Dom Quixote: uma obra católica

Encontrei no youtube um curso do Nivaldo Cordeiro sobre Dmn Quixote, a imortal obra de Cervantes. Já tinha assistido anos atrás um curso dele sobre Dr Fausto, de Thomas Mann, que achei excelente.

Na primeira aula, Cordeiro chama atenção para algo que deveria ser óbvio, Cervantes escreve uma obra católica. Ele mesmo foi um soldado ferido na batalha de Lepanto, onde fez parte da esquadra que combateu os muçulmanos e por 5 anos foi prisioneiro dos mouros em Argel.

Ao recapitular alguns intérpretes da obra, chama atenção para a diferente visão de dois grandes nomes da filosofia espanhola: Ortega Y Gasset e Miguel Unamuno. Para Cordeiro, só Unamuno entendeu a dimensão católica da obra. Ortega, muito influenciado pelo esteticismo de Goethe, que enxergava a tradição germânica como uma das raízes da Europa ao invés do cristianismo, deixou de perceber este significado essencial da obra. Erro que também sofreria séculos depois Vargas Llosa, que enxergou bem o livro como feito para o século XXI, mas o associou ao triunfo do liberalismo, que tem para ele a força de uma ideologia.

Através do humor e da loucura do cavaleiro andante, Cervantes disfarça uma crítica profunda tanto ao Estado nacional que se instalava na Europa quanto à Igreja modernizada. Ele enxergava na expulsão dos judeus e dos mouros convertidos na península ibérica uma proposta de limpeza racial, que era incompatível com o ideal cristão. Era o prenúncio da idéia demoníaca de uma raça pura, que ainda promoveria uma grande tragédia no mundo.

Rublev e o ícone da trindade

Andrei Rublev foi um artista russo que pintou vários ícones maravilhosos no início do século XVI. Há toda uma teoria sobre os ícones, que tem muito mais a ver com o sagrado do que as belas pinturas do renascimento, como as de Michelangelo e Da Vinci, mas fica para outro texto.

Aliás, sobre Rublev recomendo o clássico do Tarkovisky.

Um dos ícones pintados por ele é esse em que retrata a trindade, centro da fé cristã (o Deus que ao mesmo tempo é três). Uma explicação detalhada sobre o significado da obra encontra-se aqui.

Lidando com a dor: A vida continua

Em tempos de covid, é fácil esquecer que a história humana é repleta de tragédias. Desde guerras, algumas durando anos, até desastres, naturais ou não.

Uma destas tragédias foi o terremoto que sacudiu a fronteira entre Irã e Rússia em 1990, vitimando 30 mil iranianos.

Abbas Kiarortami não perde tempo nos contando a história do terremoto, mas sim do quinto dia, de como as pessoas estavam lidando com suas perdas. Uma senhora diz ao diretor (vivido por um ator) que perdeu toda sua família, 12 pessoas. Um menino diz que sobreviveu porque saiu do quarto incomodado com os mosquitos.

O que estas pessoas não podem é se deixarem levar pela dor. São muito humildes, precisam continuar com suas vidas. Resgatar o que sobrou de seus poucos bens, buscar água para beber, reconstruir suas casas. A dor é um privilégio que eles não podem se dar.

A Vida Continua (1992) é o segundo filme da trilogia que Kiarostami realiza em torno da pequena aldeia de Koker.

Um filme bem apropriado para os tempos que vivemos.

Taylor Swift e porque você deveria escutar Evermore com atenção

No apagar das luzes de 2020 (se é que acabou), a Taylor Swift lançou o disco chamado Evermore, o segundo durante a pandemia, já que em março havia lançado Folklore.

É impossível imaginá-la saltando no palco com as músicas que estão nestes dois albuns, mas particularmente no segundo.

O que temos é uma Taylor intimista, com letras reflexivas, melodias suaves e um tanto tristes. Ainda é cedo para saber se é uma guinada na carreira, mas num ano que ninguém fez praticamente nada que preste, o album surpreende bastante.

Basta reparar na capa, que mostra a artista de costas, contemplando uma paisagem de árvores. Para uma artista pop, não ter o rosto na capa de um disco é significativo.

Sempre achei que Taylor tinha mais a dizer do que fizera até então. Muitas vezes o pop é uma prisão para um verdadeiro artista, o que sempre achei que ela era.

Temor a Deus: um esboço

Por muito tempo tive dificuldade em entender a insistência no antigo testamento em temer a Deus. Como ter medo de um Deus que é amor? Isso não fazia sentido.

