5 Notas de Sexta: Dom Literário, A Livraria, The Band e Crônicas de Nárnia

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

Um canal que tenho escutado

Apesar de ser do youtube e instagram, acompanho principalmente por áudio o conteúdo excelente do canal Dom Literário, com temas como simbolismo, astrologia, formação do imaginário, sempre dentro do panorama da literatura. Como é bom escutar sobre os grandes livros!

Um filme que assisti

Quase por acaso achei este filme interessante na Netfli, A Livraria. Mostra como o poder de um sistema, quando reunido, consegue destruir a iniciativa de uma pessoa, por mais meritória que seja. Um filme que me deixou um gosto amargo e mostra muito o que é Brasil hoje.

Um disco que estou escutando

Na verdade é um box. O show na íntegra do The Band em encerramento da sua maravilhosa, embora curta, carreira. A banda tocou à perfeição. Que coisa maravilhosa.

Um livro que reli esta semana

Inspirado por uma live do canal Dom Literário, li esta semana a primeira crônica do C S Lewis (na ordem de publicação), O Leão, o Feiticeira e o Guarda-Roupa. Desta vez prestei atenção ao incrível clima da crônica. Você fica tenso esperando cada aparição de Aslam. Trabalho de um gênio.

Pensamento da semana

Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem.

Nelson Rodrigues

Conto da Semana: A View of the Woods (Flannery O´Connor)

Flannery por vezes nos apresenta contos que são verdadeiros murros no estômago.

Em A View of the Woods ela nos presenteia com a queda de um homem honesto, mas orgulhoso, que não tem medida nas suas ações. O conto é profundamente simbólico.

Fortune, um senhor de quase 70 anos, só ama uma coisa na vida: sua neta Mary, de 9. Despreza a filha, genro e todos os outros 6 netos que vivem com ele. Todo ideal de família e ligação com a terra (tradição) é colocado de lado e simbolizado pela venda de pequenos lotes para permitir o “progresso”.

A venda do lote em frente à sua propriedade é retratada como um pacto com o diabo, simbolizado por Tilman, um homem com jeito de uma serpente. Mary, de maneira quase irracional, pela primeira vez se coloca contra o avô, de forma feroz. Ela não dará este passo com ele.

O final é arrebatador e nos lembra que na queda perdemos a nossa virtude e abraçamos a morte.

 “You been whipped,” it said, “by me” and then it added, bearing down on each word, “and I’m PURE Pitts.”

Ao usar “it” ao invés de “she”, Flannery mostra como a amada neta deixou de ser humana para Fortune. Um conto realmente perturbador.

5 Notas da Semana: Jethru Tull, Rohmer, C S Lewis, Hazony e Pessoa

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

Um disco que estou escutando

Depois da preciosidade que é Aqualung, o Jethru Tull lança Thick As a Brick (1972), que pode ser traduzido como “burro como uma porta”. Ian Anderson nunca aceitou o rótulo de conceitual para Aqualung e fez este disco maravilhoso, que na verdade é apenas uma única música. Uma ironia aos críticos, como que dizendo: conceitual? Isso é conceitual!

Uma série que terminei

Vivemos a febre das séries no streaming, mas no cinema existem diversas. Na década de 80, Eric Rohmer filmou Comédidas e Provérbios, uma sequência de 6 filmes que meditam sobre os dilemas amorosos de jovens franceses na modernidade. Seis filmes deliciosos que mostram a insuficiência da vida sem compromissos, baseado apenas na realização dos desejos.

Um livro que estou lendo

O israelense Yuran Hazony escreveu A Virtude do Nacionalismo, onde faz a defesa do nacionalismo diante de sua contraparte, o imperialismo. Ele rejeita a noção que as guerras do século XX foram produtos dos estados-nacionais e sem consequência da ação do imperialismo, a crença de um organismo que congregue nações do mundo inteiro em torno de um projeto único para a humanidade. Bem interessante.

Uma discussão que assisti

Enquanto tem gente perdendo tempo com live da Anitta, eu usei o meu para assistir uma excelente discussão no canal Instituto Dom Literário, no instagram, sobre As Crônicas de Nárnia. A alegria de Lewis (e Chesterton) é terapia para os dias que vivemos.

