A policial, o morto e o papel do Estado

Talvez o fato mais significativo da última semana tenha sido a reação da policial que matou um assaltante que ameaçou um grupo de mães e crianças em frente a uma escola. O jornalismo entrou em polvorosa porque sentiu que uma narrativa entrou em jogo naquele momento. O apoio maciço da população não deixou dúvidas de que o Brasil está farto da violência e, se o estado não consegue prender e manter preso seus marginais, melhor que seja morto no ato.

Não estou dizendo que foi uma execução, longe disso. A policial agiu corretamente, de acordo com seu treinamento. Tem que ter coragem para sacar uma arma para enfrentar um bandido armado; e nem deixou cair a bolsa! Não tem como dar voz de prisão quando o marginal tem pessoas sob a mira de sua arma. Tem que abater mesmo, e ela foi perfeita.

O mais interessante são as reações. Muita gente comemorou o fato que o bandido morreu e é esse ato de aparente desumanidade que mostra o ponto que a população chegou. Se tivéssemos a certeza que o bandido seria julgado e iria passar um bom tempo na cadeia, a celebração seria menor. Mas se sabe muito bem que logo estaria solto e praticando novos crimes. Este fato simples mostra como a injustiça, e a impunidade, corrói o espírito de uma nação. Tudo isso acontece porque o estado não funciona, pois deixa de lado o que seria sua principal função para tratar com prioridade problemas que ele ajuda a criar ou piorar.

Na minha concepção, a função primordial do estado é segurança e defesa. É para isso que ele existe, e trata-se de algo que praticamente só ele pode fazer. Ninguém imagina uma polícia, um exército ou uma justiça privados. São funções eminente dos estados em todos os tempos, sejam nações ou mesmo cidades-estados. Em complemento, pode ajudar a promover o bem comum com algumas ações em outras áreas. O problema é que fomos convencidos que o Estado é o principal ator para promover o bem comum, para promover o tal desenvolvimento econômico e social.

Eleição em eleição somos convencidos que o importante é economia, saúde e educação. A violência é varrida para debaixo do tapete porque ninguém quer tratar deste tema espinhoso e de tantos fracassos.

É aí que o jornalismo faz um enorme desserviço. Dominado por ideologias parasitas, recusa-se a confrontar políticos com o problema da violência, suavizado com o nome de segurança pública, e faz o que pode para reforçar a narrativa que o importante é a economia. O resultado é aquela bizarrice de um debate presidencial em que candidatos vomitam números ante uma população hipnotizada que não tem a menor condição de analisá-los. O brasileiro se convenceu que seu bolso é mais importante que sua vida e por isso aceitou ser dominado por mais de 20 anos por partidos que têm visões simpáticas sobre a bandidagem.

Casos como o dessa policial mostra que a população está querendo acordar dessa hipnose sinistra e quer voltar a andar segura nas ruas, quer suas casas sem grades, quer a volta da vida em comunidade e não ficar trancada à noite dentro de casa. Por isso o pânico nas redações. Já pensou se o brasileiro entender que a principal função do estado é promover a segurança jurídica e pública, além da defesa? Onde iríamos parar? Como movimentar as somas astronômicas para nossas universidades, base de nossso sistema educacional de péssima qualidade? Como continuar sustentando uma cultura que só promove valores que a maioria da população condena? Como continuar jogando dinheiro fora patrocinando redes de televisão por meio de propaganda de suas estatais? Como continuar tirando nosso dinheiro para emprestar quase de graça para empresas selecionadas?

Os políticos defensores de bandidos desta vez se calaram. Sabem que, em ano de eleição, não podem confrontar diretamente a policial impunemente. Não precisam. Para isso tem a grande mídia e os Sakamotos da vida. Eles estão na linha de frente para continuar entortando o senso comum das pessoas. Mas não nos deixemos enganar, estão desesperados. Ainda possuem poder, dinheiro, mas sabem que se a verdade vier à luz, não têm a menor chance.

