EUA x Mundo?

Li um artigo hoje do London Guardian, transcrito na Folha, com a tese que a eleição de John McCain seria algo como um ato hostil dos Estados Unidos em relação ao mundo.

É engraçado como as coisas se colocam. Lembro que durante as primárias, a mídia liberal saudava o senador McCain como a melhor escolha por parte dos republicanos. Informavam que não era um conservador típico, que tinha muitas posições liberais e uma independência em relação a George Bush que era saudável.

Após a escolha tornou-se um velho ultrapassado, aliado da Casa Branca, sem condições de dirigir o país. Realmente coerência nunca fio o forte da esquerda.

Agora querem convencer os americanos que eleger este senhor é virar as costas para o mundo. Como se este mesmo mundo não tivesse virado as costas para os Estados Unidos quando mais precisaram. A Europa parece não compreender que a guerra dos terroristas islâmicos é contra o mundo ocidental e seus valores conforme declarou seu líder Osama Bin Laden.

Obama aparece como um político novo, cheio de virtudes, pronto a conciliar a América como o mundo. Volta e meia escuto o argumento que ele não será eleito por ser negro, que os Estados Unidos nunca elegeriam um presidente de cor. Nestas horas eu pergunto: e se vencer? Será também por que é negro?

Quando vejo Obama não vejo a cor da sua pele, vejo a expressão de políticas que não acredito, que ao meu ver tolhem a liberdade humana. Vejo um promessa de rompimento com o velho como se ser velho fosse necessariamente uma coisa ruim.

A condução política de uma sociedade é feita por acertos e erros. É preciso ser vigilante e ter auto crítica para corrigir os erros e principalmente, insistir nos acertos. Jogar fora toda a experiência acumulada em séculos em favor de uma revolução que muito promete parece-me um rsico muito alto, ainda mais em um momento tão delicado como o que vivemos hoje.

Considero que ao longo da história os americanos acertaram mais do que erraram, principalmente pelo fato de terem edificado sua nação sobre um forte anseio por liberdade. Obama despreza toda esta tradição e pede que apostem nele para reformar a América.

Justamente por causa disso que torço para que os americanos façam exatamente o contrário, elejam McCain para preservar a América, para garantir que os acertos de outrora sejam repetidos e não jogados fora por serem velhos.

Notas rápidas na imprensa

No primeiro dia da inédita Operação Guanabara, realizada por um contingente de 3.500 soldados das Forças Armadas, os militares ocuparam cinco das sete comunidades inicialmente previstas na cidade do Rio, nas quais foi recolhida cerca de 1,5 tonelada de propaganda eleitoral irregular. O comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, veio ao Rio para o início da ocupação e visitou as comunidades ao lado do presidente em exercício do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), desembargador Alberto Motta Moraes. Não houve confrontos com traficantes e milicianos, mas, na chegada dos militares e fuzileiros navais, foram disparados fogos – prática comum entre olheiros do tráfico para alertar a chegada de policiais em incursões.

Mais uma vez fica evidenciado que o poder constituído não tem o controle sobre todo o território nacional. A territoriedade do tráfico de drogas no Rio está na raiz de boa parte da violência urbana na metrópole carioca, situação que aos poucos se espalha pelo interior. Entra governo e sai governo e a situação só se agrava e o que poderia ser pior já aconteceu, nos acostumamos com esta situação. Exército entrando em favela para garantir campanha eleitoral? Normal. O pior é que depois tudo volta ao normal; estranha normalidade que produz cadáveres.

– Já basta de tanta merda de vocês, seus ianques de merda – disse ele, num comício à noite em que também ameaçou cortar o fornecimento de petróleo venezuelano aos EUA se “houver agressão” a seu país.

Este é um presidente da república. Até quando os venezuelanos suportarão um comandante assim? Ameaçou corar o fornecimento para os Estados Unidos? Vão viver de que? O Sr Chávez destruiu quase toda atividade produtiva de seu país e agravou a dependência da receita do petróleo.

