O país do analfabetismo funcional

Somos o país dos analfabetos funcionais. Mesmo entre os que tem curso superior, uns 30% não conseguem interpretar corretamente um texto. Não tem dado mais significativo sobre o Brasil do que este.

No entanto, agimos como se isso não fosse verdade. Fazemos jornalismo, eleições, rede sociais, revistas, tudo como se o brasileiro fosse capaz de ler, e na maioria não sabe!

Ninguém toca neste problema. Só o que falam é de mais dinheiro. Investimento.

E o jornalismo? Acham que escrevem para o povo comum, como se este lesse artigo de jornal!

As redes sociais reúnem gente de nível social melhor do a média da população. No entanto, vemos doutores com livro publicado que não conseguem interpretar uma frase de 144 caracteres, que são incapazes de entender uma ironia.

Mas segue o teatro. Debates, artigos, análises. Tudo como se soubéssemos ler. É uma piada.

 

Notas de Sexta: Aretha Franklin, Rush, Machado de Assis e Lilla

Olá pessoal!
Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

Uma perda — Aretha Franklin. Ela não foi grande, foi gigante! Agradeço muito ao filme The Commitments por ter me introduzido no soul. Ela e Otis Redding são meus favoritos.

Discografia que estou revisitando — Rush. Tudo porque postei uma foto minha no facebook, em que estava com uma camisa como o logotipo deles, e alguém fez um comentário sobre a banda. Fazia tempo que eu não os escutava e resolvi aproveitar o spotify para rever a discografia. Confesso que estou há alguns dias travado no Caress of Steel, um disco que eu pouco tinha escutado. Os dois mini épicos do final tem passagens belíssimas.

Uma crônica — Conhecida como A Menina, a crônica que Nelson Rodrigues narra o nascimento de sua filha Daniela. Simplesmente sensacional. Até eu sonhei com os quatro violinistas cegos.

Um livro que comecei
A Mente Naufragada, do Mark Lilla.

Citação que estou meditando

“Uma das grandes tragédias da modernidade foi a depreciação da aventura como gênero literário”
Autor que prefere ficar anônimo

E aí, o que acharam? Deixem uma opinião nos comentários. Gostaria muito de saber algo interessante que anda fazendo. Aproveite este espaço!

Não aprenderam

Vejo os analistas políticos, profissionais e amadores, usando as mesmas prisões mentais que estão presos há anos. As mesmas que os tem levado a errar quase tudo nos últimos 2 ou 3 anos. Poderiam fazer uma pausa, pensar, buscar entender o que deu errado. Podiam ler Taleb, os vídeos e livro do Scott Adams, ler Mark Lyla, mas para que?

Continuam com as mesmas heurísticas de eleições passadas. Tempo de televisão, aliança, candidato de centro, populismo, rede social não ganha eleição (então por que facebook, twitter, youtube para instituir censura?), posição conciliadora de candidato, quarto poder, etc. Nada de pele em jogo, persuasão, mente naufragada, identificação vence analogia e por aí vai.

Depois tomam uma lapada e não sabem de onde veio.

A policial Juliane não tem pedigree

Toda vida é sagrada. Por isso não costumo usar os adjetivos da vítima para afetar indignação, como fazem os humanistas de sempre. Esta semana tivemos um triste exemplo de uma soma de coisas tortas.

Uma policial, negra e homossexual, foi torturada e morta. Cito a condição de mulher, cor de pele e orientação sexual para evidenciar um ponto, pois para mim ela importa tanto quanto qualquer outra pessoa, e não digo isso para desvalorizá-la, muito pelo contrária. Juliana era uma pessoa, e isso basta para que tenha toda minha solidariedade e que seu assassinato me machuque.

Ontem, A Folha de São Paulo divulgou talvez a matéria mais canalha que já vi na minha vida. Em seu último dia de vida, Juliane teria ido para uma boate, bebido e beijado. Sim, sugeriram que era um promíscua, alcoólatra e tudo mais. Para que isso? Mesmo que fosse, qual o sentido de fazer este retrato de um pessoa que acabou de ser brutalmente assassinada? Vejam a forma como a mesma Folha retratou Marielle e como tratam agora a policial? Como não dizer que o jornalismo está no fundo do poço?

