Vitória do primeiro turno já é uma possibilidade

Dois meses atrás disse a um amigo que achava que o Bolsonaro poderia ganhar no primeiro turno. Ele perguntou se eu estava maluco.

Basei-me numa constatação simples. Todos os anos as pesquisas mostram que a maioria dos eleitores são conservadores. Durante muito tempo, tiveram que engolir o PSDB para evitar o PT.

Lembram de Lula em 2010? Disse claramente que pela primeira vez a eleição seria disputada entre candidatos só de esquerda. Mesmo com sua visão torna (já era assim fazia tempo), viu o óbvio. Eleição no Brasil era uma disputa de esquerdismo.

Este ano, pela primeira vez, haveria um candidato que se declara de direita. Nenhum outro queria disputar este rótulo. O PSDB queria o mesmo de sempre: o voto conservador sem abrir mão do esquerdismo. Intui que não iria rolar, e não rolou.

Ficaram 553 candidatos disputando o mesmo nicho enquanto Bolsonaro nadava de braçadas. Não fosse a campanha pusilânime e covarde da mídia, já estaria eleito a essa altura. Só que a campanha altamente negativa afastou alguns eleitores naturais de sua candidatura.

Bolsonaro é um gênio, um conservador perfeito? Claro que não. Mas é o único. E a política é a arte do possível, não é mesmo?

Ele fez uma campanha digna, honesta e autêntica. Esta semana, nas lives, fez o que? Leu os programas teóricos do PT. Ou seja, confrontou o discurso do PT, lendo no original, sem desvios. Bem diferente do comportamento dos seus adversários que inventam a todo momento coisas que nunca disse.

Não sei se Bolsonaro ganha em primeiro turno, ou mesmo se será eleito. O fato é que contra todo sistema, que usou toda sua artilharia, ele é favorito para ganhar. Não é pouca coisa.

Se ele perder, terá o feito de mostrar que uma candidatura de direita sempre estará, no mínimo, no segundo turno. Mais ainda, que é viável um partido de direita no Brasil. Se ele mantiver o PSL, que deverá eleger uma bancada, tem o núcleo para em 2022 ter uma candidatura de direita, que pode ser a sua, com muito mais estrutura do que teve até aqui.

Ele já é um vencedor. E o jornalismo pode até contribuir para que não seja eleito, mas o preço que está pagando é o mais caro de todos: a credibilidade. Máscaras foram rasgadas, já sabemos quem é quem.

O Brasil tem que virar as costas para muita gente na imprensa. Se querem fazer palanque, que façam no lugar apropriado: assessoria de imprensa e panfleto ideológico. Temos que sanear o jornalismo antes de qualquer outra coisa. Estes sim, são inimigos do Brasil. Mentiram por tempo demais.

Notas de Sexta: Guardiões da Galaxia, Ortega y Gasset, Zumbis em Brasília

Olá pessoal!
Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

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Um filme que assiti

Guardiões da Galaxia, Volume 2. Um dos melhores da Marvel. Uma pena que o James Gun tenha se revelado uma pessoa tão desprezível, pois ele sabia fazer um filme.

Um livro que estou lendo

El Hombre y la Gente, do Ortega y Gasset. Neste livro, Ortega apresenta sua teoria sociológica, defendendo que grande parte dos problemas da modernidade vem da falta de clareza sobre as coisas, e culpa o estado lastimável da sociologia por isso. No primeiro capítulo ele trata de sua teoria sobre a relação entre alteridade e ensimesmação.

Uma trilha sonora

Guardiões da Galaxia, volume 2. O melhor dos anos 80 e um filme que lembra bem a forma como o Cameron Crowe trabalhava a trilha de seus filmes.

Uma série no youtube

O André Guedes arrebentou com sua série Zumbis em Brasília. Impossível ver a Marina e não pensar em de-mo-cra-ti-ca-men-te. E ainda tem a cirocracia!

Um pensamento

“Os homens não se cansam de erguer os olhos para a sabedoria, mas também não se cansam de ser infiéis”.

Gustavo Corção

Dica de Leitura 5

 

Leia o índice.

Essa é para livros de não ficção. É importante, para compreender uma obra, ter sua visão geral. Há duas maneiras básicas de fazer isso.

