Conto da Semana: Os Três Staretzi (Tostói)

Também conhecido como os três eremitas, o conto tem uma atmosfera de mistério que apenas os grandes escritores conseguem criar, que vai crescendo em tensão no final até seus surpreendente final.

Trata-se da estória de uma arcebispo que encontra-se em uma viagem de navio. Ele fica sabendo que numa ilhota próxima existem três eremitas que vivem isolados, buscando apenas a salvação de suas almas. Curioso, ele pede que o levem até lá, para conhecê-los.

Tostói constrói o conto cuidadosamente para ilustrar sua teoria religiosa de ligação direta do homem com Deus, sem uma instituição no meio do caminho. É seu cristianismo pessoal, que não tem espaço para nenhuma autoridade religiosa.

O Dilema das Redes – Notas

Nós somos o produto. Ou não?

O primeiro passo para fazer um juízo de valor sobre uma teoria, ou denúncia, é entender o que está sendo dito. Ontem assisti o documentário O Dilema das Redes (The Social Dilemma, 2020) e baixo tento resumir, em forma de notas, o que nos foi apresentado:

  1. Nós não pagamos pelo uso das redes sociais (e do google), o que significa que não somos os consumidores. Afinal, o que está sendo vendido? Qual o produto?
  2. O produto não somos nós, os usuários, e nem os nossos dados como se fala. O verdadeiro produto é nossa atenção. Além disso, nossa previsibilidade.
  3. A inteligência artificial é cada vez mais eficiente para:
    1. captar nossa atenção;
    2. expandir a rede através da nossa atuação; e
    3. apresentar o produto mais provável de adquirirmos e no momento mais propício.
  4. Com o tempo, percebeu-se que também é possível induzir nosso comportamento pelo conteúdo que nos é apresentado. Tudo isso através de algoritmos.
  5. Os criadores originais não tinham estas intenções, trata-se de efeitos adversos que não foram pensados. A própria eficiência dos algoritmos proporcionou possibilidades não planejadas mas extremamente lucrativas.
  6. As grandes plataformas (facebook, instagram, pinterest, twitter, youtube, google) monopolizaram o mercado e passaram a ter um poder de influência sem precedentes na história.
  7. Estas plataformas não são responsabilizadas por suas práticas e conteúdo exibido, nem pelas consequências de sua atuação.
  8. Os algoritmos geram polarização ao seguimentar as informações que recebemos, gerando radicalização ao facilitar a reunião de pessoas que pensam da mesma forma (efeito manada).
  9. O radicalismo político se traduziu nos últimos anos com a eleição de líderes populistas, que colocam em risco a democracia.
  10. A tecnologia está potencializando o que a humanidade tem de pior ao invés de nossas virtudes.
  11. As redes sociais são viciantes, gerando como consequência fenômenos de isolamento, depressão e suicídios.
  12. Soluções apontadas:
    1. responsabilização das plataformas;
    2. regulamentação das tecnologias digitais; e
    3. taxação pelo acúmulo de dados.
  13. Dicas para as pessoas comuns:
    1. desligar as notificações;
    2. desinstalar redes sociais do celular;
    3. seguir pessoas que não concorda nas redes (especialmente twitter);
    4. usar plataformas de busca que não criam histórico de navegação;
    5. sair das redes sociais.

Acho que é isso? Esqueci alguma coisa?

Notas de Sexta

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

1. Uma música que escutei sem parar

Stone Dead Forever, do Motorhead. Eu já a conhecia, mas nunca tinha realmente prestado atenção. Riff perfeito, a parede sonora que Lemmy tanto falava, letra inspirada, ou seja, baita canção!

2. Um ensaio que li

Quem me conhece sabe que sou profundo admirador de Eric Voegelin, uma das duas maiores mentes do século XX. Pois o ensaio Evangelho e Cultura é uma das melhores coisas que li do Voegelin. Difícil um elogio maior que esse.

3. Uma aula que escutei (podcast)

José Monir Nasser explicando Teogonia, do Hesíodo. Preciso dizer mais?

