8 Notas sobre o livro A Abolição do Homem, do C S Lewis (1944).
A educação moderna leva à supervalorização dos sentimentos, relativizando o juízo de valor que se torna uma expressão puramente subjetiva.
O peito do homem tem função de subordinar o corpo ao intelecto, a emoção à razão. A modernidade está produzindo homens sem peito, ou seja, homem incapazes de ordenar os sentimentos pela razão.
Os inovadores morais escolhem parte da tradição como base para os valores que criam, rejeitando parte que não lhes interessa. O único critério é o próprio sentimento.
Apenas dentro do Tao (tradições comuns) é possível evoluir e não na criação de novos valores, especialmente quando criados sem conexão com a verdade que só o direito natural pode trazer.
O projeto da nossa era é o domínio do homem sobre a natureza, mas num primeiro estágio nada mais é que o domínio do homem por um pequeno grupo de outros homens.
Num segundo estágio, este homem que domina não se subordinando aos valores tradicionais (Tao), cria novos valores que para serem independentes precisam ser frutos do natureza irracional que supostamente dominou. Significa que a natureza triunfa sobre o homem no momento que este se julga vitorioso.
A má ciência leva o homem a criar geraçãoes que serão subordinados ao pensamento de uma elite corrompida que os precedeu, sem que nem imaginem esta situação. Como esta elite é dominada pela natureza, o resultado será a abolição do homem.
Uma ciência regenerada, que afirma o homem só poderá existir dentro do Tao e nunca fora dele.
A cultura em grande parte trata de cultivar o nosso espírito. Para isso precisamos de coisas boas, seja pela leitura ou artes em geral. Semanalmente trago aqui 5 pílulas que me instigam, me fazendo refletir sobre a vida e nosso papel no mundo.
1. Um livro: Hereges
Quer entender o mundo moderno? Comece por aqui. No início do século XX, mais de uma década antes da I Guerra Mundial, Chesterton examinou as idéias que dominavam o debate público de sua época e apontava onde iam chegar. Impressionante o grau de acerto. Praticamente um profeta dos tempos que vivemos.
2. Um disco que estou escutando: New York (Lou Reed)
Esse escutei pela primeira vez hoje, seguindo uma dica no twitter. Primeira audição achei excelente. Já candidato a um favorito. Não conheço muita coisa do Lou Reed, apenas os excelentes Transformer e Berlim.
3. Um filme: Ressurreição (2016)
Filme apropriado para esta época do ano, mostra um centurião romano que recebe a missão de investigar o desaparecimento do corpo de Jesus para impedir que se espalhasse a notícia que surgia sobre sua ressurreição. A Bíblia é uma fonte inesgotável de boas histórias. Se pelos menos a indústria americana não tivesse se perdido na ideologia e colocado seus preconceitos acima de seus interesses econômicos. O grande problema dos filmes baseados na Bíblia é que, corretamente divulgados, seriam sucesso absoluto, colocariam o universo marvel no chinelo. Mas aí seria demais para os sensíveis suportarem.
4. Um ícone: Ressurreição (1645)
Sou grande admirador dos ícones, especialmente da Igreja Bizantina. Este ícone, pintado em plena renascença, mostra Jesus resgatando Adão e Eva do inferno, após a sua ressurreição. Obra de Youssef Al-Musawwer.
A cultura em grande parte trata de cultivar o nosso espírito. Para isso precisamos de coisas boas, seja pela leitura ou artes em geral. Semanalmente trago aqui 5 pílulas que me instigam, me fazendo refletir sobre a vida e nosso papel no mundo.
1. Um livro que estou lendo: Robson Crusoé
Um clássico que ainda não tinha lido. Impressionante como você se consegue colocar no lugar do náufrago mais famoso do mundo e acompanhar suas reflexões sobre a vida. Momentos de tranquilidade e angústia se sucedem, assim como a busca de entender os caminhos da providência. Na origem de seus infortuneos, não faltaram avisos, como se Deus tivesse dando oportunidades para evitar o destino que lhe estava reservado.
