Custo das medalhas

Passado o frisson das Olimpíadas aparecem os primeiros números dando conta que se investiu 1,2 bilhões de reais nos atletas olímpicos nos últimos 4 anos; cada medalha saiu pela bagatela de 80 milhões. Pode um país como o Brasil arcar com estes custos?

Sou contra investimento em esportes? Se é para massificação, não. Se é para ganhar medalhas, sim. Devemos lembrar que somos um  país onde não há saneamento básico para todos, nem mesmo água encanada. Esse bilhão de reais poderia ser investido sim em esportes, mas para as crianças e não para atletas formados. Não ganharíamos medalhas hoje, mas quem sabe amanhã?

O que fica evidente é a utilização política que se faz do esporte, Hitler foi apenas o primeiro a perceber isso. Tem brasileiro exultante pela conquista de medalhas de ouro pela China, como se os Estados Unidos nunca tivessem sido derrotados antes. Já foram. Perderam para a União Soviética em 1988; perderam para a CEI e Alemanha Oriental em 1992. Uma engenharia social razoavelmente eficaz consegue ganhar medalhas como mostraram ao longo da história os países socialistas.

Mas o preço é salgado.

Hitler e a democracia

Ali Kamel comenta em artigo no Globo sobre o marketing político, capaz de criar personalidades através da dissimulação e da mentira. Muitas vezes estes políticos, despidos de idéias próprias, acabam eleitos mas argumenta que a longo prazo acabam sendo descobertos. É uma visão otimista do autor, de certa forma ele subestima o poder dos falsificadores da história capazes de manterem inverdades por muito tempo.

Kamel remete à democracia o poder de desnudar os falsos ídolos e refuta o argumento que a democracia é capaz de criar monstros citando o exemplo de Hitler.

Sei, essa frase pode parecer otimista, e haverá sempre quem diga que é justamente a democracia que permite que fenômenos como esses aconteçam. É uma visão equivocada. Quando há democracia, ela não falha, e este é o nosso caso: figuras assim, aqui, acabam despidas. Sei que há aqueles que citam sempre Hitler como prova de que a democracia, às vezes, falha e cria monstros. Não cria. Hitler chegou ao poder não porque tenha vencido uma eleição (em nenhum pleito o Partido Nazista recebeu a maioria absoluta dos votos), mas em decorrência de conchavos entre líderes políticos que se achavam mais espertos do que ele. No primeiro gabinete que chefiou, além de Hitler, só havia mais dois ministros nazistas. Menos de um mês depois, houve o incêndio do Reichstag (forjado, ao que tudo indica, pelos próprios nazistas), e Hitler arrancou do presidente Hindenburg um decreto lhe dando poderes ditatoriais. Em seguida, fez o Congresso aprovar uma lei que dava a ele todos os poderes legislativos. Ora, aí está o “x” da questão. Uma democracia que dá ao presidente o poder de baixar um decreto como aquele e ao Congresso a possibilidade de abdicar de suas próprias obrigações em favor do Executivo pode ser chamada de democracia? Não pode, este é o ponto.

Baseado nos mesmos argumentos percebemos que a Venezuela não é uma democracia e o Brasil está no mesmo caminho. Aqui o presidente governa por medidas provisórias e o congresso passa o tempo com elas. As principais são aprovadas pela imensa força de captação do executivo, o congresso brasileiro é subserviente, abriu mão de sua prerrogativa de legislar.

Dentro deste quadro, em que não temos democracia autêntica, o caminho está aberto para aventureiros e gangsteres políticos, como definiu Paul Johnson. Estamos presos em uma armadilha que torna a sociedade incapaz de reagir ao crescente abuso do poder do estado; para piorar a situação a sociedade clama por este abuso.

É preciso entender que o Brasil não é uma democracia plena; estava no caminho, desviou-se. O maior problema é que a cada dia fica mais difícil corrigimos este rumo, se é que ainda é possível.

Mais Olimpíadas

Do blog Angelo da Cia.

Minha gente, só um pouquinho mais de força, vai.
Em 48 horas, estaremos definitivamente livres de:
– Ouvir a história triste do(a) brasileiro(a) que superou um passado de miséria e fugiu da criminalidade graças ao esporte;
– Ouvir a história triste do(a) brasileiro(a) que superou a falta de patrocínio e apoio para chegar às Olimpíadas;
– Ouvir a história triste do(a) brasileiro(a) que superou os preconceitos e venceu no esporte;
– Ouvir a ladainha de que o Brasil não dá apoio a seus atletas;
– Ser humilhados no quadro de medalhas pela Geórgia e a Jamaica;
– Apesar de todas as Odes ao nosso povo humilde, ver que a maioria de nossas medalhas nos Jogos vieram de nossa elite ( Hipismo, Iatismo ) ou da classe média abastada ( judô e natação );
– Ver brasileiros chorando ao ganhar medalhas;
– Ver brasileiros chorando ao perder medalhas;
– Ouvir narradores brasileiros se dizendo emocionados com a conquista de medalhas;
– Ouvir narradores brasileiros se dizendo emocionados com a perda de medalhas;
– Ver o falso público dos jogos. Entendam: Quando mostram uma mancha amarela na platéia em participações brasileiras, geralmente há uma dúzia de nativos que são parentes ou participantes dos jogos. O resto é de chineses “fantasiados” de verde-amarelo, para fazer volume e dar a impressão de que estes Jogos são normais, ou seja, atrairam torcedores do mundo todo.

