Estranho

Uma coisa chama atenção nesta crise financeira internacional: o silêncio dos movimentos sociais do Brasil. Dá para ouvir o vento assobiando mas não se escuta uma voz gritando a morte do capitalismo, pelo menos não deles.

Será que tem alguma coisa a ver com o governo petista promovendo subsídios para os grandes bancos comprarem carteiras dos pequenos? Tem alguma coisa a ver com o dinheiro que é arrancado todos os meses do contribuinete (eu e você) para sustentar uma cambada de vagabundos que só faz viver do capilé e fazer discursos anacrônicos?

Quem senão o capitalismo permitiria que esse bando vivesse tão bem sem precisar trabalhar? Deviam agradecer. E o fazem. Em silêncio.

Veja não é conservadora

Existe uma tendência de se considerar a Veja como uma revista de direita. Não é e nunca foi. Basta ler as reportagens da revista sobre comportamento humano, as idéias da maioria de seus jornalistas são progressistas. A religião é demonizada constantemente, o aborto defendido, fez campanha pelo desarmamento. Sim, existem Reinaldo Azevedo e Diogo, mas estes escrevem artigos de opinião, não fazem reportagem.

Qual a diferença? Muita. No artigo de opinião o autor é dono de suas idéias, opina livremente sem a interferência da redação. O dia que não for mais de interesse para a empresa, o autor  é afastado, tudo dentro da liberdade de imprensa e mercado.

Já na reportagem as matérias são mostradas como parte da revista, não existe o teor pessoal de uma artigo de opinião. André Petry é um progressista, tinha seu artigo de opinião do meio da revista. Até aí tudo bem, fazia o contraponto aos colegas conservadores. O problema é quando sai do espaço da opinião e passa a comandar reportagens dando a suas opiniões a roupagem de consenso.

Quando a Veja escalou-o para chefiar a cobertura das eleições americanas eu já apontava neste humilde espaço que a tendência seria totalmente a favor do Obama. Pois Petry não tem decepcionado. Não escreveu uma mísera linha que trate com alguma imparcialidade o processo eleitoral; em seu mundo os democratas representam o bem, os republicanos o mal.

O artigo desta semana tem só um objetivo: destratar a escolha de Sarah Palin. Ele simplesmente repete tudo que está sendo dito nos blogs democratas americanos, chega a dizer que perto dela Bush é Sócrates. Virou um papagaio de gente como Michael Moore. A campanha vergonhosa de difamação chegou às páginas da Veja, com o concorde da redação da revista.

A Veja é em geral uma boa revista, tanto que a assino. O que não concordo é que fiquem bradando por aí que ela é uma revista de direita, o que é uma mentira. A eleição de Lula em 2002 foi tratada com extrema simpatia em suas páginas, seu início de governo foi muito elogiado. Durante muito tempo era comum ver a revistas em mãos de petistas no Congresso.

O problema é que o governo atual é um mar de corrupção e erros desastrosos. A revista, graças a sua independência econômica, faz as críticas que devem ser feitas. No geral, entretanto, defende os valores progressistas que encarnam na figura messiânica de Obama. Basta observar a defesa vigorosa que fez do pacote de Bush, que apesar de vir de um presidente republicano segue o DNA democrata.

Petry não pode perdoar Sarah por ela não aceitar como permissíveis o direito ao aborto, o casamento gay, que uma mulher possa ser simplesmente uma mulher e não aquela versão andrógina que surge na figura de feministas como Hillary Clinton. Não há uma mísera linha em seu texto sobre o festival de besteiras de Joe Biden ou a retórica oca de Obama. Para ele trata-se de uma inexperiente. Engraçado que não tenha o mesmo juízo de Barack Obama que passou sua vida como chefe de ONG.

Não defendo aqui censura de imprensa, de forma alguma. Os jornalistas da Veja são livres para defender o que quiserem, inclusive besteiras como dizer que a religião não é uma fonte válida de moral como fez há duas semanas. Como eu sou livre para um dia deixar de lê-la se me der na telha.

Infelizmente o fim da Primeira Leitura deixou um vácuo. Não há uma publicação no Brasil que faça a defesa dos valores tradicionais da civilização ocidental. Uma pena. Através do contraponto se faz um debate produtivo de idéias. O monopólio da opinião faz um grande mal a uma sociedade. Cuidado Veja!

The Sound of Silence

Globo:

Uma troca de tiros na Rua do Lavradio, na Lapa, no início da madrugada de ontem, levou pânico aos freqüentadores do bairro mais boêmio da cidade. O confronto aconteceu depois que dois policiais militares, em patrulhamento de motocicleta, ouviram um alarme de roubo e abordaram dois jovens em uma motocicleta na esquina das ruas do Lavradio e Senado. Os suspeitos de terem roubado carros e de uma tentativa de roubo reagiram. Na troca de tiros, o soldado Alamir Gomes Júnior, de 27 anos, foi baleado no pescoço e morreu no Hospital Souza Aguiar. Três rapazes, um deles com uma passagem por roubo na 2ª Vara da Infância e Juventude, foram perseguidos e presos em seguida.

Comento:

Estão ouvindo? Não? É o som ensurdecedor das organizações de direitos humanos! Vejam quantas ONGs estão protestando contra a morte de um policial que deixa um filho e uma mulher grávida. Estou até vendo passeata na praia de Copacabana!

