Time Stand Still – Rush

Eu ando meio obcecado pela música Time Stand Still, do Rush. Lançada em 1987, do disco Hold Your Fire, um dos que mais dividiram opinião nos fãs da banda.

A música faz uma crítica à rapidez da modernidade, que faz com que não tenhamos tempo para contemplar e aproveitar o presente. Quando percebemos, o tempo passou e temos saudades de um passado que não aproveitamos como deveria. É o mesmo tema da peça Our Town, do Thorton Wilder (livro que mais me impressionou este ano).

Fiquem com a letra da música e façamos todos um esforço de valorizar o que temos no presente; não é garantido que o teremos no futuro.

Time Stand Still

Rush

I turn my back to the wind

To catch my breath,

Before I start off again

Driven on,

Without a moment to spend

To pass an evening

With a drink and a friend

I let my skin get too thin

I’d like to pause,

No matter what I pretend

Like some pilgrim

Who learns to transcend

Learns to live

As if each step was the end

Time stand still

I’m not looking back

But I want to look around me now

Time stands still

See more of the people

And the places that surround me now

Time stands still

Freeze this moment

A little bit longer

Make each sensation

A little bit stronger

Experience slips away

Experience slips away

Time stands still

I turn my face to the sun

Close my eyes,

Let my defenses down

All those wounds

That I can’t get unwound

I let my past go too fast

No time to pause

If I…

Notas sobre Henrique IV – Parte 2

Terminei ontem de ler Henrique IV, parte 2. Algumas notas:

  1. Juntamente com a parte I, a peça trata da transição do Príncipe Hal, que vive cercado de má influências, a começar por seu tutor Falstaff, em um dos grandes reis da Inglaterra, o famoso Henrique V.
  2. A parte 2 vai concluir esta jornada. Hal vai substituir como figura paternal o anárquico Falstaff pelo ponderado lorde juiz, um dos principais conselheiros de seu pai.
  3. Trata-se de uma aceitação de seu destino, que Hal vê claramente como um fardo que terá que carregar (a cena com a coroa é marcante).
  4. Muitos acham que ser de uma família real é ser um privilegiado. Hal comete todas as loucuras da juventude justamente porque sabe que um dia chegará ao fim e terá que viver um papel para o resto de sua vida. O próprio Henrique IV, em seu leito de morte, confessa ao filho que não foi feliz com a coroa.
  5. Henrique IV tornou-se rei de forma ilegítima. Por isso teve que lutar a vida inteira para manter a coroa e se desgastou até a morte.
  6. Quem trai um, trai outro.
  7. Falstaff é uma figura dionísica. Anárquico, com uma lei moral própria, mestre das trapaças, mas ao mesmo tempo generoso e capaz de realmente ter afeto. Em contraste, o Lorde Juiz é uma figura apolínia. Correto e ponderado, chegou a prender o príncipe Hal por desordem. Fiel a princípios, não muda de atitude com o novo rei. O predomínio do impulso dionísico faz parte da juventude, mas o homem maduro necessita de Apolo, ainda mais se tiver grandes responsabilidades.
  8. O afastamento, no fim, de Falstaffé necessário, mas nem por isso menos tocante.
  9. O Príncipe João é uma deformação do apolínio. Se o Lorde Juiz tem a reta razão como guia, João tem sua própria fonte de moral, como demonstra a forma como lidou com a rebelião. Eficiente e pragmático, evitou uma guerra, mas não se pode dizer que foi honesto.
  10. Henrique IV passou os últimos anos querendo conquistar Jerusalém sem saber que já a tinha em seu próprio palácio.
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Falstaff e o Lorde Juiz: Dionísio e Apolo

A superioridade das coisas invisíveis sobre a matéria

Quiet rebellion leads to open war

(Red Tide, Rush)

Dois de meus ensaios favoritos do maravilhoso livro Tremendas Trivialidades, do Chesterton, trata da relação do espírito com a matéria, ou do invisível com o visível.

Em “O Vento e as Árvores” ele faz uma interessante analogia. Uma criança pequena ao avistar os galhos de uma árvore balançando freneticamente em um vendaval pede ao narrador que faça elas pararem. Na cabeça do pequeno, eram as árvores que abanavam gerando o vento.

O homem moderno é como esta criança, que ao ver os galhos (a matéria) acredita que ela gera o vento (o espírito). A revolução francesa não foi a causa dos pensamentos revolucionários, mas o contrário. Antes da revolução, existe a filosofia e o pensamento. Ninguém jamais viu uma revolução, diz Chesterton, apenas seu final.