Se o brasileiro entender que estar vivo é mais importante que dinheiro, a esquerda será varrida da vida pública do país.

O mundo como prisão

Tenho começado os dias lendo um capítulo de Imitação de Cristo, do Thomas Kemphis. É uma dessas obras que tem que ler devagar, meditando a cada trecho e talvez por isso os capítulos sesjam pequenos, dimensionados para uma reflexão diária. O de hoje tratou da necessidade de nos guiarmos pela relação com Deus e não nos deixar levar pelas coisas do mundo, ou seja, de manter uma ordem correta de importância nas coisas que nos aflingem.

Aqui um dos principais problemas da modernidade. Como apontou Giovani Reale em seu fundamental livro O Saber dos Antigos, o predomínio da política é um dos males do mundo de hoje. Trata-se de um dos ídolos que tomaram o lugar de Deus. Quase todos caem no mesmo erro, de achar que a solução de todos os problemas da sociedade e do homem virão da política correta a ser adotada. Não se trata de ume erro só dos progressistas, mas também dos conservadores, que estão se tornando a cada dia esquerdistas de sinal trocado.

Não podemos dar tanta atenção aos problemas do mundo, pois eles são em sua maioria ilusórios e escondem os verdadeiros problemas humanos, que podem se resumir aos dois principais mandamentos: amar a Deus e ao próximo. Nenhum deles será resolvido pela política. A tragédia do mundo moderno é que a política é definida por aqueles que se dedicam 100% à política, justamente os que estão espiritualmente doentes. Quem conserva a sanidade e se dedica ao que realmente importa, é governado pelas idéias dos prisioneios do mundo e, talvez por isso, o mundo seja um permanente estado de desilusão. A atitude de sanidade é entender isso e se dedicar ao que realmente é importante, preservando o amor a Deus e ao próximo em um ambiente cada vez mais tóxico. Felizmente, é uma condição que o cristianismo sempre enfrentou e, de uma forma ou de outra, terminou por triunfar.

Como acontecerá novamente.

Suicídio, dois grandes vilões

Com certeza existem diversos fatores que influenciam na decisão de cometer suicídio, mas ultimamente tenho pensado muito em dois deles, a depressão e a frustração.

O primeiro atinge muito os mais velhos, embora também aconteça aos mais jovens. Vejo muito nos aposentados, que acostumaram-se a ter suas vidas determinadas pelo trabalho. Quando, enfim, alcançam a sonhada aposentadoria, enfrentam um certo vazio. E agora? O que fazer? Durante um tempo, tudo é festa. Viagens, acordar tarde, ficar à toa, mas pode o homem viver só disso? Alguns conseguem, é certo, mas não todos. Isso já me indica que o homem tem que ter um sentido para a vida que vá além do trabalho.

A família também é um esteio importante, mas no momento que temos mais tempo para ela parece que ela tem menos tempo para nós. Os filhos já saíram de casa, possuem suas famílias e, muitas vezes, moram distantes, até em outra cidade. Com a globalização, até outro país.

Eu não vou fingir que sei como é a depressão pois nunca sofri dela. E nem quero, tendo em vista os efeitos devastadores que tenho visto. Só sei que ela conduz, muitas vezes, ao desespero e este ao ato final.

Outro vilão que tenho visto é a frustração. Esta atinge preferencialmente aos mais novos, particularmente da nova geração. Os jovens de classe média para cima, possuem uma riqueza que era inconcebível há um século atrás e nem percebem. Muitos sentem-se pobres por se comparar aos mais ricos, uma bobagem. Melhor faria se se comparassem ao passado, à época que o mais poderosos dos reis tinha que arrancar dente sem anestesia e não tinha luz para ler à noite.

O problema é que estes jovens são frutos de uma cultura que não admite que sejam frustrados. São protegidos contra tudo, até mesmo do trabalho. Um dia esta proteção desaparece e tem que se ver por si próprios. Soma-se isso ao natural exagero da adolescência e o quadro está formado. O jovem é capaz de se suicidar porque a namorada o trocou por outro.