Ontem, quando o Brasil parou de receber metade do gás que deve vir para o país, houve um momento de aflição. São Paulo recebe da Bolívia 70% do gás que consome. De tarde, o pior do susto passou. Mas o episódio deixa lições. A primeira é que é preciso ter planos de contingência que não sejam os feitos em clima de emergência. A segunda é que o Brasil não pode ter uma atitude contemplativa.

Em 2005 tivemos a crise do gás com a Bolívia. O resultado é que o governo petista entregou ativos da Petrobrás para evitar a falta de gás. Três anos já passaram e continuamos na dependência total de um vizinho altamente instável. Planejamento estratégico é isso aí.

A revelação de que havia 52 agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)na Operação Satiagraha selou a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de retirar definitivamente o delegado Paulo Lacerda do comando da agência. Lacerda foi afastado temporariamente no dia 1º, depois da divulgação do grampo de uma conversa telefônica entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Não havia outra opção, a quantidade de agentes utilizados correspondem a 10% do efetivo da ABIN. Falta apurar ainda a responsabilidade de gente acima de Lacerda.

Outro aspecto que deve ficar claro é que a corrupção não é tão-somente uma doença moral. Qual câncer, cresce e se espalha até comprometer todo o organismo. Não dá para ignorá-la ou conviver com ela sem pôr em risco o corpo inteiro onde se manifesta. Uma sociedade que pretenda manter-se hígida e saudável precisa deixar de lado o comodismo e tratar de combatê-la, com destemor, desde os primeiros indícios de sua presença.

Quando deu o segundo mandato para um governo corrupto a sociedade brasileira aceitou este estado de coisas como natural. O câncer se espalhou como nunca e somos hoje uma sociedade ainda mais doente que antes.

Embalado por fortes resultados na economia e por grande exposição nacional na atual campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quebrou o seu próprio recorde de avaliação positiva.
Lula também acaba de obter, pela primeira vez, a aprovação da maioria absoluta da população brasileira em todos os segmentos sociais, econômicos e geográficos do país.

Dizer o que? Ainda querem que a corrupção um dia diminua no Brasil? Cada país tem o governo que merece.

Oito professores foram feitos reféns por índios caingangues em Liberato Salzano (388 km de Porto Alegre), no norte do Rio Grande do Sul. Após dez horas, seis das quais passaram amarrados, os reféns foram libertados no início da noite de ontem.
A ação visava pressionar o governo estadual a reformar a escola da aldeia. “A escola está caindo aos pedaços, queremos uma providência”, disse o caingangue Vilson Moreira.

Isso tem nome e está tipificado no código penal. Índios no Rio Grande do Sul? Devem estar de brincadeira.

Foro em polvorosa

O Foro de São Paulo está tentando o que pode para socorrer o parceiro boliviano.

Hugo Chávez avisou que apoiará qualquer movimento armado em favor de Evo Morales.

Marco Aurélio Garcia, que ainda fala pelo governo brasileiro depois de tripudiar de 200 mortos, avisou que não reconhecerá nenhum governo em substituição ao cocaleiro.

Pergunto se as FARCs derrubassem o governo Uribe.

Chávez correria em seu socorro? O Brasil não reconheceria um governo das FARCs? Ou festejariam a vitória dos terroristas?

Estou me animando com a reação dos países do Foro. Parece que não contavam realmente com a reação da oposição boliviana e não possuem forma eficiente de reação, não sem apoio das Forças Armadas. Ainda não era o momento de enfrentar esta reação.

Dilema boliviano

Desde que assumiu o governo, Evo Morales tem constantemente agido contra as instituições bolivianas para implantar os ideais socialistas. Não se trata de uma ação gratuita, faz parte dos planos há muito estabelecidos pelo Foro de São Paulo criado por Lula e Fidel Castro com o objetivo expresso de instalar o socialismo na América Latina pela via democrática conforme previsto por Antônio Gramsci.

