A polêmica da suástica

Uma das polêmicas da semana foi a do restaurante que colocou alguns garçõns usando diversos símbolos militares, entre eles uma suástica. Parece-me que foi mais ignorância dos proprietários do que outra coisa, mas o acontecido despertou a revolta de muita gente e ficou parecendo que um empresário, essa classe do mal, obrigou seus garçons a usar símbolos nazista, como se ainda existissem coisas assim, especialmente no Brasil.

Achei o episódio em si curioso. Por que não poderia usar uma suástica? Por que o nazismo foi um ideologia baseada no ódio seletivo que gerou milhões de mortos, guerras e extermínio. Pois o comunismo-socialismo fez igual, ou ainda pior. Aliás, a II Guerra, nunca é demais lembrar, começou com uma dupla invasão da Polônia. Nazistas de um lado e comunistas de outro.

O nazismo é doutrina morta e enterrada. Se ainda existem alguns idiotas na Europa que ainda se fantasiam e pedem uma volta dessa doutrina demoníaca, são vistos como excentricidades e aberrações; ninguém os leva a sério. Mas com o comunismo é diferente. Basta olhar a nossa volta para ver os símbolos por toda parte: camisas com o rosto do chê, stalin e lenin; partido com o foice e o martelo como símbolo, publicações de exaltação ao comunismo; sindicatos com símbolos comunistas. O comunismo é uma ideologia baseada no ódio que gerou milhões de mortos mas que, ao contrário do nazismo, está muito viva. Teve até líder outro dia sendo devorado por cachorros.

Por que a distinção? Ou esses símbolos do mal são todos proibidos ou nenhum é. Vamos deixar de hipocrisisa. Trocando em poucas palavras: se Fidel pode, Hitler também pode. A diferença é que o primeiro ainda está vido, pelo menos até que o inferno pare de rejeitar sua chegada. E o segundo morreu há mais de meio século. De minha parte tenho desprezo por todos que citei aqui. Já alguns são mais seletivos, preferem seus demônios de extimação.

Raça de víboras.

Sobre o rolezinho

O que me chama atenção nessa história do rolezinho é que tem gente realmente achando que quem frequenta shopping, especialmente aquele do Itaquera, é rico e a classe média do mal, que eles chamam singelamente de classe média. Nem vou entrar no mérito que esse conceito de classe econômica é uma abstração como já foi mostrado pelo historiador marxista, pasmem, E J Thompson. Ele descobriu que não havia nada que ligasse as pessoas pela faixa de renda, que não havia um comportamento ou ideologia comum a essas pessoas e, portanto, a classe econômica como entidade real simplesmente não existe. Seria como dizer que existe uma classe das pessoas canhotas ou das que gostam de pastel de queijo.

Mas, retomando, tem gente achando que são os ricos e descolados que frequentam os shoppings e que há um preconceito contra os pobres que estão invadindo esses verdadeiros templos de consumo porque graças ao imenso sucesso econômico dos governos petistas foram promovidos a uma espécie de classe média boa. Nesse caso, eles costumam se referir carinhosamente como classe C. Essa seria a evidência do sucesso de Lula e Dilma.

Pois essa gente precisa parar de fazer compras em New York, ou voltar para o país, pois vivem na segurança do estrangeiro, e darem um “rolé” pelos shoppings. O que mais se vê lá é classe C, com lojas âncoras do Ponto Frio, Casas Bahia, C e A, tudo bombando com o consumo. Classes A e B? Tudo no exterior ou no comércio online.

E porque a classe C está em massa nos shoppings?

PORQUE É O ÚNICO LUGAR ONDE POSSUEM SEGURANÇA PARA FAZER COMPRAS!

Perceberam o grito? A Classe C vai ao shopping para fugir exatamente dessas gangues que resolveram os perseguir no único lugar que tinham refúgio. E como reagem os intelectuais caviar? Gritam que se trata de preconceito! Que não há nada demais em um bando sair cantando funk e palavras de ordem contra essa sociedade burguesa de consumo. Ah, não roubaram ninguém. Claro que não, né? Não são burros. Enquanto forem um corpo estranho andando pelos corredores, estarão as vistas dos seguranças. O problema é quando se tornarem uma presença normal e não se diferenciar mais uma coisa de outra.

