A crise que não atinge o presidente

Um dos problemas do populismo é o culto ao indivíduo. O descolamento, mais uma vez, de Lula e seu governo dos efeitos da crise econômica é uma evidência do dano que se pode causar ao sistema democrático.

O governo Lula não fabricou a crise, da mesma forma que não colocou o Brasil na reta de crescimento econômico dos últimos anos. Seu mérito foi manter a política econômica do governo anterior e trabalhar com estabilidade. Os petistas compreenderam muito bem que a manutenção da estabilidade econômica é essencial para conseguir dar prosseguimento a uma agenda de esquerda, mas isso é outra estória.

O fato é que o governo não tem culpa da crise. Mas tem total responsabilidade para as medidas para combatê-la. Quero dizer aqui que cabe ao governo resolver problemas econômicos? Não, cabe ao governo parar de atrapalhar a economia real. Deixar que a sociedade absorva e enfrente a crise.

Quando o governo, e a justiça trabalhista, age para evitar acordos entre empresas e empregados, na defesa intransigente de uma legislação arcaica, força as empresas a demitir ou aumentar suas dificuldades. Miriam Leitão tocou em um ponto interessante outro dia: muitos destes empregos podem nem voltar após a crise. Vencido o custo elevado para demitir, elas pensarão muito antes de re-contratar. Inclusive podem investir em fechar postos de trabalho definitivamente, através do aperfeiçoamento de processos e mecanização.

O governo brasileiro tem emitido respostas pífias para a gravidade do momento. Em seu lance mais significativo investiu contra as importações, e teve que voltar atrás, mostrando a indecisão que toma conta da política econômica.

O problema não é só a reação aos acontecimentos, mas o que se perdeu nos anos de bonança. Ao invés de aproveitar o crescimento econômico para investir, o governo optou por inchar o tamanho do estado. Nos anos Lula, a despesa com o funcionamento da máquina aumentou mais do que o crescimento do PIB. A conta vai começar a ser paga agora. Em uma sociedade onde o consumo é fortemente tributado, a recessão causará uma diminuição da arrecadação.O recurso público para investimentos vai ficar ainda mais escasso.

Resta o recurso privado. O problema é que este, nas mãos dos bancos, depende fundamentalmente da poupança interna. O dinheiro que os brasileiros aplicam nos bancos. Quando o brasileiro opta por consumir, necessariamente deixa de poupar. O governo tem incentivado o consumo para diminuir a recessão econômica e garantir as receitas de impostos. Diminui a recessão, mas deixa o país mais tempo no atraso.

Por isso é bom desconfiar do investimento público para gerar empregos. O governo não tem este dinheiro. Não somos Estados Unidos. O banco central americano está cheio de dólares por causa da fuga da moeda americana para a segurança dada pelo tesouro americano. Exatamente o contrário do que acontece na maior parte do mundo, e no Brasil.

Em tudo isso, a confiança do brasileiro em seu presidente só faz aumentar. Isso é muito mal. Governos deve ser constantemente cobrados pela sociedade e não louvados. Uma atitude de permanente desconfiança é melhor do que um apoio de olhos vendados.

A Argentina paga até hoje o preço da ilusão peronista. Algumas das razões de nosso atraso ainda estão relacionadas com governo Vargas. O lulismo-petistismo deixará uma pesada herança cultural em nossa sociedade. Levará décadas para nos livrarmos dela.

Se um dia quisermos nos livrar.

Uma mistificação capitalista

É comum se associar o capitalismo aos grandes capitalistas, como se estes fossem seus principais defensores. Por isso Clóvis Rossi, em coluna hoje na Folha, espanta-se que George Soros faça críticas ao capitalismo. Segundo Rossi, Soros é o único grande capitalista que apresenta críticas ao sistema.

O capitalismo não é uma forma de organização econômica formado apenas por tubarões. Todos nós participamos do sistema e por incrível que pareça, que manda no pedaço é o consumidor. É claro que as grandes coorporações capitalistas __ que são extremamente anti-capitalistas, um paradoxo __ procura reverter este quadro tentando formar as mentes dos consumidores para que comprem. Estas coorporações tem um grande inimigo, a liberdade individual.