A primeira é ler rapidamente o livro inteiro. Sem parar para entender tudo, para anotar, para nada. Simplesmente leia-o, podendo até pular partes. O importante é chegar no final e ter a visão do todo. Saber do que o livro trata e de como ele é dividido. Depois, leia novamente, agora com toda calma. Com a visão geral, você vai compreender bem melhor suas partes. Isso é altamente recomendável para um livro que seja muito importante para você e que o desafie. Fiz isso com todos os livros que li do Eric Voegelin.

O segundo método é ler o índice. Não só isso, leia a contra-capa, as orelhas, até mesmo o índice remissivo. Você quer responder apenas duas perguntas: do que se trata o livro e como ele está dividido, ou seja, quais as suas partes ou tópicos. Depois disso você pode decidir se vale a pena ler ou não. Se achar que vale, leia-o. Já me livrei de algumas bombas simplesmente aplicando este método.

Na próxima dica, aprofundo um pouco mais na pré-leitura

O Brasil de Olavo de Carvalho

Transcrevo aqui porque este texto não pode ficar restrito no facebook. Do Raul Martins Lima :

 

Façamos uma breve(íssima) retrospectiva.

Fuçando cá as minhas notas do COF, descubro ter entrado na Olavosfera há mais ou menos cinco anos, lá pelas idas priscas de 2013.

Em 2013, O Mínimo ainda não fora lançado, e o prof. Olavo de Carvalho era conhecido entre o público mais à larga sobretudo por alguns excertos desbocados seus no Youtube. No longínquo 2013, não havia o Terça Livre. O Flávio Morgestern há pouco se convertera do anti-olavismo. O Bernardo Küster era um ilustre desconhecido e o Nando Moura só fazia tocar guitarras no bonançoso anonimato. Há cinco anos, o Kim Kataguiri era um guri raquítico mendingando atenção com artigos porcamente escritos sobre o Mises e fazendo piadas com pastel de flango a torto e a direito. Não existia o MBL; ninguém nunca ouvira falar dum tal Mamãe Falei. O Filipe Moura Brasil ainda não se fizera jornalista e seu único palanque era o Blogue do Pim. Joice Hasselman ainda não emergira das brumas com sua farta cabeleira loira e seus filmes constrangedores. Brasileirinhos? Spider Consense? Canal Hipócritas? Zumbis em Brasília? Neca de pitibiribas.

Não havia editoras como a Concreta e a Danúbio, a Arcádia e a Armada e a Sociedade Chesterton Brasil e a Edições Hugo de São Vítor. Não havia os cursos do prof. Falcón; quase ninguém conhecia o Dr. Ítalo Marsili. Quem àquelas tantas ouvira falar de homeschooling? Da família Abadie? Paulo Martins ainda não se fizera político; Marco Feliciano era só mais um pregador penteca. Não existia a revista Estudos Nacionais, nem cheiro se podia sentir da Minha Biblioteca Católica. Não havia o História Expressa. Nem o próprio Rafael Nogueira sonhava com os infindos cursos que haveria de dar Brasil afora. O Filipe G. Martins ainda não predissera todos os estados em que Trump haveria de vencer.

Não tínhamos os filmes do Josias Teófilo e do Mauro Ventura. Porca miséria, mal tínhamos gente para encher o raio de um cômodo. Acotovelados numa sala mal iluminada, os gatos pingados olavéticos se juntavam para assistir a alguma palestra não chancelada pelo glorioso MEC. E conspiravam (mentira; apenas estudavam. Mas a clandestinidade da coisa lhes dava uns ares conspiratórios bastante românticos).

O único Brasil Paralelo era um velho filósofo e a sua porca webcam; um só espírito com a rija solidez dum centenário Carvalho preso ao solo firme da Verdade.

Há cinco anos, o Brasil era irreconhecível.

