alunos resolverem em casa. Era temido, e por isso, respeitado. Só uma coisa me incomodava, o maldito crachá. Tínhamos que usar um crachá o tempo todo e eu simplesmente não gostava daquela porcaria. O Instituto é pequeno, não demorava muito para todos nós nos conhecermos. Achava aquilo um exagero dos militares, talvez um recalque por ter de utilizar uma plaqueta, não sei. O fato é que depois de um tempo, reclamei com o decano, um velho professor de materiais, muito respeitado por todos. Ele me escutou pacientemente, sorriu e disse uma frase que nunca esqueci: “é uma prova de maturidade obedecer as regras da instituição que você escolheu pertencer voluntariamente“. Em seguida, ele virou as costas e foi para sua aula. Eu fiquei alguns minutos imóvel, sem saber o que dizer. Aquelas palavras martelavam a minha cabeça; fui dormir com elas. O fato é que nunca mais reclamei do maldito crachá e também nunca esqueci da lição que aquele bom homem me deu.

Lembrei desse causo quando li sobre a polêmica na formatura no ITA. Não tenho mais nada a dizer sobre o caso.


PS: Tenho mais uma coisa a dizer, me ocorreu agora. Lembrei de uma lição de João Paulo II. Dizia ele que uma decisão moral se reflete de duas formas, uma ação prática com suas consequências e, no longo prazo, pela formação de nosso carácter. Ou seja, ela não se esgota naquele instante. É uma ilusão tomarmos atitudes e acharmos que elas não têm influência em quem nós nos tornamos. Somos também o produto de nossas atitudes.

Como entender a arte?

Como entender a arte?

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Existem várias formas de interpretar uma obra de arte. Infelizmente a universidade escolheu a pior forma delas, o desconstrutivismo, uma criação da Escola de Frankfurt que tem por objetivo oculto impedir o apreciador de se conectar com o significado da obra, fazendo-o se perder em fragmentos, gerando um formalismo estéril. Para piorar, esse fetiche acadêmico extrapolou para a crítica brasileira, que hoje se resume a bajulação dos que possuem a agenda considerada correta.

Há outra forma de interpretar, que busca resolver o mistério através do autor da obra. Cartas, entrevistas, o que importa é o que o autor quiz dizer e não uma interpretação pessoal de quem analisa. O grande problema é que muitas vezes o autor quer fazer uma coisa e faz outra. Um grande exemplo é o filme Tropa de Elite. José Padilha pretendeu fazer uma crítica à polícia, tendo o Capitão Nascimento como o grande vilão, e acabou realizando uma ode ao BOPE e transformou seu vilão em herói. Depois tratou de concertar a bobagem fazendo o politicamente correto Tropa II, que jogou o heroísmo para o Marcelo Freixo, quer dizer, o tal Fraga. Coisa de covarde que paga pedágio.

Existe um ensaio magistral de Eric Voegelin sobre a novela A Outra Volta do Parafuso, de Henry James, em que explica que a intenção do autor é secundária na interpretação de uma obra. Se o autor não está de acordo com o que a obra nos fala, azar o dele. O ensaio é uma senhora aula de interpretação, mostrando todas as camadas da novela e desnudando seus símbolos. Até que ponto James estava consciente do que estava fazendo é tema de interpretação, o importante é o que efetivamente realizou.

Um outro exemplo é do Bispo Robert Barron, um religioso católico que dialoga com a cultura popular em busca da presença de Deus em diversas manifestações artísticas como filmes e livros. Analisando a obra de Bob Dylan, por exemplo, ele diz que podemos apreciá-la como manifesto político, crítica social, mas defende que a mais consistente é a espiritual. Para Barron, a Bíblia é a melhor referência para entender Dylan, como exemplificam os dois casos a seguir.

Em Blowning in the Wind, o que temos? Um narrador fazendo as perguntas fundamentais da vida: quem sou? Para onde vou? O que nos torna o que somos? *And the answer my friend, is blowing in the wind*. Que vento é esse? Os ventos da mudança, da revolta política? Não, explica Barron. Na Bíblia o vento simboliza o Espírito Santo, a nossa condição espiritual, o sopro criador de Deus. A resposta não está na matéria ou na política. Está no espírito. Está em Deus.

Outro exemplo é Like a Rolling Stone. À primeira vista parece a estória de alguém que tinha muito e perdeu tudo, lamentando-se de sua má sorte. Mas se lembrarmos que a tradição cristã ensina que o poder, a riqueza, a fama, tendem a nos afastar de Deus, perder tudo pode ser uma benção. Podemos escutar Deus falando com o protagonista: como você se sente em perder tudo e ser realmente livre? Como uma pedra que rola.

Estará certo o Bispo? Não importa. O que importa, e nisso concordariam Voegelin e Barron, é o que a obra fala para você. Os críticos apresentam visões que podem te ajudar, mas no fim você sempre vai tirar algo de muito pessoal da arte, e por isso ela pode ser tão rica.

Infelizmente a destruição cultural foi tão grande no Brasil que existem pouquíssimos críticos com essa capacidade. As boas novidades estão surgindo longe da caquética mídia tradicional: na internet, nas redes sociais. É de lá que virá o saneamento do lixo cultural que a universidade criou e o fim da venda imbecilizante que ela nos colocou.