Notas de Sexta

Olá pessoal, tudo bem? Divido com vocês cinco notas sobre o que andei apreciando durante a semana.

1.Um disco que estou revisitando: The Prisoner, do Ryan Adams. Este disco é especial, pois Adams estava se separando da atriz Mandy Moore e todas as músicas tratam da dor da separação e da perda. Fossas costumam render bons discos.

2. Um livro que estou relendo: Confissões, de Santo Agostinho. No livro X, ele faz uma interessante meditação sobre a relação da felicidade com a Verdade (observem o v maiúsculo!)

3. Um filme que assisti: O Natal de Angela, no Netflix. Sério, parem tudo e vão assistir. Só tem 25 minutos e é uma das coisas mais belas que o canal já fez.

4. Uma série de vídeos do youtube que estou assistindo: As Artes do Belo, do professor Carlos Nougué. Um documentário muito bem feito sobre a visão tomista da beleza e da arte.

Um pensamento que andei refletindo:

Onde encontrei a verdade, aí encontrei o meu Deus, a própria Verdade.

Santo Agostinho

Notas sobre a felicidade

Estou relendo as Confissões, de Santo Agostinho.

No Livro X, ele faz algumas considerações sobre o problema da felicidade. Fiz as seguintes notas no meu diário, para refletir:

  1. O homem só é realmente feliz na verdade.
  2. No entanto, frequentemente odeia aquele que tem a verdade (a verdade gera o ódio).
  3. Isso acontece porque não deseja estar enganado e por isso quer que o que ama seja a verdade.
  4. Como não quer ser enganado, não se quer convencer que está no erro.
  5. Assim, odeiam a verdade por causa do que amam em vez da Verdade.
  6. Amam quando a verdade os iluminam e a odeiam quando os repreendem.
  7. Porém a própria verdade os castigará, denunciando todos os que não quiserem ser manifestados por ela.

Comentário meu: na base de tudo está a identificação da Verdade com Deus. Como Deus e a Verdade são o mesmo, a revolta contra a Verdade é a revolta contra Deus e vice-versa.

Será feliz quando, libera de todas as moléstias, alegrar-se somente na Verdade, origem de tudo que é verdadeiro.

Santo Agostinho

Imprensa brasileira: o show de hipocrisia

Não tem como dourar a pílula.

A maior parte da imprensa declarou guerra ao Brasil.

Estão ressentidos e querem vingança. Comportam-se como garotos mimados do primário. Inclusive os mais velhos.

Eles assumiram um lado durante as eleições e, por isso, perderam.

Se soubessem fazer seu trabalho com independência, não teriam perdido.

O mais nojento é que quando a coisa aperta, tornam-se vestais.

Tente confrontá-los, mostrar seus erros. Gritam pela liberdade de imprensa, pelos fundamentos da democracia, pelo papel civilizador do jornalismo.

Hipócritas. Vocês são assessoria de imprensa do esquerdismo mundial. E péssimos, por sinal.

Fizeram e fazem um mal tremendo ao Brasil.

Democracia conservadora

Li ontém o artigo do Yoran Hazony na First Things, tratando do que ele chamou de “democracia conservadora”.

É um senso comum que a democracia liberal é a única alternativa ao totalitarismo, seja ele marxista ou fascista.

Para Hazony, a democracia liberal parte de 3 axiomas:

  1. A razão está disponível para todos e é suficiente para organizar a sociedade
  2. Todos os indivíduos são livres e iguais
  3. As obrigações sociais e políticas derivam de uma escolha

Qual o problema desta formulação? Não deixa espaço para as forças estabilizantes de uma sociedade (pelo menos a ocidental): Bíblia, religião, nação e família.

O resultado depois de quase um século de dominação da democracia liberal é a destruição de todos estes valores. A família está devastada, as nações perdendo sua identidade e autonomia, a religião reduzida a um culto privado, a Bíblia não mais reconhecida como uma fonte de sabedoria.

Hazony defende uma alternativa, a democracia conservara.

Uma visão que tem por base o conservadorismo ango-saxão, mas que acomoda as questões da sociedade atual. Ela toma por base os valores estabilizantes da sociedade e não os impõem, mas os respeita.

O poder político não pode ignorar as crenças profundas da sociedade sem arriscar acabar com ela. E temos que começar a questionar a democracia liberal sem que isto seja uma defesa do totalitarismo.

Aliás, temo que a forma mais segura para termos o totalitarismo e continuarmos nessa caminhada para os sonhos utópicos da democracia liberal.

Bolsonaro e a nova era

Estão chamando de nova era o governo que se inicia. Exageros à parte, há uma certa verdade. É a maior mudança de direção que o Brasil atravessa, pelo menos desde 1985.

Collor ensaiou uma mudança liberal, mas jogou tudo no lixo com o imperdoável plano econômico que confiscou dinheiro dos brasileiros, seguindo a receita de uma economista incompetente.

Daí veio o esquerdismo de Itamar-FHC-Lula-Dilma-Temer. A única variação era no grau de implementação de uma agenda socialista e globalista. Alguns eram mais comedidos, outros mais afoitos.

