Sobre o bispo de Recife

Quem lê este espaço com alguma regularidade, sabe a posição deste blogueiro a respeito do aborto. Considero o aborto uma prática que nos torna menos humanos e uma mal que deve ser extirpado da sociedade. Reconheço que existem situações em que pode ser justificado, principalmente quando existe risco para a mãe. Sobre a questão do estupro, tenho muito mais dúvidas que certezas. Ora acho que deve ser permitido, ora que deve ser proibido. Reconheço o grande mal que é submetido uma mulher diante deste horror e o trauma que pode resultar, mas por outro lado uma vida foi gerada. A idéia que esta vida possa ser ceifada me incomoda profundamente, assim como a tortura que deve ser levar por meses o resultado de uma experiência terrível no próprio ventre. É uma questão grave e que foge muito a minha capacidade de compreender.

Por isso evitei qualquer comentário sobre o caso da menina de 9 anos que era violentada pelo padastro e engravidou de gêmios. É um destas casos da humanidade em seu pior momento. Uma pessoa abusar sexualmente de uma criança de 9 anos, que vive em sua própria casa, é algo muito além da minha compreensão. A justiça humana é incapaz de ser rigorosa o suficiente com um doente como esse. Mas este não é o ponto.

O ponto foi o anúncio da excomunhão dos médicos e pais por um bispo de Recife e, principalmente, a reação que se seguiu. Um dos casos que a excomunhão é automática é o aborto, não depende de processo ou ato de um religioso. Mas o que significa a excomunhão? Significa que a pessoa não comunga total ou parcial do corpo doutrinário da Igreja Católica. A Igreja defende que a vida se forma na concepção, que a partir deste momento existe  uma alma ligada a um corpo físico, o ser humano. Esta vida deve ser protegida. Realizar o aborto, portanto, contraria uma questão doutrinária da Igreja Católica, por isso a excomunhão.

A pena é mais simbólica. Para quem não é católico, é absolutamente inócua. Afinal, neste caso, a pessoa não comunga com a fé católica, a pena está apenas ressaltando o óbvio. Para quem é, a Igreja está dando uma aviso: está indo contra a própria fé que diz abraçar, está  cometendo um pecado. O que parecem esquecer é que a fé católica tem no perdão dos pecados um dos seus mais importantes pilares. Ninguém está perdido por ter cometido um pecado, sempre há tempo para o arrependimento e o perdão.

Não sou católico. Fui criado como um até que compreendi que não acreditava em determinadas partes de seu corpo doutrinário. De certa forma, sou um excomungado. Eu não comungo totalmente dos dogmas da Igreja.

O bispo estava certo no anúncio que fez? Aqui cabe ressaltar um ponto: o bispo não excomungou como se afirma nos jornais, ele simplesmente anunciou a excomunhão automática. Ele apontou e disse: essas pessoas não comungam da totalidade dos dogmas da Igreja. Retomando a pergunta: o bispo está certo? Quem sou eu para dizer? Este acontecimento trágico, e seus desdobramentos, é um destes casos que convém ter muito mais dúvidas que certezas. Tenho respeito suficiente por esta menina e sua família para evitar usá-la como arma de combate.

O que nos leva ao que se seguiu. Três gigantes morais, Temporão, Carlos Minc e Lula resolveram colocar as patas na tragédia e fazer política. Temporão é o ministro da saúde que entre várias obsessões, tem uma em especial, tornar o aborto livre em todo o Brasil, queiram os brasileiros ou não. Minc parece ter mais humanidade com uma minhoca do que com um bebê no útero de sua mãe. E Lula? Bem, Lula é Lula.

De todos, pelo menos nesta questão, é Temporão que me desperta mais indignação. Aliás, a atuação deste senhor em favor do aborto só reforça a minha convicção que a prática dever ser combatida pelos homens de bem. A todo tempo ele repete que a Igreja Católica não deve se meter fora de seus limites, mas não perde uma oportunidade de querer dirigir a Igreja em matéria de fé. O bispo defendeu qualquer restrição civil ou penal da família ou dos médicos? Não. Fez uma consideração de fé a respeito de sua religião, portanto, gostem ou não, dentro de seus limites. Ninguém é obrigado a ser católico, mas se quiser ser deve seguir certas regras, os dogmas da Igreja. Por que tanta intolerância aos católicos? Por que se quer a todo tempo ensinar os católicos a serem católicos?