O invisível é a teologia, a filosofia, o pensamento. A matéria são as civilizações e as cidades. Tudo que conseguimos enxergar são os últimos e por isso achamos que são os mais importantes, que tudo explicam.

No segundo ensaio, “O Mundo às avessas”, Chesterton aprofunda o tema e chama atenção para a inversão que a humanidade faz, colocando a matéria como critério para o espírito. Assim, discute-se se dois empregados de um loja deveriam casar-se, ou seja, se o casamento dos empregados é conveniente para os negócios, quando o certo seria discutir se a loja é um local adequado para um casal trabalhar. Afinal, o casamento é uma das coisas espirituais da vida; os negócios, não.

Muitos cientistas sociais cometem este erro. Consideram a materialidade como explicação e causa de tudo. Daí o erro fundamental do marxismo, por exemplo. O homem não é governado pela economia, mas criador desta.

Mas o contraste preto-e-branco entre o visível e invisível, o sentido profundo de que a única crença essencial é a crença no invisível em oposição ao visível, reapareceu súbita e sensacionalmente na minha mente.

Dica de Leitura 2

 

Sempre que terminar um capítulo, feche o livro e pense sobre ele. Tente resumir mentalmente o que leu, não recorra a anotações neste instante, pode voltar a elas depois.

Busque a essência. Como você explicaria o capítulo para alguém em poucas parágrafos?

Se quiser, escreva um parágrafo. Não mais do que um. Poucas frases. Guarde-o para guando terminar o livro e for refletir sobre ele como um todo.

Pascal: a que seita você pertence?

Hoje de manhã, antes de ir à missa, fui reler um pensamento de Pascal. A primeira leitura foi em um uber, quando voltava do trabalho. Trata-se de um pensamento extenso, de algumas páginas, tratando da natureza do conhecimento.

Pascal divide as possibilidades em três. De um lado, os pirrônicos e acadêmicos (cépticos); do outro, os dogmáticos. Pirrônicos são os seguidores de uma corrente que surgiu no platonismo de cépticos, que duvidam de todo tipo de conhecimento. Foi muito influente na modernidade. Os acadêmicos são uma derivação que acredita que nunca conseguiremos saber nada. Pelo que pesquisei, os pirrônicos perseguem o conhecimento, enquanto os acadêmicos não acreditam que seja possível.

Os dogmáticos são os que acreditam na possibilidade do conhecimento pela fé.

Para Pascal, todo mundo tem que escolher entre uma das três seitas, pois não escolher significa ser pirrônico.

Só que todas estas posições são insuficientes. Existem conhecimentos, que são rejeitados pelos pirrônicos, que nos são fornecidos pela própria lei natural. Ou seja, é impossível ser pirrônico sem rejeitar a lei natural. O dogmático, por sua vez, acredita em dogmas que vão contra a razão humana.

Pascal entende que o problema vem da insuficiência do homem em entender o próprio homem. Estamos acima da nossa capacidade racional e por isso o conhecimento mais seguro é o revelado por Deus.

Somos marcados pelo pecado original. Só entendemos conceitos como verdade e felicidade porque nossos pais pecaram. Se tivessem continuado fiéis no paraíso, não conheceriam mentira ou falsidade. Nenhum desses conceitos faria sentido para eles porque felicidade seria nosso estado natural.

Que sejamos responsabilizados pelos pecados de Adão e Eva afronta a razão humana, mas, entende Pascal, sem este mistério o homem se torna incompreensível. Já aceitando o mistério do Pecado Original, tudo mais se torna mais claro.

Dessa forma, o homem se apresenta em carácter dual. No estado de nossa criação, e na graça, somos como Deus. No estado de pecado, nos tornamos animais como os demais.

O homem, resume ele, transcende o homem. Nosso conhecimento sempre será incompleto porque nossa razão não alcança nos entender completamente.

Trata-se de um tenso profundo e não estou seguro se foi realmente isso que Pascal queria dizer. Pretendo voltar algumas vezes e refletir sobre este pensamento de Pascal. Fiquei com a impressão que nessas linhas está condensada toda uma filosofia.

Hold your Fire: enganado por um crítico

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Interessante como uma crítica pode nos afetar. Lembro que no fim dos anos 80, li uma crítica em uma revista sobre este disco do Rush. Ela foi tão devastadora que acabei nunca escutando o disco.
 
