Montando o quebra cabeças

blog do Aluizio Amorim[1] começa a trilhar o mesmo caminho que este blog estava seguindo e chegar á origem da crise imobiliária americana, a irresponsável aplicação do politicamente correto e ações afirmativas pelo governo Clinton no mercado financeiro. Não basta, como disse Ann Coulter2, terem arruinado a educação, esportes, ciência e entretenimento; estes princípos arruinaram agora a indústria financeira.

Uma pergunta surge: o governo Clinton terminou há 8 anos, é justo culpá-lo? Bush não poderia ter revertido o quadro? Retomo um dos pensamentos de Thomas Sowell[3]: após implementada uma ação afirmativa é quase impossível revogá-la. A questão é que qualquer iniciativa contra ela é encarada como uma iniciativa contra os grupos que supostamente ela deveria beneficiar.

Ao conceder hipotecas e empréstimos ás pessoas de baixa renda, ou moderada, com poucas condições de manter suas obrigações, os democratas colocaram a economia americana em uma armadilha pois ir contra estes empréstimos passou a ser considerado ir contra estas pessoas. Quando Mankiw[4] alertou que a economia estava sob alto risco por essas práticas foi chamado de sem coração; como pode se opor a empréstimos suicídas para pessoas que não podem pagá-los?

Sim, capitalistas são gente sem coração; não gostam de emprestar dinheiro para quem não pode pagá-los, justamente as pessoas que mais precisam destes empréstimos. O problema é que não existem soluções mágicas e esta foi uma adotada pelos políticos americanos ao intervir no livre mercado para que empresas concedessem crédito independente das taxas de risco gerando esta crise que estamos vendo.

Outro detalhe, Bush tentou sim colocar ordem no caos mas foi impedido pela maioria democrata no Congresso e até mesmo por republicanos receosos de contrariar suas bases eleitorais mostrando mais uma vez que uma vez dado o passo para a ação afirmativa o retorno é muito mais difícil como alertou Ali Kamel[5].

Mais uma vez Bush está pagando o preço do governo Clinton, desta vez na economia. A outra foi o 11 de setembro.


[1] Jornalista catarinense que escreve o blog Politicamente incorreto.

[2]Polemista conservadora americana. Escreve uma coluna semanal em seu site pessoal.

[3]Economista americano e autor de vários livros denunciando os efeitos nefastos da política de ação afirmativa.

[4] Economista americano autor do livro Introdução a Economia muito utilizado nos cursos de economia no Brasil. Está na minha lista de leituras futuras.

[5]Ver livro “Não Somos Racistas“.

Não disse?

Comentei ontem:

É natural que republicanos votem contra um pacote econômico de intervenção no mercado financeiro, o mesmo não pode se dizer dos democratas. Sempre foi uma bandeira do partido a regulação; quanto mais governo melhor

Hoje na Folha:

O candidato da situação(McCain) disse que o número de votos contrários foi alto entre os democratas, que costumam aceitar com mais facilidade intervenções na economia, ao contrário dos republicanos, que demonstravam mais resistência ao plano.

“Barack Obama falhou em liderar”, disse nota da campanha de McCain, que também afirmou que “o projeto fracassou porque Barack Obama e os democratas colocaram a política à frente do partido”.

Na Folha, Armínio Fraga é um dos que perceberam o que aconteceu:

Ao analisar a rejeição ao pacote de salvação das instituições financerias, Armínio diz que foi uma decisão política, num ano de eleições nos Estados Unidos. O problema, segundo ele, é que o mundo vive uma crise sistêmica e essa situação exige resposta rápida.

No artigo de hoje, Thomas Sowell lembra um ponto importante: ninguém falou ainda da responsabilidade do Congresso Americano com a crise do mercado imobiliário. A questão é de fundo político pois na ânsia de agradar os eleitores, as gigantes Fannie e Freddie foram estimuladas a conceder hipotecas para pessoas com alto risco de inadimplência. Elas assim o fizeram porque tinham a certeza do socorro do governo em caso de crise. Uma das coisas que comecei a entender é que investimentos de alto risco são os que trazem maior retorno financeiro e os congressistas incentivaram este tipo de investimento gerando a bolha que estourou agora.