4. Um documentário que não vi:

Nem sei o nome ainda, mas é aquele do netflix que fala das redes sociais e seu males. A semana foi pesado no trampo e não deu para assistir. Do fim de semana não passa.

5. Uma frase que ando refletindo

Na verdade, este homem era Filho de Deus.

Matheus (27,54)

Seis Doenças do Espírito Contemporâneo: 3- Horetite

Projeto 6 doenças do espírito contemporâneo, by Constantin Noica.

A terceira doença é a Horetite, que se caracteriza pela ausência de determinações. Confesso uma certa dificuldade em entendê-la plenamente.

O homem que sofre desta doença tem o sentido geral e o sentido individual, mas falta-lhe a capacidade de realizar suas determinações, ou seja, de alinhar através de suas ações os dois sentidos citados.

Por isso Noica diz que é uma doença da vontade, enquanto que ausência de um sentido geral é uma doença dos sentimentos e a ausência do sentido individual é uma doença da inteligência, fazendo uma ligação com as 3 dimensões da alma em Platão.

O grande exemplo aqui é Dom Quixote, mas Noica cita também o Zaratrusta de Nietszche, Luis XIV, Pigmaleão, os espartanos e os vikings.

Conto da Semana: The Enduring Chill (Flannery O’Connor)

Asbury retorna de Nova Iorque para a fazenda da mãe, no sul americano, para morrer. Aos 25 anos, está com uma doença incurável, coisa que a mãe se recusa a acreditar e insiste em chamar o Dr Block, típico médico de interior. “Minha doença está acima da capacidade dele”, diz o moribundo.

Ele é um escritor fracassado que vê na morte trágica sua forma de ter o fim de um poeta. Já que não tem o conteúdo, o talento, fia-se na forma, emular a vida de um poeta, o que já demonstra que sua doença está realmente acima da capacidade do doutor, é espiritual.

Tanto o Dr Block quanto o estranho padre jesuíta que o jovem chama para irritar sua mãe e ter uma conversa intelectual, são formas como a graça aparece para Asbury. O padre ao invés de jogar o jogo proposto pelo rapaz lhe diz poderosas verdades: ele tem que pedir pela graça para recebê-la. No fundo, está dizendo que ele precisa se abrir para a realidade espiritual.

No fim, ma surpresa que coloca Asbury diante de sua própria finitude e tendo que escolher como viverá o resto de sua vida.

Mais uma profunda reflexão de Flannery sobre a graça e a forma como ela nos toca, e como a recusamos em função das coisas do mundo.

Uma nota sobre Flannery O’Connor

Começo a achar que Flannery foi a maior contista que já existiu, maior até que Borges e os russos.

Ela vai na profundeza de nossa alma doente para mostrar até onde chega a condição humana. E o faz com maestria, com imagens belíssimas.

E fez tudo isso antes dos 40! Infelizmente o lúpus a levou aos 39. Até onde ela poderia ter ainda chegado?

Talvez Deus tenha concluído que já era suficiente. Que era até onde o homem do século 20 poderia ouvir sem se desmoronar de vez.

Notas de Sexta

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

1. Um filme que assisti: Frozen 2.

O filme é ok, não tem muito o que falar. O diferente é que foi num drive in. Última vez que vi um filme num drive in foi em 1982. Levei as filhas, que logicamente nunca tinham ido. Adoraram a experiência.

2. Um disco que ando escutando: Bomber, do Motorhead

Espremido entre dois discos marcantes da banda, Overkill (1978) e Aces of Spades (1980), o Bomber acaba ficando meio esquecido por muitos fãs. Adoro este disco. Ele tem uma pegada bem rock´n´roll no centro do peso que a banda colocava em suas músicas. Uma combinação matadora.

3. Um livro que estou lendo: As viagens de Gulliver

Eu, sei, era para ter lido na adolescência. Pelo que li até agora, permito-me discordar. Tem muita coisa em Liliputh que está fora do alcance de um adolescente.