Os mais novos não entendem, mas não havia internet na época. Ou você comprava o disco, ou gravava de um amigo em fita k7. Até dava para escutar uma faixa ou outra em uma loja, mas eram poucas que permitiam deslacrar o disco para escutar.
 
Enfim, convenci-me que o disco era uma porcaria e nunca tive a curiosidade de escutá-lo.
 
Como estou num projeto de escutar toda discografia da banda, esta semana passei uns dias escutando-o. O crítico não entendia nada de rock. O disco é muito bom.
 
Minha favorita é Time Stand Still. Pela música, o ritmo e a letra. Não sou muito fã do refrão, mas aprendi a gostar. A música trata do erro de deixar a vida passar rápido demais, um tema que tem se tornado uma obsessão desde que li a maravilhosa peça Our Town, Thornton Wilder.
 
I let my skin get too thin
I’d like to pause,
No matter what I pretend
Like some pilgrim
Who learns to transcend
Learns to live
As if each step was the end

Footloose: celebração da liberdade de escolher

Esse fim de semana revi um dos filmes da minha adolescência, Footloose. Aproveitei para apresentar à minha filha.

O filme poderia facilmente ter caído nos esteriótipos. Um pastor intolerante, a mocinha rebelde, o garoto que vem de fora ensinar os caipiras. Felizmente foi na direção oposta.

O pastor é mostrado com sensibilidade, como um homem que ama sua família e sua comunidade, e justamente por causa deste amor passa do ponto. Ele comete um dos maiores pecados para alguém em sua posição: ele retira o livre arbítrio das pessoas.

É a grande tentação totalitária. Para que as pessoas não pequem, ele as impede de pecar. Ele constrói uma rede de proteção sobre toda a cidade. O símbolo dessa rede é a proibição de festas e danças.

Além de ser uma violência contra a liberdade, na prática é inútil e perigoso. Ariel, a filha, comete um ato de absoluta irresponsabilidade no início do filme que choca até suas colegas. Aos poucos descobrirmos algo de suicida na menina. Provavelmente terminaria morta em algum acidente, que encobriria sua irresponsabilidade.

O pastor, interpretado brilhantemente por John Lithgow, não é um vilão. Não quer poder e controle; quer apenas que não aconteça com os outros o que aconteceu ao próprio filho. É paciente, bondoso. Mas está perdendo a batalha que não tem como vencer, a batalha pelas almas da cidade.

No fundo, ele quer desfazer a lei divina. Por algum motivo, Deus nos quis livre, inclusive para negá-Lo. Se o próprio Senhor nos deixou livre para pecarmos, como pode um pastor querer nos limitar desta forma?

O ser humano tem sua natureza pervertida pelo pecado original. Tem a tendência ao pecado, mas também tem a graça para ajudá-lo a ser bom. O pastor quer ser a própria graça divina, e isso é impossível.

Felizmente ele entende a tempo que precisa confiar, que a liberdade é um bem preciosos demais porque é base para a própria alegria. Sem liberdade somos taciturnos, tristes, incapazes de amar.

Footloose é um grande filme. Em muitos aspectos. Um deles é nos mostrar o problema de retirar a liberdade, mesmo que seja para seu bem _ ou especialmente se for para o seu bem. Nascemos para sermos livres e a tentação de nos proteger de nós mesmos viola profundamente nossa natureza.

Dica de leitura 1

Quando terminar um livro, tente escrever um parágrafo descrevendo-o. Não mais que isso. Umas 3 ou 4 frases.

Se não conseguir, sinal que não entendeu. Se o livro for importante para você, leia novamente, reflita mais.

Se capaz de entender a essência de uma leitura é o grande teste de compreensão. Como já disse um grande escritor (não lembro quem): queria escrever um livro menor, mas não tive tempo.

Você só é capaz de sintetizar o que entende. Buscar a síntese te força a entender o texto.

Santo Agostinho, uma breve palavra

Hoje é dia de Santo Agostinho, um dos gigantes do catolicismo. Na minha opinião, um dos cinco maiores filósofos que a humanidade produziu.

Depois dele, só surgiu mais um no mesmo nível.

O grande pensador que escreveu na transição da Idade Pagã para a Idade Cristã.

Foi um dos presentes que Deus nos deu.

O que é contra a verdade não pode ser justo.