Pobre classe C. Só quer ganhar a vida e deixar de ser assaltada em cada esquina. Ainda tem gente que acha que a maioria das pessoas vítimas da violência são da classe média (a ruim). Uma bogagem, trata-se da classe C (a boa), justamente porque está com a bandidagem intranhada em seu interior. Tudo que querem é um espaço que possam levar os filhos e andar com segurança. Será pedir muito?

Memórias de uma guerra cultural

The Sword of Imagination _ Russell Kirk

Memoirs of a Half-Century of literacy conflict


Quando a década de 50 começou nos Estados Unidos, a imagem era do triunfo do liberalismo, entendido como a crença no racionalismo e no progresso através da escolha de corretos modelos políticos, econômicos, social, educacional, etc. Lionel Trilling publicava The Liberal Imagination, um conjunto de ensaios literários que mostrava sobretudo que não havia mais idéias conservadoras ou reacionárias em circulação. Apesar de liberal, ele reclamava dessa situação pois impedia que os liberais fossem forçados a examinar suas próprias idéias e aperfeiçoá-las.

Neste contexto surge um jovem intelectual que desde cedo demonstrou uma inclinação pelas idéias conservadoras. Com o tempo, Russell Kirk tornou-se a principal voz de um novo conservadorismo, ou simplesmente um renascimento do conservadorismo, iniciando um movimento que culminaria na eleição de Ronald Reagan e a colocação de conservadores no poder.

A história dessa guerra cultural, ou conflito literário, e de sua própria vida, Kirk conta em terceira pessoa em The Sword of Imagination, suas memórias. O retrato que fez de si mesmo é de um homem de idéias, que entrou no debate no pior momento possível, defendendo idéias consideradas ultrapassadas e que não encontrariam eco nem entre os republicanos, a direita política americana. Metodicamente, Kirk atuou em duas grandes vertentes para virar este jogo considerado perdido.

Primeiro, resgatou e apresentou para a América nomes como Samuel Johnson, Edmund Burke e Toqueville. Em 1953 publicava, com surpreendente sucesso, The Conservative Mind: From Burke to Santayana, demonstrando principalmente que determinadas idéias, e disposição, eram perenes pois eram expressão de uma ordem moral duradoura, que não competia ao homem criar, mas descobri-la.

Segundo, chamou atenção para uma retomada da defesa do conservadorismo que acontecia em trabalhos isolados por várias mentes inspiradas, como Eric Voegelin, Leo Strauss e outros. Através de seus artigos e conferências, estabeleceu um canal para que estas vozes se comunicassem e um debate conservador passasse a existir. 
Ao término da década de 50 as bases já estavam formadas para uma transformação de mentalidade que chegaria ao americano médio apenas décadas depois e que encontrariam no ex-ator e governador da Califórnia o canal de expressão do descontentamento com as promessas do liberalismo. Nas palavras de Kirk:

ordinarily the passage of some three decades had been required for a body of convictions to be expressed, discussed, and then at length incorporated into public policy _ or else to be rejected.

Foram três décadas (50 a 80) para que este corpo de idéias conservadoras chegassem ao homem comum e ele pudesse eleger um governo autenticamente conservador com a vitória de Reagan sobre Carter. Nesse período houveram governos republicanos de Eisenhower e Nixon, mas de maneira nenhuma podem ser chamados de conservadores autênticos. Para Kirk, faltava-lhes a capacidade imaginativa necessária para conceber as diversas situações humanas e decidir com clareza, capacidade que se manifestou em Reagan, mas que faltou em seu sucessor George Bush, abrindo caminho para o retorno de um governo liberal em 1992 com Clinton.

The Sword of Imagination é uma grande meditação sobre o poder das idéias em uma sociedade e como a imaginação é fundamental para a política. Se a política é a arte do possível, é preciso que se consiga imaginar o possível para realizá-lo. A falta desta capacidade em homens no poder leva a decisões trágicas como a intervenção no Vietnã e o borbardeio do Iraque na Guerra do Golfo, punindo ainda mais uma população que era oprimida pelo próprio governo.

É também uma reflexão sobre a necessidade de compreender as idéias opostas e saber dialogar com elas, coisa que o próprio Trilling advogou mas que foi incapaz de exemplificar quando se deparou com o ressurgimento de idéias conservadoras, como criticou Kirk. Muitos de seus debatedores, liberais de várias correntes, são descritos com simpatia e sempre buscando as bases comuns. Ao mesmo tempo, ele critica os homens sem idéias, sejam de que lado estejam, como Eisenhower, Bush, Lyndon Johnson e Jimmy Carter.