Sowell lembra que no início do ano o senador Christopher Dodd afirmou que Freddie e Fannie tinham que aumentar a concessão de hipotecas, principalmente para candidatos com alto risco. Junto com Barney Frank, pressionaram o governo para que empurrasse as empresas para emprestar para pessoas que elas não emprestariam de outra forma devido ao risco envolvido.

É fato que George Bush, o demonizado, tentou há alguns anos, sem sucesso, estabelecer uma regulação sobre Freddie e Fanny. Mankiw alertou o congresso sobre o perigo que esta sendo criado com a criação da expectativa de socorro financeiro em caso de crise e seus efeitos sobre a economia. Greenspan foi outro que fez o mesmo alerta e foi ignorado.

O Congresso Americano lavou as mãos ontem da confusão que ele próprio ajudou a criar com a mistura de política com economia. Fica cada vez mais claro que o mercado não estava funcionando como deveria e parte da culpa, para variar, era do estado que estava se metendo onde não deveria. O resultado está aí.

Republicanos culpam Pelosi

Fui um tanto duro com os republicanos no posta anterior. Relendo ficou parecendo que os democratas votaram unidos para aprovação do pacote, não foi bem assim. As informações vão surgindo aos poucos e algumas coisas começam a ficar claras.

  1. Os democratas são maioria no Congresso. Isso significa que o partido poderia aprovar as medidas se assim desejasse ou mesmo reprová-las.
  2. Na hora de encaminhar a votação, a presidente da Casa dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, atuou como líder partidário. Fez de um momento de superação partidária um ato político criticando duramente os republicanos e o governo Bush pela crise.
  3. É natural que republicanos votem contra um pacote econômico de intervenção no mercado financeiro, o mesmo não pode se dizer dos democratas. Sempre foi uma bandeira do partido a regulação; quanto mais governo melhor.

Até explodir a crise a candidatura de Obama estava na defensiva, prensada pela entrada de Sarah Palin na chapa republicana. O prolongamento da crise é fundamental para o sucesso de sua candidatura. Talvez os republicanos que votaram contra o pacote tenham colaborado para este projeto, ainda é cedo para dizer. Desconfio que Obama esteja comemorando o resultado de hoje, discretamente pois se passar ao eleitor que aposta contra o país para se eleger estaria perdido.

É tudo ainda muito nebuloso, ainda mais para quem vive aqui no Brasil. Para piorar o jornalismo brasileiro não colabora ao trocar o jornalismo investigativo pelo antiamericanismo botocudo. O trabalho de afastar as camadas que escondem a realidade é duro mas pior é aceitar sem crítica o que se produz na mídia.

Caos

Pois é, o Congresso americano rejeitou o pacote de Bush e a principal oposição foi de seu próprio partido.

O grande problema é que a crise econômica misturou-se com a campanha eleitoral e existe muita guerra partidária na questão. Os republicanos mais conservadores apostaram na não intervenção no mercado financeiro confiando que é melhor sentir os efeitos agora do que correr o risco de repetir a grande depressão. O problema é que deixar a bomba explodir agora é jogar as chances de eleição de McCain pela janela.

Não consegui me convencer, muito por minha igonorância, se este pacote seria bom o ruim para o mercado, afinal muita gente boa discordou.

O Partido Democrata apostou em outra direção, até mesmo porque a regulação do mercado sempre foi uma plataforma da legenda. O que eles não queriam era ser responsabilizados se o pacote não fosse aprovado pois passaria a imagem que haviam votado contra para garantir a eleição de Obama.

O quadro é ainda muito escuro, não se sabe ainda exatamente o que aconteceu.

O fato é que o mercado desabou. É o caos.

A verdade começa a aparecer

Correio:

O governo resistiu o quanto pôde em assumir que o estouro da bolha imobiliária americana teria reflexos negativos no Brasil. Mas, desde o início deste mês, quando a crise realmente mostrou sua face mais perversa, a realidade falou mais alto. A fatura que cabe ao país passou a ser emitida. E do Banco Central ao Ministério da Fazenda, do Congresso ao Palácio do Planalto, a discussão, agora, é sobre como minimizar os estragos na economia brasileira. “Não tem jeito. Por melhores que sejam os fundamentos econômicos, não há como o Brasil ficar imune ao vendaval financeiro que varre o mundo”, diz Ítalo Lombardi, analista para mercados emergentes da consultoria RGE Monitor.