A paternidade nos ensina muitas coisas. Uma delas é que não existimos para agradar nossos filhos, para sermos amiguinhos no sentido de coleguismo. Uma pai ou mãe é amigo de seus filhos quando age com responsabilidade, impondo limites e sim, exercendo a punição quando preciso.

Quantas vezes em minha infância fiz algo errado e imediatamente tive medo de ser pego por um dos meus pais? Foi a partir destas recordações que entendi. Eu tive medo de meus pais não por eles serem pessoas ruins, longe disso, mas deles perceberem como eu era falho. Essa era a essência do temor aos meus pais. Nunca deixei de amá-los quando castigado, mesmo que por vezes fosse uma injustiça. O temer normal que os filhos sentem em relação aos pais também é um reconhecimento da autoridade, da percepção que eles sabem mais.

O mesmo acontece em relação a Deus. Temos medo de que Deus, vendo nossos pecados, não nos perdoe. O antigo testamento diz claramente que o temor a Deus é o principio da sabedoria. Vejo isso como o primeiro passo, a humildade em nosso coração. Começamos nossa obediência pelo medo do castigo, só então começamos a compreender que aquelas regras tem uma razão de ser e entramos no amor de Deus. Não podemos iniciar pelo Novo Testamento; precisamos passar pelo antigo.

Qualquer pessoa normal na minha idade olha para o passado e entende porque nossos pais fizeram certas coisas e somos gratos. Eles foram responsáveis e nos ajudaram a sermos pessoas melhores. O mesmo acontece em relação a Deus. À medida que vamos compreendendo, e esta estrada é infinita, aprendemos a amá-Lo. Eva é a representação do que acontece quando não O tememos. Nos tornamos soberbos e queremos ser deuses. Queremos comer o fruto da árvore do bem e do mal, ou seja, queremos definir o que é bem, avocando uma prerrogativa divina. O amor começa pela obediência e não pela revolta.

A partir dessas idéias gerais, comecei a entender porque temos que temer a Deus. Não é para evitarmos de amá-Lo, mas justamente para conseguirmos fazê-lo.

5 Notas de Sexta!

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

1. Um disco que estou escutando: Nights of the Dead (Iron Maiden, 2020)

O que pode ter de novo em um disco ao vivo do Iron Maiden? Este vale por dois fatores. O primeiro é a seleção de músicas, divididas em 3 partes: guerra, religião e inferno. O segundo é a sonoridade. O som está sensacional. Como costuma dizer o Benjamin Back: eu agradeço a Deus todos os dias por viver no mesmo universo que o Iron Maiden!

2. Um livro que terminei: As Leis (Platão)

Por que ler livro de filosofia política escrito há 3 mil anos? Uma resposta simples: pela atualidade.

3. Uma corrida que assisti: GP Long Beach, 1981

Estou assistindo a temporada de 1981 (comecei a assisti F1 em 1983). Há anos que não assisto F1 e descobri o motivo. Não é pela falta de brasileiros, mas pela falta de competitividade. Que me desculpem, mas corrida que não tem 10 carros em condições de ganhar nem vale meu esforço. Esta corrida abriu o campeonato de 81 e o campeão Alan Jones levou. Destaque para a disputa entre Ricardo Patrese (Arrows) com o argentino Carlos Reitman (Williams) que fez uma ultrapassagem sensacional no circuito apertado em Miami (era chamado na época da Mônaco americana). Piquet chegou em terceiro, depois das duas Williams, quase 50 segundos depois. Ficava claro que as Williams tinham o melhor carro. Mas naquela época, não bastava ter o melhor equipamento para vencer…

4. Uma série que terminei: Friends

Os mais novos não sabem, mas houve uma época que assistíamos séries pela tv a cabo, sem streaming. Significava que tinha um horário certo para assistirmos os episódios e nem sempre conseguíamos ver. Friends passava no horário que eu jantava, e acabei vendo bastante episódio, mas não chegou na metade. Aliás, uma temporada tinha cerca de 20 episódios. Comecei a assistir na sequência pouco antes de pegar covid em agosto e terminei ontem. Divertimento despretensioso, mas numa época em que se podia fazer piadas de verdade.

5. Um pensamento que ando refletindo

Scream for me, Mexico City!!!