Lula, Minc e Temporão tem muito o que se ocupar em suas respectivas áreas de atuação, e são incrivelmente incopetentes nelas. Talvez por isso gostem tanto de dar pitaco onde não deveriam; no fundo querem afastar os olhos da realidade que estão produzindo.

À menina do Recife e sua família, todas as minhas orações e desejo que o mal que sofreram seja superado. Ao bispo do Recife, o respeito que tenho por todos que fazem da fé sua razão de vida. Aos médicos que realizaram o aborto, que estejam em paz com suas consciências.

Uma tragédia desta natureza escapa à minha compreensão e fico com muito mais dúvidas que certezas. Que Deus ilumine a todos nós.

Collor de volta? Por que o espanto?

tachoA imprensa brasileira é uma grande piada.

Passam o tempo todo bajulando o governo mais corrupto da história do país, defendendo corruptos e justificando os amorais. Agora se espantam com a volta do Collor, com o Sarney presidindo o senado. Toda a indignação que evitaram demonstrar contra Lula e seu bando agora surge nas páginas de jornais. Até mesmo a vontade de investigar ressurge das cinzas. É uma grande piada mesmo.

Passaram a semana alardeando o ataque de Jarbas Vasconcellos ao PMDB mas deixaram de dar destaque ao ponto mais importante da entrevista. Quando pediram para nomear os corruptos ele foi taxativo, além de Sarney e Calheiros ele citou explicitamente o atual presidente da república. E o que fez a imprensa? Se concentrou no PMDB! Tudo que evitam de falar do PT, por ideologia, agora faram do maior aliado.

Eu fico imaginando a cena nas redações. Dia após dia o esforço gigante de defender o governo, esconder a sujeira do público, torturar a verdade, a traição à própria profissão. Deve ser terrível ser jornalista a serviço de uma ideologia. Agora conseguiram uma alívio, podem falar do Collor!

Um bando de impostores.

Quem defende o governo petista e usa expressões como “dinheiro não contabilizado”, o “suposto mensalão”, “sobras de campanha”, “banco de dados”, não possui estatura moral para falar de Collor ou de Sarney. São cúmplices morais da corrupção. A imprensa nacional é uma das responsáveis pelo lixo de país que somos. Um dia gostaria de ver esta conta sendo paga.

Vermelho e azul com Marcos Nobre

Marcos Nobre publicou um artigo na Folha que merece um vermelho e azul, no estilo do mestre Reinaldo Azevedo.

A nova direita

NÃO FAZ MUITO tempo, a esquerda tinha conseguido estabelecer alguns sólidos pontos de partida do debate político. Aplicar pena de prisão não diminui a criminalidade, porque o crime não é apenas ação de um indivíduo, mas falha de toda uma sociedade. O desemprego não é culpa do desempregado, mas de um sistema econômico que produz injustiça. O progresso material só significa progresso social e político se houver uma justa e solidária distribuição da riqueza. E por aí vai.

Não sei porque estes esquerdistas são tão obcecados em usar o termo nova direita, mas tudo bem, vamos ao artigo. Primeiro parágrafo quase perfeito. Nobre conseguiu resumir bem algumas das principais teses da esquerda, apenas errou no tempo verbal da primeira frase. A esquerda conseguiu estabelecer, e não “tinha conseguido” como escreveu. Estes conceitos estão bem estabelecidos entre intelectuais e formadores de opinião.

Essas posições foram desafiadas e derrotadas. Nos últimos 30 anos, enquanto movimentos e grupos sociais reivindicavam mais liberdade, uma esquerda tradicional respondeu de maneira tradicional: liberdade só com igualdade primeiro. Recusou-se a ver que havia ali um problema real, que a promoção da igualdade não produz automaticamente pessoas autônomas. Ao invés de aceitar o desafio de pensar uma nova relação entre liberdade e igualdade, boa parte da esquerda perdeu-se em discussões bizantinas como a das causas da queda do decrépito bloco soviético.