Esta semana uma família conhecida está vivendo o drama de um suicídio. É muito triste de acompanhar, mesmo à distância. O suicídio sempre deixa uma marca nos que ficam. É um dos atos irreversíveis que tomamos na nossa vida. Não tem retorno.

Que Deus tenha misericórdia de todos os suicidas.

Rio de Janeiro sob intervenção

A impressão que eu tenho é que passou do ponto. Houve um momento que uma intervenção federal poderia ter feito a diferença, hoje acho difícil.

A bandidagem do Rio de Janeiro cresceu sob a proteção de uma cultura implantada desde o nefasto domínio do Sr Leonel Brizola, que encontrou eco entre os intelectuais da cidade. Uma cultura de glorificação do marginal que se espalhou pela cultura brasileira pela mídia de massa.

Quando a presidente do STF diz que o problema da violência se combate com “capacidade de amar” ela mostra que está contaminada por esta cultura. Juízes, jornalistas, artistas, advogados, cientistas sociais, professores; todos acham que o bandido é vítima da sociedade. O pensamento esquerdistas dominante considera o banditismo uma espécie de justiça social, do pobre tirando do rico. No mundo de fantasia em que vivem, são pobres criaturas forçados a roubar (e matar) porque não têm outra alternativa. Para que a violência diminua, é preciso resolver o problema, segundo eles, da desigualdade social, este símbolo que culmina a insatisfação gnóstica que têm contra este mundo que vivemos.

Na realidade do Rio de Janeiro, o problema da violência não é um problema da classe média burguesa, mas das classes mais pobres. São eles que convivem diariamente com a brutalidade nas favelas, com os tiroteios, com os justiçamentos. Só na cabeça de sociólogo que a vida na favela é uma espécie de passeio idílico no território do bom selvagem.

Tem que mudar tudo. A glolificação das comunidades, a estética do funk, a demonização da polícia (que se corrompeu pelas décadas de convivência com a violência), as faculdades de ciências sociais. Enquanto toda a sociedade não colocar a vítima da violência como centro da preocupação, não acredito em solução. O povo precisa ser ensinado a se proteger e proteger o próximo. Tem que parar com essa palhaçada de não reagir. Tem que ampliar os limites da legítima defesa. Invadiu uma casa? Pode mandar fogo. Ah, o Rio de Janeiro vai virar uma guerra? Pois deixa eu te contar uma coisa senhor intelectual, já é! Só que uma guerra em que a população está morrendo como patos, sem possibilidade de legítima defesa, um dos direitos mais básicos de uma pessoa!

Décadas de esquerdismo só poderia dar nisso. Para resolver o problema da violência, primeiro precisa recuperar o bom senso, que é o mesmo que reverter o pensamento de esquerda. Precisamos de uma revolução cultural, coisa que leva pelo menos uma geração.

Enquanto isso temos que pelo menos segurar a escalada da violência. Fora isso, acredito que pouca coisa se possa fazer.

Dois exemplos da canalhice da imprensa

Quando dizemos que as redações estão tomadas por intelectuais orgânicos, no sentido gramsciano da coisa, dizem que é exagero. Não se trata de uma simples preferência pela esquerda, mas militância mesmo. A maioria dos jornalistas estão empenhados em usar os veículos de comunicação para nos educar, nos mostrar seus valores superiores. No fundo, são egocentricos e vaidosos, a pior combinação de canalhice possível.

A coisa é tamanha que não há a menor dificuldade em conseguir exemplos. Separei dois.

O primeiro sobre a deputada Cristiane Brasil, de que não tenho a menor simpatia. Só o vídeo que ela gravou na lancha seria motivo suficiente para mostrar que não tem condições de ser ministra (como se o cargo exigisse o mínimo de padrão moral e de comportamento, mas vamos fingir que sim). No padrão de ministros que temos desde a nova república, convenhamos, ela não destoa. Muito pior foi colocar Jaques Wagner e Waldir Pires como ministros da defesa, por exemplo. Ou o Palocci como ministro da fazenda. Ou o Carlos Minc em qualquer coiasa, este que já tem até nome de ministério.