Nada de revoluções ou uso da força, o pensador italiano previu que o melhor caminho para o socialismo era a conquista da hegemonia cultural e a destruição da democracia usando as próprias ferramentas democráticas. Com raras exceções praticamente todo o continente está nas mãos do Foro onde a conquista do aparelho do estado depende da solidez das instituições.

Na Venezuela o Foro já está bem adiantado com as instituições destruídas e uma ditadura sob o véu democrático instalada. Logo atrás vem o Equador e a Bolívia. Como impedir este processo?

Na Venezuela a oposição escolheu não participar do processo democrático, não funcionou. Chávez aproveitou a ausência de qualquer oposição para assumir poderes totalitários. O Legislativo tornou-se um fantoche e o controle sobre o judiciário é total. Com a destruição da harmonia entre os poderes a democracia deixou de funcionar apesar das aparências.

Os defensores do chavismo aqui no Brasil gostam de lembrar que ele convocou um plebiscito como prova de que se trata de um democrata. O que eles não dizem é que após ser derrotado ele aprovou por lei praticamente tudo que foi rejeitado pela população.

A oposição boliviana partiu para outro caminho, o confronto. Quais as suas opções? Sua representação legislativa é ignorada, não existe mais um judiciário independente. Denunciar? Foi o que fez desde o primeiro dia do governo Morales. Foi o que a oposição venezuelana tentou fazer quando boicotou o processo democrático.

O problema é que a América Latina está tomada por aliados de Chávez e Morales, a começar pelo principal país da região, o Brasil. Foi a liderança brasileira que garantiu o venezuelano na presidência quando teve para ser deposto.

Estados Unidos? Europa? Estão se lixando para a bagunça que se formou na América do Sul. Somos irrelevantes demais para despertar qualquer interesse, contanto que a Venezuela continue fornecendo petróleo e o Brasil mantenha seu mercado consumidor aberto. Chávez não é burro, apesar de toda retórica continua vendendo seu óleo para o Império do Mal.

Funcionará a estratégia de confronto da oposição boliviana? Duvido muito. Qual seria a alternativa? Como escapar das garras do Gramscismo?

Como conseguir a liberdade diante de uma hegemonia cultural que dá suporte e proteção a um governo socialista?

Este não é um problema dos bolivianos, nem dos venezuelanos. É um problema de todos que desejam reconquistar a liberdade na América Latina. Uso o termo “reconquistar” em seu sentido pleno pois não acredito que sejamos realmente livres, nem mesmo aqui no Brasil.

A Bolívia é apenas o palco  mais visível da disputa entre a liberdade e a utopia socialista.

Big Bang

Os cientistas adeptos do big bang gostam de afirmar que esta seria a prova definitiva de que Deus não existe. Para tanto fizeram uma acelerador de partículas (inspirados por Dan Brown?) para reproduzir o fenômeno e mal se dão conta de um paradoxo. Se conseguirem ter sucesso provarão apenas uma coisa: que o big bang pode ser criado. Se pode ser criado é por que pode existir um criador.

Toda vez que a ciência se mete a tentar provar a inexistência de Deus acaba por chegar a ele. Pobres almas; e somos nós os ignorantes!

11 de Setembro

Lembro de ter assistido com fascínio e horror a queda das torres gêmeas há 7 anos atrás. Sabia naquele momento que muita coisa iria mudar, que o mundo não seria como antes. Diante daquela perplexidade vislumbrei por alguns segundos a insanidade que viria depois quando meu chefe comentou laconicamente: quero que os americanos se f…

Bin Laden divulgou um manifesto declarando guerra ao mundo ocidental e seus valores, que outros ataques viriam. Não demorou muito para abrirem a caixa de Pandora. Ao redor do mundo __ inclusive na América __ começou a circular uma certeza: a culpa era dos Estados Unidos. Logo o culpado tinha um rosto, George W Bush.

Confesso que entrei nesta, inclusive li uma daquelas bobagens escritas por Michael Moore __ aquele que disse que a aproximação do Gustav era uma prova de que Deus existia. Teoria da conspiração era o que não faltava, mas em todas as vítimas eram as verdadeiras culpadas. Bin Laden deve ter ficado furioso, estavam tirando dele toda a glória!