Pelo contrário, estas posições estão mais vivas do que nunca, o que pode ser observado pela reação contra o filme “Tropa de Elite” que ousou tocar na responsabilidade do usuário de drogas pela violência associada. Aliás, ao observar o bandido baiano, fica difícil imaginar que se a droga fosse liberada ele se transformaria em alguma espécie de empresário. A esquerda não perdeu-se, ele está mais organizada e cínica como nunca, principalmente por ter se livrado da necessidade de defender o criminoso estado soviético. Para ficar melhor ainda, a China adotou a economia de mercado e seduziu os capitalistas ocidentais que fecharam os olhos para a opressão política.

Enquanto isso, a direita se apresentou em nova roupagem, como paladino da liberdade e mãe da democracia -quando se sabe que a democracia de massas foi em larga medida uma conquista do movimento operário contra a direita, que entrava em pânico só de pensar no voto universal secreto. A nova direita ocupou um a um os espaços disponíveis nos meios de comunicação de massa e na esfera pública, em um combate cotidiano contra as teses de esquerda então dominantes. Venceu e transformou a sua vitória em poder institucional.

Não há nova roupagem nenhuma. A direita sempre defendeu a liberdade individual e, em consequência, a democracia. É a esquerda que questiona seus fundamentos ao não aceitar a existência de oposição e transição de poder. Não é verdade que foram os operários que conquistaram o regime democrático, ele foi uma conquista burguesa contra a centralização do poder da aristocracia. Esta vitória da direita só pode ser um delírio do articulista, as teses da esquerda ainda são dominantes, principalmente na intelectualidade e na grande mídia. 9 em cada 10 jornalistas são de esquerda.

O resultado foi uma guinada nos pontos de partida do debate político. O que se pede hoje de todos os lados é mais prisão, mais responsabilização dos indivíduos, mais progresso material puro e simples. E por aí vai. É nisso que consiste a atual hegemonia da direita.

Aqui a quantidade de alfafa foi exagerada. Guinada? Se o que se pede mais alguma coisa é porque ela existe de menos. Aqui evidencia a intolerância do esquerdistas, não se pode nem pedir, é preciso aceitar a doxa socialista. Interessante que Nobre parece defender, na ordem: menos prisão, não responsabilização dos indivíduos, menos progresso material. Hegemonia da direita? A velha tática de acusar o adversário do que é praticado pelo próprio acusador. Vivemos uma era de hegemonia cultural da esquerda.

A nova direita vê a forma atual da democracia como imutável, como o “fim da história”. Avalia toda tentativa da esquerda de transformar a democracia como um ataque à liberdade. Mas, ao mesmo tempo, não vê problema em aceitar -como fez a Folha a propósito da ditadura militar brasileira- o revisionismo histórico e gradações no autoritarismo.

Vejam que Nobre acusa a Folha de ser de direita. Só pode estar de brincadeira! Daqui a pouco vai dizer que o New York Times e a CNN são veículos conservadores…

A atual crise econômica pode alterar esse quadro. Esse é o maior temor da nova direita hegemônica. Mas isso só tem chance de acontecer se a esquerda for capaz de fazer o combate de ideias no espaço público sem continuar a pressupor que seus pontos de partida seguem inquestionáveis. Convencer pessoas que já estão convencidas é puro conformismo.

A esquerda sempre cresce em tempos de crise. O que Nobre defende nas entrelinhas é que a esquerda seja ainda mais efetiva em esconder o que realmente pensa. No fundo deste discurso todo está a constatação que a sociedade como um toda é mais conservadora em seus valores do que se deseja; por isso uma atuação constante da esquerda em destruir estes valores, e o estrago após décadas de mentiras socialistas é grande. O bom esquerdista é eficiente em esconder do povo o que realmente pensa. O direitista padece de não consegui transmitir o que realmente defende, até porque a hegemonia cultural socialista tomou conta da linguagem, deixando o direitista permanentemente na defensiva.