Pois bem, o jornalismo da globo está empenhado, como questão de honra, em desqualificar a filha do Roberto Jefferson (nunca o perdoarão por ter exposto o mito). Qual a notícia? Que ela teria ameaçado de demissão servidores se não fosse reeleita vereadora. É mesmo? Os servidores em questão são colaboradores em cargos de confiança de seu gabinete. Gostaria que os jornalistas explicassem por que motivos um outro vereador manteria uma equipe de confiança de Cristiane Brasil se eleito para o lugar dela. Quando troca um político de cargo, o normal é que se troque toda equipe em cargo de confiança. Aqui e em qualquer lugar do mundo. Cristiane Brasil só fez ressaltar o óbvio: se ela não fosse reeleita, perderiam os cargos.

Outro exemplo é o detento que passou em primeiro lugar no vestibular da UFPA. Medicina? Engenharia? Não, cinema. O que a reportagem não mostra, novamente o G1, é que o detento está cumprindo pena por pedofilia. Mais precisamente por gravar filme pornográfico com menores e vender pela internet. Que este porcaria tenha passado justamente em cinema é, rigorosamente, a única notícia que teria aqui, pela ironia. Só que os jornalistas estão militando na causa do criminoso como uma vítima da sociedade que só precisa de uma chance para ser uma boa pessoa. Bando de charlatões.

Antigamente este povo passaria em branco com estas barbaridades. Em tempos de internet estão expostos a serem ridicularizado e é bom que seja assim. As vendas dos jornais estão despencando no mundo inteiro, e parte se deve à perda de credibilidade por porcarias como estas. Não por acaso querem censurar a internet. Estão sendo cada vez mais expostos na rede, e de imediato. Esta geração tem que passar, e rápido.

Lista de Leitura sobre a Grande Guerra

Aproveitando o centenário do fim da Grande Guerra, resolvi pedir sugestões de leitura aos amigos, historiadores ou não, e cheguei na seguinte lista:

Não Ficção

A Primeira Guerra Mundial, Lawrence Sondhaus
The war that ended peace, Margaret McMillan
Canhões de Agosto, Barbara Tuchman
Pitty of War, Niall Ferguson
A Peace to end all peace, David Fromkin
História Ilustrada da I Guerra Mundial, John Keegan
1919, Margaret McMillan
Os Sonâmbulos, Christopher Clark
A Torre do Orgulho, Barbara Tuchman
Catástrofe. 1914: A Europa vai à guerra, Max Hastings
Ludendorff, D J Goodspeed
The First World War, Hew Strachan
Cataclysm: The First World War as political tragedy, David Stevenson
The Beauty and the Sorrow, Peter Englund
Goodbye to All That, Robert Graves
Rites of Spring, Modris Eksteins
No Man’s Land, Eric Leed
The Embattled Self, Michael Howard
The First World War: a very short introduction (oxford)
Fighting the Great War, Neiberg
Dismembering the Male, Joanna Bourke
Race and War in France, Richard Forgaty
Sites of Memory, Sites of Mourning, Jay Winter

Ficção

Uma Fábula, Faulkner
Regenaration Trilogy, Pat Barker
Nada de Novo no Front, Erick Maria Remarche
O Homem sem Qualidades, Robert Musil
Os Últimos Dias da Humanidade, Karl Kraus

Grande Guerra

Embora o senso comum afirme que a II Guerra Mundial foi o principal evento do século XX, há quem diga que na verdade foi uma consequência da I Guerra Mundial, ou simplesmente Grande Guerra. Inclusive há os que consideram que seja uma única guerra, com um período de paz no meio.

