Adeus Alckmin

Só um milagre consegue reverter a situação do ex-governador que agora vê o atual prefeito descolar abrindo 8% de vantagem. Tudo se deve à comédia de erros que foi a candidatura de Alckmin que não só dividiu seu próprio partido como dinamitou seu relacionamento com o DEM, erro até maior do que o primeiro. Pelo que li pela rede o destino do tucano deve ser o PSB, um dos partidos da base de Lula. Faz sentido, já até aderiu a conjunções adversativas do lulismo: “Lula tudo bem, mas o PT…”. E já levei fé neste homem!

Teria ele outra alternativa para ganhas estas eleições? Talvez. Poderia ter eleito como prioridade número um derrotar Marta, colocar-se como principal opositor da ex-prefeita e ganhar de Kassab justamente por identificar-se mais como anti-Marta do que o prefeito; convencer o eleitor que era o mais adequado para vencê-la. Fez o contrário, ao atacar Kassab passou a imagem de proximidade com a candidata do PT. Deveria ter seguido o conselho de um de seus apoiadores que disse que “era melhor perder o juízo que perder a honra”. Pois perdeu os dois.

Fala Lula: reconhecendo a crise, ou não.

A crise é muito séria e tão profunda que nós ainda não sabemos o tamanho. Certamente, talvez seja uma das maiores crises econômicas que o mundo já viu. Poderemos correr riscos, porque uma recessão em caráter mundial pode trazer prejuízos para todos nós. Entretanto, estamos mais sólidos, estamos mais precavidos. O nosso sistema financeiro não está envolvido no subprime. Nós fizemos as lições de casa e eles não fizeram.

Comento:

Quando li a chamada no blog do Noblat, e em alguns outros, dizendo que Lula tinha enfim admitido que o Brasil não estava blindado como vinha afirmando corri para ler o que o apedeuta disse. Ô, Noblat? Só consegue ler o que interessa? Não reparou no “entretanto” no meio da fase? O que de fato Lula reconheceu? Que há uma crise nos Estados Unidos? Isso até o cachorro aqui de casa já conseguiu entender pela agitação que ele vê quando ligo a CNN.

O que Lula fez foi uma declaração típica do lulo-petismo. Existe uma crise, pode chegar no brasil, blá, blá, blá, ENTRETANTO meu governo fez tudo certo e o problema é do Bush. Não é de estranhar que tenha 80% de aprovação. Comentei com um colega hoje que desse jeito até o fim do ano chega a 120%!

Por que os petistas gostam tanto de conjunções adversativas? Não será porque na essência do partido existe a crença que os fins justificam os meios? Somos um partido corrupto mas estamos roubando para o bem da sociedade, para construir a justiça social. Tentamos fraudar as eleições, entretanto estávamos empenhados em garantir que democraticamente um dos nossos fosse eleito. Derrubamos dois aviões por nossa incompetência mas o ministro já foi demitido…

McCain e Obama na rejeição do pacote

Embora tenha sido proposto por um presidente republicano, o  pacote de Bush contrariava uma das linhas mestras de seu próprio partido, a não intervenção no mercado financeiro. Desde o início ficou claro que seria no Partido Republicano a maior resistência ao plano. Em situação normal, os votos do Partido Democrata estariam garantidos pois a regulação do mercado sempre foi uma bandeira da legenda. Mas não é uma situação normal, é um ano de eleições.

Interessa parte dos democratas o aguçamento da crise para solapar qualquer chance de McCain. O pacote de Bush pode não ser uma solução definitiva para a crise mas é uma medida de emergência para evitar o caos maior. Para aprová-lo era necessário dividir os riscos e por isso foi feito uma proclamação pela superação da disputa partidária.

Quando McCain interrompeu sua campanha e foi para Washington seu partido tinha apenas 4 votos a favor da proposta. Conseguiu mais 60 mostrando sua capacidade de liderança. Obama inicialmente manteve-se afastado, foi chamado e compareceu para fazer um discurso e se mandou para não se sujar com a lama. É o prenúncio do que poderá ser um governo Obama, muito discurso e nenhuma ação.

Mesmo assim foi costurado o acordo contando com estes 64 votos. O Partido Democrata entraria com o restante pois não haveria problema de incompatibilidade com seu eleitor, favorável à intervenção do governo no mercado. Foi quando entrou Nancy Pelosi.

Não se sabe ainda se propositalmente ou não, ela fez um duro discurso contra os republicanos culpando Bush pela crise econômica; mais ainda, deixou claro para seu próprio partido que não era o caso de lealdade partidária. Foi a senha para a derrota.