Mais estados, menos sociedade

Folha:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai aproveitar o 7 de Setembro, Dia da Pátria, para fazer um pronunciamento em tom nacionalista, enaltecendo as descobertas de petróleo na camada pré-sal. Na linha “O petróleo é nosso”, Lula pretende dizer, em cadeia nacional de rádio e TV, que o Brasil vive um momento histórico porque as jazidas representam um desafio para o País distribuir sua riqueza de uma nova maneira, resolvendo os problemas da população mais carente.

Comento:

Aos pouquinhos vamos ficando cercado, ninguém mais reaje. É isso aí. O estado vai tomar tudo e nos restará a submissão.

Democracia e liberdade

A principal vantagem da democracia também é sua principal vulnerabilidade. Trata-se da liberdade. A liberdade é tanta que a democracia é extremamente frágil em defender a própria liberdade e com ela o próprio conceito de democracia.

Os acontecimentos recentes mostram que a liberdade já foi para o saco no Brasil, o mais difícil já foi feito. Agora é só ir retirando as prerrogativas aos poucos pois a sociedade já mostrou que está disposta a entregar sua liberdade de pensamento em troca de migalhas do estado. Esta questão das comunidades do orkut nas eleições municipais é só um exemplo de que a batalha já foi perdia.

A noção de liberdade no Brasil é cada vez mais difusa e poucos apareceram para defendê-la. Com ela perdeu-se a democracia, pelo menos no seu entendimento completo.

Fracassamos como nação, como povo, como sociedade. Este país resolveu assumir de vez seu lugar no lixo das civilizações.

O Brasil já era.

Combate à liberdade de expressão

A patrulha do estado continua firme contra a liberdade de expressão, e o judiciário está se prestando ao trabalho sujo. Estas eleições serão marcantes, podem acreditar. Comunidades inteiras do Orkut estão sendo eliminadas pelo crime de apoiar candidatos. O que incomoda aos moralistas do TSE é a anarquia na internet, justamente seu maior trunfo.

Tenho nojo desta coisa toda; a cada dia vamos perdendo um pouco mais de nossa liberdade e pior, achamos isso normal. Como pode ser normal?

Estamos aos poucos perdendo os pilares de nossa própria democracia.

Triunfo do indivíduo

Sabem o que mais gostei na vitória de Cielo?

Em nenhum momento usou aquela ladainha de que estava dando um presente ao povo brasileiro, que estava representando uma sociedade. Ao contrário, celebrou a conquista pessoal e foi categórica “agora SOU campeão olímpico”. E é, com todos os méritos. Ganhou esta medalha dois dias antes quando saiu da piscina com uma medalha de bronze e declarou categoricamente: “agora vou ganhar o ouro nos 50”.

Durante a semana teve brasileiro que ao ser derrotado disse chorando que sentia por querer dar esse presente ao povo brasileiro. O povo brasileiro não quer medalhas olímpicas. Quer um pouco de dignidade e acima de tudo oportunidade de deixar a pobreza. Não se deveria confundir torcida com nacionalismo. Torço para os brasileiros ganharem provas para premiar o esforço individual de compatriotas meus e não por alguma noção nacionalista. Torço porque o esporte é mais divertido e emocionante quando se torce por alguém. Foi assim que torci para cada medalha de Phelps, como uma celebração do indivíduo.

Ah, Cielo deixou bem claro por que é o atual recordista olímpico. Treinou três anos no Estados Unidos. Teve atleta com grande potencial que foi e voltou logo dizendo que não se adaptou. Acabou sem medalhas. Para vencer é preciso fazer sacrifícios e estar entre os melhores. Foi o que mostrou Joaquim Cruz em 1984, também treinava nos Estados Unidos, e agora, Cielo. Quer dizer que é preciso abandonar o Brasil para vencer? Em alguns esportes, sim. Enquanto a estrutura brasileira for deficiente é preciso buscar o melhor. Foi o que Cielo entendeu.

Mais sobre as algemas

Na edição do Globonews que foi ao ar agora a pouco escutei uma fala que resume bem o problema. O âncora anunciou a decisão do STF em punir o abuso no uso de algemas. Depois de dizer que o ministro da justiça afirmara que a polícia federal cumpriria a decisão o apresentador disse que os policiais protestaram dizendo que a decisão aumentaria a impunidade.

Fica claro que as algemas estão sendo consideradas como punição, o que justifica plenamente a limitação de seu uso. Ninguém pode ser punido antes de ser considerado culpado, ainda mais pela polícia. É uma deturpação completa da função da polícia no sistema penal, não cabe a ela punir o crime.

Este pensamento mostra que vivemos tempos difíceis e que a ordem jurídicas está realmente ameaçada.

Supremo: o último bastião da defesa dos direitos individuais

Folha:

Desafiados pela Polícia Federal, que na terça-feira algemou 32 presos da Operação Dupla Face, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) aprovaram ontem em tempo recorde para os padrões da corte uma súmula vinculante que prevê punições severas para policiais e autoridades que algemarem pessoas sem necessidade.

Comento:

Bravo! Querem usar a corrupção como desculpa para estado policialesco que está sendo montado ao arrepio do estado de direito. Os próprios policiais deveriam lembrar que quem transgride os limites da lei um dia podem se ver na situação oposto, é o que acontece em países que a lei é desrespeitada. O STF está cumprindo sua parte, infelizmente sozinho.