Notas de sexta: Falstaff, Presto, Camões e o Brasil no divã

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Falstaff e seu pagem (Shcrodler)

 

Um disco

Esta semana escutei bem Presto (1989), 13º disco do Rush. Depois de quase uma década fazendo pop anos 80, com a melhor qualidade, a banda toma novo direcionamento a partir do Preto, com uma pegada mais para o hard rock. A guitarra do Alex Liefson ganha peso e os teclados vão perdendo lugar.

Uma peça que li

Henrique IV, Parte 2. Impressionante o que Shakespeare faz aqui. Um príncipe irresponsável, que vive em más companhias, cometendo até pequenos crimes, resolve assumir sua responsabilidade como herdeiro e novo rei. A transição da influência de Falstaff (o caos) para o Lorde Juiz (a ordem), da juventude para a vida adulta. Falstaff é sem dúvida uma das grandes criações do bardo.

Youtube

Ontem assisti uma série de três vídeos do Professor Rodrigo Gurgel sobre leitura e declamação de poesias. O roteiro de interpretação que ele apresenta no vídeo 2 é o diamante da série.

Um livro que estou lendo

Por que o Brasil é um país Atrasado?, do Luiz Philippe de Orleáns e Bragança. Recomendo a todos. Uma aula sobre instituições e estrutura de poder no Brasil. E a constatação do tamanho do nosso desafio.

Versos

“Eu vi que todos os danos

Se causavam das mudanças,

E as mudanças dos anos;”

Camões, Redondilhas de Babel e Sião

O Titanic

O Titanic fez sua viagem inaugural sob festa. Era uma das grandes realizações humanas, o maior transatlântico já construído; a prova que o homem estava superando a natureza por força da razão e do seu engenho. Parecia indestrutível em sua forma colossal.

Uma das cenas que não esqueço do filme do Cameron foi após a colisão com o iceberg. A maioria das pessoas não sentiram. O navio prosseguia normalmente em aparente normalidade. O engenheiro chefe avaliou o estrago e constatou: o navio vai afundar.

O capitão e dono do navio ficaram pasmos. Como iria afundar? Estava navegando normalmente, o choque nem tinha sido tão forte!

Este Titanic é um símbolo perfeito para muitas coisas construídas pelo homem que parecem indestrutíveis. No fundo, a política da fé, como dizia Oakeshott, a crença que o homem e a sociedade podem se tornar perfeitas pela ação política. É uma crença que une socialistas, globalistas, progressistas, politicamente corretos, todos reunidos em um projeto de sociedade controlada pelo estado, que por sua vez é submisso a forças globais. O estado do bem estar social.

Pois este Titanic atingiu o iceberg. Parece que o projeto continua forte e indestrutível, e o baile continua, com muitas festa e champagne. Mas as comportas estão enchendo e logo o afundamento se tornará visível, e ganhará velocidade.

As forças da apostasia perderam. Em toda mitologia sempre houve uma constante: o homem não pode derrotar os deuses.

A ilusão da política da fé já gerou mal demais. Deus resolveu dar um basta.

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Notas de sexta: Lana, Corção, Footloose e dicas de leitura

Um single

Novo lançamento da Lana Del Rey, o single Mariners Apartment Complex. Como disse o Dionisius Amendola no twitter: melhor que todo o último disco dela.

Um livro que terminei

Volume I de Dois Amores, Duas Cidades. Cada vez mais convencido que um empreendimento fundamental para restauração da cultura no país é o resgate da obra completa de Gustavo Corção. Que o patrono de nossa educação seja Paulo Freire e não Corção já explica bem porque estamos nessa várzea toda. Neste primeiro volume, Corção trata da antiguidade e a da Idade Cristã, também chamada de Idade Média. Seu enfoque é a filosofia e cultura de cada época, associando pensamento com realizações. Coisa fina.

Um Filme

Esta semana revi um dos melhores filmes dos anos 80, Footloose. Um filme que poderia ser um conjunto de estereótipos, mas foi extremamente feliz em suas nuances e tom certo para contar a estória. Meu review aqui.

Dicas de leitura

Comecei uma série de dicas de leitura na minha página no facebook (@Paideia). Aos poucos vou replicando aqui no blog.

Um trecho de música

“Tough times demand tough talk

Demand tough hearts demand tough songs”

(Rush, Force Ten)

Violência se combate com educação?