Uma das coisas que sei sobre terrorismo é que nenhuma segurança é 100% eficaz. Um terrorista tem a vantagem de escolher a hora e o local de sua ação, não é possível proteger tudo durante todo o tempo. Diante deste fato Bush resolveu levar a guerra para fora das cidades americanas e colocar nela os soldados. Se era para ter guerra, que fosse com quem estava preparado.

Depois de 7 anos ainda falam em desastre da política externa de Bush como se ele não tivesse conseguido manter os Estados Unidos em segurança por 7 anos! O terrorismo islâmico está asfixiado, lutando desesperadamente contra os soldados americanos, tentando sobreviver até que algum democrata os tirem de lá.

No entanto Bush é um idiota. Talvez a história um dia reconheça seus méritos, talvez não. Com certeza cometeu muitos erros, mas acertou muito também, como todo presidente. Acertou no que era mais importante, entender que os terroristas propuseram uma guerra irrestrita e que não iriam parar.

Existe uma corrente de humanistas sempre prontos a justificar o terrorismo quando é para uma causa que acham justa. Normalmente começam dizendo “Sou totalmente contra o terrorismo, mas…” Este “mas” o denuncia, não existe “mas” no terrorismo. O ser humano é um fim em si mesmo como dizia Kant, nada justifica a destruição de uma vida inocente para se atingir qualquer coisa que seja.

Bush se encaminha para entregar ao seu sucessor não um mundo livre do terrorismo, mas um mundo em que parte dele está na tentativa de sobreviver. Para isso enfrentou a opinião pública mundial e parte da americana, apostou em uma guerra impopular e a está vencendo.

Que não transformem esta sofrida vitória em derrota.

Bolívia em ebulição

Parece que a oposição boliviana pagou para ver o blefe de Evo Morales que vem tentando usar a democracia para subverter a própria democracia. Desde que assumiu o índio cocaleiro apostou na divisão de seu país e no populismo barato. Os governadores de oposição viram na Venezuela seu futuro e não gostaram, resolveram agir antes que fosse tarde.

O resultado está aí, a divisão se concretizou e a baderna tomou conta do país. Na tentativa de unir o país contra o inimigo de sempre, no melhor estilo Chávez, o cocaleiro resolveu expulsar o embaixador americano da Bolívia.

Não tem como acabar bem esta confusão, como não acabará bem os governos Chávez e Corrêa. Governos populistas podem durar mais ou menos, mas acabam em ditadura ou deposição. Veremos qual será o destino da Bolívia.

O fato é que pela primeira fez um presidente do Foro de São Paulo enfrenta uma reação de força. Os demais presidentes irão ao socorro de Morales e mais uma vez deixarão explícito, para quem quiser ver, a verdadeira natureza de seus objetivos.

A imagem da perfeição (Por Demétrio Magnoli)

A China foi perfeita durante duas semanas. Bem antes da inauguração da curta era da perfeição, o governo chinês alertou a imprensa internacional contra a “politização” dos Jogos Olímpicos. Na linguagem em código compartilhada por todas as ditaduras, o alerta era uma conclamação à imprensa para que praticasse a autocensura. Com raras exceções, por amor aos patrocinadores ou sinceramente comovidos pela eficiência técnica do Estado totalitário, jornais e jornalistas do mundo inteiro se curvaram. Por um tempo fugaz a crítica cessou, abrindo passagem à perfeição.

Ela chegou na cerimônia de abertura, quando a graciosa Lin Miaoke, de 9 anos, com marias-chiquinhas e um vestido vermelho, supostamente cantou Ode à Pátria. O evento era uma fraude, como logo depois se soube por uma inconfidência de Chang Qigang, o diretor musical da cerimônia. A voz oculta atrás da imagem da perfeição pertencia a Yang Peiyi, de 7 anos e com um dentinho torto.