O ponto de mutação foi popularizado pelo livro do Malcolm Gladwell. Trata-se daquele momento que muda uma determinada tendência. Muitas vezes este momento não é percebido na hora e só depois de algum tempo percebemos a importância dele. Lembrou-me de um outro livro, do Stephen Zweig, momentos luminosos da história. Esta semana pensei muito no tipping point. Musk que o diga.
Chesterton escreveu em algum texto que os pintores ingleses dominaram a arte de pintar a natureza, especialmente o clima. Para mim o maior exemplo é o William Turner. Suas paisagens marítimas são arrebatadoras, e traduzem com perfeição a luta do homem com a natureza.
Naufrágio de um cargueiro
5. Uma frase:
“Ninguém cresce sozinho” Shunji Nashimura
É a frase inspiradora do grupo Jacto, que fabrica máquinas e implementos agrícolas, entre outras coisas. Tem uma história muito bonita de um imigrante japonês que chegou ao Brasil sem um centavo no bolso, sem falar português e criou um império.
A cultura em grande parte trata de cultivar o nosso espírito. Para isso precisamos de coisas boas, seja pela leitura ou artes em geral. Semanalmente trago aqui 5 pílulas que me instigam, me fazendo refletir sobre a vida e nosso papel no mundo.
1. Um livro que terminei: Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas.
O livro traz um conceito bem interessante, que explica um pouco o que está acontecendo hoje. Vivemos cada vez mais em domínios perversos, que significa que as regras não são claras, estão sempre mudando e não temos feedbacks precisos. Nessa domínio, diferente do domínio generoso, o generalista tem muito mais efetividade de atuar pois a integração de diferentes campos de conhecimento é fundamental para se pensar fora da caixa, para construir soluções inovadoras em ambientes onde as soluções tradicionais não funcionam. Alguns chamam isso de mundo VUCA, mas acho que vai além. É complexo mesmo.
2. Um disco que estou escutando: No More Shall We Part (Nick Cave and The Bad Seeds)
Melodias cativantes e um clima de introspecção que muito me tem agradado. Até hoje o Nick Cave nunca tinha me cativado, mas esse disco me conquistou. Tenho escutado muitas vezes e achando muito interessante a forma como traz Deus como tema em muitas canções.
3. Um filme que assisti: She Comes to Me (2022)
Este assisti em um vôo recentemente. Um filme que trata do processo de inspiração de um artista e como ele interagem com as coisas de nosso dia a dia. Nos lembra que muitas vezes a arte é uma forma de expressar o sentimento do artista diante do mundo, a partir do que vive em seu cotidiano mas com uma visão própria, uma reconstrução que é feita em seu espírito.
4. Uma imagem: Cavaleiro na encruzilhada, de Viktor Vasnetsov (1882)
Não sei porque, mas esta imagem me parece representar bem o tempo que vivemos.
5. Uma frase:
“Neither reason nor faith will ever die; for men would die if deprived of either.”
G. K. Chesterton
A contradição entre fé e razão é aparente. Ou não se entendeu uma, ou a outra, ou as duas.
Li neste fim de semana as questões 161 e 162 do volume 3 da Suma Teológica, de São Tomás de Aquino. Para quem não conhece a estrutura da suma, as questões funcionam como artigos ou capítulos. Elas possuem um tema central, que se desdobram em perguntas, cada uma com argumentos em contrário e a favor de uma tese. Coisa de gênio.
A questão 161 tem como tema a Humildade. Para Aquino é a abertura do caminho para as grandes virtudes, como a caridade. Sem humildade, não temos como chegar lá. Até pela abertura que ela dá para a verdade, que em última análise é o próprio Deus. Só podemos reconhecer a verdade se formos humildes. Interessante também são as 12 regras de São Bento para o humildade, que funcionam como degraus para a perfeição, começando com os sinais exteriores até o último grau, o temor a Deus. Não lembro quem deu a melhor definição para esta expressão. Temer a Deus é levar Deus a sério. Uma das formas de não temer a Deus é escutá-Lo, mas não segui-lo, como se não fosse importante o que nos foi dito.