Quando se fala de violência, a esquerda sempre fala que a solução é educação. Trata-se de uma palavra de ordem, que usam para evitar ter que encarar a parte difícil da questão. Afinal, quem seria contra a educação como solução para alguma coisa?

Bem, a Alemanha da década de 30 era muito bem educada, mais do que todos os outros países europeus e no entanto abraçaram com gosto a violência como arma política.

Mas nem vou entrar nesse mérito. Não vou tratar que educar é um verbo transitivo direto. Que mais importante que educar é saber o que será ensinado.

Até acredito que a educação, em sentido geral, e não apenas de escola, seja um bom instrumento para EVITAR a criminalidade. Embora ache que muito mais que a educação, a família é o principal instrumento para evitar que um sujeito se torne criminoso.

Mas defender família não é exatamente o negócio da esquerda.

Seja como for, existem vários fatores que acredito serem importantes como prevenção ao crime: educação, emprego, família. Nenhum é infalível, afinal até na Noruega tem criminosos. Mas tudo isso é importante para prevenir. Depois que a doença se instala, não adiantam as famílias.

Contra criminosos armados, que não ligam para a vida humana, capazes de tudo por tão pouco, não adianta a aula de capoeira. Contra a violência, apenas a violência da força armada do estado, que detém o monopólio do uso coletivo da força.

Responder, em debate eleitoral, que a solução para 70 mil assassinatos por ano é educação é enganar a população. Soluções preventivas podem evitar que se formem criminosos, mas pouco podem fazer com os atuais.

Para estes, só prisão e condenação resolvem.

A importância da releitura

Acho que foi numa crônica do Millor que li que a verdadeira arte da leitura é a releitura. O difícil é resistir a atração de um livro novo por algum que já leu, mas aos poucos vou melhorando.

Dos 60 livros que li este ano, 15 foram releituras. Há livros como Orgulho e Preconceito que já li umas 5. Atualmente estou relendo, creio que pela terceira vez, O Homem do Terno Marrom, da Agatha Christie. Reli, este ano, O Senhor dos Anéis, Confissões do Santo Agostinho (primeira parte), Hamlet, Otelo entre outros.

Acho que você só conhece realmente um livro quando o lê novamente. A primeira é uma apresentação; depois vem o namoro.

Quero chegar no ponto de passar metade do meu tempo de leitura relendo. Talvez já para o ano que vem.

Possivelmente haverá um dia que praticamente só vou reler.

A releitura é o verdadeiro teste se um livro vale a pena. E seu ato de amor para ele.

Notas sobre a tragédia do Museu Nacional

Uma tragédia como a que aconteceu no Museu Nacional não acontece por um único fator; o que não quer dizer que não se possam responsabilizar os culpados. Nas notas abaixo, aponto alguma causas, remotas ou imediatas, sem ordem de importância.

