5 Notas de Sexta: Green River, Rohmer, Vicente Ferreira da Silva, Parsifal

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

Um disco que estou escutando

Continuando minha jornada pela obra do Creedence Clearwater Rivival, esta semana tenho escutado Green River (1969). Outro baita disco, com grandes canções. Bad Moon Rising tem uma letra bem interessante, onde Fogerty faz uma metáfora de uma tempestade para se referir a crises que uma sociedade atravessa.

Uma série que estou escrevendo

Este assisti novamente os seis filmes de Eric Rohmer que foram a série Comédias e Provérbios. Resolvi escrever uma série de ensaios sobre estes filmes e estou trabalhando no terceiro, que trata de Pauline na Praia (1982). O fio condutor é a mulher européia dos anos 80, livre e empoderada, lidando com a insuficiência de sua forma de amar.

Um Ensaio que li.

Reflexões sobre o Ocultamento do ser, de Vicente Ferreira da Silva trata de como a a exclusão do transcendente faz nosso mundo menor e incompreensível. Amputamos da realidade a chave para compreendê-la, o que nos faz permanecer na ignorância.

Uma ópera que estou escutando

É bem curioso que a última ópera de Wagner tenha um tema profundamente cristão, o que implicou na revolta de Nietzsche, que nunca o perdoou por isso.

Uma letra de música

I hear hurricanes a blowing

I know the end is coming soon

I fear rivers overflowing

I hear the voice of rage and ruin

Bad Moon Rising

Bayou Country (1969)

Escutei muito este disco na semana que passou. Segundo album do Creedence Clearwater Revival, as sete faixas são excelente.

Impressionante como o californiano John Fogerty conseguiu captar o espírito do sul com Born on the Bayou e Proud Mary. A Louisiana sempre será um lugar meio místico para o norte-americano. Além de sua culinária característica, é o berço da música do país. Afinal, lá nasceu o jazz, o blues, o country e a combinação de tudo isso, o rock´n´roll.

Fogerty nos presenteia com um excelente blues em Graveyard, Train. A cozinha está afiadíssima, dando segurança para que as guitarras dor irmãos deslizem pelas faixas, sempre com as notas nos lugares certos. O disco tem ritmo, balanço e a virtuosidade de um líder que começava a se afirmar como a nova voz da música americana.

A minha favorita do disco é Bootleg. O ritmo hipnótico e o riff que vai serpenteando pela canção me conquistou. O rock renascia na América depois de uma década inglesa.

5 Notas de Sexta: Creedence, uma montanha, Schumacher e arte

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

Um disco que estou escutando

Em 1969, o Creedence Clearwater Revival lançou 3 discos, todos conseguindo platina. Foi uma explosão impressionante de criatividade de John Fogerty que compôs quase todo material dos albuns e o primeiro deles, e segundo da banda, foi Bayou Country. Além de Born on the Bayou, tem uma viciante Bootleg e o primeiro clássico com as digitais do guitarrista: Pround Mary. Como este californiano consegui captar a alma do rio Mississippi será sempre um mistério para mim.

Um filme que revi

Imagine morar numa pequena aldeia no País de Gales em 1917. Os jovens estão lutando na guerra, muitos já morreram. Os que ficaram trabalham para manter o esforço e se dividem em pequenas brigas próprios da tensão que envolve todos. Quando dois topógrafos ingleses chegam na aldeia e verificam que a montanha ao lado era na verdade uma colina pois não tinha 1.000 pés (tinha 980), a aldeia se une para um esforço em comum: aumentar a montanha em 20 pés. Irracional? Não para quem entende um pouco de espírito humano e da necessidade de ter um projeto em comum que dê sentido a uma existência em sociedade. O filme? The Englishman Who Went Up a Hill But Came Down a Mountain (1995)

Um quadro que estou admirando

Agnus Dei (1639), do pintor espanhol Francisco de Zurbarán. Uma lembrança eterna de até onde chega a maldade humana.

Um livro que estou lendo

Small is Beautiful, de E. F. Schumacher. Tem livro que você percebe na primeira página que te transformará. Este é um deles.

Um pensamento que estou refletindo

É uma falsa piedade conservar a paz em detrimento da verdade.

Pascal

Conto da Semana: Alexis _ o “pote” (Tostoi)

Tostói nos conta a história do jovem Alexis, apelidado o “pote”, que sofre nas mãos de todos, mas nunca reage. Ao contrário, tem uma postura alegre e sempre disposto a servir. Quanto mais ele trabalha, mais é maltratado pelos pais, patrões e amigos. Seu único momento de individualidade é o desejo de se casar com a cozinheira da casa que trabalha, mas até isso lhe é negado. Dias depois, cai do telhado e morre, conformado com sua situação.

Alexis é o santo da visão de Tostói, um homem que aceita sua condição e sempre oferece a outra face, evitando conflitos. O problema é que lhe é negado uma das virtudes essenciais de um verdadeiro santo, a esperança. O que resta é o retrato da brutalidade das pessoas para com os humildes e a falta de sentido para o sofrimento. Alexis resume-se em ser bom, o que é admirável, mas algo está fora do lugar, algo falta na visão de Tostói.

Falta justamente a abertura para o transcendente. Alexis não se pergunta porque sofre e nem tenta se comunicar com Deus, suas orações são apenas em gestos, sem palavras. O que seria uma oração em gesto? O homem se comunica com Deus pela palavra, nem que seja em pensamentos, mas nada disso tem o pobre Alexis, apenas a submissão total às situações da vida, ao destino que se manifesta.