Um livro para os conservadores entenderem de onde vem certas convicções e para os liberais sinceros entenderem que ser conservador não é uma deformação de caráter, mas um impulso que possui razões honestas para existir, mesmo que estejam erradas. E que idéias tem consequências, mas que exigem um período de maturação para se revelarem no campo político. Considerando que só agora no Brasil certas idéias começam a circular, será preciso uma boa espera. Enquanto isso, vale o lema: a política é a arte do possível. E talvez o possível hoje seja um esquerda menos canalha do que a que temos no poder.

Toffoli e Marco Aurélio Mello

Ano passado, Marco Aurélio Mello deu uma entrevista sobre o aborto de anencéfalos. Uma das perguntas, e a reposta, foi a seguinte:

Mas o STF está preparado para discutir esses assuntos?
Meu tempo na corte dura mais oito anos, quando completarei 70 anos. E tenho certeza de que ainda estarei aqui quando essas discussões acontecerem. A tendência é de uma abertura cada vez maior do Supremo em relação a esses temas. Mesmo porque outros ministros, alguns com visões mais conservadoras, se aposentarão antes de mim.

Este resposta em incomodou de imediato. Marco Aurélio estava esperando que alguns ministros se aposentassem para que sua tese prevalescesse, um expediente que achei vergonhoso. Se tem convicção da sua interpretação da constituição na questão levantada, deveria acreditar que conseguirir convencer os adversários, emprego o termo na forma de quem discorda em uma discussão, e não torcer para aposentadoria.

Pois um deles se “aposentou” do tribunal e da vida, mas isto é outra estória.

Toffoli acabou de anunciar que não se sente impedido de julgar o caso Battisti. Para quem não lembra, o caso encaminhava-se para a extradição do criminoso quando Marco Aurélio pediu vistas. O que pretendia? A questão não era desconhecida, pelo contrário, era até bastante debatida; por que pediu vistas ao processo?

No dia seguinte, li que o ministro recém empossado poderia votar no processo. Alguns blogueiros já demonstravam o que seria uma manobra de Marco Aurélio para vencer a disputa, ganhar tempo para que Toffoli pudesse votar e dar o voto salvador para o terrorista italiano.

A esta altura, o fato de Toffoli votar não muda a pretensa intenção de Marco Aurélio. Retomando a resposta sobre o aborto de anencéfalos, faz todo o sentido o pedido de vistas. Se isso aconteceu de fato, o ministro praticou uma canalhice completa, uma atitude nojenta e vil, que depõe contra qualquer condição de ética que possa ter. Usar a morte de um colega para garantir a libertação de um assassino, apenas para atender sua vaidade, é algo de monstruoso.

Marco Aurélio Mello terá protagonizado um dos atos mais abjetos que um homem público jamais cometeu neste país. Deveria ir para a lata de lixo da história. Pode fugir da justiça dos homens, mas terá que se ver com a justiça divina pela cumplicidade moral com um terrorista e pelo preço que cobrou sua vaidade.

Xixi no banho!?!

Como não assisto televisão aberta, acabo perdendo umas pérolas. Quer dizer que o Jornal Nacional levou ao ar uma reportagem defendendo o xixi no banho como método para economizar água doce e salvar a Mata Atlântica? Que estão sendo exibidos comerciais da ONG SOS Mata Atlântica dirigidos principalmente para crianças defendendo a prática? Será que perdemos realmente o senso do ridículo?

E ainda querem que eu leve esse tipo de coisa a sério.

Mais uma vez, a Igreja Católica

Deixei de ser católico há quase duas décadas. Não deixeis de ser Cristão para que o leitor entenda que crer em Cristo é traço marcante de minha personalidade pois passa pelo meu entendimento da própria existência. O cristianismo não é uma mitologia que me consola nos momentos difíceis, pelo contrário, é talvez a parte mais real da minha existência, a parte que dá sentido a toda minha existência.

Reinaldo Azevedo cantou a bola sobre o protocolo do acordo entre a Igreja Católica e o governo brasileiro. Alguns juristas manifetaram-se, particularmente a Associação dos Magistrados do Brasil, sobre o possível retrocesso que o documento provocaria na separação da Igreja e o Estado. Reinaldo recomendou, não acredite em mim, leia a íntegra do acordo.