Já a questão 162 foi mostrar o tema oposto da humildade, a soberba. Há vários tipos e graus de soberba, mas na essência a soberba está em se achar melhor do que realmente é, no limite achar que não precisa de Deus. Soberba é achar que você é suficiente, que tudo é mérito seu. Fico pensando nessa infinidade de livros de auto ajuda que centram tudo no eu, como se sozinhos fossemos capazes de decidir nosso destino. Tem um velho ditado que diz que enquanto fazemos planos, Deus ri. Significa que nossas ações são inúteis? Penso que não, apenas que temos que tê-las em perspectiva. Sempre será uma conjugação de nossos atos com a sorte, uma das palavras que traduzem a providência divina. Temos uma tendência de exagerar nosso próprio papel no sucesso e diminui-lo no fracasso.
Na questão da soberba, São Tomás também fala dos 12 graus da soberba de acordo com São Bernardo, que são oposições a cada uma das 12 regras de São Bento, só que a escalada é invertida. Enquanto que terminamos a humildade no temor a Deus, começamos nossa queda na soberba na falta da confiança em Deus, justamente o pecado de Adão. Embora a humildade não seja a maior das virtudes, a soberba é, sob certos aspectos, o maior dos pecados. São Tomás não a coloca entre os 7 pecados capitais justamente porque está geralmente na origem destes.
Voltando os olhos para os dias de hoje, o que vemos? Em que medida as redes sociais, com sua exposição contínua, não potencializaram nossa soberba? Temos uma percepção que o mundo está pior, principalmente pelos comportamentos que observamos. Esse mundo de confortos e certezas não estaria ligado a um homem mais soberbo e confiante em si mesmo? Chesterton aponta em Ortodoxia que uma característica do louco é que ele confia em si mesmo. Cada vez mais vemos governantes resolutos, confiantes e por isso mesmo tomando decisões trágicas. Pergunto se a soberba, e por consequência a falta de humildade, não seria o grande fator da modernidade.
Vivemos tempos difíceis e resgatar a humildade talvez seja a coisa mais importante a fazermos hoje.
Sabem aquela disputa de livro físico x livro digital?
Sempre respondo com: os dois. Por que escolher? Acho o livro digital uma baita invenção, mas não acho que serve para todos os gêneros e tipos de livros.
Livro de consulta frequente, por exemplo, eu vou de analógico mesmo. Acho mais prático. Já um livro para ler uma vez na vida, aí o kindle me parece imbatível. Adeus viajar com aquele monte de livros na bolsa, um simples dispositivo já resolve, fora que podemos ter o livro nas mãos em questão de segundos.
Se associar com uma conta da amazon então, tem um universo de livros gratuitos.
O meu paperwrite velho de guerra vem resistindo bem, mas para quem quiser começar, recomendo esse aqui. Pare de gastar seu dinheiro com bobagem e use em algo que vai te ajudar, que te fazer uma pessoa melhor.
Geralmente compro o livro digital e só se gostar muito e quiser para consulta compro o físico. A não ser que já saiba de cara que vou precisar ter o livro sempre comigo, aí vou no físico mesmo. No mais, prefiro o digital pela praticidade.
Um bônus é poder ler uma amostra do livro antes de comprar. Minhas esposa adora fazer isso. Lê primeiro a amostra e se o interesse continuar, compra.
Por fim, uma última dica. Com o kindle, você não só pode iluminar o texto como também extrair tudo que iluminou e ter um resumo na mão.
Fazia tempo que não me divertia tanto com um livro de ficção!
Muriel Barbery conseguiu montar um mini cosmos interessantíssimo em um prédio residencial de classe média alta em Paris. A personagem central é Renée, a concierge do edifício. Rude e retraída, na verdade é ume mulher de meia idade culta, mas que esconde sua verdadeira natureza para não se incomodada pelos moradores.
É um romance filosófico, onde tanto Renée quanto uma jovem de 12 anos, Paloma, que planeja o próprio suicídio, refletem sobre as pessoas e as situações que testemunham. A vida das duas correm quase em paralelo até que se cruzam na parte final, graças a um terceiro personagem que se muda para um apartamento que vagou, o viúvo japonês Ozu.
