Emily em Paris

Estou assistindo a série Emily em Paris e me divertindo bastante. Interessante que sempre vejo que os que mais impressionou as pessoas foram as imagens de Paris, mas não acho que este seja o diferencial. Afinal, filmes com belas imagens da capital francesas tem para todos os gostos, como em Antes do por do sol, um dos meus favoritos.

O que acho mais interessante na série é o conflito de duas culturas que têm diferentes visões sobre o tempo. Uma voltada para vencer o tempo e atingir a máxima efetividade, especialmente no trabalho. Outra voltada para aproveitar o tempo ao máximo, mesmo que a custas desta tal efetividade.

Talvez sejam ambas pontos extremos de como viver a vida, o que significaria que há um meio tempo mais saudável, mas não pensei muito nisso ainda. Por enquanto vou acompanhando as aventuras da simpática Emily no meio dos franceses. Tem cenas impagáveis como o momento em que ela manda voltar o fillet que estaria fora do ponto e o chef manda voltar dizendo que estava perfeito. Na visão americana, o cliente sempre tem razão. Na França a razão está não no chef, mas no prato em si. E o fillet estava correto.

5 Notas de Sexta!

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

1. Um pod cast que escutei: Discos que você ouve da primeira à última faixa

B3 é formado por Benjamin Back, João Marcello Bôscoli e André Barcinski e tem por foco falar principalmente de música. Neste podcast eles discutem discos que consideram perfeitos e se percebe o gosto eclético da turma. Bem legal de escutar.

2. Um disco que ando escutando: Rocket to Russia (Ramones, 1977)

Sempre foi um dos meus favoritos. No podcast do B3 é o primeiro a ser citado o que despertou minha saudade de escutá-lo, o que tenho feito há dois dias. Para mim é o disco que o Ramones afirmaram categoricamente suas raízes nos anos 50 e 60; sem perder a energia, é claro!

3. Um livro que estou lendo: As Lei (Platão)

Este mês dei uma emplacada em Platão, impulsionado por alguns ensaios de Voegelin. Depois de reler Protágoras, iniciei o maior diálogo de Platão, o único em que Sócrates não aparece, o que indica que se trata das idéias do próprio autor. No Livro II ele faz uma impressionante analogia entre uma assembléia legislativa e um banquete, entre direitos e vinho!

4. Uma corrida de F1 que assisti: GP da Alemanha, 1981

Uma corrida sensacional em que Prost, Alan Jones, Carlos Roitman e Piquet disputaram as primeiras posições até o fim. Não faltaram ultrapassagens no circuito de alta velocidade de Nurburgring. Só lamento que a televisão da época não tinha ainda todos os recursos que tem hoje para acompanhar uma corrida. Piquet dá uma aula sobre a importância de poupar equipamento.

Na largada, Piquet
caindo para sétimo.

5. Uma salmo que ando refletindo

A divina bondade é o fim de todas as coisas

Santo Tomás de Aquino

Dica de podcast: B3

Para quem gosta de rock e curte podcast, estou escutando um episódio sobre discos que você escuta da primeira à ultima faixa. O podcast é do B3, uma reunião do Benja (aquele da fox sports), Boscoli e Barcinski. Muito bem humorado, começa com Rocket to Russia, dos Ramones.

Série Discos Favoritos: 1- Who´s Next (The Who, 1971)

Começando uma nova série, dos meus discos favoritos. Não significam que sejam os melhores, ou que sejam perfeitos, pois reconheço que há um componente emocional muito forte nestes albuns.

Conheci o The Who em 1996. Em uma loja de CDs, sim elas existiram, fiquei intrigado pela capa de uma coletânea, que tinha o Pete Towshend dando um salto com aquela bateria maravilhosa do Keith Moon ao fundo. Pensei, esta banda tem que ser boa.