Foi o que fiz. Li o acordo atentamente, da primeira á última linha. Não vi absolutamente nada que ameace a separação já consagrada nas nossas leis. O artigo que enfureceu uma parte dos nossos juízes fala sobre o ensino religioso. Não há como ser mais claro que no Artigo 11. Fala em direito de liberdade religiosa e a importância do ensino religioso para a formação integral da pessoa. Podem discordar que este tipo de ensino seja importante no entanto devem respeitar eu e todos os demais brasileiros, uma parcela bastante significativa, que acredita que a religiosidade é sim uma parte importante da formação da personalidade.

Quer dizer que os ateus são abrigados a assistir aulas de ensino religioso? Muito pelo contrário. O acordo afirma claramente a matrícula facultativa; mais ainda, diz explicitamente ensino católico ou outra confissões religiosas, um campo suficientemente amplo para englobar qualquer tipo de fé. O acordo abre uma porta, tanto para católicos quanto para qualquer outra fé, que complemente o ensino regular com uma disciplina específica de ensino religioso. Onde está o retrocesso? Quel existam pessoas que consideram a religião importante para o desenvolvimento humano? Isso é opinião. Ninguém está querendo colocar alguém contra a vontade para assistir aula de religião. O que a Igreja quer, e é direito seu, que os pais que desejem tenham este caminho para seus filhos.

Por que fala-se tanto em tolerância com as religiões em geral, até mesmo em seitas que utilizam técnicas de programação neuro-linguística, mas esta tolerância é vedada aos católicos em particular e aos cristãos em geral? Muitos que levantam as armas para combater o ensino religioso acham normal rituais indígenas com mutilações e mesmo infanticídio. Estranho mundo onde pode-se matar uma criança em nome de um cultura mas não se pode assistir uma aula sobre a vida de Cristo.

Digo o mesmo que Reinaldo Azevedo. Não acredite em mim, leiam o documento. O ordenamento jurídico brasileiro é ressaltado o tempo todo e a liberdade religiosa, para todos os cultos, é re-afirmada.

Tempo de Meditação

Quando este blog fica em silêncio, normalmente é porque seu autor resolveu deixar de lado um pouco a luta e refletir sobre tudo que está aí. Ganhar um pouco de distância, ganhar perspectiva, tentar enxergar com um pouco menos de paixão e combatividade.

Uma pessoa que me é muito cara me disse outro dia que estou ficando muito radical em minhas opiniões. Ela estava tão certa, mas tão certa, que respondi sem pensar que estava enganada. Não parei nem um segundo para pensar no que ela me disse, para considerar que talvez estivesse com a razão.

Desde então tenho refletido sobre o assunto. Ela chegou a lembrar a célebre frase de Aristóteles: a virtude está no meio. Lembrei da última vez que tentei argumentar a sério com alguns amigos. Passei da conta, soube disso no momento que falava. Usei termos fortes, gesticulei, tornei-me exatamente o tipo de pessoa que tenho procurado me opôr; tornei-me um homem massa; um homem preso ao próprio discurso.

Encontrar nossas próprias convicções é um exercício inebriante e perigoso. Somos tomados pela euforia, queremos dividir nosso ponto de vistas, muitas vezes passando por cima do direito dos outros em escutá-la. Fico relembrando a cena que discuti com meus colegas. Não estava muito diferente da Heloísa Helena falando do Plano Real ou de um líder grevista. Acho que se tivesse um megafone na mão teria usando-o dentro do meu próprio apartamento!

Perdi o senso de perspectiva. Hora de parar, arrumar o pensamento. Não se trata de abandonar a luta e deixar se levar pela inércia que nos levou ao ponto que estamos hoje. Não se trata de fugir do confronto, de deixar de defender suas idéias. Trata-se de ver o confronto onde existe realmente confronto, evitando misturar jantar entre amigos com debate políciico-filosófico no estilo bolchevique. Cada um em seu campo.

Hora de lembrar que a moderação deve ser usado quando couber, que devemos defender nossos ponto de vistas, mas com tranqüilidade e deixar sempre aberto o caminho para o recuo quando nos convencermos que embarcamos em uma canoa furada. Li em um contro do Dostoievsky, ainda neste fim de semana, que um determinado personagem só se deu conta da estupidez de seu argumento quando o pronunciou. Tem toda razão. Quantas vezes para defender uma convicção não lançamos mão do pior argumento possível, um argumento falho, deparando-nos com a estupidez que nós próprios pronunciamos. Teremos a h0nestidade intelectual de reconhecer o erro e reformular? Pior ainda, não teremos nos deparado com uma contradição suficiente para colocar em dúvida uma de nossas idéias? Neste caso, somos honestos para pelo menos reconhecer nossa perplexidade?