Tirem suas conclusões

Folha:

O pacote quase trilionário de resgate do mercado financeiro americano tem seus prós e contras para os Estados Unidos, mas é um ótimo negócio para o resto do mundo, diz o especialista em investimentos Karl Sauvant, que foi diretor da Divisão de Investimentos da Unctad (Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento) e hoje é diretor-executivo do Programa de Investimento Estrangeiro da Universidade de Columbia, em Nova York.


Para Sauvant, os possíveis efeitos negativos do pacote se concentrarão especialmente nas fronteiras americanas, já que conseqüências como aumento do déficit orçamentário e desvalorização do dólar podem significar vantagem para outros países, enquanto a não-intervenção federal na crise trava o mercado financeiro internacional. “O pacote é necessário e duro para os EUA, mas o mundo sai ganhando”, diz ele.

Comento:

Esse Bush é realmente muito malvado, colocou seu país para pagar a conta de uma especulação que beneficiou meio mundo, principalmente os países emergentes. Não tem jeito, tudo que ele faz é errado; é impossível acertar. Espero que um dia a história o coloque no devido lugar, com seus erros e acertos No momento é o saco de pancadas dos ressentidos do mundo inteiro.

Ligar tecla SAP

A cobertura da Folha transformou-se de fato em parte da campanha Obama para ganhar votos no Brasil. Depois do anúncio do acordo das bases gerais para o pacote de saneamento do mercado financeiro ela solta o factóide que os republicanos emperraram o acordo no Congresso e esvaziaram a reunião bipartidária que tratava do assunto.

O site da Veja mostra um quadro mais real. Os pontos principais foram acertados, falta negociar os secundários, como acontece em qualquer negociação. Discute-se a linha mestra, o resto vai se acertando. A Veja lembra o óbvio, o Congresso Americano é majoritariamente democrata. Não é um grupo de parlamentares republicanos que vai impedir sua aprovação.

O acordo sairá. Para tristeza dos que querem ver o circo pegar fogo e ficar atirando pedras no capitalismo malvado.

Seu Biu

Recebi este texto por e-mail hoje, o mesmo que Noblat publicou em seu blog hoje. Trata-se da explicação para a crise financeira americana. Os grifos são meus.

“O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça “na caderneta” aos seus leais fregueses, todos bebuns e quase todos desempregados.

Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito e o aumento da margem para compensar o risco).

O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo o pindura dos pinguços como garantia.

Uns zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, PQP, TDA, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer.

Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu ).

Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.

Até que alguém descobre que os bebuns da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia sifu.”

Comento:

A estorinha é muito interessante e reflete algumas conclusões que eu já havia tirado em minha tentativa de entender a bagunça. Algumas lacunas ficam em branco, omitidas propositalmente para demonizar o capitalismo.

Vejam que seu Biu colocou no caderninho as dívidas de clientes bebuns e desempregados; o mesmo aconteceu com instituições como Freddie e Fanny que aceitaram hipotecas de gente que não tinha renda para receber este dinheiro. Por que escolheram clientes com maior risco? Por que o governo Clinton quis fazer justiça social com o sistema financeiro.

Logo depois aparece o banco aceitando a caderneta do seu Biu constitui um ativo recebível, conforme foi orientado pelo governo Clinton que estabeleceu que seguro desemprego e benefícios sociais poderiam ser aceitos como ativos.

A estorinha do seu Biu esconde a participação do governo na crise e fica parecendo que foi uma trapalhada irresponsável do mercado. Não foi bem assim, a bolha foi estimulada pelo poder político e aumentou demais. Quando estourou criou este monstro. É bom que se diga, muita gente ganhou dinheiro com ela, inclusive quem desfrutou de crédito fácil nestes últimos anos, como os países emergentes.

Agora é hora de pagar o preço.

Tentando entender a crise

Nestas horas é que sinto falta de conhecimentos maiores em economia. Como a grande maioria dos brasileiros fico vendo estas notícias sobre a crise que explodiu nos Estados Unidos sem entender quase nada. Pelo menos tenho uma certeza: não vou construir meu entendimento baseado em repórteres de jornal que conhecem até menos do que eu.