Apaixonei-me instantaneamente. Na época estava trabalhando no interior da Amazônia, em Urucu, numa província petrolífera da Petrobrás. Passei muitas horas como meu diskman (sim, existiam também) escutando a coletânea.

Mas foi com Who´s Next que meu queixo caiu. Que perfeição! Que sonoridade! Não tem nenhuma música fraca no album, todas as faixas são maravilhosas. Já conhecia, da coletânea, os hits de Baba O´Riley e Won´t Get Fooled Again, mas Love Ain´t for Keeping, My Wife, Bargain, só tem música maravilhosa, sem contar Behind Blue Eyes, por muito tempo minha favorita da banda.

Disco perfeito de uma banda no auge de sua capacidade criativa e talento musical. Disco obrigatório em qualquer coleção de rock.

Uma lei estranha

A liturgia de ontem trás uma interessante passagem do livro do Êxodo, em que o Senhor faz vários alertas ao povo de Israel. O Pentateuco possui basicamente três conjuntos de leis: as litúrgicas, as rituais e as morais.

As primeiras referem-se às vestimentas, ao altar, o incenso, a ordenação sacerdotal. Em grande parte incorporou a tradição da Igreja Católica. O segundo conjunto, dos rituais, referem-se ao sacrifício, a circuncisão, purificação, alimentos puros. Quase tudo foi revogado pelo próprio Cristo que se tornou o cordeiro no sacrifício.

Já a terceira parte, as leis morais, é o tema da liturgia do último domingo. Na primeira leitura, cita-se um trecho do Êxodo que devem ter parecido muito estranhas dentro da cultura pagã da antiguidade.

O Senhor diz para não maltratarem os estrangeiros, pois Israel foi estrangeiro no Egito. Nem os orgãos e viúvas, que eram talvez as pessoas mais desemparadas da antiguidade. Também não devem explorar economicamente os que se encontram em situação de vulnerabilidade. Entre outros alertas.

Se lermos as tragédias gregas e os poemas de Homero, nada disso aparece por lá. Os gregos, assim como as demais civilizações da época, exaltavam o homem forte e tinham um ideal de justiça muito implacável. Não foi por acaso que Nietzsche, em seu resgate desta cultura antiga, tenha rotulado o cristianismo de moral de escravos, em contraste à moral dos senhores.

Pois a lei moral que o cristianismo nos trás vai além da justiça pagã e sua cultura, vai ao encontro dos humildes e mais pobres, introduzindo a caridade e a empatia como critérios sociais. O próprio Cristo foi a resposta ao clamor da maioria dos povos antigos que não encontravam em sua cultura as respostas por seus anseios mais profundos, de origem e finalidade da vida humana. A bela liturgia de domingo nos recorda que tudo isso já se encontrava no Antigo Testamento e os dez mandamentos serão válidos sempre, pois são leis atemporais que vigorarão enquanto existir o homem na terra.

Conto da Semana: A Tempestade (Charles e Mary Lamb)

Se você deseja conhecer as peças de Shakespeare sem ler as peças ou entendê-las melhor depois da leitura, uma preciosa dica é o livro em que os irmãos Lamb transformaram as peças principais em contos para tornar as estórias mais acessíveis ao grande público.

A Tempestade é a última peça de Shakespeare e nas mãos dos irmãos Lamb concentra-se na narrativa de Ferdinand e Miranda, cujo casamento simboliza a reunião do céu e da terra, o grande tema do bardo em toda sua obra.

Tela de John Waterhouse

Em defesa do absurdo

Já repararam que se entendermos que existem coisas na vida que estão além de nossa capacidade de compreensão estas coisas ou acontecimentos nos aparecerão como absurdos?

Que o absurdo não é uma prova da não existência de Deus, mas que Deus está acima de nossa capacidade de compreendê-lo.

É o que Chesterton nos mostra no impressionante ensaio Em Defesa do Absurdo, do livro O Defensor.

Vale cada linha.