Mas não é só isso. Eu disse que não faço distinção dos adjetivos de uma pessoa assassinada, mas tem muita gente que faz. Tem muita gente que disse que Marielle só foi morta porque, bem, era negra, mulher e gay. Os mesmíssimos predicados de Juliane. Diante da matéria escrota da Folha – que esta na cruzada da censura em nome de fakenews – fez o que? Silêncio absoluto. Nem um pio. Nem uma entidade de direitos humanos ou de direitos das mulheres se pronunciou em defesa dela. Imaginem se a mesma matéria fosse em relação à Marielle?

E vocês querem que eu respeite esta gente? Eles não são defensores de direitos humanos, são defensores de direitos humanos para esquerdistas. Eles não são defensores das mulheres. São defensores das mulheres de esquerda. Lembram da quando um professor de filosofia disse que a Rachel Scheherazade merecia ser estuprada? Também nada disseram. Mas correram para socorrer o Luis Inácio quando apareceu falando de mulher do grelo duro em tom nitidamente pejorativo. Esses grupos, partidos políticos e pessoas que dizem defender minorias possuem uma agenda nitidamente ideológica e nessas horas, quando a pessoa que não tem o pedigree correto precisa de defesa, silenciam-se não só covardemente, mas de forma imoral.

Folha de São Paulo e esta turma merecem nosso desprezo. Possuem ódio demais no coração para fazerem algo de positivo para a sociedade. Temos que começar a diferenciar discurso de atitude e julgá-los pelo que efetivamente fazem.

As Envoltórias do Homem: Corção, um monstro!

Ainda estou terminando o capítulo único que Gustavo Corção inseriu entre a parte que trata da Idade Antiga e da Idade Média em Dois Amores, Duas Cidades. O que ele coloca nestas páginas é absurdo em profundidade e clareza.

Ele trata essencialmente da relação do homem com o meio, assumindo a posição de que o homem cria o meio e é influenciado por ele, negando o determinismo social. Trata também da psicologia de Freud, e em como ela deixou de ver a envoltória espiritual da vida humana, negando que além do apetite pelos prazeres, o homem tem um forte impulso de ver realizar as suas idéias, uma dimensão da mentalidade humana.

Trata também dos mecanismos que usamos para obter certezas, seja pela observação direta (visão) ou pelos testemunhos (audição). E trata também das certezas errôneas. Basicamente temos nosso interior como fonte de confrontação com as idéias. Se este interior está desarrumado, só aceitaremos idéias que estejam em acordo com este interior. Aceitar algo diferente seria ser forçado a mudar interiormente, a metanóia dos gregos ou mudança por amor dos cristãos. Muitas pessoas estão tão desarrumadas interiormente que não querem confrontar seu interior. O que fazem? Buscam grupos externos de referência, em um processo aglutinador através de slogans ou palavras de ordem. E eu pergunto, não é o que vemos hoje?

Ainda estou na primeira leitura, mas terei que estudar profundamente este capítulo. Corção era um gênio e este livro TEM que ser re-editado. Urgente!

Yuval Harari: algumas considerações

Ontem escutei um podcast do Martim Vasquez da Cunha e Rodrigo Constantino sobre Yuval Harari. Quem me apresentou o historiador israelense foi minha orientadora de mestrado, uma fã. Li Sapiens e depois assisti sua entrevista no Ted Talks. O programa foi interessante pois me permitiu uma visão das idéias principais de Yuval. Na época, fiz uma nota no Evernote sobre o que entendi serem estas idéias e minha reflexão inicial sobre elas.

Resgatei a nota do evernote e divido com vocês:

Entrevista no Ted Talks: 2016

Idéias:
1. Nos acostumamos com a idéia que a felicidade seria garantida com a globalização econômica e a liberalização política. Esse modelo é uma mentira pois não pode coexistir as duas coisas.
2. A política tem que se tornar global para se tornar compatível com a globalização econômica. Não há como retornar a economia para o nível nacional-local.
3. Os problemas atuais são globais.
4.Os dois grandes problemas da humanidade hoje são:
–  mudanças climáticas
– ruptura tecnológica
5. A tecnologia é a grande ameaça ao emprego e não a competição entre os países
6. Não existe uma narrativa cósmica para a existência do homem. O grande objetivo da humanidade deve ser vencer o sofrimento.
7. Toda identidade é falsa pois é baseada numa ficção (mito, religião ou ideologia)
8. É necessário um governo global para lidar com essas ameaças.
9. Esse governo não se parecerá com uma democracia dinamarquesa. O provável é que se pareça mais com o antigo império chinês, onde uma governança forte terá que impor a solução dos problemas globais. É um preço que se deve pagar pois a alternativa causará mais sofrimento.
10. A grande divisão da política atual, portanto, é entre globalismo e nacionalismo. Conceitos de direita e esquerda estão ultrapassados.
11. Vivemos a melhor época da história.
12. Abandonar as narrativas míticas é sinal de progresso.
13. Não há uma visão clara de como deve ser a governança global, mas ela é necessária.

