Um dileto amigo uma vez me questionou porque eu não passava à ação. Ele defende que no processo de avanço do socialismo no Brasil, não há outra possibilidade que não seja enfrentar o inimigo, que não seja assumir uma atitude de enfrentamento. Ele possui um blog e mobiliza blogueiros dentro deste espírito, de combater o mal que se instala no Brasil dentro dos planos do Foro de São Paulo.
Ele sempre argumentou que só chegamos a este ponto porque somos uma sociedade de covardes, que não reagem à violação que estamos submetidos todos os dias neste país. Acredito que tenha toda razão, a passividade da sociedade brasileira permite o avanço das forças que pretendem submetê-la. Mais do que isso, aceitam esse destino de bom grado. Desde que tenham pão e circo.
Lendo o livro de Benda1, compreendi que nem todos devem ser homens de ação, nem todos devem procurar a aplicação prática de suas idéias. Existem aqueles que devem procurar a verdade. E neste grupo que pretendo, dentro de minhas imensas limitações, procurar abrigo. Eu não quero ter razão, eu quero procurar a razão. Aliás, gostaria que a maioria das idéias que tenho hoje fossem falsas, seria bem melhor para meus filhos e para a própria humanidade. Minha angústia é que cada pequeno acontecimento deste mundo de imperfeições mostra que posso estar certo em minhas suposições.
Isso não quer dizer buscar a tal isenção, ou o equilíbrio entre diversas opiniões. Deploro este tipo de atitude. Não acho que deva existir, por exemplo, um meio termo entre marxismo e capitalismo ou entre totalitarismo e democracia. Quanto mais eu reflito e estudo, mas me convenço que o socialismo é um gigantesco erro e que nosso futuro estará comprometido em função de uma socialização da humanidade, um processo bem maior do que o Foro de São Paulo.
A grande batalha que vejo sendo disputada no tabuleiro mundial é a conquista da alma humana. O homem convenceu-se que é seu dever reformar o próximo e ensiná-lo o que pensar; que o indivíduo deve se submeter ao bem da coletividade que cada vez mais estaria refletido no Estado moderno e na chamada sociedade organizada. Um movimento de capturação de mentes em um projeto nacional que evolui rapidamente para blocos de países e futuramente em um tão sonhado governo mundial. Uma sociedade em que o homem perderia um de seus direitos fundamentais: o direito de errar.
É a comprovação que minhas idéias estão certas a minha maior fonte de angústia. Queria sinceramente que estivesse errado. Por isso busco a verdade, quem sabe ela me mostrará que tudo o que está acontecendo no mundo resultará em uma humanidade melhor? Estou empenhado em trocar muitas de minhas certezas por dúvidas. As exclamações por interrogações. Tudo pode ser questionado, já ensinava Sócrates. Quer dizer que duvido de tudo? Não. Algumas certezas carrego comigo, fundamentais para compreender meu próprio pensamento. São elas:
1. Deus existe, é soberanamente justo e bom. Toda a vida na Terra tem um propósito na ordem da criação.
2. Jesus Cristo foi o modelo do homem na terra. Ele veio para nos ensinar como proceder, para guiar nossos atos.
3. O homem é livre. Não existe um determinismo de nenhuma espécie, histórico ou religioso, que determine com antecedência as decisões dos homens. No momento que faz a sua escolha, faz na posse de seu livre arbítreo, e por ele será cobrado.
4. A vida não termina com a morte. Nossa vida aqui é passageira e com uma finalidade principal: nos reformarmos. O homem está na terra para evoluir, para se depurar, para se tornar melhor.
5. Atentar contra a vida humana é um crime, em todas as formas. Mesmo que esta vida for a própria, ou principalmente se esta vida for a própria. Não cabe ao homem decidir até quando vai viver ou tirar a vida do próximo. O homem é um fim em si mesmo, não meio para atingir determinados fins.