Há cenas memoráveis como o primeiro encontro de Ozu com Renée, em que ele percebe que há algo de errado com a concierge ou o processo um tanto caótico que Mercedes empurra Renée para um jantar. Bem narrado e muito espirituoso, A Elegância do Ouriço merece a visita.
Um livro muito interessante, que nos conquista desde as primeiras páginas e nos faz pensar muito na vida, arte, filosofia e o que importa realmente no meio do caos e da feiura que infelizmente nos acostumamos.
Muita gente tem enorme dificuldade de ler a Bíblia porque comete alguns erros básicos, como tentar lever do início ao fim sem ter idéia de como aquelas partes se conectam. É preciso entender em primeiro lugar que a Bíblia é um conjunto de livros, ou seja, uma pequena biblioteca. E o que temos numa biblioteca? Livros de diferentes gêneros, como na Bíblia.
Ou seja, vamos encontrar livros de história, poesia, sabedoria, aventuras, cantos, lamentações, leis e por aí vai. Uma consequência é que você fica um tanto perdido sem entender como uma coisa se liga na outra.
Pois eu tenho uma boa dica para você, mas advirto que aproveitará muito melhor quem sabe inglês. Você pode ler a Bíblia em português, mas sabendo inglês vai entender bem melhor o que está lendo e, sobretudo, vai ter um sentido para a história toda.
É isso que Jeff Cavins e Tim Gray fizeram no livro Walking With God, que precisa ser traduzido com urgência para o português. Neste livro, eles explicam didaticamente como a Bíblia tem uma grande história que pode ser dividido em 12 partes principais. A história, claro, é a da salvação, mas ela passa pela queda do homem e sua redenção, pela aliança que Deus faz com um homem (Adão), um casal (Adão e Eva), uma família (Noé), uma tribo (Abraão), uma nação (Moisés) e, por fim, com a humanidade (através do Cristo).
Esta timeline do livro mostra um pouco disso. Detalhe que ela indica os livros principais da narrativa e a relação com os livros secundários. Por isso o livro de Jó, por exemplo, deve ser lido junto com o Gênesis, o que implica que não se lê a Bíblia do Início ao fim. Este projeto que eles criaram de ler a Bíblia chama-se The Great Adventure Bible. Eles nos convidam a ler a Bíblia como uma grande aventura.
Só que tem mais, o Padre Mike Schmitz tem um projeto de ler a Bíblia inteira em um ano, baseado na divisão proposta por Cavins e Gray. Para isso ele criou um podcast (tem no spotify e apple) em que ele faz a leitura dos capítulos do dia e um breve comentário sobre a interpretação. O próprio Jeff Cavins faz um participação especial no podcast sempre que vai mudar de um período histórico para o outro. Os podcast são de 15 a 20 minutos. Ou seja, é tudo que precisa para ler a Bíblia inteira em um ano. É o podcast mais acessado nos Estados Unidos hoje.
E se eu não souber inglês?
Bem, pode se cadastrar no site do projeto e receber a lista de leitura (não precisa começar no 1 de Janeiro pois ela é numerada do dia 1 ao 365). E ler por contra própria a partir desta lista, embora não tenha a ajuda do livro base de Cavins e Gray e dos comentários do Padre Mike, mas é melhor que nada, não é mesmo?
Ah, para terminar, como eu faço? Eu me cadastrei e recebi a lista. Tenho o livro do Cavins, inclusive físico. Leio sobre o período que vai começar e todo dia quando acordo faço as leituras indicadas, na Bíblia em português mesmo. Hoje marquei o tempo, levou 10 minutos. Depois escuto no podcast só os 5 minutos finais, quando o Padre Mike faz seus comentários. Total do processo: 15 minutos.
O resultado é que não só estou relendo a Bíblia inteira em um ano, como estou entendendo muito melhor o que estou lendo. E usando 15 minutos do meu dia para isso! Vale a pena para você?
Esta é a grande dica de domingo. Espero que aproveitem!