A todo momento somos influenciados pelas pessoas que estão a nossa volta, para o bem e para o mal. Por vezes tentamos imitar um traço de uma pessoa que admiramos sem entender, todavia, que este traço não faz parte de nossa personalidade. Seguindo por este caminho, acabamos por nos descaracterizar. Nos tornamos cópias mal-feitas de outra forma de pensar, refletir e agir. Devemos aprender com quem admiramos, mas não a ponto de perder nossa individualidade.

Este longo trecho reflexivo foi para me situar novamente no embate cotidiano de um mundo de imposturas. Para acender na minha frente o sinal de alerta para não cair nas armadilhas que são colocadas no caminho de quem se propõe a pensar, a deixar um pouco a mediocridade cômoda da sociedade da informação.

Uma das piores coisas que podem acontecer a um homem livre é tornar-se cópia do próprio mal que optou em combater.

Questionamentos

Recebi o seguinte comentário assinado pela acessoria de comunicações do Ministério da Saúde:

O Ministério da Saúde não tem ocultado informações da população. Desde o início, o Brasil tem informado a população sobre o novo vírus, formas de contágio e prevenção com transparência, além de investigar a epidemiologia dos casos.
O Influenza A (H1N1) é semelhante à gripe sazonal em relação aos sintomas, formas de contágio e tratamento na maioria dos casos. Apenas casos graves e pessoas do grupo de risco podem ter indicação para uso do Tamiflu. A maior parte dos casos foi leve, pode ser tratada com outros medicamentos e já recebeu alta, mesmo sem fazer uso do Tamiflu.
A taxa de letalidade citada no post está equivocada, pois o Brasil está realizando a notificação, investigação, diagnóstico laboratorial e tratamento dos casos com síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e dos grupos de risco para desenvolver formas graves, assim como identificação de novos focos da doença no país. Dessa forma, a taxa de letalidade desse vírus, no momento, é de 0,09/100 mil habitantes no Brasil.

A porcentagem de mortos que o autor se referiu foi número de mortos dividido por número de casos. Pelos dados informados pelo próprio Ministério, temos 13% de mortalidade. Ou existe algum erro nos números divulgados?

Parece que o número de casos ainda está baixo no país, mas a mortalidade está alta. Se estivermos apenas no início de uma epidemia, como ficaremos?

Quanto ao Tamiflu, por que países como a Inglaterra e o Chile o distribuem livremente e aqui no Brasil e o Ministério está controlando a distrubuição apenas para os casos graves? Não temos remédios suficientes para enfrentar uma epidemia?

Gripe Suína: silêncio

A imprensa está tratando a gripe suína no Brasil como se fosse um assunto secundário. Limita-se a registrar as mortes e pegar uma ou outra declaração de alguém do ministério da saúde, ou mesmo do ministro, tranquilizando a população. Para quem lê o noticiário, a impressão é que trata-se de um pequeno surto que logo vai passar.

Dois profissionais de saúde amigos meus, um médico e uma enfermeira, que trabalham em cidades diferentes, alertaram-me que a coisa não é bem assim. Ela me disse outro dia que as autoridades e hospitais estão escondendo as mortes para evitar alarmar a população. Ele me disse que já participou de reuniões sobre a gripe e a situação não é nada boa.

Há dois dias, saiu a seguinte nota no Jornal do Brasil:

O infectologista Edmílson Migowisky fez duras críticas na manhã desta terça-feira à forma como o Ministério da Saúde vem ministrando o Tamiflu no país. Segundo Migowisky, a alta percentagem de mortes no Brasil, mais de 10%, contra 0,5% em todo o Mundo, é consequência da restrição que o Ministério fez quanto á distribuição da medicação.

– A letalidade da gripe no Brasil é muito superior à letalidade da Inglaterra, onde aconteceram quase 100 mil casos e poucas pessoas morreram. O Chile também distribui a medicação livremente e o índice de mortes é baixo – atacou.

O infectologista, que desde o início da epidemia defende a liberação da medicação sem restrições, diz que boa parte das 210 mortes no país aconteceram por conta desta política errada.

– Aqui no Brasil a política é restritiva.

Será que estamos no meio de uma epidemia que pode se alastrar pela conhecida incompetência do governo? Cadê a imprensa que não está fazendo estas perguntas? Não está passando da hora de investigar mais um pouco?