Dentro destas premissas, procuro organizar meu pensamento e buscar a sabedoria, buscar a verdade. O que retorno à questão da razão prática.
Não creio ser meu papel convencer o próximo que estou certo e ele errado, até porque não tenho esta convicção. Mas posso sim expor o que acredito e o que duvido. O que ele vai fazer com minhas considerações não me pertence, está além de minha pessoa. Inclusive o direito que qualquer um tem de ignorar completamente o que seu semelhante pensa.
Quando vejo a situação do mundo, fico cada vez mais convencido que o Giovane Reale2 está certo em seu insight. A raiz dos problemas do mundo está na deturpação completa dos valores, no niilismo que a sociedade moderna abraçou. Isto nos afetas em todos os campos, na religião, política,ciências, filosofia e até mesmo na economia, como apontou Bento XVI3. O homem moderno afasta-se de Deus cada vez mais, por isso os problemas da humanidade só tendem a piorar. Enquanto não nos convencermos que fizemos a aposta errada, no homem, não teremos uma verdadeira evolução humana.
A cada dia a humanidade investe contra o divino. O paradoxo maior é que ao mesmo tempo que coloca o homem com centro da existência, torna a vida mais insignificante. Umas das coisas que constato neste mundo de horrores é a completa desvalorização da vida humana, o combate incessante ao milagre da vida.
Basta ler os jornais, assistir a televisão. A vida humana vale cada vez menos. O aborto se tornou um método contraceptivo e uma afirmação de um direito. A sexualidade transformou-se em um imenso jogo sem regras e um mercado bilionário. Os homens passaram a decidir quando uma pessoa deve continuar vivendo e quando deve “descansar em paz” ou “abreviar o sofrimento”. O homem aceitou até ter sua vida transmitida pela televisão como se fosse um animal em um zoológico, e é. Queremos até criar a vida humana e decidir como o ser humano deve ser, uma versão politicamente correta da eugenia nazista.
O ocidente transforma-se em uma imensa sociedade sem valores e é esta constatação que enfurece os fundamentalistas islâmicos. Eles não combatem os valores do ocidente, eles combate a falta de valores que penetra em sua sociedade. O islamismo se tornou uma radical chande do homem de preservar e denfender valores, por isso talvez se espalhe no mundo com tanta rapidez.
Voltando ao meu amigo, depois de todo este desvio. Eu não posso lutar ao seu lado contra o comunismo pois não vejo no comunismo o verdadeiro inimigo. O inimigo está na alma humana que se afasta de Deus e se torna cada vez mais niilista. É nesse vácuo que se forma em nossa alma que as ideologias totalitárias avançam, que seduzem. O homem tem necessidade de Deus. Ele está morto. Seu lugar está sendo ocupado por diversas forma de intolerância e assim continuará até que o homem entenda que deve se guiar por valores morais profundos. Quando isto acontecer, não restará espaço para o mal.
O socialismo avança no Brasil não por causa da covardia de nosso povo, mas de sua falta de valores verdadeios. O brasileiro não cultua sua própria liberdade, seu direito de errar ou acertar. Quer que alguém decida por ele. Não quer impor limites ao seu próprio comportamento, quer que alguém imponha ou, melhor ainda, que ninguém imponha. É por afastar-se de Deus que estamos nos afundando. Tivesse o brasileiro crença em valores absolutos como a vedade, a justiça e a razão, não estaríamos sendo governado por seres tão amorais.
A minha torcida, portanto, não é pela derrota do comunismo. É pela salvação de nossas almas. Nada é mais eficaz contra o totalitarismo do que os valores universais tão bem defendidos pelos gregos na antiguidade e por Jesus Cristo. É quando nos afastamos deles que abrimos nossos corações para o mal. O comunismo não é a origem do mal, é sua conseqüência.
O homem semeia sua própria iniquidade.
1: A Traição dos Intelectuais
2: O Saber dos Antigos
3: Economia de Mercado e Ética