De súbito, aos poucos, sem se fazer notar à primeira, engatinhando quase, vão surgindo as primeiras iniciativas. Uns poucos valentes resolvem chacoalhar de si a poeira da indolência e põem as mãos à obra. À intransigente sinceridade do prof. Olavo via-se acrescentada — ou, melhor dizendo, inseparavelmente amalgamada — uma inabarcável erudição; eis uma síntese à qual a gente queria aspirar. Diz o filósofo, com sonora e poderosa voz: “não há espaço algum? CRIEM o seu espaço.” E a gente pensava: “se ele fez, eu posso fazer um pouquinho só. Só um pouquinho”. E as iniciativas se multiplicavam, alimentadas pela demanda crescente, fortalecidas pelo tímido sucesso de suas antecessoras. O prof. Rodrigo Gurgel organizou os já lendários ciclos de palestras da Sta. Generosa; as engrenagens começavam a se pôr em movimento.

E o filósofo continuava a ensinar. Desauxiliado por quem fosse, chutado havia muito de quase todos os grandes jornais por sua obstinada denúncia do Foro de São Paulo, décadas antes do ungido Daciolo trombetear em rede nacional uma tal URSAL. A voz clamou no deserto. E o clamar lhe custou empregos. Custou-lhe ameaças sem fim. Custou-lhe portas várias fechadas na cara. E o filósofo socraticamente se fiou apenas na Verdade do que clamava.

E não parou de clamar. Anos antes de alguém falar em cursos online, mais de década antes de surgir o Masterclass e a pasmosa explosão da educação pela internet, o filósofo lança um curso online de filosofia. Curso de filosofia sem um diploma no final do túnel, feito às custas de melhora social ou econômica nenhuma. Pfft, você diz. Cadê os influenciadores digitais? As propagandas? Onde estão os posts patrocinados no Facebook? — o Facebook ainda nem existe. O velho não se vale do Google analytics para ver o que está em voga. O que está em voga é a Verdade, ora porra.

E a Verdade soa, incansável, clamando dos telhados. O Carvalho, surgido milagrosamente de minúscula fenda rasgada no solo raquítico duma nação à margem do Mundo, não se deixa mover um só centímetro pelas intempéries. “A maior força que existe é a personalidade humana”; e a sua personalidade prova o dito.

Há cinco anos, o Brasil era irreconhecível.

Hoje, ao longo dos últimos cinco anos foi-se criando — e se alargando e se fortalecendo e se diversificando — uma caixa de ressonância à voz que tanto tempo clamou sozinha. As inúmeras iniciativas pessoais como coelhos se vão multiplicando e o boca-a-boca vai fazendo o seu serviço. Hoje, o progressismo já não é a única ordem do dia.

O Brasil começa a reagir. Jair Bolsonaro surge do nada como um político desbocado e fumegante — e igualmente do nada se torna talvez o maior fenômeno político da história do País, revelando-se homem de insuspeita humildade e verdadeiro amor pela Pátria (tudo isto além de duas maciças bolas de aço; o espírito dos antigos aristocratas.) Emerge do caos inominável com um sóbrio programa de governo e o apoio de gente da estirpe dum Paulo Guedes. Tudo, tudo sob os auspícios e conselhos do velho filósofo. Aconselhado por alguns alunos seus; impulsionado e defendido por outros tantos.

Milhares, milhões de pessoas alguns dias atrás saíram às ruas em favor de um político que tem contra si TODO o maquinário estatal e midiático. O povo bateu de frente com os artistas e a beautiful people e lhes mandou um recado: “façam suas novelas e não encham o saco. Ponham-se no lugar de vocês”. O povo abarrotou as ruas porque não aguenta mais as mentiras; já não suporta o linguajar asséptico e polido com que se lhes apazigou por tanto tempo a justa ira. Já não se pode remendar o tecido social com umas poucas palavras melífluas. O rombo é de fuzil e alguns insistem em lhe passar merthiolate.

Hoje, leio que Drauzio Varella, Caetano, Gil, Washington Olivetto, Gloria Kalil e outras sumidades do nosso Brasil assinaram um manifesto contra Bolsonaro. E o povo, como está? Está cagando e andando para manifestos e sumidades. O fenômeno é análogo ao de outros países, e o fim aqui não é diminuir-lhe a intrincadíssima complexidade, mas falemos o português claro: o Bolsonaro teria sido coisa bastante outra se não fora um certo “autoproclamado filósofo”; Carvalho altaneiro e frondoso que desde a Virgínia estende a sombra de suas verdes folhagens por toda a Terra de Vera Cruz. Que foi semeando no traído Brasil de hoje as sementes do genuíno Brasil de ontem, carregadas e preservadas consigo no silêncio de décadas.