O capitalismo é baseado justamente nesta liberdade, a de comprar ou não. Quando as coorporações investem contra a liberdade, ela investe contra o próprio capitalismo. A idéia que seus interesses estejam subordinados aos desejos e humores deste ser imprevisível, o ser humano, é o verdadeiro terror do grande capitalista. A liberdade do mercado é para ele uma grande fonte de inquietação e angústia. O que deseja é um mercado extremamente regulado, com o mínimo de concorrência. Os executivos das grandes coorporações descobriram que é muito mais fácil lidar com a burocracia estatal e políticos do que com o indivíduo. Aqueles são muito mais previsíveis e fáceis de controlar.

Por isso gente como George Soros corre para bradar que “foi desmentida a tese de que os mercados, deixados por sua conta, tendem ao equilíbrio.” como afirma Rossi. O colunista diz ainda mais, que Soros defende, ao contrário da maioria dos seus pares, a regulação do sistema financeiro. Claro que defende, assim como os grandes capitalistas, embora evitem dizer isso em público.

Acreditar que os grandes capitalistas são os maiores defensores do capitalismo é um mito. O que eles querem é um capitalismo controlado pelo estado pois é muito mais fácil controlar o estado do que o indivíduo. Quem deveria estar bradando em defesa do capitalismo são os consumidores, esses sim os maiores beneficiados do sistema. A defesa do sistema capitalista é uma defesa da liberdade individual, do direito de fazer uma opção.

Não é por acaso que o capitalismo anda de braços dados com a democracia. Ambas apresentam o mesmo princípio em sua base. Quem investe contra um acaba, mais cedo ou mais tarde, investindo contra o  outro. É apenas uma questão de tempo.

Mais de 40% sobre o material escolar

Esta é a carga tributária que incide sobre o material escolar. Na hora de reclamar dos preços, o brasileiro deveria olhar para seu governo que taxa a educação com este espantoso número. É um número para ter na cabeça toda vez que o apedeuta resolver falar sobre o avanço educacional no país. Tudo mentira.

O que se deseja é a perpetuação da pobreza.

Para que os ratos alimentem-se dela.

Mais um presente do monopólio nacionalista

petrossauro1O preço do barril de petróleo baixou de $40. Não faz muito tempo esteve perto dos $150.

Entretanto, o preço da gasolina permanece o mesmo no Brasil. Como sabem, a Petrossauro, aquela empresa monopolista que dizem servir ao Brasil, não gosta muito de diminuir preço. Diminuir para que se não precisa concorrer? O seu presidente, um petista que não sabe nada de empresar ou petróleo, tenta explicar que não tem como baixar o preço porque o mercado mundical vai voltar a subir. Tudo bem se fosse uma pequena queda no preço, mas não é o caso. O preço do barril não caiu, despencou; o que é muito diferente.

O silêncio da imprensa a respeito é constrangedor e a prova de sua submissão ao governo. Venderam sua dignidade em troca de patrocínio oficial, não raro da própria Petrossauro, e um nacionalismo bocó que só faz penalisar o brasileiro. O grande inimigo, é claro, continua a ser a coca-cola..

380.000

Este é o número de servidores públicos beneficiados pelo aumento concedido pela Câmara dos Deputados, com concentimento do governo. O impacto ainda este ano é de mais de um bilhão de reais. Como o goveno não gera recursos, quem vai pagar a conta somos nós. Isso em um momento de total incerteza quanto ao futuro e na expectativa de recessão. Fica mais uma vez a pergunta: onde o governo vai cortar ano que vem para caber no PIB? Vai cortar? Ou vai tentar tirar ainda mais da sociedade?

Assim o atual governo vai inchando cada vez mais a máquina pública e asfixiando a sociedade. Quem não conseguiu passar em um concurso público até hoje que se exploda, azar. Que fique pagando impostos na iniciativa privada e fique longe dos privilegiados do poder público.

O resultado é este que vemos. Serviço e atendimento de péssima qualidade, ensino horroroso, desempenho abaixo da crítica. Esta é a combinação explosiva de salário bem acima da média privada, aposentadoria privilegiada e estabilidade no emprego. Volto a dizer, isso não vem de graça; tem um preço. E alguém pagando.