Diante de um problema tão complexo comecei a tentar separar de tantas notícias juntas a opinião de gente que entende do assunto, mesmo que fossem opiniões divergentes. Do confronto destas idéias estou tentando separar o que é comum, o que é objeto de consenso e o que faz mais sentido.

Comecei então pelas tais Fannie e Freddie. As duas são tratadas pela imprensa como duas empresas privadas que emprestaram mais do que poderia mostrando que o livre mercado não funciona. Uma das coisas que já entendi é que elas não são empresas particulares pois trabalham fortemente reguladas pelo governo.

Em 1992 o Congresso americano, dominado por democratas, estimulou as duas empresas para que aceitasses hipotecas de pessoas com baixa renda mensal promovendo operações de alto risco. Pior, foi estabelecido uma política de favorecimento às minorias levando o política de reparações para o sistema financeiro.

O governo Clinton aumentou a intervenção quando um dos seus secretários, Andrew Como, investigou a Fannie por discriminação racial e propôs que 50% do valor das hipotecas fosse destinada ás pessoas com baixa ou média renda mensal, ou seja, que poderiam ter dificuldades de pagar.

Outra informação interessante foi que os bancos foram orientados a aceitar o pagamento de benefícios sociais e de desemprego como renda para efeito de concessão de hipotecas.

O mercado imobiliário está longe portanto de estar operando pelas regras do livre mercado. Com o controle do executivo e legislativo por parte dos democratas as políticas afirmativas foram levadas ao sistema financeiro resultando na farta concessão de créditos para quem não tinha condições de pagar. O resultado foi uma bolha que foi crescendo até explodir agora na cara de Bush.

Para os que defendem a regulação econômica por parte dos políticos é bom observar o que escreveu o economista João Luiz Mauad:

O mercado europeu, com sua regulamentação ultra-rígida, não escapou à crise, havendo quem estime que os problemas por lá serão ainda piores que nos EUA. Por exemplo: o passivo total do Deutsche Bank é de, aproximadamente, 2 trilhões de euros, ou quase oitenta por cento do PIB alemão. Seu fator de alavancagem é de absurdas 50. Já o passivo do inglês Barclays é de 1,3 trilhões de libras esterlinas, maior, portanto que o próprio PIB da Inglaterra (fator de alavancagem de 60!). Ou seja: mesmo em meio a severas regulamentações, os bancos europeus não escaparam de apresentar taxas de exposição ao risco ainda maiores que as das empresas americanas.

Gregory Mankiw, no primeiro ano do governo Bush, alertou que o subsídio implícito a Fannie e Freddie, aliado a concessão de hipotecas a pessoas que não deveriam recebê-las estava criando um enorme risco a todo sistema financeiro.

Ann Coulter termina seu último artigo com uma constatação:

Now, at a cost of hundreds of billions of dollars, middle-class taxpayers are going to be forced to bail out the Democrats’ two most important constituent groups: rich Wall Street bankers and welfare recipients.

Isso se o governo americano realmente chegar a socorrer o sistema financeiro, coisa que o Congresso pode atrapalhar. Deveria? Esta é uma questão que sou absolutamente incapaz de fazer. Gente como Reinaldo Azevedo diz que sim, outros como Mauad diz taxativamente que não.

As primeiras conclusões que tiro desta crise é que sua causa não é o livre mercado como querem nos convencer, existem digitais do governo americano por toda parte. Outra, igualmente importante, é que interessa aos grandes capitalistas que o estado passe a regular o sistema financeiro pois é em ambientes regulados que a elite financeira afere maiores lucros com baixo risco; no fundo eles não gostam muito da estória de serem regulados pelo mercado.

Por isso Mauad termina seu último artigo afirmando que é preciso salvar o capitalismo dos capitalistas e defendendo a não intervenção do governo.

Cita o economista Luigi Zingales, da Universidade de Chicago, que faz um alerta:

Será que queremos viver num sistema onde os lucros são privados, mas as perdas socializadas? Ou queremos vivem num sistema em que as pessoas são responsáveis por suas decisões, onde o comportamento imprudente é penalizado e o comportamento prudente premiado?