Bolsonaro deixou claro em seu discurso de posse que seu principal objetivo é mudar o rumo do transatlântico chamado Brasil e afastá-lo da direção que segue desde a chamada redemocratização.

Mas enganam-se quem pensa que os mais revoltados hoje eram os petistas ou esquerdistas radicais.

Há uma turma anti-petista, que sonhava com a volta do tucanato, que não se conforma. Eles torcem para o governo dar errado para poderem dizer “eu não avisei?”.

Um dos símbolos desta tribo é o que chamei de mente amargurada (ou mente isentona), pela fixação que tem pelo trabalho do isentão-mor ianque, o Mark Lilla. Coloca-o, inclusive, como maior que Roger Scrutton, que faz severa críticas. Segue-o uma turma de professores de filosofia, mas de pensamento raso, e puxa-sacos que se ressentem contra a chamada nova direita.

Principalmente pelo anti-intelectualismo da nova turma que apoiou, sem pudores, a candidatura do Capitão. A turma do mente amargurada se caracteriza pelos títulos.

Essa turma, no fundo, queria ser o petismo de sinal contrário. O populismo bolsonarista atrapalhou seus planos.

Serão quatro anos de chorume. Haja paciência.

Dicas de leitura: anotações para um ensaio

  1. A grande divisão da literatura é entre ficção e não-ficção. É preciso respeitar esta divisão pois a forma de leitura difere de um tipo para o outro.
  2. Os livros de ficção são escritos para serem lidos do início ao fim, de preferência sem muito espaçamento entre as leituras. O autor está interessado em despertar emoções e utiliza técnicas narrativas que causam determinados impactos. 
  3. Este tipo de livro pode ser excelente para educar nossa imaginação, melhorando nosso vocabulário e, principalmente, nos proporcionando quadros possíveis para entendermos a condição humana. Ele trata não do que aconteceu, mas do que poderia ter acontecido. É um repertório de possibilidades para podermos pensar nas ações humanas possíveis em diferentes contextos.
  4. Estas dicas referem-se principalmente aos livros de não ficção.
  5. Os livros de não ficção não devem ser lidos da mesma forma. Existem livros que merecem ser bem lidos e existem livros que não merecem uma leitura mais atenta. A primeira coisa que um leitor deve descobrir é se o livro merece ser lido.
  6. Para isso, tem que entender o mais rapidamente possível o tema do livro. Do que a obra trata? Qual é seu assunto?
  7. Prestem atenção no título do livro. Ele pode nos indicar o tema, principalmente quando vem acompanhado de um subtítulo. Exemplo: “Sagração da Primavera: a Grande Guerra e o Início da Era Moderna”. O título, Sagração da Primavera, refere-se a um famoso ballet que estreou em Paris em 1913 (nem todo leitor é obrigado a saber disso). No entanto, um leitor entenderia, pelo subtítulo, que o livro trata da I Guerra Mundial e de alguma forma associa este exemplo ao início da era moderna. Se entender a referência do ballet, ficará intrigado pela associação de um espetáculo de dança com o conflito bélico. De alguma forma intuirá que o livro trata não só da guerra, mas de sua relação com a cultura. 
  8. Outra dica importante é ler a “orelha do livro”. É nela que o editor ou um convidado tenta vender a importância do livro. Faz isso através de uma breve resenha ou a seleção de alguns trechos da obra.
  9. Não se trata de um livro de ficção; não devemos nos preocupar em entender o final do livro antes de começá-lo. É justamente o contrário, temos que entender do que a obra trata para aproveitar melhor a leitura.
  10. Particularmente só leio prefácios se forem 1) curtos e 2) escritos pelo próprio autor. O receio aqui é ser conduzido na leitura, recebendo um determinado viés antes de entender o livro. Nestes casos, prefiro deixar prefácios para ler depois.
  11. Identificado o assunto, trata-se de descobrir qual o argumento central do autor. O que ele quer dizer, em uma frase, no livro que escreveu? Muitas vezes identifico o argumento (ou tese central) no título, orelha ou prefácio. Outras vezes preciso investigar um pouco mais.
  12. Antes de ler o livro, leia o sumário. Há livros que o sumário é bem completo e nos dá uma boa idéia de como o livro está dividido e suas partes mais importantes.
  13. Folheie o livro. Principalmente parágrafos iniciais e finais dos capítulos. Olhe os gráficos, as figuras. Você não está tentando entender o livro, mas identificar a sua tese central. Em Sagração da Primavera, pelo que eu entendi, o autor está argumentando que a Grande Guerra foi consequência da cultura da modernidade européia, que já estava presente no espetáculo Sagração da Primavera. Todo livro é construído para mostrar como a cultura influencia as decisões e ações das pessoas. 
  14. Só quando você for capaz de dizer 1) o tema do livro, 2) a tese central e 3) a estrutura do livro, poderá responder se vale a pena ler o livro ou não. Se você resolver desistir neste momento, já terá extraído algo dele. Sabe do que se trata. 