  1. Alguns dizem para não politicar o que aconteceu, que é o mesmo que deixar de responsabilizar os culpados. A administração do Museu estava e está nas mãos de políticos. Devem sim ser responsabilizados.
  2. Também não adianta ir longe do problema. O dinheiro para manter as instalações do museu existia e estava nas mãos da UFRJ, cujo reitor atual é funcionário do PSOL, com vários companheiros de extrema esquerda nas diretorias. Ao que parece a preocupação desta turma era a agenda progressista e não preservação de patrimônio histórico.
  3. Todo mundo lembrando do Ministério da Cultura, mas desta vez o dono do problema era o Ministério da Educação. Mesmo assim, o Ministro não pode muito pois as universidades tem, por lei, a tal autonomia para definir suas prioridades e gastar seus recursos como achar melhor.
  4. Daí vem grande parte da responsabilidade do reitor _ este mesmo que culpou os bombeiros. Se ele tem autonomia para escolher, tem que ser responsabilizado por suas escolhas. Nenhum gestor tem dinheiro para fazer tudo que quer ou precisa; sempre é preciso priorizar. Quais foram as prioridades do militante do PSOL? É desta análise que deve ser responsabilizado.
  5. Falam do teto de Temer. Besteira. Essa conversa vem da falsa idéia de economistas de esquerda, e que caiu como doce nos ouvidos dos políticos, que todo gasto público pelo governo é bom para a economia e para a sociedade. As esquerda acha que dinheiro público não tem fim, que a simples análise do gasto, sem comparar com receitas e outras alternativas, é justificativa suficiente. O bom senso ensina que primeiro, deve-se perguntar se tem o dinheiro; depois, se determinado gasto é o melhor para este dinheiro comparando com as outras alternativas. A manutenção do museu custava praticamente o mesmo que a produção de um livro de fotos do Chico Buarque. Não tendo dinheiro para os dois, em que empregar? Está é a pergunta de ouro que deve julgar os gestores.
  6. Canecão. Este é o símbolo da competência da UFRJ na administração de um patrimônio. Décadas brigando na justiça pelo direito de transformar uma casa de shows em ruína.
  7. Sobra hipocrisia na hora de falar do descaso com a cultura. Eu mesmo nunca visitei o museu, mesmo tendo morado anos na cidade. Não vou tentar uma justificativa; é uma vergonha de minha parte. Talvez por isso eu tenha um pouco mais de cuidado ao apontar o dedo para os outros. O descaso existe, mas poucos podem ter consciência limpa nesse ponto. Especialmente os jornalistas, todos cheio de dedos apontando culpados.
  8. A esquerda quer sempre aparecer como defensora da cultura, mas temos que lembrar que nossa esquerda é gramsciana, mesmo que poucos deles saibam. Eles acham que a cultura é um instrumento de poder. Uma exposição do queer museu é muito mais importante como instrumento que um museu de história natural. Nesse aspecto, o reitor seguiu a doutrina que seu partido segue.
  9. Colocamos milhares de cargos da administração pública nas mãos de políticos. Ainda não caiu a ficha na maioria do tamanho desta tragédia. Mesmo que fossem todos honestos, o que estão longe de ser, seria uma desgraça pelo completo despreparo para a função. Políticos são para cargos políticos, ou seja, para cargos de decisão no nível político. Ministro da Saúde pode ser político; diretor de Hospital, não. Ministro da Educação pode ser político. Reitor de universidade, de jeito nenhum.
  10. A tragédia é simbólica por diversas perspectivas. Podemos chamar o museu nacional cultura brasileira e o incêndio de Antonio Gramsci. É bem fiel ao que aconteceu no Brasil desde os anos 60.

As chamas do museu nacional

É triste demais. E simbólico. Nosso museu imperial, criado por D João VI, um dos três maiores estadistas brasileiros (os outros dois foram os imperadores), não existe mais. Muita gente está tacando pedra no país, mas nesse momento não tenho ânimo para isso.

Estou chocado. As obras, o prédio, tudo se foi. Uma memória que não voltará mais. Duzentos anos de história se acabaram em uma noite. Ardendo nas chamas. Muito triste.

E uma vergonha. Para o país? Não, para mim. Morei diversas vezes no Rio e nunca o visitei. Sempre deixei para amanhã. Para a próxima oportunidade. Pois não haverá mais. Estou envergonhado. Falo tanto de cultura e nunca coloquei meus pés neste Museu.

Sobre as responsabilidades, já sei que não dará em nada. Como nunca dá. Ninguém será responsabilizado. O jornalismo vai falar uns 3 dias, vai fazer textos e textos, todos indignados. Mas daqui a pouco voltamos à mediocridade de sempre.

Mas sem o museu. Este não existe mais.

Um dia triste para o Brasil.

Colégio Militar: desfazendo mitos

Já que o assunto é Colégio Militar, alguns pontos que gostaria de ressaltar:

1. O Colégio Militar do Exército é diferente dos Colégios Militarizados e de Colégios Militares de Forças auxiliares (Bombeiros e Polícia). A recente matéria do Estadão criticando os custos dos CM trata do modelo adotado no Exército.

2. O pessoal está aceitando o cálculo do custo do aluno do Estadão sem discutir. Esse negócio de calcular custo de aluno e comparar é complicadíssimo. Pode até estar certo, mas a experiência recente mostra que ninguém é menos confiável hoje que o jornalismo tradicional, especialmente quando querem provar uma tese. A matéria do Estadão não diz como foi calculado este custo, simplesmente o joga como dado da realidade. Estranho a parte que diz que o aluno do CM é de renda considerada muito alta. Isso é mentira e basta calcular a renda média familiar nos colégios. A própria matéria diz que a maioria dos alunos são filhos de militares. Desconheço salário de militar que possa ser considerado muito alto. Outra afirmativa distorcida é de que há professores que ganham mais de 10 mil por mês. Provavelmente estão falando de professores militares, que não estão no colégio apenas para dar aula. Eles cumprem expediente, missões administrativas e militares, tem regime de dedicação integral, tudo como os demais militares. Lançar este salário como salário de professor é má fé. Aliás, dez mil por mês só ganha o coronel comandante do colégio. E na risca. Ou seja, pode até ser que o custo do aluno em um Colégio Militar seja superior ao da rede pública, mas não confio na imprensa para apresentar esta comparação.