O México teve que parar para conseguir se livrar da gripe. Por aqui, tirando algumas escolas, tudo está normal: cinemas, teatros, shoppings. Será uma irresponsabilidade?

Estou começando a ficar inquieto com a gripe no Brasil. Tenho a impressão, e por enquanto não passa disso, que tem muita coisa escondida nesta estória. Que há algo de podre no reino da Dinamarca.

A visão torta de Petry

Sempre que leio um texto de André Petry, penso logo no livro “A Traição dos Intelectuais” de Julien Benda. Ele é o representando do progressismo no Brasil, uma espécie de embaixador do partido democrata, a esquerda “limpinha” americana. Quando a Veja o colocou como correspondente em NY para acompanhar a eleição ano passado, eu não tive nenhuma dúvida que teríamos um porta voz de Obama na maior revista do país. Agora o governo Obama é coberto pelo jornalista. Coberto no sentido de cobrir mesmo.

Por que recorro a Benda? Porque foi um dos primeiros a denunciar essa classe de vigaristas que renunciavam o dever maior do intelectual, descobrir a verdade. Os intelectuais traidores não possuem interesse nenhum em entender o mundo e descobrir como as coisas são; seu interesse é estar certo. Bruno Tolentino, falecido poeta brasileiro, cunhou bem o termo para a visão que este tipo de intelectual: o mundo como idéia.

Na Veja desta semana, Petry fala da cúpula da cerveja. Até Petry foi obrigado a reconhecer que o professor Gates estava errado, mas não chegou tanto em relação a Obama. Este apenas interpretou mal os fatos pelo histórico racista americano (engraçado que Petry dizia ano passado que eleger Obama era mostrar que o racismo não existia na América!). Para equilibrar o jogo __ aqui cabe uma regressão, para um esquerdista só existe duas hipóteses: eles estão certos ou eles estão errados, neste caso tem que ter um erro do outro lado para alcançar um equilíbrio) __ Petry colocou que dois erros não fazem um acerto. O segundo erro, em sua concepção torta, teria sido do policial que usou de truculência.

Truculência que não houve. Para sorte do policial, ele estava acompanhado de outros dois; para sorte maior ainda, um era negro e outro hispânico. Tem que crescer muito cabelo em ovo para a imprensa americana ousar questionar um negro ou hispânico. Tivesse o policial sozinho ou acompanhado de dois brancos, estaria frito. Parece que um policial esperto tem que sempre ter um outro policial, negro ou hispânico, ao seu lado para ter alguma credibilidade. Com a cortesia de décadas de hegemonia dos progressistas na cultura.

Petry ainda avança mais um pouco na impostura. Disse que a única correta na história, excetuando Obama, é claro, que está além do bem e do mal, foi a vizinha que chamou a polícia pois esta teria tido o cuidado de evitar dizer no telefone que os suspeitos que tentavam arrombar a porta da casa de Gates eram dois negros. Sempre que estou em dúvida é bom escutar Petry. Ele me dá uma boa pista do caminho errado.

Se a vizinha percebeu que os dois arrombadores eram negros, deveria ter mencionado. Assim como teria se fossem asiáticos, brancos, índios, gordos, baixos, carecas ou o que for. É sempre importante informar a polícia o máximo de detalhes possíveis para preparar uma ação. O medo de uma pessoa de informar para a polícia uma característica de um suspeito baseado no racialismo é um mal provocado pelo politicamente correto. Os dois não eram suspeitos por serem negros e sim por estarem arrombando uma porta. Será que arrombar uma porta não é sinal suficiente para que um vizinho chame a polícia?

André Petry é uma amostra do que há de errado com o jornalismo no Brasil e no mundo. Uma boa parte dos jornalistas, talvez a maioria, não está interessada em mostrar a realidade do que acontece e interpretar de acordo com critérios lógicos. Querem provar que estão com a razão, que são iluminados tentando apontar o caminho da virtude para o pobre homem comum. Para isso destorcem os fatos ou simplesmente recusam-se a levá-los em consideração para não ter que lidar com eles.

Benda escreveu seu livro na década de 20. Ainda não tinha visto o nazismo, pouco conhecia do terror comunista, não tinha visto 1968, a cobertura americana da ofensiva Tet e muito menos o politicamente correto em ação. Benda é a amostra de um homem que preferia estar errado a ter razão. Infelizmente, para ele e para nós, estava certo. Ele sim foi um verdadeiro intelectual.