  15. A questão que se coloca agora é sobre o aprofundamento. Devo ler o livro? Em todo ou parte? Com muita ou pouca atenção?
  16. Se quiser avançar um pouco mais, o leitor pode ler a introdução, identificando que problema o autor procurou responder. Geralmente, o autor vai explicar também da importância do tema e do problema, adiantando uma visão geral do livro e muitas vezes a conclusão que chegou. Em seguida, você pode pular o livro inteiro e ir direto para o capítulo final. Se bem escrito, terá a conclusão que o autor chegou, os problemas que enfrentou para responder a pergunta e, com sorte, as refutações ao próprio argumento central. 
  17. Não se deve ter receio de ler o final do livro. Como dito, não se trata de um romance. Entender o problema, a solução, a importância e sua ligação com os problemas mais gerais é um excelente guia para a leitura completa do livro caso seja de interesse. 
  18. Quer aprofundar ainda mais? Pode-se ler capítulos específicos, de interesse. Por exemplo, no livro Sagração da Primavera há um capítulo que trata das trincheiras. Um leitor interessado neste tipo de conflito, poderá ler apenas este capítulo para entender a psicologia dos soldados, a cultura que se formou, a “dança” que se estabeleceu entre ataques e contra-ataques, e etc. Já o capítulo que trata do impacto literário no pós guerra pode não interessar. Não há razão para ler o capítulo da literatura quando se está apenas interessado apenas no combate e vice-versa.
  19. Resumindo até aqui: o leitor fez uma leitura inspecional, leu introdução e conclusão e alguns capítulos. É mais do que a maioria dos livros merece. Neste ponto ele já pode falar do livro com desenvoltura e até mesmo discuti-lo. O que faltaria?
  20. Existem alguns livros que merecem uma leitura completa. É o ponto que o leitor não está interessado apenas em informação, ele quer formação. Ele quer conhecer o livro no detalhe, entender a estruturação do raciocínio, os argumentos, os exemplos. Quer ser capaz de um dia fazer algo semelhante. Ele sente que este livro tem o poder de transformar sua vida, de impactá-lo a ponto de mudar muitas de suas ideias. Neste ponto, fará o compromisso final com o livro e vai lê-lo por inteiro.
  21. Se o livro for difícil de entender por sua profundidade, poderá ser recomendável ler duas vezes. Uma primeira, rápida, sem parar, sem se preocupar com o que não está conseguindo entender. O objetivo é fazer uma primeira aproximação, se familiar com o material, ter a visão do todo para iniciar uma segunda leitura. 
  22. A segunda leitura, depois de ter a noção do todo, será a mais cuidadosa de todas. É hora de anotar, pesquisar termos ou conceitos que não são familiares, identificar argumentos, exemplos, problemas, etc. Esta é a leitura que depende do grau de entendimento do material. Há parágrafos em livros como Metafísica, de Aristóteles, que pode exigir dias de meditação. Esta leitura deve levar o tempo que precisar.
  23. Qual o principal teste para saber se entendeu o livro? Ser capaz de elaborar em um parágrafo curto, com 2 ou 3 frases, uma descrição do livro. Não pode ser extensa. O grande teste do entendimento é a concisão. Se for capaz de elaborar este parágrafo, há grande chance de ter entendido o livro.
  24. Essas dicas referem-se a livros honestos e bem escritos. Infelizmente há uma enorme quantidade de livros que são muito mal escritos, de propósito ou por incompetência. Nestes livros será muito difícil identificar tema, problema, solução, argumentos, etc. Não se desespere; a culpa não é sua.
  25. Antes de criticar o livro, ou um capítulo, deve-se entender o argumento do autor em seus próprios termos. Durante a leitura, o leitor deve fazer uma suspensão de julgamento, procurando primeiro entender o que está lendo. Só depois de reproduzir o que o autor quis dizer, pode passar para a fase da crítica. Antes de dizer se o livro é bom ou ruim, verdadeiro ou falso, deve-se entender o que é o livro. Se o leitor encarar a tarefa de ler O Capital, deve entender a argumentação de Marx. O que ele dizia, porque ele dizia, as relações causais e etc. Depois de ser capaz de descrever a economia marxista é que o leitor pode avaliar se ela corresponde à sua percepção da realidade ou não. Se ele estiver preocupado em refutar Marx a cada linha, jamais vai entender o que está escrito. 
  26. Concluindo, livro é como as pessoas que encontramos na vida. Algumas queremos apenas um contato breve, outras queremos amizade para toda vida. O grande teste da importância de um livro para você é quantas vezes você quer relê-lo. Há livros que você vai estabelecer uma relação para o resto da vida. Lembre-se que há um namoro envolvido, que muitas promessas podem não se cumprir, que decepções podem existir pelo caminho, mas há aqueles que farão tudo mais valer à pena. 
  27. Por fim, não se preocupe se você não gosta de ler. Se conseguir criar o hábito, quando menos esperar terá se apaixonado. É uma jornada que vale a pena.