O artigo de Nobre é um exemplo claro de que não existe hegemonia de uma nova direita, apenas a cada vez mais profunda socialização da sociedade. Como diz um amigo, a esquerda já venceu a disputa. Quer agora evitar qualquer tentativa da direita moribunda de tentar virar o jogo. No fundo, todo esquerdista quer a unanimidade.

Nossos humanistas

Sempre que os humanistas brasileiros abrem a boca eu já espero de tudo. Menos defesa das pessoas honestas, claro. Isso fica para… para… bem, para estes direitistas desumanos. Humanista mesmo preocupa-se com terrorista e bandido, esses pobres infelizes massacrados pelo poder coercivo do estado.

Estes últimos dias foram bem didáticos.

O Movimento dos Sem Terra executou (prestem atenção no verbo utilizado) quatro seguranças de uma fazenda invadida. Sabem como é, esquerdista gosta mesmo é de uma boa ação covarde. A coragem desta gente se mede pela incapacidade da vítima em se defender. O Chê, outro humanista, especializou-se em executar prisioneiros políticos, tudo sem perder obviamente a ternura.

O mais surreal disso tudo é que o governo patrocina o movimento. Parte do dinheiro pago por nós vai para o cofre de um grupo liderado por bandidos que promovem o terrorismo. O presidente do STF ousou afirmar que é ilegal o estado financiar grupos fora da lei. Uma ousadia e tanto! Os humanistas da imprensa, a raça mais covarde dessa gente, já protestou. Parece que não cabe ao presidente do supremo defender publicamente a lei!

Pressionados pela covardia praticada, os humanistas oficiais, pagos com nosso dinheiro também (humanistas adoram dinheiro público), pediram moderação no trato com o MST e… revisão da lei da anistia! Para todos? Claro que não. Apenas para os militares. Os terroristas da ditabranda podem ficar tranquilos. os humanistas sempre estarão em sua defesa! Aliás, saber que os humanistas defendem a prisão de militares só mostra quem estava do lado certo da luta, independente de abusos.

Os humanistas brasileiros sempre que pressionados gostam de evocar a mantra da ditadura militar brasileira. Curioso, porque não gostam de falar da verdadeira ditadura das américas, a cubana? Aliás, porque até hoje prestam reverência ao maior assassino de todos os tempos do continente americano, Fidel Castro?

Para fechar os últimos acontecimentos, o humanista mor de direitos humanos do governo, afirmou hoje que não teria problemas em receber no Brasil os terroristas presos em Guantânamo. Não surpreende. Quem é capaz de dar asilo político a um crápula como Battisti, não poderia recusar estes estrumes, não é verdade? Só para registro, nenhum país ocidental aceita recebê-los, mesmo uma das pátrias morais dos humanistas, a França.

O Brasil se torna cada vez mais parte do lixão do ocidente. Infelizmente.

Falta de valores

Um dileto amigo uma vez me questionou porque eu não passava à ação. Ele defende que no processo de avanço do socialismo no Brasil, não há outra possibilidade que não seja enfrentar o inimigo, que não seja assumir uma atitude de enfrentamento. Ele possui um blog e mobiliza blogueiros dentro deste espírito, de combater o mal que se instala no Brasil dentro dos planos do Foro de São Paulo.

Ele sempre argumentou que só chegamos a este ponto porque somos uma sociedade de covardes, que não reagem à violação que estamos submetidos todos os dias neste país. Acredito que tenha toda razão, a passividade da sociedade brasileira permite o avanço das forças que pretendem submetê-la. Mais do que isso, aceitam esse destino de bom grado. Desde que tenham pão e circo.

Lendo o livro de Benda1, compreendi que nem todos devem ser homens de ação, nem todos devem procurar a aplicação prática de suas idéias. Existem aqueles que devem procurar a verdade. E neste grupo que pretendo, dentro de minhas imensas limitações, procurar abrigo. Eu não quero ter razão, eu quero procurar a razão. Aliás, gostaria que a maioria das idéias que tenho hoje fossem falsas, seria bem melhor para meus filhos e para a própria humanidade. Minha angústia é que cada pequeno acontecimento deste mundo de imperfeições mostra que posso estar certo em minhas suposições.