Tostói nos mostra o mal, mas nos nega a esperança.

5 Notas de Sexta: Grace Kelly, Parsival, Poesia, Indústria 4.0 e Schumacher (o economista)

Olá pessoal!

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Um filme que asssisti

Está disponível na Amazon Prime o clássico To Catch a Thief (1952) do grande Alfred Hitchcook. Além de Cary Grant, o filme conta com a belíssima Grace Kelly no auge da beleza. Como não se apaixonar por ela?

Um documentário que assisti

Existe uma série de 30 documentários que a apresenta a ópera de maneiras não convencionais, claramente feita para despertar a curiosidade. Trata-se de This is Opera, uma série espanhola apresentada pelo simpático Ramon Gener. Esta semana assisti o episódio que ele trata de Parsival, do Richard Wagner. Ainda ganhei uma passeio pela história do castelo de Montsegur, abrigo dos cártaros.

Tentando desenvolver a leitura da poesia

De todos os gêneros literários, a poesia é o que tenho maior dificuldade. Tenho por ela uma mistura de fascínio e incompetência. Retomei a leitura de Basic Concepts of Poetics, tradução inglesa do alemão Geiser (também não ajudo né?), enquanto sigo na leitura de sonetos do Camões.

Um conceito que tenho estudado

Por razões profissionais tenho me aprofundado em entender o conceito de indústria 4.0 ou 4ª Revolução Industrial. É um tema fascinante, diz muito do que estamos vivendo e o que vem pela frente. Só para ter uma idéia, a palavra chave é crescimento exponencial.

Pensamento da semana

Se os vícios humanos como cobiça e inveja são sistematicamente cultivados, o resultado inevitável é nada menos que o colapso da inteligência.

E. F. Schumacher

Conto da Semana: Medida por Medida

A simples idéia de transpor peças do Shakespeare para a forma de contos sempre me pareceu um sacrilégio. Entretanto, fiquei curioso quando soube da adaptação de várias peças pelos irmãos Charles e Mary Lamb. Fiquei intrigado. Charles Lamb é um escritor nascido no século XVIII, um grande ensaísta, um estilista de primeira. Dei um voto de confiança e li a adaptação de Medida por Medida, uma das minhas peças favoritas.

Não me arrependi. O resultado é primoroso. A estória de como o Duque de Viena deixa a cidade sem deixar (permanece fantasiado de frade) e permite que um implacável Angelo governe com rigor excessivo fica excelente na forma de um conto. Com moral da estória e tudo.

Mais um exemplo que tive na minha vida e um preconceito sem nenhum fundamento. Felizmente, superado.

Notas de Sexta: Queensryche, Pitch Fever, O Leopardo, um problema sério e um lembrete

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

Uma banda que andei revisitando

Fazia tempo que eu não escutava esta banda. Nos anos 90, o disco Empire rolava muito no meu toca discos, mas nunca escutei outra coisa do Queensryche. Estou revesando entre Empire e o Operation Mindcrime, que sempre ouvir falar mas acabei nunca escutando.

Um filme que assisti (novamente)

Existe um enorme preconceito com as chamadas comédias românticas de hollywood. Sim, existe uma fórmula básica um tanto repetitiva, mas isso não é desculpa para se fazer filmes ruins. O grande problema é querer que a fórmula salve uma estória fraca. Não é o caso de Pitch Fever(2005), um filme que gosto mais cada vez que assisto. Por trás da camada obvia, há uma reflexão sobre o problema da obsessão e como ela nos afeta. Gosto realmente deste filme. E go, Red Sox!

Um clássico que terminei de ler

O Leopardo, de Tomás de Lampedusa. Impressionante descobrir que o livro foi escrito em 1957, e foi o único romance do autor. Possivelmente é o último clássico da literatura.

Um problema que estamos lidando

Perguntaram-me o que fazer para colocar limites no STF. Faz tempo que falo a mesma coisa: não há como, pelo menos do fetiche chamado Estado Democrático de Direito. Ele tem por base a constituição e quem interpreta a constituição faz o que quiser. Simples assim.

Pensamento da semana

Tão forte é a tradição que as gerações futuras sonharão com aquilo que elas nunca viram.

G. K Chesterton

Conto da Semana: O Gerente (Turgueniev)

O narrador, um caçador, conta a estória de uns dias que passou em companhia de um jovem fazendeiro, oficial reformado, chamado Arkadi Pavlitch. O fazendeiro se considerava um homem severo, mas justo, que zelava pelo seu povo e os punia para o próprio bem deles.

Na verdade, Pavlitch era muito mais preocupado com sua imagem, esbanjando o francês para mostrar sua cultura, do que com o bem estar de quem quer que seja. Na prática, quando diante de um de seus empregados, era impaciente, bruto e só se segurava pela presença do narrador.

O gerente do título era um de seus administradores, Sofron, que Pavlitch dizia ser um grande estadista, porque não deixava que os servos atrasassem os pagamentos. Na verdade, Sofron era um grande bajulador, que tratava Pavlitch como um deus e ao mesmo tempo estorquia os servos.

Quer saber? Este conto maravilhoso é um retrato do Brasil que herdamos e ajudamos a perpetuar. Políticos que vivem de aparência, que tratam o povo como crianças que precisam ser disciplinadas e burocratas (Sofron) que vive entre a bajulação aos políticos e extorsão dos sem condições de defesa. Nós somos a Rússia rural do século XIX.