Os democratas apostaram não só na manutenção da crise, mas na culpabilidade de seus adversário confiando no noticiário sempre favorável a seu candidato. O risco é o eleitor entender o que se passou de verdade nos bastidores do Congresso e ver o quanto a campanha de Obama apostou no desastre. Pelo menos esta é a aposta do ex-prefeito Giuliani:

I believe there has been a change right now at this particular point we’re at. I don’t think it’s about Sarah Palin. I think that she’s still giving us help by making the Republican base very enthusiastic, and actually reaching over to a group of voters who might not be thinking about us. I think it’s the economy that’s creating it. The general wisdom is if there’s trouble in the economy, it’s going to favor the Democrat. I think that’s what you’re seeing. But I believe if the public perceives a crisis in the economy, I think it’s going to start favoring John McCain, because I think it’ll be the same reason why they favor him as the more capable being commander in chief. And right now, we need a leader. We need someone who can make tough decisions, somebody who can wade in and get things done. John McCain last week acted like a president, trying to get votes. All this weekend, he’s acted like a president, trying to get votes. Barack Obama is just trying to stay out of the battle, you know, let me keep my skirts clean, and I want to politically position myself. That isn’t the kind of leader we need at a time the country’s at crisis.

Os representantes republicanos que votaram contra o pacote podem ter enterrado as chances de seu partido manter a Casa Branca mas estavam de olho também na própria sobrevivência pois a grande maioria encontra-se em acirrada disputa para manter as próprias cadeiras e sentiram de seus eleitores a rejeição ao acordo. Foi uma bola fora? Não sabemos.

Desconfio que muita coisa ainda vai acontecer até novembro.

Quando a legislação eleitoral atrapalha a democracia

Nota Oficial da Globo:

A TV Globo não promoverá, este ano, o debate de primeiro turno entre os candidatos a prefeito em São Paulo. A emissoras de rádio e TV, a lei eleitoral em vigor impõe restrições que limitam a liberdade de imprensa: obriga, por exemplo, que chamem para os debates, indistintamente, todos os candidatos de partidos com representação na Câmara dos Deputados, mesmo aqueles que chegam ao fim da campanha com índices inexpressivos nas pesquisas eleitorais.

Para realizar o debate com um número menor, a lei exige que emissoras entrem num acordo com os candidatos – oito, no caso de São Paulo. Este acordo tem sido tentado desde maio. Para que aqueles com menos densidade eleitoral abrissem mão do debate, a TV Globo ofereceu cobertura muito maior do que aquela a que fariam jus inicialmente se apenas critérios jornalísticos fossem levados em conta. Esta cobertura já foi ao ar. A TV Globo agiu assim constrangida pelas restrições à liberdade de imprensa presentes na lei eleitoral. A imprensa deve cobrir o que é notícia, de forma livre e espontânea: aqueles que, ao longo do processo, ganham densidade eleitoral são naturalmente mais bem cobertos, crescem nas pesquisas e asseguram um lugar nos debates. É assim a dinâmica no mundo democrático. É como deveria ser aqui também.

Dos oito candidatos, cinco assinaram o acordo, que previa a participação no debate dos cinco candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. Somos gratos a esses candidatos.

Ciro Moura, do PTC, Ivan Valente, do PSOL e Renato Reichmann, do PMN, não assinaram o acordo, apesar de terem se beneficiado do critério de cobertura proposto a todos os candidatos. A experiência comprova que debates com mais de cinco não são proveitosos: o tempo destinado à discussão de cada assunto se torna exíguo demais, e o debate acaba simplesmente não acontecendo. Como três partidos não assinaram o acordo, a TV Globo está impedida de realizar o debate com um número razoável de participantes. Os três candidatos não ultrapassaram um por cento das intenções de votos nas últimas pesquisas do Datafolha e do Ibope.

Por razões semelhantes, a Rede Globo não realizará debates em Curitiba, Rio de Janeiro, Fortaleza. São Luiz ainda é dúvida. A TV Globo lamenta que estas restrições na lei eleitoral a impeçam de promover um evento que tem se mostrado valioso em eleições passadas – e espera que a sociedade e seus representantes, em Brasília, reflitam sobre a questão.

Se houver segundo turno, o debate está assegurado. Os principais concorrentes já assinaram documento em que se comprometem com o evento, que será realizado, como já é hábito, no último dia da campanha. Este ano, será na noite de 24 de outubro, logo depois da novela “A Favorita”.

