Sai o megapacote

Folha:

Líderes do Congresso dos EUA anunciaram um novo acordo para a proposta de lei que deve ser votada hoje. Na negociação, o governo do republicano George W. Bush cedeu às exigências de seu partido e dos democratas. O megapacote prevê o uso de US$ 700 bilhões para a compra de títulos de má qualidade em posse de instituições financeiras.

Comento:

Não se deixem enganar pelas manchetes; lendo com mais cuidado percebe-se que no essencial o pacote será aprovado conforme anunciado pelo governo. É engraçado, para ser benevolente, como os jornalistas brasileiros desmentem as próprias manchetes ao longo das reportagens. Fico com aquela imagem do brasileiro esperando o ônibus ao lado da banca de jornal lendo apenas a primeira página dos jornais; será que tem algo a ver?

Como toda negociação, ainda mais em um país de fato democrático, é preciso ceder em alguns pontos para se ter sucesso, desde que não se mexa no essencial. Na política tem um complicador a mais, mesmo que o trato seja desde início vantajoso é preciso mudar alguma coisa para mostrar ao eleitor que está contribuindo. Não me espantaria se o governo já tivesse colocado no plano exatamente o que poderia ceder justamente para conservar o principal.

O fato é que o pacote está sendo aprovado, os tais 700 bilhões. Espero que estejam fazendo o certo, muita gente boa defende que o governo deveria deixar a quebradeira acontece; outros tantos que a intervenção é necessária. Como se trata de gente muito mais gabaritada do que eu, prefiro ficar na minha.

Foro? Que é isso? Delírio da direita!

Globo:

BUENOS AIRES. Depois do fracasso do projeto de reforma constitucional do presidente da Venezuela, Hugo Chávez (após ter sido derrotado nas urnas ele aprovou pacote de medidas por decreto), e em meio à delicada crise política em que está mergulhada a Bolívia, entre outros motivos pelas divergências em torno à nova Constituição que Evo Morales pretende implementar, o governo do presidente equatoriano, Rafael Correa, tentará vencer hoje o referendo sobre a nova Carta do país.

Segundo pesquisas, o mais provável é que Correa conquiste uma importante vitória eleitoral, apesar da intensa campanha da oposição, que nas últimas semanas acusou o governo de ter modificado o texto constitucional aprovado na Assembléia Constituinte, pela maioria governista. Líderes opositores como León Roldós, político da velha guarda, denunciaram publicamente o governo Correa e acusaram o presidente de buscar fortalecer seu projeto político, concentrando todo o poder em suas mãos.

Como fabricar notícia usando estatísticas

O debate entre os candidatos a presidente ontem foi transmitido pelas duas grandes emissoras de notícias americanas, a CNN e a FOX. Para quem não sabe a CNN tem tendências liberais e a FOX, conservadora. Ambas as emissoras fizeram pesquisas, entre seus telespectadores, para responder a pergunta de quem teria se saído melhor no debate.

Na FOX McCain ganhou com 83% e na CNN deu Obama com 58%. A mídia brasileira deu manchete para a CNN mas afirmou o que nem a própria emissora ousou informar, a vitória de Obama. Tudo porque a emissora reconhece que 41% dos telespectadores consultados declararam-se democratas contra 27% de republicanos. Ou seja, Obama teria somado mais 10% e McCain mais 11%.

É muito difícil fazer pesquisa para saber quem venceu um debate político pois seus eleitores tendem não só a achar que seu candidato foi melhor mas também em não admitir que o contrário tenha acontecido. O mais significativo é que analizando direito chega-se a conclusão que houve empate na CNN (cada um ganhou 10%) e vitória de McCain na FOX. Cada um que tire suas conclusões.

A imprensa brasileira já tirou a sua. A Folha noticia que as pesquisas indicam a vitória de Obama. Isso é fabricar notícias, coisa muito comum no Brasil. Só que brasileiro não vota lá; a mídia brasileira não pode influenciar nas eleições como gosta de fazer por aqui. A impressão que se tem lendo um jornal brasileiro é que Obama faturou de lavada quando teve até que ler o bracelete para saber o nome do soldado cuja mãe o teria presenteado. Um desempenho fraco mas pelo que li já evoluiu muito do fracasso total que havia sido os confrontos com Hillary.

Enfim, a campanha continua.

Impressionante!

Folha:

Os primeiros resultados de uma pesquisa realizada com 500 pessoas declaradas como eleitores indecisos deram como vencedor o candidato democrata, Barack Obama, depois do primeiro tête-à-tête com o aspirante republicano à Casa Branca John McCain na Universidade do Mississipi.

Quarenta por cento deles, segundo uma pesquisa elaborada pela rede “CBS”, percebeu Obama como ganhador enquanto 22% deu a vitória ao candidato republicano e 8% considerou que houve empate.

Comento:

Deve ter sido um trabalho e tanto para os jornalistas __ estou tentado a usar aspas __ da Folha encontrar algum número que desse uma vitória a Obama no debate de ontem. Olha que nem a CNN ousou dizer que ele foi bem no debate, no máximo tentou levar para um empate técnico! Os representantes do partido democrata faziam um esforço danado para tentar mostrar que McCain não vencera o debate! Nem eles conseguiram, em nenhum momento, dizer que Obama havia se saído bem!