Petrossauro e o último refúgio dos canalhas

Lula ficou bravo com as críticas aos empréstimos que a Petrobrás conseguiu com a Caixa Econômica e o Banco do Brasil. Gabrieli, o petista que comanda a Petrobrás e não gosta de dar explicações sobre a empresa, idem. Quando Lula e Gabrieli ficam bravos ao mesmo tempo, é porque tem fogo.

Roberto Campos cunhou o termo petrossauro para referir-se à Petrobrás. A empresa tem um estigma de inquestionável, de acima do bem e do mal. Falar mal da Petrobrás é o mesmo que falar mal do país. Uma vez quase fui escorraçado porque, pasmem, defendi a privatização da empresa. O principal argumento contra mim era que eu não era um patriota.

Tentei argumentar que a privatização da empresa poderia ser sim um ato patriótico, mas o que adianta? Eu estava vendendo o Brasil ao capital estrangeiro, abrindo mão da nossa soberania e etc. Engraçado que esta mesma pessoa defendeu a tunga que a Bolívia deu na petrossauro. Uma noção meio relativa de soberania, não? Eu, o antipatriota, defendia que o Brasil fosse duro com Evo Morales. Esta pessoa, patriota, defendia que cedessemos, que deveríamos sempre buscar a paz.

Quando o barril de petróleo estava lá nas alturas, os custos da empresa se tornaram irrelevantes. Agora com a queda do ouro negro, o aparelhamento e uso político da empresa começa a ficar um pouco mais claro. Por isso o mercado está começando a desconfiar muito da empresa. A petrossauro está perdendo a confiança, mais uma cortesia do petismo.

Agora Lula e Gabrielli aparecem para dizer que questionar o empréstimo concedido é anti-patriótico. Vale como nunca a máxima de Johnson:

O Patriotismo é o último refúgio do canalha.

petrossauro

Mais orçamento engessado

O Globo:

BRASÍLIA. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou ontem proposta de emenda constitucional que vincula parte do Orçamento da União, de estados e municípios à área de segurança pública. Pelo texto aprovado, 5% da receita dos impostos federais e 9% da arrecadação aferida com impostos estaduais e municipais vão compor um fundo permanente de segurança pública. O projeto segue para a apreciação do plenário, onde o governo deverá pôr obstáculos à aprovação.

Comento:

Governo para que? Daqui a pouco não vai sobrar mais nada para administar. Isso se as vinculações não passarem de 100%…

Fala Lula

Não haverá um centavo de corte em nenhum programa social que está em andamento. Se tiver crise [financeira] mais forte, a gente pode até não aumentar o beneficio [do Bolsa Família], mas pode ter certeza que não haverá crise no mundo que me obrigará a tirar dinheiro dos pobres.

Na medida em que todo mundo fala em crise, toma café de crise, almoça crise, janta crise, dorme com crise e acorda com crise, isso vai criando um determinado pânico na sociedade, e as pessoas começam a se retrair.

O trabalhador pensa assim: ‘Eu não vou fazer a compra da minha televisão, da minha geladeira, do meu carro, do berço do meu filho, do material de construção que eu preciso porque eu tenho medo de perder o emprego’. Ele corre o risco de perder o emprego se não comprar, porque daí o comércio não encomenda para a indústria que não produz e aí não tem emprego.

Comento:

  1. O dinheiro sumiu do mercado, isso até as paredes do Planalto já sabem. O PIB vai crescer menos em 2009 do que as previsões do Ministério da Fazenda. De 4%, passou para a casa dos 2%. Em outras palavras: haverá menos dinheiro para o governo no ando que vem, queira o presidente ou não.
  2. Onde pode ajustar o orçamento? Investimentos, custeio e juros. Basicamente são nestas três áreas. O nível de investimento já é baixo, não dá para cortas muita coisa. Os juros garantem o funcionamento da macro economia e a estabilidade da moeda, resta o custeio. O governo pode sim preservar seus programas sociais, desde que corte na própria carne, ou seja, diminua o tamanho da máquina. Isso fica difícil de acreditar quando o governo encaminha um projeto de lei com aumento salarial do funcionário público em alguns bilhões.
  3. Quando se incentiva o consumo para manter a economia aquecida, o acerto é empurrado para o futuro pois a falta de uma poupança interna cobrará o seu preço. O governo Lula tenta empurrar a bomba para seu sucessor, mas ainda tem dois anos de governo.
  4. Não existem soluções mágicas para problemas econômicos, mas existem muitas soluções que pioram o problema, mesmo que adiando-os um pouco. É a aposta da petralhada.

