De tempos em tempos, movimentos tomam o debate público de assalto. Em torno de certas idéias, grupos de pessoas se unem e desafiam o status quo, mudando o tom da discussão e, no limite, criando modificações na própria cultura de uma sociedade. Em política há um deslocamento da Janela de Overton, que estabelece quais idéias são aceitáveis em uma discussão.
Um movimento vitorioso sofre uma grande tentação, a do purismo. Quem é mais fiel a este conjunto de idéias e quem não aderiu o suficiente. No início, ocorrem expurgos ideológicos, expulsando por campanha de difamação os traidores.
Em um segundo momento, pessoas sensatas, horrorizadas com as campanhas realizadas, começam a se afastar do movimento. Não querem fazer parte das caças às bruxas que se estabeleceram.
No fim, sobram os puros. Os radicais que colocam este conjunto de idéias, ou quem as simboliza, como um deus em um sistema próximo de uma idolatria. O que sobra, no fim, é a religião política que falava Eric Voegelin. Um bando de fanáticos que tratam a política como seita, impedindo o debate racional dos princípios básicos que acreditam e separando as pessoas por grau de adesão ao dogma que foi constituído.
Está acontecendo isso no Brasil hoje. De minha parte, estou me afastando. Não vou participar do assassinato em massa de reputação que estão promovendo, um governo dos puros. Não dou mais dois meses de termos um movimento intelectual só de puros, incapaces de fazer alianças ou entender o outro, preocupados apenas de serem os portadores das verdades eternas.
Sem perceberam que se tornaram justamente o que afirmavam combater.