Isso não quer dizer buscar a tal isenção, ou o equilíbrio entre diversas opiniões. Deploro este tipo de atitude. Não acho que deva existir, por exemplo, um meio termo entre marxismo e capitalismo ou entre totalitarismo e democracia. Quanto mais eu reflito e estudo, mas me convenço que o socialismo é um gigantesco erro e que nosso futuro estará comprometido em função de uma socialização da humanidade, um processo bem maior do que o Foro de São Paulo.

A grande batalha que vejo sendo disputada no tabuleiro mundial é a conquista da alma humana. O homem convenceu-se que é seu dever reformar o próximo e ensiná-lo o que pensar; que o indivíduo deve se submeter ao bem da coletividade que cada vez mais estaria refletido no Estado moderno e na chamada sociedade organizada. Um movimento de capturação de mentes em um projeto nacional que evolui rapidamente para blocos de países e futuramente em um tão sonhado governo mundial. Uma sociedade em que o homem perderia um de seus direitos fundamentais: o direito de errar.

É a comprovação que minhas idéias estão certas a minha maior fonte de angústia. Queria sinceramente que estivesse errado. Por isso busco a verdade, quem sabe ela me mostrará que tudo o que está acontecendo no mundo resultará em uma humanidade melhor? Estou empenhado em trocar muitas de minhas certezas por dúvidas. As exclamações por interrogações. Tudo pode ser questionado, já ensinava Sócrates. Quer dizer que duvido de tudo? Não. Algumas certezas carrego comigo, fundamentais para compreender meu próprio pensamento. São elas:

1. Deus existe, é soberanamente justo e bom. Toda a vida na Terra tem um propósito na ordem da criação.

2. Jesus Cristo foi o modelo do homem na terra. Ele veio para nos ensinar como proceder, para guiar nossos atos.

3. O homem é livre. Não existe um determinismo de nenhuma espécie, histórico ou religioso, que determine com antecedência as decisões dos homens. No momento que faz a sua escolha, faz na posse de seu livre arbítreo, e por ele será cobrado.

4. A vida não termina com a morte. Nossa vida aqui é passageira e com uma finalidade principal: nos reformarmos. O homem está na terra para evoluir, para se depurar, para se tornar melhor.

5. Atentar contra a vida humana é um crime, em todas as formas. Mesmo que esta vida for a própria, ou principalmente se esta vida for a própria. Não cabe ao homem decidir até quando vai viver ou tirar a vida do próximo. O homem é um fim em si mesmo, não meio para atingir determinados fins.

Dentro destas premissas, procuro organizar meu pensamento e buscar a sabedoria, buscar a verdade. O que retorno à questão da razão prática.

Não creio ser meu papel convencer o próximo que estou certo e ele errado, até porque não tenho esta convicção. Mas posso sim expor o que acredito e o que duvido. O que ele vai fazer com minhas considerações não me pertence, está além de minha pessoa. Inclusive o direito que qualquer um tem de ignorar completamente o que seu semelhante pensa.

Quando vejo a situação do mundo, fico cada vez mais convencido que o Giovane Reale2 está certo em seu insight. A raiz dos problemas do mundo está na deturpação completa dos valores, no niilismo que a sociedade moderna abraçou. Isto nos afetas em todos os campos, na religião, política,ciências, filosofia e até mesmo na economia, como apontou Bento XVI3. O homem moderno afasta-se de Deus cada vez mais, por isso os problemas da humanidade só tendem a piorar. Enquanto não nos convencermos que fizemos a aposta errada, no homem, não teremos uma verdadeira evolução humana.

A cada dia a humanidade investe contra o divino. O paradoxo maior é que ao mesmo tempo que coloca o homem com centro da existência, torna a vida mais insignificante. Umas das coisas que constato neste mundo de horrores é a completa desvalorização da vida humana, o combate incessante ao milagre da vida.