3. O Colégio Militar do Exército foi criado, e ainda permanece em seu estatuto, até onde eu sei, como um colégio com propósito assistencial para a família do militar. Não podemos perder isso de vista. Ele visa reparar o mal que as constantes transferências causam para a família dos militares que têm o ensino dos filhos descontinuados. Foi assim que estudei 11 anos em 12 colégios diferentes. Os 7 anos dos colégios militares procuram pelo menos reparar esta descontinuidade.

4. Os colégios se situam em grandes cidades, onde o custo de vida para os militares, especialmente praças, é elevado.

5. Eu não sei a proporção, mas uma grande quantidade de alunos são filhos de sargentos. Há críticas que são escolas elitistas. Onde pode ser elitista uma escola que grande proporção dos alunos, talvez até a maioria, é de família de pessoas de nível técnico? Pegando um segundo sargento como média, estamos falando de renda familiar na casa dos 5 mil reais ao longo da carreira. Sim, porque na maior parte dos casos a renda do militar é a renda da família pois as constantes transferências fazem um estrago na vida do conjugue, seja homem ou mulher.

6. Em vez de ficar marretando, devia-se estudar o motivo que levam um aluno do Colégio Militar a ter um desempenho bom quando comparado ao restante do país. Particularmente acredito que este motivo não esteja no fato do colégio ser militar, pelo menos não diretamente. O que conta mais é o fato de existir uma organização para o ensino (diretores de escola deveriam visitar uma seção técnica de um CM para entender o que é planejamento de ensino) e uma preocupação dos diretores de ensino de impedirem a ideologia em sala de aula. Não é fácil. Muitos professores fazem isso na surdina, aproveitando o momento que estão sozinhos em sala, mas a defesa é muito maior que um colégio particular ou da rede pública. É difícil passar determinados livros pelo crivo, como aqueles que exaltam Fidel Castro como exemplo de liderança e democracia, e boa parte dos professores são militares, que tem pelo menos uma cultura anti-ideológica por formação. Também há uma preocupação muito grande de evitar-se os modismos pedagógicos no processo de ensino. Lembro de um colégio no Rio de Janeiro que estava alfabetizando minha filha usando o método Paulo Freire de alfabetização para adultos. Isso não aconteceria num CM. Aliás, Paulo Freire nos CM não é referência, o que já explica muita coisa.

7. Além disso, existe um sistema de valorização do bom aluno, que ostenta símbolos em seus uniformes que o destacam, servindo de exemplo para os demais e quebrando aquela cultura nefasta de se exaltar o mal aluno. Ou seja, procura-se mostrar que o esforço gera resultados e que o mérito é algo positivo. Há uma seção de orientação educacional que procura auxiliar o aluno com dificuldades. Não é perfeito, pois muitos destes colégios estão no limite de suas capacidades, mas existe uma direção geral correta.

8. Se o pessoal acha que aluno de CM é cordeirinho, que fica comportado em sala e não tem iniciativa, estão muito enganados. São crianças como qualquer outra. Fazem bagunça, tentam ser rebeldes, exageram muitas vezes, mas são repreendidos quando se comportam mal, são ensinados a respeitar os professores, inclusive no tratamento pessoal. São questionadores também. Eles não são militares, apenas estudam em um colégio militar. Estão muito mais próximos do modelo ginasial das escolas brasileiras dos anos 60, com inspetor de turma, de corredor, culto ao símbolos nacionais, do que com um quartel. A ordem no colégio se manifesta principalmente pelo cumprimento do horário, presença em sala, coibição de cola, do que pela imagem que se faz de um monte de criança robotizada imóvel em forma. Isso não existe. Aluno do CM entra em forma, mas se mexe o tempo todo (e ainda bem!). Quem quiser ser militar vai ter bastante tempo para ficar imóvel durante a vida.