Eles estão achando que as eleições são no Brasil e podem mudar a realidade escrevendo mentiras, como fizeram no primeiro debate presidencial ano passado dizendo que Lula e Alckmin “trocaram acusações” quando, para surpresa geral, o segundo imprensou o primeiro.

Se McCain vencer as eleições em novembro será um feito e tanto pois terá vencido a impopularidade de Bush, a crise econômica e a animosidade da grande mídia americana. Nem vou falar da mundial porque esta é irrelevante para o eleitor americano em geral.

Se debate ganhasse eleição…

…McCain poderia correr para o abraço. Foi a primeira vez que ouvi Obama falando e o que vi foi um homem sendo desmontado aos poucos, ou acham normal chamar o adversário de Jim várias vezes? Sobre economia ainda tentou se segurar com a visão liberal de seu partido embora McCain tenha deixado fixado bem a idéia de que em tempos difíceis a experiência contará muito. Mas quando chegou na política externa…

Obama só conseguia repetir que deveriam remover os soldados do Iraque para levar ao Afeganistão. McCain foi taxativo, os Estados Unidos não podem retornar do Iraque sem estar na condição de vitoriosos para não ter que voltar novamente. Não foi a toa que frisou várias vezes as conversas que teve com o General Patreous, mostrou que acompanhou sempre o assunto de perto e que compartinham da mesma opinião sobre o fim do conflito. Seu adversário teve que reconhecer que o general estava fazendo um excelente trabalho.

Obama particularmente se perdeu quando defendeu o ataque ao Paquistão, um aliado americano, ao mesmo tempo que falava em conversas com o líder terrorista iraniano. McCain deixou claro que um presidente americano não pode sentar em uma mesa de negociação com quem defende o extermínio de Israel ironizando um possível diálogo: vou destruir Israel! No you can’t! Como poderia evoluir uma conversa assim?

Claro que não vai houvir nada disso na imprensa brasileira; desconfio que nem mesmo na americana. Obama chegou a babar!

O que ficou evidente é que no confronto de idéias Obama não dá nem para saída contra McCain. Parece que seu lugar é mesmo atrás do teleprompter falando para os democratas. Espero, sinceramente, que os eleitores americanos não entrem nessa furada.

Sobre democracias

Os Estados Unidos possuem uma crise sem prescedentes para resolver, é necessária uma atuação enérgica. O governo prepara um plano de ação e… envia ao Congresso! Para nós, da Banânia, é algo de incompreensível. Não é relevante? Não é urgente? Por que ele não redige uma medida provisória?

Por que lá é uma democracia. Um plano desta magnitude e importância merece toda a urgência mas não pode atrapalhar a harmonia entre os poderes. Cabe aos representantes eleitos pelo povo americano a decisão de usar ou não o plano proposto pelo governo; mais, cabe ao parlamento modificá-lo. Assim deve funcionar em um sistema democrático.

A aberração é o que acontece aqui onde existe uma excrescência chamada Medida Provisória. Seus defensores argumentam que se não fosse assim nada seria feito pois o Congresso leva séculos para aprovar um lei. Pode até levar, mas é preciso obsevar que o principal fator de lentidão do Legislativo é justamente o acúmulo de medidas provisórias na pauta. É uma situação ilógica. Como existem muitas medidas provisórias o Congresso não vota e porque não vota é preciso usar medidas provisórias.

Mas se as medidas provisórias virassem projetos de lei não ficaria tudo na mesma? Aí vem outro problema da nossa democracia, o governo quer legislar sobre tudo. Como não existe federalismo de fato, temos tudo em cima das instâncias federais. Um país das dimensões do Brasil não pode ser governado inteiramente por Brasília; talvez esteja aí o começo dos nossos males.

É fácil perceber que na maioria dos municípios brasileiros as Câmaras de Vereadores ficam às moscas. O município tem muito pouca autonomia e os estados passam o tempo discutindos matérias irrelevantes. O resultado é o acúmulo no Congresso Federal que realmente não tem como dar conta de tanta demanda.

Nossa constituição é gigantesca e toda emendada. Os códigos são inúmeros, cada um maior do que o outro. Não há poderes que dêem conta do próprio monstro que criaram. Por isso temos leis sobre tudo que se puder imaginar: tamanho de fila em banco, proibição de uso de saleiro, etc. O salário mínimo deve ser fixado por lei anualmente! São leis demais e o resultado é esta burocracia ineficiente e um estado gastador e perdulário.

Bush está negociando com o Congresso a aprovação do pacote. É assim que se faz. Aqui o presidente pega a caneta e a patuléia aplaude.

Ligar tecla SAP

A cobertura da Folha transformou-se de fato em parte da campanha Obama para ganhar votos no Brasil. Depois do anúncio do acordo das bases gerais para o pacote de saneamento do mercado financeiro ela solta o factóide que os republicanos emperraram o acordo no Congresso e esvaziaram a reunião bipartidária que tratava do assunto.

O site da Veja mostra um quadro mais real. Os pontos principais foram acertados, falta negociar os secundários, como acontece em qualquer negociação. Discute-se a linha mestra, o resto vai se acertando. A Veja lembra o óbvio, o Congresso Americano é majoritariamente democrata. Não é um grupo de parlamentares republicanos que vai impedir sua aprovação.

O acordo sairá. Para tristeza dos que querem ver o circo pegar fogo e ficar atirando pedras no capitalismo malvado.