A espiral do silêncio — não nos esqueçamos nunca — foi rompida primeiro pelo desassombrado e altissonante “ora porra”. Pelos artigos infindos. Pelo Imbecil Coletivo. Pela Dialética Simbólica. Pelo True Outspeak. Pelos seus cursos e apostilas. Pela gigantesca e límpida inteligência que sempre visou à “unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa”. Na ordem das coisas, o ora porra vem antes do cabô.

Agora, no dia 7, o Brasil enfim tem a chance de fazer por merecer a voz que tanto fez pelo País. Agora, no dia 7, o seu voto poderá ser mais um sonoro “NÃO” ao globalismo e à suruba narcotráfica e à corrupção galopante e dantesca. O SEU voto se poderá unir às vozes do Filósofo e do Capitão e, num só coro, dizer a quem tiver ouvidos para ouvir: “no meu País não, porra!”

Dica de leitura 4

 

Não serve para todos, mas serviu para mim. Demorou para eu acreditar nessa.

Não leia demais!

Não adianta ler muito, perder concentração, divagar. Hoje eu uso a técnica pomodoro e faço duas seções de leitura diárias. Cada seção tem dois blocos de 25 minutos.

Na primeira, pela manhã, leio não ficção. É a hora de filosofia, história, religião, etc.

Na segunda, de noite, leio ficção. Poesia, teatro, romance.

Total diário: 100 minutos. Já li muito mais do que isso. Hoje estou confortável com essa tempo.

Isso é só referência. Cada um defina seu ritmo. Para inciantes, ou pessoas que tem dificuldade de ler, sugiro que comece por 50 minutos diários. O tempo de uma aula. Com um intervalo no meio para quebrar no que hoje se acredita ser o tempo da atenção humana: 20 a 25 minutos.

PS

Quem quiser perguntar, pedir dicas específicas, não se acanhe; o espaço é para isso.

Compartilhem se acharem a dica útil.

Por fim, o que andam lendo? Gostaria de saber! Usem os comentários.

Ensimesmado e alteridade

Que leitura densa e interessante fiz agora da primeira metade do capítulo 1 de O Homem e A Gente, do Ortega y Gasset!

O pensamento não é garantido no homem, temos que conquistá-lo. O homem não é um animal racional ou sapiens, é um homem que ignora. Que sabe poucas coisas, mas que tem a capacidade de conquistar o pensamento e agir racionalmente sobre o homem.

Para isso precisa ensimesmar-se, ou seja, afastar-se do mundo exterior buscando refúgio em seu interior para pensar e meditar. Só assim poderá agir.

Sem isso, o homem vive de sua alteridade, de uma reação não refletida com o mundo exterior. Ele não age, reage. Essa capacidade é própria dos animais, é tudo que eles possuem. O animal não pode ensimesmar-se, não pode se apartar do que lhe é diferente.

Para Ortega, o homem vive três fases:

1) Um náufrago no mundo, que não compreende e que lhe é muitas vezes hostil. Fase da alteridade.

2) Voltar-se para si mesmo e buscar o pensamento, as idéias.

3) Agir de acordo com o pensamento, ou seja, ele retorna para o mundo externo levando o si mesmo. É a verdadeira práxis.

Ortega também faz um alerta: o pensamento, por ser uma conquista, pode ser perdido. Sem o pensamento, o homem é alteridade, é como os animais, ou seja, perde sua própria humanidade. O tigre não pode deixar de ser tigre, mas o homem pode deixar de ser homem. Pode desumanizar-se.

Guardiões da Galaxia, volume 2

AVISO: CHEIO DE SPOILER

Uma pena que o James Gun tenha se revelado ser um tipo tão escroto, pois é um cineasta de mão cheia. Seus dois filmes sobre estes heróis improváveis do universo marvel estão entre os melhores do estúdio.

No segundo Guardiões temos os melhores temas da literatura universal: a afirmação do herói e a redenção.

Além isso, temos os temas da amizade, amor e a divindade.