Aproveitando que este ano se celebra o fim deste conflito, resolvi dedicar algum tempo para estudá-lo. Pedi conselhos para amigos e montei uma lista de leitura. E resolvi colocar em prática algo que aprendi com o professor Olavo de Carvalho (sim, ele): sempre comece pela ficção.

Como já li recentemente Uma Fábula, do Faulkner, resolvi reler Nada de Novo no Front (que lembro pouca coisa por ter lido-o há mais de 30 anos) e Os Últimos Dias da Humanidade, do Karl Kraus (infelizmente sem tradução para o português).

Falta escolher alguns filmes para completar o imaginário antes de atacar os livros de história e biografias.

 

O melhor canal do Youtube

Meu canal favorito do Youtube é o Bunker do Dio, uma inspiração para muito do que eu faço na internet. Lá, o assunto principal é a cultura, a principal dimensão da vida humana. O Dio fala tanto da alta cultura quanto da cultura popular, particularmente da ligação entre as duas. Façam um favor a si mesmos e sigam. Toda quarta feira tem um vídeo novo, sempre muito bem produzido.

Ah, não deixem de contribuir para o canal pelo apoia-se. Custa dinheiro fazer um trabalho desses, acreditem. Gastamos tanto com bobagem que não custa tanto mostrar o quanto apreciamos um trabalho deste nível e incentivar que iniciativas como a do Dio se espalhem pela net.

https://www.youtube.com/channel/UCtIjkxaomS0hqKEzO4PAfTA

Guga Chacra e a Polônia: a raiz do problema.

 

Esta semana o mundo twitter caiu em cima da cabeça do comentarista político da Globo News, Guga Chacra. Acho um reducionismo tratá-lo no mesmo nível de um simples agente ideológico de esquerda. Acho-o sim capaz de mudar de opinião e, em princípio, vejo nele um espírito investigativo, tentando entender a realidade.

O problema é que ainda tentamos entender a coisa no corte direita x esquerda. A coisa é mais sutil. Pessoas como Guga Chacra e Caio Blinder pertencem a outro corte, o que coloca de um lado globalistas (não confundir com globalização) e anti-globalistas, ou seja, nacionalistas. Só assim começaremos a entender o pensamento de Chacra e Blinder sobre a Polônia.

Para os globalistas, o nacionalismo é algo a ser ultrapassado. Foi graças a ele que tivemos as grandes guerras do século passado e que os conflitos ainda existam. Não vou me estender aqui, mas chama atenção que eles pouco tratam do problema da guerra civil. Se todos fôssemos uma grande nação, como sonham, o que nos impediria de ter uma grande guerra civil? O fato é que na cabeça deles, todo nacionalismo é pernicioso. Não por acaso consideram que nacionalismo e fascismo é a mesma coisa, isso sim um erro de compreensão política monstruosa.

Para ser honesto, Guga Chacra não chegou sozinho na conclusão que tinha uma manifestação nazista na Polônia. Ele simplesmente repetiu o que está sendo propagandeado pelos jornais globalistas da Europa, como o Guardian. O pecado da Polônia é ser, hoje, o país mais nacionalista da Europa. Pouco importa que o país tenha verdadeiro horror a qualquer tipo de totalitarismo, não se pode é retomar o nacionalismo na Europa depois de tudo que foi feito para se implantar a União Européia.

Guga Chacra viu o release do Guardian e não teve dúvidas, até porque a grande fonte de nosso jornalismo internacional são os jornais internacionais, e compartilhou o link do jornal, sobrescrevendo sua manchete. Sua irresponsabilidade foi de não questionar o Guardian, não ter uma leitura mais crítica do que aconteceu. E porque não o fez? Porque compartilha da mesma opinião básica do jornal e da maioria dos jornalistas. Globalismo é bom; nacionalismo é ruim. O globalismo é a nova promessa de resposta de todos os problemas do mundo.

