Voegelin: como é possível cultuar os filósofos da modernidade?

Terminei atordoado de ler o longo ensaio de Voegelin, escrito no fim de sua vida, que praticamente faz um resumo sobre seu entendimento da estrutura da realidade e do caminho do filósofo para entendê-la. Trata-se de Sabedoria e Magia do Extremo: uma Meditação.

Como sempre, ele parte de um problema real: o sonho utópico das ideologias. Como é possível tamanha deformação da realidade? Ainda mais por pensadores de primeira grandeza como Hegel?

A quantidade de iluminações que Voegelin apresenta, página depois de página, é para atordoar qualquer um e terminei a última frase sabendo que vou ler este ensaio até o fim da vida.

Como alguém pode se impressionar com Kant depois de ler Voegelin? Com Hegel? Marx nem falo porque é filósofo de terceira categoria.

Nem vou resumir este artigo aqui porque ainda não estou em condições para tal. Primeiro vou ler As Leis, do Platão, depois reler o ensaio com toda atenção para ser capaz de ter um entendimento que me permita fazer uma resenha digna.

Notas de Sexta!

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

1. Um filme que assisti: Mais ou Menos Grávida (For Keeps, 1988)

Título horroroso em português (nota mental: escrever um artigo sobre esses títulos que distorcem o entendimento do filme), mas uma bela estória sobre a forma como nos conectado e superamos as dificuldades que a vida nos impõe. Eu sou eu e minhas circunstâncias, já dizia Ortega Y Gasset.

2. Um disco que ando escutando: Once Upon a Time (Simple Minds, 1985)

Um dos melhores discos de rock dos anos 80. Gosto de tudo que a banda fez nesta década, especialmente do clima das músicas, as linhas de baixo, os vocais de Kerr e a guitarra delicada de Burchil.

3. Um livro que estou lendo: As Viagens de Gulliver

O livro é muito conhecido e pouco lido. Muita gente acha que trata-se apenas de uma viagem, em que Gulliver encontra humanos em miniatura e se torna gigante. Em realidade são várias viagens em que se troca constantemente o ponto de vista, em uma sátira maravilhosa da sociedade do início do século XVIII, sob influência já do iluminismo.

4. Um ensaio que estou lendo: A Sabedoria e a Magia do Extremo: uma meditação

Em um de seus últimos escritos, Eric Voegelin discute o sonho da utopia e a operação mágica que é realizada para que este sonho apareça como uma possibilidade real. Com direito à análise de um soneto de Shakespeare.

5. Uma frase que ando refletindo

Tudo isso o mundo sabe bem, mas ninguém sabe bem

Evitar o céu que leva aos homens para este inferno

Shakespeare

As vestes e a graça

O Evangelho de hoje conta a parábola do reino de Deus como uma festa de casamento onde muitos são os convidados e poucos os escolhidos.

Um dos pontos centrais desta parábola é quando o rei interpela um homem que não usava as vestes da festa e manda açoitá-lo e amarrar seus pés. Por que o rei fez isso?

As vestes da festa simbolizam as graças que Deus nos envia ao longo de nossas vidas. Temos sempre o livre arbítrio para recusá-las, o que fazemos freqüentemente, para nossa desgraça. Ela não aparece tão claramente quanto muitos imaginam, na maioria das vezes é bastante sutil e revestida de um aspecto tão humano que custa-nos acreditar em sua origem transcendente.

Não conheço melhor estudo da graça (e de nossa recusa) na literatura do que os contos de Flannery O’Connor. Já no cinema, principalmente em seus contos morais, é Eric Rohmer que nos dá uma boa perspectiva.

Ambos nos ensinam a prestar atenção nas pequenas coisas, pois nelas pode estar escondidas as graças que Deus nos envia.

Notas de Sexta!

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

1. Um restaurante que revisitei: Família Mancini

O trabalho levou-me para São Paulo esta semana. Eu e dois amigos chegamos no hotel, no Ibirapuera, às sete e meia da noite. Onde jantar? Lembrei-me do Restaurante Família Mancini, bem próximo. Cantina italiana de primeira, numa rua que foi reformada pela própria família. Pena que os bares estavam fechados e meus amigos não puderam ver a rua em sua condição natural da noite paulista.