Bruce Dickinson

Parábola dos Talentos

Talvez uma das parábolas mais difíceis de interpretar nos evangelhos seja a dos talentos. Um senhor, prestes a viajar, deixa para um empregado 5 talentos para cuidar. Para o segundo, deixa 3. Para o último, deixa 1. Depois que parte, os dois primeiros investem os talentos e conseguem retorno para apresentar ao senhor na volta. O último, sabendo que o senhor é severo, enterra o talento para não ter risco de perdê-lo. Quando o senhor retorna, os dois primeiros empregados devolvem com ganhos o que tinham recebido. O terceiro desenterra o talento e devolve o que recebeu, enfurecendo o senhor, que o manda castigar.

Muitos podem interpretar a parábola como uma espécie de defesa do capitalismo, da necessidade de investir o capital para obter os juros apropriados. O terceiro, justamente o mais pobre, é castigado por ter evitado o risco.

Só que um talento não é uma moeda, mas uma quantidade razoável de ouro, o que significa que mesmo o terceiro empregado tinha recebido uma riqueza muito grande. O que a parábola quer de fato dizer?

O senhor é obviamente Deus, que se oculta da criação, dando espaço para a liberdade do homem. O talento não é riqueza material, mas a riqueza espiritual, especialmente a misericórdia divina. E o que devemos fazer com a misericórdia? Gastá-la. Quanto mais misericordioso nós formos, mas teremos em retorno, maior será nossa riqueza. O que não podemos fazer é enterrá-la, ou seja, guardá-la. O terceiro empregado recebeu uma graça de Deus e deveria tê-la dividido com o próximo, mas guardou-a para si, enfurecendo seu senhor.

O que a parábola nos ensina é que temos um dever com nosso Senhor quando recebemos sua graça. Por isso, em outro texto do evangelho, Jesus nos diz que quando fazemos o bem para um dos seus pequeninos, estamos fazendo diretamente a ele; assim como ao recusarmos ajuda ao próximo, estamos fechando a porta para Ele. Com cada graça que recebemos, vem junto uma responsabilidade, uma possibilidade de ajudar alguém. Quando o Senhor voltar, nos cobrará a graça recebida e muitos de nós não terá nada para mostrar.

Conto da Semana: A Princesa Flor-de-Maio (Andrew Lang)

O segundo conto do Livro Vermelho de Andrew Lang retrata uma princesa que viveu numa torre do castelo até os 20 anos para fugir da maldição de uma bruxa, em uma estória que remete à bela adormecida.

Poucos dias antes de seu aniversário de 20 anos, em que estaria livre da maldição, ela não aguenta mais e sai da torre, apaixonando-se pelo embaixador que vem trazer o convite de casamento de um principe.

Ela foge com o embaixador para uma ilha deserta onde descobre o perigo que é entregar sua vida a quem mal conhece apenas pela primeira percepção da pessoa. Amor a primeira vista é sempre um perigo.

5 Notas de Sexta

Olá pessoal!

Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

1. Um passatempo: montar quebra cabeças

Faziam alguns anos que não montava um quebra cabeças. Minhas filhas andavam pedindo para eu comprar um para montarmos juntos. Um bom rock tocando, diversão garantida. Apenas minha coluna não é mais como era antigamente…

2. Um disco que ando escutando: Foregn Affair (Tina Turner, 1989)

Pessoal se impressiona com as Lady Gaga da vida, que é excelente cantora, diga-se, mas ainda acho que com Tina Turner não dá para competir. Além da presença, da voz, a qualidade das músicas era muito superior a estas divas de hoje. Sério. Esse disco então, simplesmente perfeito. Que rainha!

3. Um livro que terminei: O Defensor (G. K. Chesterton)

Chesterton viveu a transição para o século XX e viu com muita clareza onde as correntes de pensamento que tomaram as mentes dos intelectuais iria dar. Neste livro, em vários ensaios, ele defende as coisas mais triviais, e que estavam sob ataque severo de uma mentalidade que desejava fazer tábula rasa de tudo que herdaram de seus antepassados.

4. Uma série que estou assistindo: The Crown (temporada 4)

Sim, Mrs Tatcher dá as caras! Só assisti os dois primeiros episódios, mas me divertir muito com o contraste entre a classe média da primeira Ministro e da aristocracia de Elizabeth II. Além disso, ainda temos uma Diana tocante; ainda mais quando sabemos onde aquilo tudo vai dar.

5. Um pensamento que ando refletindo

A pseudociência é, portanto, serva da ideologia. A política é sua ferramenta.

Benjamin Wiker