Ego é um deus com d minúsculo, como ele mesmo afirma. Isso é evidente por sua falta de sabedoria e propósito, como vai se tornando evidente. Seu destino é a solidão, ou seja, falta-lhe o principal, a capacidade de amar.

Quill, por sua vez, tem no coração sua força. De que adianta todos os poderes do mundo se não puder amar? Sim, amizade também é conflito, traição, decepção. Mas qual a alternativa? O amor sempre será um risco se dependermos da forma como os outros reagem. O segredo, é se entregar, mesmo se tiver que perder a vida.

É o caminho de Yondu, o da redenção através do sacrifício Ele cometeu um erro terrível na juventude e passou a vida tentando repará-lo, buscando a aceitação dos capitães. Só no fim, percebe que o caminho é o de amar ao limite, dando sua vida pelo outro. Quill não é apenas o filho que criou para a vida e dificuldade, mas o símbolo de todas as crianças que foi cúmplice involuntário de suas mortes.

Gun conseguiu reunir os elementos de grandes dramas humanos na forma leve de um filme de aventura, com muito humor e boas escolhas. Ajuda a resgatar a aventura como o gênero literário mais adequado a retratar os dramas humanos, como defendia tão insistentemente Chesterton.

Obsessões culturais

Quando você entra no mundo maravilhoso da cultura, fazendo expedições para conhecer o que os grandes artistas já produzirem, é normal ficar perdido. Afinal, este mundo só cresce quanto mais você se aventura.

Autor chama autor, cineasta chama cineasta, livro chama livro. Um desespero! Quando vê, está cheio de livros e filmes para assistir. E só piora!

Uma possível solução é ter boas obsessões. Escolha um tema ou autor para priorizar. Não significa que só vai se dedicar a eles, mas que eles terão prioridade.

Eu faço isso anualmente.

Para 2018, escolhi ler sobre I Guerra Mundial em não ficção, literatura “católica” em ficção, rever a discografia do Rush e mergulhar no universo marvel do cinema.

Para 2019, já escolhi o tema: a Idade Cristã, também conhecida como Idade Média.

E você? Tem obsessões?

Cosi Fan Tutte: Elas são assim?

cosi-fan-tutte-1344848973-view-0Cosi Fan Tutte foi a penúltima ópera de Mozart, que morreria no ano seguinte. Seu argumento é simples: um velho solteirão, tido como filósofo, diz a dois amigos que as respectivas namoradas seriam capaz de trai-los em um dia. Eles duvidam; apostam. Don Alfonso faz as moças acreditarem que os namorados tiveram que se apresentar para a guerra e eles retornam disfarçados de dois nobres albaneses. Sob orientação de Don Alfonso, cada um tenta seduzir a namorada do outro, o que acaba acontecendo. Pior, elas, em um único dia, terminam casando-se, em cerimônia falsa, com os dois pretendentes. No fim, revela-se a farsa e o filósofo prova que estava certo: todas as mulheres são assim. Todos se perdoam e retornam aos relacionamentos originais.

Como seria recebida está ópera nos dias de hoje? Talvez fosse mais rejeitada do que em 1790 (ficou esquecida por quase dois séculos, até ser resgatada por Richard Strauss). Afinal, vivemos uma época de alta sensibilidade e a mera sugestão de que todas as mulheres são infiéis e cometerão traição seria suficiente para uma daquelas campanhas de boicote, com abaixo assinado e etc. Mozart se transformaria rapidamente em um machista e fascista.

O que Mozart queria realmente mostrar com a ópera? Eu ainda não sei, mas acho que dois idiotas que apostam na virtude das próprias namoradas e as submetem a um jogo de sedução merecem o chifre que tomaram.

Não sei se as mulheres são assim, mas desde sempre se ensinou que excesso da auto confiança é um caminho para o desastre.

 

Don Alfonso
And I swear by this world,
My friends, I’m not jesting;
I’d only like to know
What kind of creatures
Are these beauties of yours,
if they’re flesh and blood and bone like us,
If they eat like us, and wear skirts,
If, in fact, they’re goddesses or women …

Ferrando and Guglielmo
They’re women,
but the like of them …

Don Alfonso
And in woman you expect
To find fidelity?
How I love such simplicity!