4. Uma presente que ganhei:

Uma amiga muito querida tem um ex-aluno que trabalha na análise técnica do Flamengo. Ela consegui através dele que os jogadores do time assinassem uma camisa, que ela me deu de aniversário. Presentão, né?

5. Uma frase que ando refletindo

I am convinced that intelligent, educated and literate englishman are neither left wing nor right wing, but are bored by politics, and regard all politician with scorn

Auberon Waugh

As Seis Doenças do Espírito Contemporâneo: 2- Todetite

Continuando o projeto de releitura do livro do Constantin Noica, neste segundo domingo reli a segunda doença, a todetite.

É a doença causada pela carência do individual, e que pode, chegar até a ausência efetiva “desta coisa aqui” (tode ti, em grego antigo), pela qual deviam realizar-se tanto o geral como suas realizações.

O homem que sofre de todetite tem um sentido geral, mas vive em função dele e ignora a realidade do individual. É a doença da perfeição, pois em função de um sentido geral, o individual sempre está falhando em algum ponto e é recusado. Ou seja, quando o individual não corresponde à teoria, pior para o individual pois a teoria não pode estar errada.

Quase todos sofremos um pouco desta doença na juventude, quando nos guiamos por ideais e queremos mudar o mundo para corresponder a este ideal. O sentimento típico da doença é a inadequação.

É a doença dos ideólogos e idealistas, incapazes de ver no individual os problemas das teorias gerais. Os revolucionários, como os retratados por Dostoievsky em Os Demônios, representam bem esta doença. Assim como o positivismo é uma manifestação no campo cultural.

(link para o livro: https://amzn.to/48QPUbw)

Castelo Interior ou moradas

Santa Teresa de Jesus compara nossa alma a um castelo com muitas moradas, que ela divide em sete grupos. Na primeiro deles, que chama de primeiras moradas, a pessoa ainda está imersa nos problemas do mundo e praticamente não encontra tempo para Deus. No segundo, já divide o tempo entre Deus e o mundo, sempre em conflito. A cada grupo, mais se afasta do mundano e se aproxima de Deus, sempre através da prática da oração, da reflexão sobre o divino, a prática da caridade e abertura para a graça, pois trata-se de uma jornada que o homem não consegue fazer sozinho.

O livro tem uma profundidade que não consegui captar inteiramente na primeira leitura. Falha do leitor, que muitas vezes deixou que seu estado de agitação perturbasse a leitura, assim como certa impaciência para terminar o livro, sempre um erro a ser evitado. Assim, não consigo caracterizar bem cada um dos grupos das moradas, apenas seu sentido geral de aproximação até a união com Deus.

É um daqueles livros que devemos ler várias vezes ao longo da vida. Esta foi apenas a primeira.

Notas de Sexta

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

1. Um filme que assisti: Rio Grande(1950). John Ford conclui sua trilogia da cavalaria com mais um belo filme, que mostra como o Tenente-Coronel Kirby Yorke (John Wayne) lida com a ameaça dos apaches ao mesmo tempo que precisa resolver o conflito familiar que se instala com a chegada da esposa que não vê há quinze anos.

2. O que ando escutando no spotify: entre outras coisas, as duas primeiras sinfonias de Beethoven. Companheiras de leituras.

3. Um livro que terminei: A Festa de Babette, de Karen Blixen. Em 60 páginas, Blixen conta a estória do impacto que a cozinheira Babette provoca em uma aldeia filandesa. A fé precisa da alegria para gerar frutos, uma lição que as irmãs, filhas do antigo deão, esqueceu.

4. Uma descoberta. Alguém conseguiu organizar no spotify as aulas do professor José Monir Nasser. Estou escutando em minhas caminhadas a a aula sobre O Pato Selvagem, do Ibsen. Uma das peças mais dolorosas que já li, mas que pelos comentários de Nasser ganham uma outra dimensão. Cuidado com os militantes morais!

5. Uma frase que ando refletindo

Quão facilmente os homens vendem a liberdade, a única, a grande liberdade, por algumas liberdades.

Constanti Noica