Fico imaginando se fosse o contrário, se no tiroteio o policial matasse os dois marginais. Não iria faltar ONG e intelectual brasileiro para acusar a truculência da polícia. Chico Buarque faria mais uma música; Luís Fernando Veríssimo uma crônica.

Enquanto isso temos eleições no Rio de Janeiro com o Exército nas ruas, tudo na mais absoluta normalidade.

E a banda de música continua tocando…

Depois de Jesus, Machado

Lauro Jardim:

Lula irá na tarde de hoje, dia do centenário da morte de Machado de Assis, à Academia Brasileira de Letras. Nada mais justo. Lá, assinará o decreto do novo acordo ortográfico da língua portuguesa. Na semana passada, Luiz Dulci dava os últimos retoques no discurso que escreveu e que Lula lerá hoje à tarde. Nele, Lula comparará sua trajetória de menino pobre à de Machado.

Comento:

Só eu um país como o Brasil é possível achar uma comparação de um iletrado com Machado de Assis. O primeiro nasceu pobre e chegou á presidência da república por seu aguçado senso político e disposição para transgredir as regras em um projeto de poder de raízes stalinistas. O segundo venceu pelo estudo, apesar de não formal, que o fez dominar a língua portuguesa como ninguém, por isso é um imortal. O primeiro um dia cairá no esquecimento e ficará restrito aos livros de história. O segundo vive em suas obras.

Depois de Jesus, Machado. Só falta agora achar uma relação com Einstein. Ou Sócrates. Ou Da Vinci.

A Esperança que Salva

Na página de Obras de Referência um resumo da segunda encíclica de Bento XVI, denominada Spe Salvi. Nele o papa discute a fé como necessidade do homem e guia para as ações do presente. Discute as idéias surgidas na idade moderna em que a fé religiosa foi substituída pela fé no progresso e a crença que seria possível um mundo justo sobre a terra, o reino do homem.

Sobre Marx, o papa reconhece que sua análise sobre a situação de sua época foi correta mas aponta o que teria sido o erro fundamental do filósofo:

Ele esqueceu que o homem permanece sempre. Esqueceu o homem e sua liberdade. Esqueceu que a liberdade permanece sempre liberdade, inclusive para o mal. Pensava que, uma vez colocada em ordem a economia, tudo se arranjaria. O seu verdadeiro erro é o materialismo, de fato, o homem não é só o produto das condições econômicas nem se ode curá-lo apenas do exterior criando condições econômicas favoráveis.

O resumo pode ser conferido no link abaixo.

Spe Salvi.

Continua a demonização do voto

Nosso sistema eleitoral está longe de ser razoável; o voto obrigatório, a eleição proporcional, o horário eleitoral obrigatório na TV, a quantidade gigantesca de candidatos, as regras ditatoriais da justiça eleitoral, tudo isso contribui para que o processo democrático no Brasil não funcione como deveria.

Como sair desta armadilha? Como romper este círculo? Ontem um amigo disse que era completamente cético, que nunca nos livraríamos da nossa elite política, de nossas oligarquias. Talvez tenha razão, realmente é um problema cuja solução não se mostra evidente.

Intuitivamente a educação surge como uma resposta. Um povo mais educado, em teoria, teria mais condições de julgar melhor a realidade. Quando vejo a posição dos intelectuais brasileiros começo a duvidar. Que um jovem universitário se empolgue com as idéias socialista é até compreensível, vive em um mundo de sonhos, não tem ainda a vivência da realidade para compreender que estamos em um mundo real onde essas idéias simplesmente não funcionam. O grande problema é ver a quantidade de intelectuais já com certa idade defendendo o retorno ao tempo do boi e do arado.

Mais educação? Com certeza, mas educação e não doutrinação ideológica. Ensine o homem a lógica, a matemática, as regras gramaticais, a física, a química, a história, a geografia e ele compreenderá melhor o mundo. Eleja como prioridade formar o cidadão e você terá o homem massa tão bem descrito por Gasset, a vaquinha de presépio das idéias que atrasam, quando não destroem, a sociedade.

Se achar o caminho para reformar nosso sistema viciado e fracassado é difícil, saber o que não funciona é muito mais fácil. Alertei há uma semana, e o quadro não mudou, que existia uma campanha sistemática de demonização do voto. A principal evidência é o trabalho dos chargistas. Por que os chargistas? A charge na capa de um jornal é a primeira coisa, talvez a única, que um analfabeto funcional se ocupa. Seu poder no consciente e subconsciente é ainda subestimado por muitos.

O que poderá vir de bom em convencer o eleitor que seu voto é inútil, que todos os políticos são desonestos? Combinado com o voto obrigatório só teremos a continuação da degeneração política brasileira e a perpetuação do divórcio entre a sociedade e a classe política. A demonização do voto não é uma saída, os chargistas deveriam estar alertando aos eleitores a importância do voto que está depositando na urna, é possível fazer bastante humor crítico com esta premissa.

Como disse antes, a constância e quantidade de charges sobre o assunto me preocupa. Não teria uma mão invisível por trás destes artistas? Não teria o movimento sido orquestrado?

O que pretende eu não sei, mas sei o suficiente para saber que não será bom para a democracia; não será bom para a sociedade.

Fala Lula

Me acusavam porque eu tinha barba. E esqueceram que Jesus Cristo também tinha barba.

O que querem que eu diga? Não há expressão na língua portuguesa, e talvez na humana, que consiga descrever o asco que sinto ao escutar uma coisa dessas na voz do presidente do Brasil. Até guando teremos que aguentar isso?