Um pensamento que andei meditando

Os deuses vendem quando dão

Compra-se a glória com desgraça

Fernando Pessoa

Solidão

Um tema que aparece nestes dias de quarentena é o da solidão. Estamos com a imagem das famílias reunidas em casa, sem poder sair, mas e o outro lado? E as pessoas que vivem sozinhas?

A solidão em si, não é um problema como mostra o interessante livro The Loner´s Manifesto, de Anneli Rufus, que li anos atrás (dica do J P Coutinho), afinal, defende ela, todos temos necessidade de nossos momentos solitários. O problema é a incapacidade de lidar com a solidão, um mal real para muitas pessoas.

A modernidade, principalmente quando nos deixamos levar pelo niilismo, pela ausência de um norte moral para nos guiar nos momentos de dificuldade, ampliou esta incapacidade, principalmente nos grandes centros urbanos. Eric Rohmer nos mostra o sofrimento causado pela solidão através da personagem Delphine (Marie Riviére) no filme O Raio Verde.

Solidão não é estar sozinha. Delphine sente solidão mesmo em companhia de outras pessoas, mesmo com as amigas. Ela chora constantemente no meio de conversas, de momentos que deveria estar se divertindo. Seja em Paris, na praia, nos alpes. As cenas da praia em Biarritz é emblemática: uma praia lotada, digna de Copacabana num domingo de sol, e ela lá, solitária e sofrendo.

No fim, quase em um ato de desespero, resolve dar uma chance para a graça e busca um sinal de esperança. Quero quer que foi o que viu no raio verde, o último raio do sol poente. Que seu último choro tenha sido de alívio e não de desespero.

Pascale Ogier: como partistes sem que eu nem soubesse de ti?

Assisti Noites de Lua Cheia, o quarto filme da série Comédias e Provérbios, do Eric Rohmer. Antes de comentar o filme, que o farei em outro texto, uma palavra sobre a atriz principal Pascale Ogier.

Impossível não se apaixonar por ela dançando música pop na primeira festa do filme. Tão segura de si e, ao mesmo tempo, tão frágil. Vontade imensa de abraçá-la, protegê-la. Fui pesquisar no google para saber mais sobre esta atriz. Que outros filmes fez? Como estaria hoje? Envelhecera bem?

Para minha surpresa, descobri que ela morreu no ano seguinte, aos 26 anos. Ataque cardíaco. Parece que tinha uma séria deficiência e usou drogas, uma combinação fatal. Senti uma imensa tristeza que não consigo explicar. O tempo e seus mistérios. Ela deixou este mundo há mais de 30 anos, mas não é esta a impressão que tenho, pois só hoje soube de seu passamento. A imagem em minha mente é de seu sorriso fascinante, seu cabelo frondoso, com penteados incríveis e um senso de estilo único. Em entrevista que acompanha o DVD, Rohmer conta que deixou ela mesmo decorar os cenários dos dois apartamentos do filme, dando um realismo incrível ao filme. Como ela partiu dessa forma, sem que pudesse dar meu adeus?

Queria e bela Pascale, onde estiver, que esteja em paz. Você sempre será nossa bela Louise dançando nas baladas de Paris da década de 80 e viverá no coração dos poucos, mas fiéis, admiradores deste monstro que foi Eric Rohmer.

Estou de luto por alguém que morreu há 35 anos. É a vida.

Conto da Semana: A Marquesa de O (Heinrich Von Kleist)

O que pensar de um conto que começa com um anúncio de jornal de que uma jovem viúva, sem saber como, encontrava-se grávida e caso o pai da criança, que ela não sabia quem era, se apresentasse em sua casa estaria disposta a contrair matrimônio.

Desta forma, despertando a curiosidade do leitor desde o início, Von Kleist prende nossa atenção da primeira à última palavra, numa narrativa de tirar o fôlego, sem pausas para qualquer reflexão sobre o que está acontecendo. É daqueles contos para colocar numa categoria especial, com os maiores já produzidos pela literatura mundial.

Sensacional.

5 Notas da Semana

Olá pessoal!
Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

Um disco que andei escutando

Halfway to Sanity (Ramones). Um disco considerado menor na biografia da banda, virou praticamente o meu hit especial da quarentena brasileira. Tanto pelo título do disco, como pela música de abertura, talvez minha favorita do Ramones: I Wanna Live. Muito legal a participação da Debbie Harry em uma das faixas e a belíssima A Real Cool Time.