A coisa é mais sutil, e perigosa, que uma distorção de um fato. O problema está na lente que o jornalista enxerga tudo que acontece no mundo. Eu não sou nenhum fã do nacionalismo, mas comparado com o globalismo prefiro-o mil vezes. A idéia de um governo mundial é o caminho mais seguro para um totalitarismo mundial. Quem poderia nos salvar de um regime despótico de alcance global? Marcianos?

Guga Chacra não vai pedir desculpas. Ele não acha que disse nada errado. Se os poloneses estavam marchando pela Polônia, só podia ser uma manifestação nazista. Para ele, e outros como Caio Blinder, que partiu em seu socorro aumentando a bobagem colocando a Hungria no saco, o verdadeiro problema é a virulência das redes sociais. Onde vamos chegar se um jornalista não pode nem falar bobagem sem ser contraditado publicamente?

As redes sociais e a radicalização

Os algoritmos utilizados nas redes sociais estão contribuindo para radicalização das pessoas. Cada vez mais estamos sendo separados em bolhas de ressonância, em que os conteúdos disponíveis na rede são separados baseados nas nossas preferências e gostos. O resultado é que falamos cada vez mais com aquelas pessoas que pensam da mesma forma que nós e o contraditório se torna cada vez mais raro. Na prática, esses algoritmos estão impedindo que as pessoas que possuem visões de mundo diferentes uma das outras possam interagir e buscar se entenderem. O resultado só pode ser a radicalização do discurso pois as pessoas tornam-se cada vez mais convictas de que estão do lado certo, que conhecem a verdade.

É fácil perceber isso. Uma segmentação que as redes sociais não vão conseguir fazer é da família, cuja ligação não se dá por afinidade de pensamento e sim por laços sanguíneos. Dessa forma, interagimos com os nossos parentes independente de nossas concordâncias e visões pessoais. Tenho reparado muitos amigos comentando um fenômeno semelhante de discussão política com seus familiares. Eles não conseguem compreender como aquele irmão, primo ou tio consegue estar tão errado em algo que parece ser tão claro. Será que ele não está lendo, não está vendo o que está acontecendo? Está tudo tão óbvio!

Essa é a grande questão da bolha de ressonância. Nossos parentes não estão tendo acesso às mesmas informações e as mesmas opiniões que nós estamos. Essa é uma obra dos algoritmos das redes sociais e da própria internet, que quer nos disponibilizar conteúdo que gostamos, aquilo que curtimos, aquilo que mostramos ser o mais interessante para nós. Aquele parente que pensa radicalmente diferente de você está numa bolha diferente da sua. Vocês não seguem o mesmo jornalista, o mesmo pensador, mesmo influenciador, os mesmos jornais, as mesmas matérias, os mesmos artigos, os mesmos ensaios. O mundo de vocês é cada vez mais diferente e desconectados.

Portanto, as redes sociais, através seus algoritmos, estão contribuindo para nos afastar cada vez mais e tornar nossas posições mais radicais. Esse radicalismo é em grande parte fruto da percepção de que a nossa verdade está tão clara, tão óbvia, que não é possível que a outra pessoa não pense igual a gente. Isso se dá justamente pela nossa incapacidade de ver o outro lado, até porque estamos cada vez mais isolados, sem ter oportunidade de entender a visão de mundo daqueles que não concordo com a gente. É com os parentes, ou colegas de trabalho, aqueles que convivemos por uma força maior do que afinidade, que esses mundos acabam se colidindo. O resultado é o radicalismo, a incompreensão, e até a agressão. Não sei bem qual é a saída para tudo isso, visto que não há menor sinal que os algoritmos mudarão, tendo em vista que o grande produto das redes sociais e da internet é justamente a segmentação de seus usuários para permitir a comercialização de produtos e serviços. Vivemos a era da fragmentação e essa era se reflete nas redes sociais através da segmentação do público pelo que temos em comum. O grande problema é a segmentação em torno de ideias, o que sempre foi, e sempre será, uma grande fonte de radicalismo.