Fala Tarso Genro (e o que não falou)

Nós vemos o Poder Legislativo impotente para tomar grandes decisões infraconstitucionais que tenham força normativa para fazer a Constituição de 1988 avançar em seu sentido programático e, de outra parte, vemos o Poder Judiciário avançando num terreno aberto por essa omissão do Poder Legislativo e tomando determinadas decisões que geram um certo desequilíbrio entre os Poderes

O que Tarso Genro não falou foi que o Poder Legislativo está impotente para tomar decisões porque o Poder Executivo tomou suas prerrogativas e é quem de fato legisla no país através das medidas provisórias, cujo governo que pertence é recordista.

Quando tenta colocar o Judiciário como vilão do desequilíbrio, Tarso busca esconder que é o Poder Executivo que precisa ser podado. Vejam o que está acontecendo nos Estados Unidos, o governo Bush preparou um pacote econômico para socorrer o mercado financeiro e o Congresso rejeitou-o. Aqui no Brasil se cria uma estrovenga desnecessária como, por exemplo, a TV Lula, que é aprovada sem a participação do Legislativo. Por isso lá existe uma democracia e aqui este arremedo disforme.

E aí justiça eleitoral?

Venho batendo na mesma tecla há algum tempo. A justiça eleitoral tem se excedido em suas funções e está atrapalhando o processo democrático. A cada eleição aumenta o número de regras que supostamente trazem isenção e transparência ao processo, no entanto, na prática, afastam o eleitor cada vez mais do processo.

Um dos princípios equivocados que a justiça eleitoral se agarrou é o da exposição igual de candidatos, inclusive na mídia. Essa estória de que emissoras de televisão devem ser reguladas porque são concessões públicas é um disfarce para controle da informação. Ninguém está interessado em Ivan Valente, Reichman e outras nulidades que povoam o universo de escolha do eleitor e o problema não é a legenda. Existe candidato do PSOL, por exemplo, liderando pleito em capital importante; este não precisa de cota para aparecer na televisão.

O debate que a Globo pretendia fazer na quinta feira no Rio e São Paulo está ameaçado por causa destas regras. A emissora não admite mais de 5 candidatos no Rio e 6 em São Paulo. Tenta negociar com os candidatos nanicos uma maior exposição em seus tele-jornais em troca da desistência deles em participar do dabate. Os dois citados não querem aceitar na capital paulista e Paulo Ramos (PDT) não aceita no Rio. Vejam que este último é candidato de um partido tradicional, que por anos mandou no Rio de Janeiro, mas é sua nulidade pessoal o inviabiliza para a disputa.

A Globo está certa. Se não pode fazer um produto interessante e com retorno é melhor não fazer. Parabéns a justiça eleitoral por garantir a igualdade entre os candidatos: nenhum deles vai debater na maior emissora do país. Mais um serviço inestimável à democracia.

E agora ambientalistas?

Do blog do Reinaldo Azevedo:

O Ministério do Meio Ambiente divulgou os nomes dos 100 maiores desmatadores do país:
1º colocado – Incra
2º colocado – Incra
3º colocado – Incra
4º colocado – Incra
5º colocado – Incra
6º colocado – Incra
40º colocado – Incra
44º colocado – Incra

Mas isso não diz tudo. Na lista divulgada, a área total desmatada é de 520.666,985 hectares. E quanto desse total cabe ao Incra? Nada menos de 229.208,649 hectares. Vale dizer: oito “projetos” do Incra desmataram o correspondente a 44% do total. Sozinho, fez quase o mesmo do que fizeram os outros 92…

Comento:

Este é o preço da reforma agrária da esquerda. É uma equação curiosa, quanto mais reforma agrária se faz mais aumenta os sem terra. Não é novidade que o MST é apenas uma massa de manobra das muitas instâncias que buscam a derrocada do capitalismo. A terra é distribuída, o agricultor faz uma queimada, planta o que pode e depois abandona a terra. Não tem nada a ver com livre mercado, é justamente o contrário, é a idéia do fim social para a terra.

O socialismo não é a solução para o planeta, é a doença. O mesmo vale para o ambientalismo.

Sai o megapacote

Folha:

Líderes do Congresso dos EUA anunciaram um novo acordo para a proposta de lei que deve ser votada hoje. Na negociação, o governo do republicano George W. Bush cedeu às exigências de seu partido e dos democratas. O megapacote prevê o uso de US$ 700 bilhões para a compra de títulos de má qualidade em posse de instituições financeiras.