2. Um livro que terminei de reler: As Seis Doenças do Espírito Contemporâneo, do Constantin Noica

Noica afirma que além das doenças físicas e psíquicas, existem também as doenças do espírito e estas doenças são exatamente seis. São as combinações possíveis entre ausência ou recusa dos sentidos geral, particular ou suas determinações. Ainda vou montar o quadro comparativo das seis!

3. Um filme que assisti: Um Olhar a Cada Dia (ou O Olhar de Ulisses)

Filme do cineasta grego Theo Angelopoulos. Confesso que não é um filme fácil de assistir e interpretar. Trata-se de um cinema evocativo, em que cenas do passado, presente e sonhos se misturam, nem sempre de forma clara. O tema do filme é uma odisséia de um cineasta grego pelos balcãs no auge das guerras provocadas pelo fim do comunismo.

Que cena!

4. Um disco que andei escutando: Street Fighting Years, do Simple Minds

O Simple Minds é uma das minhas bandas favoritas dos anos 80, mas confesso que não tinha parado ainda para escutar este disco de 89.

5. Uma frase que ando refletindo

The first thing God created was the journey, then came doubt, and nostalgia.

Niko, em Um Olhar a cada Dia

Notas de Sexta

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

1. Uma disco que andei escutando bastante: High and Mighty (Uriah Heep)

Este é um dos trabalhos mais subestimados do Heep, inclusive pela própria banda. David Byron seria expulso logo a seguir por seus problemas com álcool e o ambiente já não estava bom. No entanto, considero um baita disco. A sonoridade está muito boa, o que ressalta a bateria de Keerslake, assim como os demais instrumentos. Gosto muito das composições e nessa discordo da crítica.

2. Um livro que estou lendo: O Reacionário (Nelson Rodrigues)

Trata-se de uma série de crônicas que em que Nelson relembra episódios de sua vida, pensamentos, mudanças na sociedade, tudo com o excepcional domínio que tinha de nossa língua. Particularmente tocante é a crônica em que descobre que sua filha nascera cega.

3. Um filme que assisti: O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas

Sete amigos iniciam a vida adulta após formarem na faculdade. Trata-se do início da maturidade, aquele momento em que existe uma tensão entre ilusões e realidade, que precisam ter algum equilíbrio.

4. Uma pizzaria que conheci aqui em Brasília: Don Giovanni

Já é minha favorita. Pizza italiana, do jeito que eu gosto: massa fina e crocante. O dono é italiano legítimo, o ambiente é agradável e tudo muito saboroso. Uma curiosidade é que ao longo do tempo, várias sugestões de clientes entraram no cardápio com o seus nomes.

5. Uma frase que ando refletindo

A ilusão moderna de abolir a condição humana é a raiz de sua própria tragédia.

Autor (quase) desconhecido

Dilema das redes: cadê o contraponto?

Há alguns anos atrás, assisti um documentário norueguês sobre o paradoxo da igualdade de gênero. Chamou-me atenção, independente da tese defendida, a forma como o tema foi tratado.

Paradoxo da Igualdade de Gênero,

Primeiro, após colocar a questão, o documentarista formula claramente a tese que defende: a desigualdade de gênero não pode ser explicada apenas pelo contexto social, também existem pré-disposição biológica.

Durante uma hora e meia, os pesquisadores e formuladores de políticas públicas da Noruega são entrevistados e a opinião e argumento deles são apresentados de forma honesta, sem distorções ou ironias. Só então o documentarista abre espaço para os que se colocam a favor da tese que defende, dando a eles o mesmo tratamento dado ao primeiro grupo.

O documentário ainda retorna aos defensores da desigualdade de gênero como produto social e apresentam a opinião dos cientistas que defendem o argumento biológico e abre espaço para que eles retifiquem ou mantenham suas opiniões.

No fim, o documentário retoma a questão e deixa aberta a pergunta para que o público possa decidir por si mesmo.

Para quem conhece, o que o documentário fez é bem próximo da estrutura da Suma Teológica de São Tomás de Aquino. Coloca a pergunta, coleta os argumentos em contrário, coloca a defesa da tese e refuta os argumentos levantados. Método realmente científico de tratar uma questão social.

Lembrei deste documentário esta semana refletindo sobre O Dilema das Redes, documentário que trata dos efeitos das redes sociais nas pessoas, particularmente na juventude. O Dilema é tudo que o Paradoxo não é em termos de estrutura.