Meus comentários
1. Yuval ignora o aumento do poder centralizado no último século. Parece que os governos se tornaram mais democráticos e liberais e o fracasso atual se deu pelo enfraquecimento dos governos e não por sua excessiva intervenção.
2. Será mesmo que a globalização econômica não pode conviver com o local? Por que é preciso um nível superior aos estados para regular a economia? Não se pode retomar as negociação bilaterais?
3. Não estou convencido que os problemas principais são globais.
4. Não estou convencido do problema das mudanças climáticas. Em Sapiens, Yuval argumenta que toda mudança climática e ecológica, mesmo na pré-história, foi causada pelo homem.
5. Não estou tão seguro que a tecnologia permitirá ao homem criar vida (e se tornar Deus)
6. Estamos chegando ao ponto que não será mais possível a substituição de emprego? Até agora sempre foi possível abrir novos caminhos. Mas o ponto é válido e a dúvida é real.
7. Sobre o objetivo do homem ser vencer o sofrimento, isso remete a palestra do Peter Kreeft sobre o sentido do sofrimento. Não é possível retirar o sofrimento deste mundo.
8. Mitos, religião e a própria ideologia possuem mais de verdade do que mentira. Acho que Voegelin está correto neste ponto de considerar estas narrativas como símbolos compactos da transcendência.
9. Não é possível concordar com Yuval e ao mesmo tempo crer na transcendência. Seu mundo é material e não há nada mais. Ele propões o fim da religião.
10. Ele não sabe direito como será o governo global, mas defende que é necessário. Isso me parece perigoso.
11. Algumas soluções podem ser necessárias ao nível global, mas é preciso um governo para impor-las? A que preço?
12. Para quem acredita no materialismo, não há dúvida que vivemos na melhor época da história. Viva o progresso!
13. Abandonar as narrativas é abandonar a verdade. Corresponde a rebaixar o homem ontologicamente, se isso for possível. Pois me parece que Yuval propõe, novamente, disfarçada, uma religião da humanidade.
14. Dificilmente eu encontraria um pensador que tivesse uma oposição tão diferente da minha quanto Yuval. Acho que concordo mais com Marx do que ele.

Destaques da semana

Alguns destaques da minha semana:

O Senhor dos Anéis

Terminei a releitura. Peter Kreeft disse uma vez que se livros pudessem ser santificados, canonizaria O Senhor dos Anéis. Não que um livro seja uma apologia cristã; em verdade trata-se de uma mitologia pré-cristã. Mas da mesma forma que o Antigo Testamento prefigurava o Cristo que viria, o livro de Tolkien faz o mesmo, especialmente com os personagens de Frodo (sacerdote-sacrifício), Aragorn (rei que retorna) e Gandalf (mago profeta). Mas nada disso funcionaria se não fosse realmente uma obra de arte, um grande épico de coragem, sacrifício, honra e luta implacável contra o mal.

A Matter of Life and Death

Curtindo esse disco do Iron Maiden em vinyl. Esse é um daqueles que gostei desde o início, em seu lançamento, mas ainda não tinha prestado atenção nas letras. É quase um disco conceitual, tendo guerra e religião como seus temas.

Scott Adams

Comecei a assistir mais atentamente os periscopes de Scott Adams, o criador de Dilbert e talvez a pessoa que melhor esteja entendendo não só o fenômeno Trump como a própria realidade que estamos vivendo. Quem acha que Trump é um grande idiota e Scott um conservador fã do laranja, está completamente enganado. Scott é ultra liberal, mas como estudioso da arte de persuasão, ficou fascinado com o domínio de Trump sobre o tema. Ele propõe que o grande filtro que tem que ser usado para entender Trump é a persuasão. Comecei a ler seu livro, Win Bigly, onde ele trata deste assunto.

The Good Place

Terminei de rever a primeira temporada da série. Ficou ainda melhor, apesar de não ter o prazer das reviravoltas. Alguns comentam que tinham adivinhado e só me pergunto: por que? Por que eu perderia o prazer de ser surpreendido?