Comento:

Não se deixem enganar pelas manchetes; lendo com mais cuidado percebe-se que no essencial o pacote será aprovado conforme anunciado pelo governo. É engraçado, para ser benevolente, como os jornalistas brasileiros desmentem as próprias manchetes ao longo das reportagens. Fico com aquela imagem do brasileiro esperando o ônibus ao lado da banca de jornal lendo apenas a primeira página dos jornais; será que tem algo a ver?

Como toda negociação, ainda mais em um país de fato democrático, é preciso ceder em alguns pontos para se ter sucesso, desde que não se mexa no essencial. Na política tem um complicador a mais, mesmo que o trato seja desde início vantajoso é preciso mudar alguma coisa para mostrar ao eleitor que está contribuindo. Não me espantaria se o governo já tivesse colocado no plano exatamente o que poderia ceder justamente para conservar o principal.

O fato é que o pacote está sendo aprovado, os tais 700 bilhões. Espero que estejam fazendo o certo, muita gente boa defende que o governo deveria deixar a quebradeira acontece; outros tantos que a intervenção é necessária. Como se trata de gente muito mais gabaritada do que eu, prefiro ficar na minha.

O que venho falando?

Globo:

Mesmo com todas as garantias do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a segurança das urnas eletrônicas brasileiras está longe de poder ser considerada um consenso. Engenheiros, especialistas em computação e parlamentares levantam dúvidas sobre a inviolabilidade das urnas e a capacidade dos equipamentos permanecerem livres de fraudes e manipulações.

Semana passada, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a pedido de um grupo de parlamentares, enviou ao TSE proposta de auditoria no sistema de criptografia das urnas eletrônicas. O motivo: o órgão responsável pelo sistema, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), está no furacão de denúncias envolvendo abuso de poderes e interceptações telefônicas ilegais.

Comentário super-rápido:

Voto no papel! Já!

Continua a demonização do voto

Nosso sistema eleitoral está longe de ser razoável; o voto obrigatório, a eleição proporcional, o horário eleitoral obrigatório na TV, a quantidade gigantesca de candidatos, as regras ditatoriais da justiça eleitoral, tudo isso contribui para que o processo democrático no Brasil não funcione como deveria.

Como sair desta armadilha? Como romper este círculo? Ontem um amigo disse que era completamente cético, que nunca nos livraríamos da nossa elite política, de nossas oligarquias. Talvez tenha razão, realmente é um problema cuja solução não se mostra evidente.

Intuitivamente a educação surge como uma resposta. Um povo mais educado, em teoria, teria mais condições de julgar melhor a realidade. Quando vejo a posição dos intelectuais brasileiros começo a duvidar. Que um jovem universitário se empolgue com as idéias socialista é até compreensível, vive em um mundo de sonhos, não tem ainda a vivência da realidade para compreender que estamos em um mundo real onde essas idéias simplesmente não funcionam. O grande problema é ver a quantidade de intelectuais já com certa idade defendendo o retorno ao tempo do boi e do arado.

Mais educação? Com certeza, mas educação e não doutrinação ideológica. Ensine o homem a lógica, a matemática, as regras gramaticais, a física, a química, a história, a geografia e ele compreenderá melhor o mundo. Eleja como prioridade formar o cidadão e você terá o homem massa tão bem descrito por Gasset, a vaquinha de presépio das idéias que atrasam, quando não destroem, a sociedade.

Se achar o caminho para reformar nosso sistema viciado e fracassado é difícil, saber o que não funciona é muito mais fácil. Alertei há uma semana, e o quadro não mudou, que existia uma campanha sistemática de demonização do voto. A principal evidência é o trabalho dos chargistas. Por que os chargistas? A charge na capa de um jornal é a primeira coisa, talvez a única, que um analfabeto funcional se ocupa. Seu poder no consciente e subconsciente é ainda subestimado por muitos.

O que poderá vir de bom em convencer o eleitor que seu voto é inútil, que todos os políticos são desonestos? Combinado com o voto obrigatório só teremos a continuação da degeneração política brasileira e a perpetuação do divórcio entre a sociedade e a classe política. A demonização do voto não é uma saída, os chargistas deveriam estar alertando aos eleitores a importância do voto que está depositando na urna, é possível fazer bastante humor crítico com esta premissa.

Como disse antes, a constância e quantidade de charges sobre o assunto me preocupa. Não teria uma mão invisível por trás destes artistas? Não teria o movimento sido orquestrado?

O que pretende eu não sei, mas sei o suficiente para saber que não será bom para a democracia; não será bom para a sociedade.