“A razão por trás disso é que precisamos colocar os interesses do país em primeiro lugar”, justificou Qigang. Os “interesses do país” foram definidos na hora derradeira por um integrante do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC), que assistiu ao ensaio final e concluiu que a garotinha imperfeita não devia representar a pátria perante a audiência do planeta. A imprensa relevou o ato do poderoso dirigente anônimo, qualificando-o, no máximo, como um episódio de ocultação de informação. Mas o nome disso é eugenismo e o gesto expressou uma dupla lealdade: às origens do moderno movimento olímpico e à tradição identitária do Estado chinês.

O educador Zhang Boling (1876-1951) fundou, em 1904, o Colégio Tianjin Nankai, um centro preparatório da elite chinesa por onde passaram, entre outros, os primeiros-ministros Chou En-lai e Wen Jiabao. Sob a influência das public schools da Inglaterra vitoriana, ele instituiu a educação física na sua “Família de Escolas Nankai”, lançou as bases do Comitê Olímpico Chinês e delineou um programa nacional: “Uma grande nação deve primeiro fortalecer a raça, uma grande raça deve primeiro fortalecer o corpo.”

Não havia originalidade, mas importação, no programa de Boling. O inglês Francis Galton, primo de Charles Darwin, cunhara em 1883 o termo eugenia e defendia a regulamentação dos matrimônios em razão das virtudes e dos defeitos hereditários dos casais. Nos EUA, inspirado pelas idéias de Galton, Theodore Roosevelt instituiu uma Comissão de Hereditariedade com a missão de estimular o aperfeiçoamento físico e intelectual da raça. Leis de esterilização foram passadas em alguns Estados americanos a partir de 1907, enquanto a Suécia e a Suíça conduziam programas oficiais eugenistas. Sob a presidência de Leonard Darwin, filho do célebre naturalista, reuniu-se em Londres, em 1912, a Primeira Conferência Internacional de Eugenia. Quatro anos depois, Madison Grant publicaria The Passing of the Great Race, obra seminal para o nazismo, que inseria o eugenismo numa moldura racial.

Pierre Frédy, o barão de Coubertin, morreu em 1937 e foi enterrado em Lausanne. Seis meses depois, num ritual macabro de exumação, seu coração foi extraído, transportado e enterrado em Olímpia, o lugar das antigas Olimpíadas, numa cerimônia à qual assistiu seu amigo nazista Carl Diem. Um ano antes, nos Jogos de Berlim, com o apoio de Joseph Goebbels, Diem inventara, e Leni Riefenstahl filmara, o ritual da passagem da tocha olímpica. A inovação dos chineses para os Jogos de Pequim consistiu em fazer da segunda tumba de Coubertin a destinação inicial do percurso da tocha.

“Os jovens de todo o mundo” prepararão o caminho para “aperfeiçoar a raça humana”. Coubertin inaugurou o movimento olímpico sob o influxo dos seus entusiasmos complementares pelo eugenismo e pela educação física. Como tantos conservadores da época, ele rejeitava a utopia socialista, mas compartilhava com seus arautos o desprezo pelo individualismo, com uma crença profunda no Estado e uma fé inquebrantável no poder das técnicas modernas. A escala da tocha chinesa na tumba espiritual do pai das Olimpíadas modernas exprimiu mais que um simbolismo gratuito: o site do Comitê Olímpico Chinês descreve o seu Programa Nacional de Condicionamento Físico como uma ferramenta para “promover atividades esportivas de massa, aperfeiçoando o físico do povo e impulsionando a modernização socialista do país”.