Basta ler os jornais, assistir a televisão. A vida humana vale cada vez menos. O aborto se tornou um método contraceptivo e uma afirmação de um direito. A sexualidade transformou-se em um imenso jogo sem regras e um mercado bilionário. Os homens passaram a decidir quando uma pessoa deve continuar vivendo e quando deve “descansar em paz” ou “abreviar o sofrimento”. O homem aceitou até ter sua vida transmitida pela televisão como se fosse um animal em um zoológico, e é. Queremos até criar a vida humana e decidir como o ser humano deve ser, uma versão politicamente correta da eugenia nazista.

O ocidente transforma-se em uma imensa sociedade sem valores e é esta constatação que enfurece os fundamentalistas islâmicos. Eles não combatem os valores do ocidente, eles combate a falta de valores que penetra em sua sociedade. O islamismo se tornou uma radical chande do homem de preservar e denfender valores, por isso talvez se espalhe no mundo com tanta rapidez.

Voltando ao meu amigo, depois de todo este desvio. Eu não posso lutar ao seu lado contra o comunismo pois não vejo no comunismo o verdadeiro inimigo. O inimigo está na alma humana que se afasta de Deus e se torna cada vez mais niilista. É nesse vácuo que se forma em nossa alma que as ideologias totalitárias avançam, que seduzem. O homem tem necessidade de Deus. Ele está morto. Seu lugar está sendo ocupado por diversas forma de intolerância e assim continuará até que o homem entenda que deve se guiar por valores morais profundos. Quando isto acontecer, não restará espaço para o mal.

O socialismo avança no Brasil não por causa da covardia de nosso povo, mas de sua falta de valores verdadeios. O brasileiro não cultua sua própria liberdade, seu direito de errar ou acertar. Quer que alguém decida por ele. Não quer impor limites ao seu próprio comportamento, quer que alguém imponha ou, melhor ainda, que ninguém imponha. É por afastar-se de Deus que estamos nos afundando. Tivesse o brasileiro crença em valores absolutos como a vedade, a justiça e a razão, não estaríamos sendo governado por seres tão amorais.

A minha torcida, portanto, não é pela derrota do comunismo. É pela salvação de nossas almas. Nada é mais eficaz contra o totalitarismo do que os valores universais tão bem defendidos pelos gregos na antiguidade e por Jesus Cristo. É quando nos afastamos deles que abrimos nossos corações para o mal. O comunismo não é a origem do mal, é sua conseqüência.

O homem semeia sua própria iniquidade.


1: A Traição dos Intelectuais
2: O Saber dos Antigos
3: Economia de Mercado e Ética

Liberação das Drogas

Novamente o tema surge entre políticos brasileiros. Digo políticos porque esta é uma questão que a grande maioria da população brasileira tem uma opinião bem diferente de FHC e Temporão. Aqui cabe algumas dismistificações.

FHC não defendeu a liberação das drogas, defendeu a descriminilização do consumo, o que já existe. Temos uma das legislações mais liberais neste sentido. Um legislação que vai contra a vontade popular, mas que é fato. Ninguém vai preso no Brasil por estar fumando maconha ou cheirando cocaína. Embora sejam financiadores do crime organizado, mensagem que o filme “Tropa de Elite” trouxe para irritação dos liberais brasileiros que não querem lembrar de responsabilidade moral dos nossos atos, até porque abominam este negócio de moral.

Temporão pegou o mote e já começou nova campanha. Anteriormente havia sido o aborto, a educação sexual para crianças em escolas públicas usando pênis de borracha para ensinar meninos e meninas a colocar camisinha. Tudo contra a vontade da maioria dos pais. Mas como disse o presidente uma vez, a vontade dos pais não importa nestes casos.

Temporão a tempos tem feito de tudo para transformar o Brasil nos Estados Unidos no campo das políticas liberais do partido democrata. É pior ainda o fato de ser o ministro da saúde. Muitas das suas idéias atingem justamente o sistema que é responsável.

Qual o impacto da liberação das drogas para o sistema de saúde? Uma das leis econômicas diz que as pessoas reagem a incentivos. Liberando as drogas, o preço cairia automaticamente. Será que a facilitação do acesso a drogas tornaria o país melhor? Acho que não.