A Universidade Moderna em Platão

Estou relendo o diálogo Protágoras, de Platão. Trata-se de uma reflexão sobre o sofista, uma espécie de profissional que existia nos tempos de Sócrates que ganhava dinheiro ensinando jovens a ganharem discussões públicas, independente da tese que defendessem.

Ou seja, o sofista não tinha compromisso com a veracidade do que ensinava e sim em ensinar o vocabulário para que o aluno apresentasse sua tese como verdadeira e ganhasse um debate.

Não sei porque, mas lembrei da universidade moderna. Até que pontos os professores, principalmente nos curso de pós-graduação, são sofistas?

Olhai se esta passagem não poderia ser um alerta a um jovem estudante que entra para uma universidade?

Mas se não estás, toma cuidado, venturoso amigo, para não por em risco o que te é mais caro numa jogada de dados. Asseguro-te que há um perigo muito mais sério na compra de ensinamento do que naquela de produtos comestíveis. (…) É obrigado, uma vez acertado e efetuado o pagamento, a absorver o ensinamento na tua própria alma, aprendendo-o. E então partirás, prejudicado ou beneficiado.

Conto da Semana: Biriuk, Turgueniev

Este conto faz parte do livro Memórias de um Caçador. Na verdade, o narrador anônimo faz mais do caçar animais silvestres, ele caça estórias da gente humilde da Rússia agrária.

Neste conto, ele conhece Biriuk, um guarda florestal admirado pela retidão e competência. Abrigando-se da chuva, o narrador descobre que ele vive pobremente, com a filha e um bebê que foi abandonado na frente de sua casa.

Durante a chuva, ele captura um camponês que cortava ilegalmente uma árvore e demonstra que por trás dos gestos rudes e fama de implacável, existe uma humanidade verdadeira.

Simbolismo e Alegoria

Ainda vou escrever um texto decente sobre este assunto, mas há uma enorme confusão entre alegoria e simbolismo.

A alegoria ocorre na literatura quando se cria uma estória para representar uma determinada realidade. O crônica mais famosa de Nárnia, O Leão, A Feiticeira e o Guarda-roupas, é uma alegoria da vida de Cristo. A Revolução dos Bichos uma alegoria à revolução russa.

Já o simbolismo é de outro patamar. Algo é simbólico quando remete a uma realidade, mas por uma força do próprio ente ou acontecimento. A água, por exemplo, entre outras coisas, representa a renovação. O fogo representa o espírito e assim por diante.

Infelizmente, na modernidade, o homem perdeu o sentido simbólico das coisas e quando muito consegue enxergar uma alegoria, o que empobrece a sua compreensão das grandes obras do espírito.

Vejamos o caso de O Senhor dos Anéis. Um pensador alegórico vai enxergar no livro de Tolkien uma alegoria ao nazismo, com os hobbits no papel do ingleses e Sauron de Hitler. Faz sentido, mas é muito pouco.

Pois o simbolismo que Tolkien desenvolve é de muito mais profundidade. O anel é um símbolo das idéias circulares, pequenas, mas que aprisionam a mente de quem a possui. Uma pessoa poderosa com um anel é um perigo para todo mundo, pois ele possui meios de ação para impor a idéia representada pelo anel. Por isso ele tem que ser destruído. Os muitos anéis da obra são ideologias, que corrompem até mesmo o mais inocente que o utiliza. Frodo, Aragorn e Gandalf simbolizam juntos o Cristo, através de seus três papéis: servo sofredor, rei e profeta. Toda a saga é o simbolismo da luta da matéria para derrotar o espírito, que sempre termina em fracasso, mas nem sem grande sofrimento.

Praticamente todo teatro de Shakespeare tem este sentido de revolta da Terra contra o Céu, mas somos incapazes de perceber porque perdemos a capacidade simbólica.

Muito do que estudo é justamente para adquirir esta capacidade de enxergar estes símbolos. Depois que você começa a conseguir, um mundo infinito se abre para você.