Zhang Boling, tanto quanto Coubertin, poderia assinar o núcleo da sentença anterior. Mas o educador modernista era apenas um elemento num processo maior de infusão de idéias ocidentais. No outono do Império do Centro, um tempo de crise e decadência, quando se rotulava a China como o “homem doente da Ásia”, intelectuais reformadores introduziam na história chinesa um conceito nacionalista de fundo racial e um conceito racial de inspiração eugênica. O mais brilhante entre eles, Liang Qichao (1873-1929), postulou que os chineses Han formavam uma etnia especial, e não apenas a coletividade mitológica dos descendentes do Imperador Amarelo ou o fluido conjunto dos herdeiros culturais da dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.). Esse novo paradigma serviu como alicerce para um projeto de reconstrução nacional baseado na supremacia Han que empolgou tanto os nacionalistas quanto os comunistas.

Há um novo ciclo de modernização em curso na China e uma política externa de “ascensão pacífica” que se nutrem da idéia de restauração das glórias passadas do Império do Centro. A elite burocrática de “comunistas de mercado” do PCC bebe nos chafarizes intelectuais construídos por reformadores como Liang Qichao e Zhang Boling e promove um renascimento nacionalista. O triunfo no quadro de medalhas e a exibição de Lin Miaoke, o “anjo sorridente”, na cerimônia de abertura olímpica constituem declarações políticas dirigidas ao público interno e ao mundo. Imagens da perfeição.

(*) Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br

Sarah Palin

Parece que Sarah deixou atônitos os democratas da mídia americana que estavam prontos para retratá-la como uma caipira inexperiente. Ainda não assisti seu discurso mas pelo que li não deixou pedra sobre pedra, para desespero dos comentaristas da CNN que realmente não esperavam um desempenho tão contundente.

Parece não haver mais dúvidas no Partido Democrata que eles terão que desconstruir a mulher se quiserem levar as eleições; podem apostar que vem chumbo grosso pela frente. Não é apenas no Brasil que a esquerda constrói máquinas de destruir reputações.

Enquanto não assisto o vídeo segue algumas frases da noite de ontem (retiradas do Blog do Reinaldo que acompanhou a convenção pela CNN):

“Eu não sou membro do establishment político. E eu aprendi depressa, nestes dias, que, se você não é um membro da elite com boa reputação em Washington, então a mídia, só por isso, o considera um candidato despreparado. Mas aqui está uma novidade para repórteres e comentaristas: eu não vou para Washington para obter a sua aprovação. Eu vou para Washington para servir ao povo deste país”
Sarah Palin

“Ser prefeita de uma cidade pequena é como ser um ativista comunitário, mas com responsabilidades reais”
Sarah Palin (refere-se ao passado de Obama, que era ongueiro antes de virar senador)

“A diferença entre uma “hockey mom” e um pit bull é o batom”
Sarah Palin. “Hocey mom” é a mãe devotada que leva o filho ao treino de hockey. No Brasil, seria a “supermãe”. Brinca com uma das acusações que lhe fizeram, segundo a qual a sua experiência maior é mesmo ser mãe (de cinco filhos). Ela assume, mas deixa claro que é boa de briga.

“Ela já tem [sozinha] mais experiência executiva do que toda a chapa democrata”
Rudolf Giuliani

– “ [Obama] Só emprega a palavra ‘vitória’ quando é para falar de sua própria campanha”. Sarah Palin
– “Alguns políticos usam a mudança para promover suas carreiras. Outros, como John McCain, usam sua carreira para promover a mudança”. Sarah Palin
– “John McCain não é um homem que está buscando uma luta, mas ele é um homem que não tem medo de enfrentar uma”. Sarah Palin
– “O senador Obama e o senador Biden dizem que estão lutando por vocês. Vamos falar claramente: há só um homem que lutou por vocês: John McCain”. Sarah Palin

Noção de responsabilidade

Obama:

Se minha filha cometer um erro, não quero que ela seja punida com um bebê.

Palin;

Quanto a nossa filha enfrentar as responsabilidades da vida adulta, ela sabe que terá nosso amor incondicional e apoio.

Para um, o humanista, o bebê é uma punição por um erro cometido e pode ser eliminado. Para Palin a filha deverá enfrentar suas responsabilidades. É uma visão bem distinta do mundo e da existência. Enfrentar a responsabilidade por seus atos nunca foi o forte das esquerdas.