Tanto FHC quanto Temporão batem na tecla que o combate ao tráfico de drogas é um retumbante fracasso. Sim, gasta-se milhões para enfrentar este mal que assola a humanidade, mas as perguntas deveriam ser outras. Se não houvesse este enfrentamento, a coisa ficaria melhor? Quando se gastaria em saúde com um aumento significativo no consumo?

Muitos se iludem, achando que com a liberação das drogas a violência vai desaparecer. Traficantes não possuem nenhuma paixão por sua mercadoria. Estão no seu negócio porque a perspectiva de lucro, por ser uma atividade ilegal e arriscada, é gigantesca. Liberando as drogas, não vão se dedicar a fabricar brinquedos no dia seguinte, vão para outra atividade criminosa.

A droga é um fragelo, a piora a cada dia. Não é a toa. O uso de drogas está intimamente ligado com a escolha de seus consumidores, com a questão moral. A sociedade moderna cada vez mais se afasta de qualquer consideração ética de seus atos, procurando sempre racionalizar seus próprios erros. Não sei quanto tempo vai levar para percebemos que tomamos um caminho errado, o afastamento de Deus e da religiosidade. A negação de Deus, o ateísmo, é o afastamento da verdade, é a imersão em um beco sem saída. Dostoievsky estava certo.

Se Deus não existe, tudo é permitido.

A metamorfose

Quem leu o primeiro número de Dicta e Contradicta deparou-se com um excelente artigo sobre como ler o Eclesiastes, de autoria de Luiz Felipe Pondé. Ontem o autor apresentou na Folha um artigo sobre o pessimismo. Pondé enfrenta o otimismo progressista e nos apresenta pérolas como essa:

Eu penso que o Iluminismo é que é regressivo porque caminha sobre fantasias enquanto os homens caminham sobre tumbas. Nós modernos somos a raça mais covarde que caminhou sobre a Terra. Não escrevo para tornar a vida do meu leitor melhor. Escrevo e leio para não me sentir só. Quando olho os “avanços” da nossa minúscula história, penso: como nos verão em mil anos? Como a decadência do século 17? Rirão de nós porque demos direitos aos ratos, enquanto fizemos dos bebês lixo reciclável pelo direito de gozar mais?

A íntegra aqui.

A mãe do ano

Eu tinha visto por alto a estória dos nascimento dos 8 gêmios. Na hora comentei com alguém que só poderia ser coisa de fertilização. Só hoje fui ler mais sobre o assunto (clique aqui). É de estarrecer.

A mãe, Nadya, era mãe solteira de 6. Não satisfeita, apesar de seus recursos limitados, resolveu fazer fertilização in vitro utilizando múltiplos embriões. O resultado é que se tornou mãe de 14 filhos e transformou sua epopéia em um show para a mídia.

Está sendo apresentada como a mãe do ano, uma boa alma que se sacrificou pelo amor de suas crianças. Será mesmo? Até onde sua atitude é amor e até onde é irresponsabilidade?

Para começar, ela não tem como pagar esta conta. Logicamente o estado (leia-se contribuinte) vai arcar com suas atitudes. Parece que só a conta do hospital ficará em mais de um milhão. Mas isso não é o pior. Quais os danos que os próprios filhos sofrerão por sua decisão?

Mulheres não são chocadeiras e nem produzem ninhadas. Os bebês nasceram muito leves e possivelmente terão muitos problemas de saúde em função da condição em que vieram ao mundo.

Temos ainda o problema psicológico. O amor e atenção de uma mãe é fundamental para uma criança. Que espécie de atenção será capaz de dar para 14 filhos ao mesmo tempo? O tempo dirá.

Ela pode ser considerada uma grande mãe para muitos. Pessoalmente, só vejo uma irresponsabilidade sem tamanho e uma diminuição do valor da vida e da própria maternidade. O que era para ser algo sagrado tornou-se um show bizarro protagonizado por Nadya, seus médicos e a mídia americana.

A humanidade não cansa de me surpreender. Infelizmente.