E aí começa o seu problema.

O mito que leitura resolve tudo

John Stuard Mill começou a ler Platão e estudar grego aos 5 anos, obrigado por seu pai.

Cresceu convencido que era um reformador do mundo e publica um livro (Utilitarismo) defendendo que a moral é definida pelo máximo prazer.

Ler muito, e nas horas erradas, faz mais mal do que não ler nada.

Toda vez que me dizem que o importante é ler, lembro dele e pergunto: ler o que? Em que momento?

A pessoa confusa, responde:

__ Qualquer coisa!

E eu fico sinceramente na esperança que ela não esteja lendo nada.

Notas de Sexta!


Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

1. Uma banda que escutei bastante: Uriah Heep

Lee Kerslake, baterista da banda, nos deixou. Há alguns anos que lutava contra um câncer, que o obrigou a deixar as baquetas. Um dos meus bateristas favoritos. Deu uma repassada em parte do trabalho dele na fase de outro do Uriah Heep.

2. Um livro que terminei: A Anatomia da Crítica, do Northrop Frye

Escrito na década de 50, este livro mostra a necessidade da crítica literária expandir seus horizontes além do estruturalismo que dominava, e ainda domina, os estudos de literatura. Fascinantes suas observações sobre como uma obra se comunica com o todo da literatura através dos símbolos e arquétipos.

3. Um documentários que assisti: O Dilema das Redes

O documentário da net tem uma tese bem construída e convincente, mas peca ao não abrir espaço para o outro lado, o que acaba tornando-a, mesmo se estiver certa, em uma simples peça de propaganda.

4. Um canal que acompanho no youtube: Verbal to Visual

Este canal ensina a usar o desenho como forma de expressão e anotações. Para quem deseja trabalhar mais o poder criativo do cérebro. Só clicar aqui.

5. Uma frase que ando refletindo

A originalidade reside na maneira nova de exprimir as coisas já ditas

Antoine Albalat

As Seis doenças do espírito contemporâneo: 4- Ahorecia

Quarta doença do espírito contemporâneo, segundo o filósofo romeno Constantin Noica.

Agora trata-se das doenças da lucidez. Nas três anteriores havia ausência do sentido do geral, do individual e das determinações apropriadas, agora há a recusa.

A primeira destas três últimas doenças é a Ahorecia, a recusa das determinações.

Noica apresenta os exemplos da peça Esperando Godot, da cultura indiana, dos hippies, dos ascetas, dos estóicos e do espírito científico moderno de ter na matemática uma pureza que tudo explica.

O doente de ahorecia não quer se dar determinação, ele quer se colocar fora do mundo, em alguma forma de indiferença. É o tipo de pessoa que entra em uma batalha está perdida e do lado perdedor. Na horetite havia a tristeza dos vencedores, aqui há a alegria dos derrotados.

Trata-se de uma tendência de superioridade lúcida de se apartar do mundo.

Mitos são mentiras?

Quando comecei e me interessar por filosofia, uma das primeiras coisas que li foi que a filosofia era a superação do mito. Até o surgimento de Sócrates, o mundo estava tomado por mitos sobre os deuses do Olimpo e suas aventuras, uma evidente mentira típica de um povo crédulo. Um dia vou escrever um livro sobre todas as mentiras que escrevem sobre a filosofia, particularmente para iniciantes.

Essa concepção é fruto de uma visão progressista da história. Tudo que é mais antigo, é inferior. Esquecem que a condição humana é permanente e os antigos viram primeiro a nossa realidade, expressando-a da forma como puderam, ou seja, criando lendas que formaram os mitos.

Só que mito não é um simples produto da imaginação de um poeta imemorial, como Homero. Eles expressam verdades profundas, em uma estrutura compacta, mas nem por isso menos real. É preciso “descascá-los”, ou na linguagem de Eric Voegelin, diferenciá-los. Ao longo da história, os mitos vão se tornando mais claros e não, como se imagina, substituídos por teorias criadas por mentes privilegiadas de intelectuais. Até porque, deveria ser fundamental entender a experiência que gerou o mito, um dos aspectos que os filósofos modernos menos se ocupam.

A título de provocação deixo uma singela constatação: Édipo não tinha complexo de Édipo. (E muito menos Electra tinha complexo de Electra)!