9. Independente do comportamento, é interessante que praticamente todo aluno tem um orgulho enorme de pertencer ao Colégio. O aluno pode ser um bagunceiro, reclamar de tudo, mas tente falar mal do Colégio para ele. Vai defendê-lo com unhas e dentes. Para isso creio que contribui muito o ambiente limpo, bem cuidado, sem pichações e a arquitetura em geral tradicional, com formas esteticamente bonitas. Visitem os Colégios Militares mais antigos e terão uma boa surpresa.

10. Enfim, não pensem que um colégio militar é um ambiente repressivo ao aluno, que existe castigo físico e etc. Não tem nada disso. Só que tem organização, disciplina, ordem, planejamento e bom disposição de realmente funcionar como escola e não como laboratório de experiências esdrúxulas e fábrica de formação de idiotas úteis.

Revolta Macabeu: ensinamentos

Depois da morte de Alexandre, seu Império foi repartido por seus generais. A Palestina ficou com o general Ptolomeu, que governou o Egito. De início, houve uma helenização na região, mas de forma tolerante, sem imposição. Com o tempo, novas força tomaram o poder e tentaram impor a apostasia ao povo judeu na Palestina. Tentaram obrigá-los a adorar deuses pagãos, comer carne de porco e outras medidas.

Uma parte cooperou e aceitou as imposições. Mas duas formas de reação se colocaram.

A primeira foi a da revolta. A partir de Matatias Macabeu e seus filhos, um grupo de judeus passou a enfrentar com violência os dominadores. Depois de 300 anos de revolta, período que procuraram uma aliança com Roma, a coisa acabou com a ocupação romana com Pompeu em 63 A. C. No fim, a revolta gerou uma classe dirigente na Judéia que era em muito semelhante aos inimigos que enfrentaram no começo. Ou seja, o revolucionário, por maior que sejam seus méritos, acaba se tornando o que combate.

A segunda forma de reação foi a do martírio. O segundo livro de Macabeus narra dois episódios significativos. O primeiro, do ancião Eleazar, que recusa-se a comer carne de porco, mesmo depois que os sacerdotes o avisam que vão trocar a carne na hora certa para evitar que ele faça a apostasia. Mas ele pergunta: mas todos vão achar que comi. Que exemplo estarei dando para os jovens? Recusa-se a participar da farsa e é executado. O segundo exemplo é da mulher e seus sete filhos, que são todos executados por se recusarem a cometer apostasia. Os discursos dos filhos alertam que é preferível perder a vida e ganhar a eternidade do que ser infiel ao Senhor. Lembram também que tudo aquilo estava acontecendo porque Israel não tinha sido fiel. Eles prefiguram o supremo sacrifício que virá com o Cristo. A própria mãe dos sete é uma figura mariana, que sofre com a morte dos filhos mas confia que estão fazendo o certo aos olhos do Senhor.

Estes dois livros não existem na versão evangélica; são próprios do catolicismo.


Fonte: Tim Gray e Jeff Cavins. Walking With God. Capítulo 10

Música de fundo: Pirates, Emerson Lake and Palmer

Eric Voegelin: Uma lição de humildade

Acabei de ler o capítulo de A Mente Naufragada, de Mark Lilla, onde ele trata de Eric Voegelin. Trata-se de um bom resumo da vida e das idéias mestras de Voegelin, mas o que chamou atenção mesmo de Lilla foi uma capacidade rara do cientista político alemão: o de reconhecer os próprios erros e assumir os custos. Ele era capaz, depois de publicar volumes de uma obra, de mudar de idéia e dar-lhe outra direção, porque entendeu que partiu de uma premissa que não se confirmou durante sua investigação. Ele não tinha medo de descobrir que estava errado.

Ou seja, trata-se de um cientista político que anuncia publicamente uma hipótese, publica os estudos resultantes desta hipótese e que, durante a investigação, percebe que estava errado e publica suas novas conclusões, admitindo seu erro, as razões de seu equívoco e a nova direção que vai seguir. Vocês tem idéia do quanto isso é raro? Existe que um intelectual tenha humildade, o que explica porque quase nunca acontece. Nas palavras de Lilla:

Mas talvez seja sua disposição de questionar publicamente seus próprios pressupostos e motivações, de abandonar certas idéias fixas e rever outras, o que mais tem a nos ensinar hoje.

Para Lilla, Voegelin tinha um espírito livre. Isso fazia toda a diferença.