Um filme que assisti

Pauline na Praia, do Eric Rohmer. Terceiro filme da série Comédias e provérbios, que filmou na década de 80. Para mim, a chave para entender esta série é a insuficiência de uma vida sem um norte moral. Eles retratam uma juventude francesa na década de 80 que simplesmente queria viver a vida sem nenhuma amarra seja da tradição, família ou nação. O resultado é o tédio e uma certa insipidez da própria vida. Marion, Henri e Pierre são puro ego, colocando-se no centro do mundo e gerando expectativas nos outros que nunca serão cumpridas.

Um livro que li

The Guernsey Literary and Potato Pie Society. Guernsey é uma ilha britânica no canal da mancha que foi ocupada por nazistas na II Guerra Mundial. O livro é um romance escrito de forma epistolar (por cartas) muito interessante, tanto pela estória como pelas discussões literárias e narrativas sobre a ocupação, que indica como seria uma Inglaterra ocupada se houvesse acontecido.

Um canal do Youtube que ando assistindo

Para quem gosta de literatura, especialmente os clássicos, a Tatiana Feltrin é excelente (confira aqui). São muitos livros comentados, dicas e projetos em andamento, com comentários parciais de obras que ela está lendo. Acima de tudo, comentários espirituosos de quem ama a literatura e consegue passar toda essa empolgação em suas falas.

Um Pensamento que andei meditando

Well, I wanna live
I want to live my life
I wanna live
Well, I want to live my life

The Ramones

Eric Rohmer: assistindo(novamente) Comédias e Provérbios

Da primeira vez que assisti a série de 6 filmes, não identifiquei um tema que unisse os filmes.

Desta vez, com auxílio de C. G. Crisp, acho que encontrei a chave.

Se em Contos Morais os personagens tentavam tomar decisões morais, em Comédias eles as evitam. As personagens (agora são mulheres as protagonistas), nos anos 80 europeus, são auto-suficientes e querem viver a vida da forma que achar melhor, em virtude dos próprios egos.

O resultado é uma insuficiência devastadora.

Comédias é uma resposta de Rohmer a Freud.

Ainda escreverei sobre isso.

Pauline na Praia (1983)

Conto da Semana: Jogo do Bicho (Machado de Assis)

Iniciei o projeto de ler um conto toda semana e dividir minha impressão inicial nestas páginas. Na verdade, ano passado dediquei-me bastante à leitura dos contos, inspirados em um capítulo do livro do Harold Bloom, Como e Por Que Ler. Este ano diminui um pouco o ritmo, mas dá para ler um conto por semana.

Jogo do Bicho (Machado de Assis)

Conta a estória de um rapaz de classe média baixa, recém-casado, que patina no emprego, sem conseguir a almejada promoção; ao contrário, vê os colegas sendo promovidos na sua frente. Também não mostra nenhum esforço para se destacar além de participar das fofocas internas. Seu principal esforço parece ser no Jogo do Bicho, que encara com racionalidade, como se fosse seu meio de ganhar na vida. Chega a convidar um bicheiro para ser padrinho de seu filho, na esperança de ganhar dicas dos vencedores.

Obviamente perde muito mais do que ganha. No fim, quando desolado ao fazer as contas e descobrir o tamanho de suas perdas, joga por uma última vez e ganha. Não o suficiente para repor suas perdas, mas serve para sua euforia, sua ilusão de sucesso. Em 24 horas gasta boa parte do que ganhou, mostrando o carácter temporário do dinheiro do jogo.

Machado parece estar mostrando algo bem típico de nossa gente, a tal “fezinha” no jogo como um substituto para investir em si mesmo e procurar ganhos permanentes através do próprio trabalho e desenvolvimento de habilidades. O narrador tem o sonho de ganhar o dinheiro que acha que merece e termina condenando sua família à mediocridade. Mais até do que o dinheiro perdido, há a questão do esforço que coloca no jogo, seja ele qual for, e, principalmente, a imobilidade. O achar que a solução está na sorte, deixa de lado o que realmente poderia estar fazendo para si mesmo ou por sua família.