Redução de impostos?

Estadão:

Redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para setores produtivos em crise, como agricultura, automobilístico e da construção civil, manutenção do ritmo crescente dos investimentos em grandes obras, linhas de crédito para a compra de máquinas e equipamentos destinados à exploração e produção de petróleo e campanhas publicitárias para que as pessoas não deixem de comprar bens de consumo são as principais medidas que o governo estuda tomar para amenizar os efeitos da crise econômica no ano que vem.

Comento:

Precisou uma crise financeira mundial para ouvir o governo falar em diminuir impostos, mesmo que seja timidamente.

Tivéssemos feito isso quando era uma opção, quando estávamos surfando com a bonança dos mercados, a sociedade teria respirado um pouco mais da asfixia tributária do estado brasileiro.


Estadão:

“Em quatro anos, o endividamento do brasileiro cresceu quase 70% na relação com o número de salários recebidos. Entre cheque especial, cartão de crédito, financiamento de veículos, crédito pessoal e empréstimos imobiliários com recursos livres, o consumidor devia dez meses de salário em setembro. Em 2004, a dívida correspondia a 5,9 meses de salário.

Os cálculos são do consultor para o sistema financeiro e economista pela Universidade de Brasília, Humberto Veiga. Para chegar a esses números, ele considerou a evolução da massa de salários com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seis regiões metropolitanas e o montante de crédito concedido ao consumidor.

Comento:

De maneira geral, o cidadão tem duas coisas que pode fazer com seu dinheiro, além de rasgá-lo. Ele pode gastá-lo ou guardar para usar mais tarde.

Quando decide gastar, ele movimenta a economia. Produtos vendidos significam sinal para fabricar mais e toda a roda de produção se movimenta. Empregos são criados, tanto na fábrica quanto nos serviços. É o crescimento econômico cuja face mais visível é o aumento do PIB.

A outra opção é deixar de gastar o dinheiro. Desta forma ele contribui para a poupança interna, mesmo que decida investir na bolsa deique valores. Este dinheiro fica disponível para o mercado financeiro e se torna fonte para investimentos. A economia se retrai, mas se este dinheiro for bem utilizado e investido em infra-estrutura, o país fica em condições de crescer mais.

Este foi o grande problema do governo FHC. Com a explosão do consumo gerado pela estabilização da moeda, deixou-se de fazer poupança interna e o resultado foi a paralisia nos investimento. Chegou uma hora que a infra-estrutura necessária não aguentou e o Brasil entrou em recessão.

Com a bonança mundial, decorrente da bolha financeira mundial, o Brasil conseguiu crescer economicamente, não tanto quanto alardeia o governo, ao mesmo tempo que iniciava projetos de infra-estrutura com investimentos externos. Infelizmente a maioria dos projetos não saiu do papel e o governo gastou mais em propaganda do que em ações efetivas.

O fato é que os investimentos sumiram da praça. A tão condenada bolha que se formou, que possibilitou que China e Índia dessem o salto que deram e tirou milhões da miséria, estourou e agora o mercado financeiro se retraiu. O dinheiro sumiu da praça.

O Brasil está no limite de sua infra-estrutura. O problema energético, que gerou o apagão, está longe de ter sido solucionado. Nossa rede de transportes é precária e se deterioriza a cada dia. Somos não entramos em colapso por que a economia cresceu abaixo da média mundial; se fosse o contrário já teríamos encontrado um novo apagão.

O Brasil precisa fazer poupança interna para financiar os investimentos em infra-estrutura. Fica um tanto quanto difícil quando o brasileiro está endividado. Pior ainda quando o presidente da república vai a público incentivar não só a gastança como o endividamento. Isso com um governo que cobra uma das maiores cargas tributárias do mundo para pagar sua própria incompetência.

Estamos em uma sinuca de bico. Governo e sociedade precisam apertar os cintos para nos colocar efetivamente no caminho do desenvolvimento econômico; nem um, nem outro parecem dispostos a fazê-los.

Chegará um dia em que serão obrigados. E será muito mais traumático.